Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Como o homem imagina Deus?

Não há dúvidas de que todos nós temos na nossa mente (ou estamos continuamente construindo) uma imagem de Deus. Às vezes estamos tão certos de que sabemos ou conhecemos Deus, que somos prontos refutar qualquer dúvida ou questionamento.  No entanto, existem perguntas que podem mexer, e muito, com as nossas ‘imagens’ e ideias  de Deus,  que temos  dentro da nossa mente e na nossa imaginação.  Não se trata , neste caso,  de duvidar da fé em Deus, mas da imagem de Deus que formamos e cultivamos na nossa imaginação.  São as coisas diferentes.

Acredito que cada um de nós pode e deve  perguntar a si mesmo:  Qual é a imagem de Deus que tenho?  Como imagino Deus?  Será  que é uma imagem confiável e se aproxima do Deus Verdadeiro, ou mais parece alguma caricatura que pouco ou nada tem com Ele?   As  respostas  para  essas perguntas só podemos conhecer  na  medida que  realmente conseguimos entender  quem é Deus Verdadeiro, aprofundando bastante esse assunto. Quando fazemos isso, muito provavelmente se  tornará necessário  modificar as imagens falsas ou  grotescas de Deus, que temos na nossa mente. Com isso,  também a nossa fé em Deus estará mais forte. Ela  estará livre de superstições e falsas imagens  e nos colocará muito mais perto d’Ele.

WCejnog

O texto abaixo trata deste tema:


(8)
 
(...) O ser humano não tem como conhecer como realmente é Deus somente com as suas próprias forças. Por isso também existe uma grande quantidade de opiniões e afirmativas errôneas,  inadequadas ou mesmo más sobre Ele.  Elas escurecem e dificultam para o homem olhar para Deus. Talvez alguns ateus de propósito  ajudam a construir alguns conceitos sobre Deus que realmente são inaceitáveis para uma mente lúcida e crítica.

Muitas pessoas também, na verdade,  não rejeitam Deus, mas as suas caricaturas. Elas ficam escandalizadas com as imagens deformadas de Deus. Deus, porém, é independente das imaginações e conceitos que nós temos sobre Ele.

Quando o morador primitivo das matas começa a duvidar em seus deuses feitos de madeira, e finalmente deixa de acreditar neles, isto não significa que Deus não existe, mas apenas que Deus não é de madeira.

Nenhuma palavra é tão freqüentemente usada e tão abusada, como palavra “Deus’.  O que não se descrevia com ela, o que não se fazia em nome d’Ele!  “Cremos em Deus” – escreveram nas notas do dólar. Nos cintos dos soldados alemães nazistas estava escrito: “Deus conosco”.
M. Buber:  “A palavra  ‘Deus’ é uma das palavras que mais sofre por abuso. Nenhuma, até agora, foi tão difamada e rasgada. Os homens matavam e morriam por esta palavra. Mostram bobagens escrevendo embaixo "Deus”, matam-se e assassinam-se mutuamente dizendo 'em nome de Deus’.” (Autobiographische Dokumente).

É possível encontrar as pessoas que parecem saber exatamente tudo sobre Deus, como se fossem conectadas  diretamente com  Ele. Na realidade,  “a Deus nunca ninguém viu” (Jo 1, 18).

É muito conhecido o conceito de Deus como um homem velho, querido, com barba, Deus que em algum lugar lá, acima das nuvens, “no céu”, sentado no trono. Essa ideia de Deus é baseada na antiga  visão do mundo, que também constitui  a base das concepções bíblicas. Até o dia de hoje a palavra “céu” é usada  erradamente tanto para descrever o firmamento, como também para falar do que é divino. É conhecida a exclamação do cosmonauta russo Gagarin: “Chegamos ao céu e em nenhum lugar encontramos Deus”.  Deus, porém, não está ligado ao tempo e ao espaço, como p. ex. nós. Em nenhum lugar está erguido o trono de Deus, pelo menos do outro lado da “Via Lactea”.   O “céu” não é o lugar de morar, mas é o “estado”.

Outras pessoas pensam que Deus nunca pode dizer “não”.  Imaginam Deus como um parceiro ou sócio,  com quem se faz o contrato, ou com quem se realiza as trocas. Pensam que Ele existe somente para ouvir as suas orações – como se fosse num Caixa de Auto-atendimento: depois de cada oração Deus é obrigado ouvi-la e satisfazer o pedido.  Assim, Deus fica reduzido a um auxiliar do homem. Certamente, não poderá se evitar a grande decepção. A conseqüência disso:  “agora eu não consigo mais crer em Deus!”

Para outras pessoas,  Deus é uma espécie de “policial celeste”, que deveria cuidar da ordem no mundo. Quando crianças, talvez quando aprontavam alguma  má criação, ou quando durante a  tempestade caíam os raios – ouviam dos adultos: “Deus castiga”. Agora, como adultos, ficam com raiva d’Ele, porque permite que exista no mundo tanta desordem e injustiça. Alguns conservam  esse medo de Deus durante toda a sua vida. Imaginam que Deus, com uma terrível exatidão, está anotando cada falha do homem, cada ‘mancada’. Ele faz isso para nos controlar e, no final, apresentar para nós as contas. Como é  pequeno e medíocre um Deus assim..!

Muitas pessoas entendem que Deus é alguém que corrige o percurso do mundo. Como tal deveria intervir quando necessário, servindo-se até de milagre. Esquecem que Deus confiou ao ser humano toda a criação. O mundo tem a sua independência e as suas leis, que nenhum “Deus dos milagres” viola de repente só para satisfazer os desejos humanos. Hoje sabemos muito bem que não é Deus que acumula as nuvens de tempestade e não é Ele que joga em cima dos homens os raios, mas isso tudo acontece seguindo as condições naturais da natureza. Não nos é permitido fazer de Deus um “tampa-buraco”, que serve como explicação em tudo, onde ainda o homem – na sua limitação – não consegue ter uma explicação completa. O homem primitivo adorava as forças da natureza como divindades: o sol, a fertilidade... Hoje, o homem dominou essas forças em grande escala e as administra. Por isso acha que pode dispensar a fé em Deus. Na verdade, o ser humano deveria imaginar que Deus é muito maior. Não devemos procurar Deus dentro das forças da natureza, mas temos que procurá-lo como quem que está além dessas forças, como Aquele que é causa da sua existência.

Por outro lado, Deus não é alguém “totalmente distante”, alguém que honrosamente  se retirou do mundo. Ele não é “pré-mestre”, que no ato da criação fez funcionar todo o mecanismo da natureza, e depois deixou o mundo e a humanidade à sua própria sorte.

Uma moça perdeu no acidente de trânsito o seu namorado, a quem amava. Perguntou ao tio se Deus não se interessa com o seu sentimento. Esse respondeu que Deus está ocupado com outras coisas. Então a moça respondeu: “Se Deus não se interessa comigo, então eu também não vou mais me interessar com Ele”.
Isso não está certo. Deus existe dentro do ser humano e O encontramos  em tudo. Ele constitui a mais profunda base de todas as perguntas humanas. À luz da fé cristã, Ele se apresenta para nós como “nosso Pai”.

Resumindo, podemos dizer: quanto menor e mais pobre imagem o homem tem sobre si mesmo e sobre o mundo, tanto menor e mais pobre imagem ele cria sobre Deus. Não surpreende hoje, portanto, no tempo de desenvolvimento das ciências naturais e da sociedade, que uma concepção de Deus descrita acima  é questionada.  Apesar disso, os choques desse tipo são muito úteis, porque nos obrigam a revisar e modificar a nossa imagem que fazemos de Deus. 

Para o homem de hoje, que está a par das ciências, Deus, de jeito nenhum, tornou-se dispensável. Ao contrário, nesse cenário Deus torna-se maior.

No século II, como informa um dos grandes escritores da Igreja daquele tempo, suspeitava-se que os cristãos eram ateus. Esse escritor respondeu a isso: “Confessamos também que somos ateus, mas ateus em relação a todos os supostos deuses” (São Justino, Apologia prima. 6.1 Migne, PG VI).
Para nós esse é um fato interessante, porque mostra que já naquela época, no início do cristianismo, a fé dos cristãos se diferenciava claramente dos conceitos comuns sobre Deus, e por isso sobre eles caía suspeita que não tinham fé.  Porque, na realidade, como conseqüência da fé cristã - as forças da natureza consideradas como “deuses”, foram retiradas dos seus tronos. (...)

 (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p.37-39)*

Continua...

__________________________ 

Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me  do  livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben”  e,  usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando  alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.

**************************

Um comentário:

  1. Realmente Walenty concordo com o amigo na nossa mente finita é impossível sondar o infinito, adentrar nos mistérios de um Deus santo e infinito.

    ResponderExcluir