Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A questão do ateísmo – vale a pena saber!


Continuando a reflexão sobre a religião e o ateísmo, é importante tentar  entender as diversas posturas e atitudes, que levam as pessoas a se declararem ateístas. Essas afirmações e decisões podem  ter  várias causas. Quanto melhor entendermos o processo de formação dessas posturas, mais  facilidade teremos para entender as pessoas convictas do seu ateísmo e, com certeza, estaremos respeitando mais as suas decisões.

Por outro lado, observamos hoje que em nome da liberdade e da  democracia ficaram muito mais intensas as tentativas de influenciar a sociedade toda com as teses ateístas. Existe, parece, um interesse peculiar para infiltrar na educação das crianças e jovens,  e na vida do povo de modo geral,  os  conteúdos dessa doutrina.  Por que será? Como entender isso?   Quem tem interesses para promover este processo?
 
A nossa constituição garante a igualdade de direitos e de obrigações para todos os cidadãos. Por conseguinte, não há dúvida que o direito da maioria não pode ser ‘atropelado’ pelos direitos de minorias – é a questão de lógica democrática. “Vox populi – Vox Dei!” – falavam os antigos gregos, pais da democracia.  E “Vox populi” – é a voz da maioria do povo.  É de suprema importância que exista a tolerância e que se respeite  as minorias e garanta os seus direitos.  Isso é suficiente para garantir a paz e a vida. Mas jamais  lhes dá o  direito de tentar impor as  suas concepções à maioria.  A tolerância, para ser plena,  também inclui  este lado.

Surgem outras perguntas:  É isso mesmo que a maioria da sociedade quer, ou não está se dando conta do que está se tentando fazer com ela?  Que tipo de democracia nos temos?  Existe espaço para discutir essa questão?   

Ao meu ver , todas estas perguntas deveriam ser discutidas abertamente  na sociedade. E mais: o tempo urge!
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O texto abaixo (de Ferdinand Krenzer)  traz mais detalhes para esta reflexão, mostrando – em síntese – alguns  variantes  do  ateísmo :


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Deus não tem nada para dizer

(...) Hoje, sem dúvida, existem muitos assim chamados ateístas práticos. Para eles também falta a convicção, porque quase  sempre eles nem se ocupam com a questão da fé. Alguns, até, perguntados se existe Deus,  logo responderiam: “Sim, é claro”. Talvez pertençam a uma Igreja cristã, mas na prática, na sua vida, Deus não tem nada para lhes dizer – eles definitivamente não olham para Ele. Esses homens e mulheres são pessoas que foram batizadas, são cristãos, mas não valorizam a sua fé  e não dão a ela  nenhuma importância. Assim, eles deixam um exemplo de fé sem valor e geram  nos outros a oposição em relação a religião. Também (já falamos anteriormente) existem aqueles, que rejeitam caricaturas de Deus ou conceitos que O deformam.

Agora vamos falar dos “ateístas de convicção”, que seriamente se ocuparam com este problema e chegaram a conclusão que ou “sobre Deus não se consegue saber nada” (agnosticismo), ou que Ele não pode “existir” (o ateísmo próprio). As pessoas que pensam assim e vivem assim encontram-se, freqüentemente,  no alto nível espiritual e ético;  precisam ser, portanto, tratadas com toda a seriedade e respeito.

Nada podemos dizer sobre Deus

Agnosticismo afirma que é necessário desistir de Deus, porque não podemos conhecê-lo com toda certeza. Baseia se, quase sempre, sobre a “ciência”, entendida como ciências naturais. Porque a existência de Deus não pode ser provada com os métodos experimentais, então Ele não existe.  Perguntamos: será que isso é uma afirmação científica? Da parte das ciências naturais não existe prova para existência de Deus. Mas também, do mesmo jeito, não temos nenhuma prova científica que Deus não pode existir. Sim, existem – como já foi dito – alguns caminhos do conhecimento humano, que podem nos conduzir a Deus.

Ateísmo em nome do “bom senso”

Muitas pessoas  afirmam que o grande progresso no campo do conhecimento é suficiente para descartar a existência de Deus, assim como esclarecer  o mundo, a natureza e a vida, é possível sem a necessidade de reconhecê-lo.

Também por isso  se afirma que, em nome da ciência, como também em nome do progresso e da técnica não se pode mais admitir a existência de um “ser superior”. Esta afirmação estava no moda sobretudo no início do sec. XX, quando começou um forte desenvolvimento intelectual. Durante o século passado a humanidade alcançou inúmeras descobertas e invenções. Mas a primeira onda de histeria, provocada pela arrogância, já passou. Quanto mais a razão humana penetra os mistérios da natureza, tanto mais está sentindo que a penosa possibilidade do homem em conhecer e  decifrar as leis da natureza, que levou milhares e milhares de anos, fica muito longe da própria criação e das leis estabelecidas. O lugar da arrogante afirmativa: “Ultrapassaremos as obras Divinas”, na vida de muitos cientistas, novamente começa a ocupar o reconhecimento que também são criaturas e limitados.

O ateísmo por amor ao mundo

Na base dessa visão do mundo também se encontra o progresso, que entregou as forças da natureza e do mundo  à disposição do homem.  Não surpreende, portanto, que as pessoas que pensam assim, fiquem fascinadas unicamente com as suas possibilidades e com o seu mundo, do qual gostariam de fazer o paraíso.  Não sobra aqui quase nenhum lugar para Deus. Sim, muitos ficam convencidos de que Deus e a ligação com Ele colocam o homem contra os seus atuais e terrestres desafios.   A religião, neste caso, significa para eles a mesma coisa que a fuga do mundo e a negação dele.  

Aqui precisamos  reconhecer que a fé mal entendida  e o conceito falso da religião tornam-se  inimigos do cristianismo. As afirmações de que a religião cristã atrapalha e até nega o mundo  constantemente alimentavam, e ainda alimentam,  esse tipo de ateísmo.  Onde as pessoas crentes declaram que se encontram mais perto de Deus, e  que não se relacionam com o mundo “podre”; onde  se fecham diante de todo progresso, ao mesmo tempo negligenciando as suas tarefas na vida profissional e social  e as suas obrigações frente pessoas necessitadas e excluídas,  ali contribuem elas para a formação desse tipo de entendimento errado e avesso da religião.
O trabalho e esforço humano que visam a melhoria das condições da nossa vida, correspondem ao plano Divino. Nas primeiras páginas da Bíblia lemos:  "Frutificai, disse Deus, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a”(Gen 1, 28.)  Não é sem a terra, mas com a terra que o homem poderá realizar a missão que recebeu de Deus.

O ateísmo por amor à humanidade

O ser humano que encontra Deus percebe claramente que Deus  tem o direito sobre ele. Isto, porém, contraria o seu orgulho e a sua tendência à ser independente. “ Se existe Deus, o homem é ninguém” – fala Sartre.  Para esse tipo de gente a religião não significa nada mais do que  a escravidão, submissão e falta de liberdade do ser humano. “Deus é uma parede, que nos esconde o homem”. Ele coloca o homem contra a si mesmo e contra os outros, porque  quer ter o homem para si. Ou Ele, ou nós – alguém  precisa recuar. Por isso a religião, na visão dessas pessoas, constitui somente “ópio do povo”.

O lugar de serviço ao Deus deveria ser ocupado por serviço ao homem. Somente  assim, quando pararmos de nos interessar com Deus, conseguiremos nos dedicar e sacrificar para a humanidade. A Deus pode se procurar somente no homem e naquilo que é humano (ateísmo como humanismo). Basta ser um homem honesto. Assim, mais ou menos, soam os argumentos construídos em forma de slogan.

Podemos ver que as imaginações muito simples e ingênuas sobre Deus realmente escravizavam e ainda estão escravizando o ser humano. Mas, será que se pode  dizer isso sobre a fé cristã, que nos mostra Deus como alguém que para nós, seres humanos, tornou-se homem?  Uma resposta para a essa pergunta  estaremos construindo mais adiante. O próprio Cristo nos disse claramente sobre o que para ele era essencial: “Amarás o Senhor teu Deus. (...). Este é o maior e primeiro mandamento. O segundo é semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 34 ).  Como vemos, é justamente a fé cristã em Deus , por sua essência, que exige do homem a dedicação e o serviço ao seu próximo, do jeito que a Bíblia pode afirmar: “Quem não ama, não conhece Deus" (1 Jo 4,8).

O maior número de questionamentos contra Deus o homem de hoje levanta a partir do problema do sofrimento. (...)  A história da humanidade com o seu sangue e lágrimas, com os absurdos e injustiças até parece um contínuo protesto contra Deus: “ Como Deus pode permitir que isso tudo aconteça?  Tudo transcorre como se Ele não existisse. Deus morreu ou fica calado. Se existisse, Ele  poderia, aliás Ele deveria mudar esse quadro, já que Ele é o todo-poderoso. E se permite que as coisas assim aconteçam, então Ele próprio também é culpado dessa toda miséria.  Se Deus fica tão indiferente em relação ao mundo, então nós, os seres humanos precisamos  arregaçar as mangas e assumir a obra para melhorar este mundo sem Ele”.

Pedaçinhos  dessas várias formas de ateísmo encontram-se em todos nós. Parecidas perguntas e  dificuldades surgem também para  as  pessoas que crêem em Deus, se – obviamente – não vivem elas com os olhos vedados.  Dúvidas e descrença possuem valor também para o homem crente: o ateísmo arranca-o do estado de paz aparente e felicidade ilusória. Deste jeito a descrença obriga essa pessoa a revisar  e controlar as suas imaginações sobre Deus, ligando-as  às necessidades do tempo. A nossa fé só é forte e madura, quando luta contra a descrença. A maioria dos homens e mulheres, atravessa em sua vida,  mais cedo ou mais tarde, momentos de descrença, o que, em conseqüência, contribui para fortalecer a própria fé.

Por outro lado – não convence, de jeito nenhum, o argumento de que precisa ser ateísta para servir ao ser humano e para afirmar o progresso, o mundo, e a tecnologia. (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p.44-47)*

Continua ...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me  do  livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben”  e,  usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando  alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.

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