Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Mais uma reflexão sobre a Eucaristia.


Para completar as reflexões sobre os ritos litúrgicos católicos, e de modo especial sobre o tema da Celebração Eucarística (Missa), apresentadas nas últimas postagens do blog Indagações, considero interessante trazer ainda, para este espaço, o testemunho do Scott Hahn, co-autor do livro de Scott e Kimberly Hahn: “Todos os caminhos vão dar a Roma”.¹
O texto é  muito interessante. Não deixe  de ler.
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O Evangelho segundo São João sobre a Eucaristia:

(...)  Formar a minha própria família fez crescer em mim um anelo de unidade da família de Deus mais profundo do  que nunca. Pelo bem da minha família e da Sua, rezava para que o Senhor me ajudasse a crer, a viver e a ensinar a  Sua Palavra, fosse qual fosse o preço. Queria manter o coração e a mente completamente abertos à Sagrada Escritura e ao Espírito Santo, e a todas as fontes que me levassem a um conhecimento mais profundo da Palavra de Deus.

Entretanto, fora também contratado como formador a tempo parcial num seminário presbiteriano local. O tema da minha primeira aula foi o Evangelho de São João, sobre o qual estava a pregar também uma série de sermões na igreja. No estudo levava uma margem de um par de capítulos de avanço relativamente às aulas. Quando cheguei ao capítulo sexto na preparação tive que dedicar semanas de cuidadosa investigação aos seguintes versículos (Jo 6, 52-68):

“Discutiam entre si os judeus, dizendo: “Como Ele nos pode dar de comer sua carne? Jesus  lhes disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes  a carne do Filho do homem nem beberdes  o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come  minha carne e bebe meu sangue, tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Minha carne  é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele. Assim como vive o Pai, que me enviou,  e eu vivo pelo Pai,  assim também quem comer de minha carne  viverá por mim.  Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que vossos pais comeram e ainda assim morreram. Quem come deste pão, viverá eternamente”. (...) 
Desde então muitos dos discípulos  se retiraram e já não o seguiam.
Jesus perguntou então aos Doze: “Também vós quereis ir?” Respondeu Simão Pedro: “Senhor, para quem iríamos? Tu tens palavras da vida eterna.”

Comecei imediatamente  a pôr em prática o que os meus professores me tinham ensinado – e o que eu próprio andava a pregar à minha congregação – acerca da Eucaristia como um mero símbolo, um símbolo profundo, certamente, mas apenas um símbolo.

Depois de muita oração e de muito estudo, acabei por reconhecer que Jesus não podia estar a falar simbolicamente quando nos convidou a comer a sua carne e a beber o seu sangue. Os judeus que O ouviam não  teriam ficado ofendidos nem escandalizados com um mero símbolo. Aliás, se tivessem interpretado mal Jesus, tomando as suas palavras à letra – quando Ele queria que as palavras fossem tomadas em sentido figurado – teria sido fácil ao Senhor esclarecer esse ponto. Na verdade, já que muitos dos discípulos deixaram de O seguir por causa deste ensinamento (v. 60), teria estado moralmente obrigado a explicar que falava apenas em termos simbólicos.

Mas nunca o fez. Nem nenhum cristão, ao longo de mais de mil anos, negou a Presença Real de Cristo na Eucaristia. Isso estava claríssimo.

Fiz então o que qualquer pastor ou professor de seminário teria feito se queria conservar o seu trabalho: terminei o mais rapidamente que pude a série de sermões sobre o Evangelho de S. João no fim do capítulo cinco, e nas aulas saltei praticamente o capitulo seis.

Embora os meus paroquianos e alunos se fossem entusiasmando com o resto dos meus ensinamentos, foram também percebendo que não correspondiam ao presbiterianismo tradicional e histórico. Mas não lhes podia dizer que o que estavam a ouvir – e que acolhiam com tanto entusiasmo – refletia aspectos da Eucaristia que, de algum modo, a Igreja Católica tinha descoberto e exposto há muito tempo². (...)

E no capítulo final do livro, em forma de Apelo aos católicos, o autor escreve:

(...) O fundamento da vida cristã de um católico devem ser os sacramentos, especialmente a Eucaristia. Não podemos fazer  as  coisas sozinhos. Cristo sabe isso; por isso instituiu os sacramentos, para nos dar a Sua vida e poder divinos. Temos que estar atentos para não participarmos nos sacramentos  de modo inconsciente ou distraído. Não são meios mágicos ou mecânicos para nos fazerem santos sem a nossa fé e esforço pessoal. Um católico não pode estar na Missa como um automóvel que passa pela lavagem automática. As coisas não funcionam assim. A graça não é algo que nos fazem; é sobretudo a vida sobrenatural da Trindade enxertada profundamente nas nossas almas, para que Deus possa fazer a Sua morada em cada um de nós. É a Aliança que estamos chamados a viver como irmãos e irmãs na Família Católica de Deus. Cristo é o alimento das nossas almas; não façamos dieta.³ (...)

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¹Os autores do livro são pastores presbiterianos norte-americanos, que contam sobre a sua conversão ao catolicismo. Eles estudaram a fundo as questões duvidosas  e todos os argumentos  que os seguravam longe da Igreja Católica. O marido se converteu em primeiro lugar. A sua esposa ficou muito desolada, mas, depois de algum tempo, ela também abraçou a fé católica. É um livro muito interessante.

² HAHN Scott e Kimberly. Todos os cominhos vão dar a Roma. Lisboa 2006, Ed. Diel, 6ª ed.  pp. 67-69)

³ Idem.  p.202)


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Participação pessoal da Missa. Por que é importante?


Finalizando este bloco de reflexões sobre os ritos litúrgicos católicos (as últimas nove postagens), torna-se necessário concluir que, na verdade, depende  de cada um de nós  que valor e importância têm as celebrações e os sacramentos para a nossa vida.

É muito importante termos conhecimento sobre a essência, a finalidade e a forma dos  ritos litúrgicos, porque isso nos impulsiona a buscarmos o  que Deus, na sua bondade e misericórdia, oferece a todos que O procuram.  E, ao participarmos conscientemente e com o coração aberto e ávido da vida da Igreja e da Comunidade, encontramo-nos com Ele próprio, porque Jesus nos deu essa certeza, dizendo: Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). Não precisamos nesses momentos litúrgicos  olhar para os outros, que, talvez, só participam  por participar, ou,  alguns deles, visivelmente  não demonstram que realmente têm a fé. O que importa mesmo é a participação pessoal de cada um de nós. Viemos para nos encontrarmos com Deus, que nos ama!

Como caminhantes e peregrinos nesta estrada da vida terrena, precisamos de água, de alimento, de repouso, de cura... As celebrações litúrgicas nos oferecem tudo isso.  A ”fonte” está ao nosso alcance, mas para bebermos a água e saciarmos a nossa sede, não basta só saber que ela existe. Precisamos nos aproximar, nos abaixar, estender as nossas mãos,  encher as “canecas vazias”  da nossa fragilidade e finitude, e poder agradecer a Deus por esta possibilidade.

Sobre isso trata o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  A leitura é fácil e pode ser muito útil para as pessoas interessadas neste assunto.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

   

 

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A participação pessoal da Missa

Ajoelhar-se (genuflexão) expressa a penitência, humildade e adoração. Ficar de pé, também é atitude de louvar a Deus, não menor que quando alguém ajoelha, mas com  mais alegria e uma alegre espera. Ficar em pé tem alguma coisa de ressurreição, por isso nos tempos  antigos da Igreja não se ajoelhava no domingo – no dia do Senhor.

O celebrante, durante a Missa, tem as mãos ou unidas no peito ou levantadas. Unir as mãos é sinal de concentração e de  interiorização. Ao levantar as mãos – a postura predileta dos primeiros cristãos durante a  oração – é manifestar que se é  aberto a Deus e  é  atitude de dirigir a Ele todas as  preces e necessidades humanas.

Mas muito mais importante, naturalmente, é uma participação interior da Santa Missa. Vários significados desta celebração litúrgica, como ação de graças,  sacrifício, banquete, lembrança – podem, inicialmente, representar uma pequena confusão para nós. Entendemos, obviamente, que não conseguimos lembrar-nos de tudo isso ao mesmo tempo.  Além disso nós, humanos, estamos sujeitos a sentirmos diversos estados de espírito, dependendo das circunstâncias e experiências sofridas. A nossa participação  depende, portanto, do que nos move nesses instantes, podendo ser alegria, tristeza, sentimento de culpa ou vontade de agradecer. Tudo isso  também tem que ser incluído na  Santa Missa.

Sobretudo, precisamos mudar o jeito da nossa participação,  para que nada vire rotina. O que realmente importa nesses momentos é estarmos presentes pessoalmente!  Às vezes isso acontece apenas da posição de quem assiste: assumimos para nós o que vemos e participamos intimamente. Outra vez “transformamo-nos em ouvidos”, tentando ouvir de uma maneira nova as palavras das orações e da Bíblia. Outra vez ainda, nós nos concentramos no agradecimento, ou – entregando-nos a Deus – fazemos ofertório da nossa vida...

Os momentos de  silêncio servem de modo especial para incluirmos na Missa tudo aquilo que é  atual, o que fica “lá fora”. Assim, é possível superarmos a dissociação negativa entre a celebração litúrgica e a nossa atuação no mundo, entre o domingo e  os dias comuns, dias do trabalho e labuta. As principais ideias da celebração Eucarística  levamos para a nossa vida diária.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 280-281)²

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¹ Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

 

 

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domingo, 24 de junho de 2012

É preciso participar da Missa? Não basta servir ao próximo? Como é isso?


Agora a questão é a frequente dúvida dos homens e mulheres do nosso tempo, e principalmente dos adolescentes e jovens, se  realmente são necessários todos esses ritos litúrgicos que a Igreja realiza, convidando e chamando todos os fiéis para participarem ativamente. Para quê isso? – perguntam. Já que Jesus disse que o mais importante e decisivo é servirmos ao  próximo, principalmente na pessoa do pobre, faminto, doente, enfermo, e migrante - não seria suficiente, então, dedicarmo-nos só a isso? A participação das celebrações, Missas, Cultos – poderíamos dispensar. Precisamos realmente participar pessoalmente dessas celebrações litúrgicas? 

Sobre isso trata o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  A leitura é fácil.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

 

 

(7)

Servir ao mundo ou servir a Deus

Voltamos para  falar do questionamento já mencionado anteriormente (no início das reflexões sobre os ritos litúrgicos católicos): Será que, em certas circunstâncias, não deveríamos desistir totalmente do serviço a Deus e apenas limitar-nos a servir às pessoas e ao mundo? Não se serve a Deus servindo às pessoas? Precisamos mesmo impor um caráter sacro ao nosso serviço aos nossos semelhantes?

Temos que tratar esta  colocação com muita seriedade. Já o São Paulo dizia: “Eu vos exorto, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais em vossos corpos, como hóstia viva, santa, agradável a Deus. Este é o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com os esquemas deste mundo mas transformai-vos pela renovação do espírito, para que possais conhecer qual é a vontade de Deus, boa, agradável e perfeita.” (Rm 12, 1-;  e no outro lugar:  “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” ( 1 Cor 10, 31)

Portanto, a própria vida humana é um louvor a Deus. Não há nenhuma separação entre o que é leigo e que é religioso; tudo é o “ambiente Divino” (Teilhard de Chardin). Sem esse serviço que visa o mundo toda oração e todo o  culto estaria sem base e sentido.

Entretanto, seria algo muito arbitrário considerar como dispensáveis os ritos litúrgicos que (como  tais) são  celebrados pela reunida comunidade  dos  fiéis. Se queremos tratar seriamente o mundo e as pessoas que vivem a nosso lado, precisamos ver tudo como “um todo”, e de modo especial em relação a Deus. Ser cristão não se esgota numa relação correta para com o próximo.

O cristão sabe que é criatura de Deus e que foi salvo (quer dizer que Deus o ama), e portanto ele  precisa expressar isso de alguma forma. Para o homem de fé a oração e a vida no mundo devem-se entrelaçar. Por exemplo, quando estamos no trabalho ou na escola - as nossas atitudes fundamentais devem permanecer fieis a Deus;  quando rezamos – devemos estar com os nossos  “pés no chão”.

O fato é  que nós, humanos, de modo geral, conseguimos agir e fazer as coisas somente numa sequência de tempo: uma coisa a cada vez. Até mesmo os nossos pensamentos não conseguem concentrar-se sempre no mesmo ponto. Por isso também temos a necessidade de  nos dirigirmos, pelo menos de vez enquanto, expressivamente e exclusivamente a Deus. Isso não nos prejudica em nada em nossa vida diária; ao contrário, nos mobiliza mais ainda para vivermos intensamente a nossa vida no mundo. Porque Deus e  o mundo são como os dois focos de uma mesma elipse, em volta  da qual circula a nossa devoção.

Seria, por exemplo, algo simplesmente desumano, se estivéssemos só trabalhando sem refletir sobre  o nosso trabalho e o seu sentido. Também, igualmente, seria desumano no casamento, se um cônjuge fosse fiel ao outro, mas sem a mútua simpatia e amor expressados em  palavras, presentes e carinho. A verdade é que o que não se faz conscientemente e o que não se exterioriza – é condenado a perder a vitalidade e se tornar distorcido.

É humano, portanto, proclamar conscientemente e com clareza o nosso amor a Deus, o nosso louvor e gratidão. Quando servimos a Deus com retidão – o nosso serviço ao mundo e aos irmãos não fica em nada diminuído. Ao contrário, o significado do mundo se torna claro para nós e  nos leva a louvar mais ainda a Deus; os ritos e celebrações litúrgicas, por sua vez, nos enviam para  servirmos a Deus no mundo. Não pode ter aqui nenhum “ou (a Deus) – ou (ao mundo)”, mas unicamente “tanto  (a Deus) – como (ao mundo)”.

Quando um cristão participa retamente das celebrações litúrgicas, ele não muda nem se transforma ao entrar pela porta da igreja. Nesse tempo ele não se afasta do mundo, mas  traz o mundo para a igreja. E durante os ritos litúrgicos as nossas atitudes e ações diárias ficam confrontadas com a Palavra de Deus e dela recebem estímulos. É claro que depende de cada um pessoalmente, de que jeito ele co-participa desses ritos e até que ponto consegue lançar a ponte entre eles e a vida  cotidiana.

Descrevendo a Última Ceia, São João informa que ela foi precedida por uma cerimônia muito expressiva: Jesus Cristo lavou os pés aos seus discípulos, quer dizer, se fez um servo para eles, e lhes ordenou: “Se eu, pois, Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como vos fiz, assim também façais vós.”  (Jo 13, 14-15)

Isto é um exemplo para eles e para todos os cristãos, para que sirvam-se mutuamente. Essa foi uma das ordens dadas naquela hora. A outra, também dita nessa mesma hora, era: “Fazei isto (quer dizer a cerimônia da  Última Ceia) em memória de mim”. Deste jeito tanto uma como a  outra ordem de Jesus Cristo devem ser realizadas e “entrelaçar-se” – conforme a vontade de Cristo.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 279-280)²
Continua...
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¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

 
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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Ritos litúrgicos. Para que toda essa pompa? – questionam alguns. Dá para entender?


Como continuação das reflexões sobre os ritos e elementos  litúrgicos católicos  temos  agora algumas colocações para tentar responder às indagações e críticas de muita gente, tanto católicos mas sobretudo não católicos, em relação a necessidade ou não de tantos símbolos, sinais, ostentações de riqueza e pompa nas celebrações litúrgicas católicas. Hoje em dia esta é uma questão importante, porque às vezes torna-se, para algumas pessoas, motivo de  afastamento da Igreja. Como ver isso?

O texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹ fala sobre isso.  A leitura é fácil.
Não deixe de ler.
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[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

   

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Para que tanta pompa e barulho nas celebrações litúrgicas?

Algumas pessoas, dentre elas muitos cristãos não católicos, questionam a Igreja Católica em relação aos seus ritos e celebrações. Perguntam:  Por que tanta coisa vistosa nas celebrações litúrgicas: roupas  coloridas,  flores, incenso; para que tanto movimento: levantar, ajoelhar, fazer sinal de cruz...? Isso tudo corresponde aos nossos tempos? Será que essa exuberância nas celebrações não ameaça a verdadeira piedade?  Não é a vontade de Deus que se reze a Ele “no espírito e verdade”?

Realmente, o modo de vida dos católicos inclui o uso dos sinais e, com isso, a sua participação das cerimônias litúrgicas se dá envolvendo todos os sentidos. Não há dúvida que existe aqui o perigo de cair na superficialidade se aquilo  que é externo não for acompanhado pela atuação espiritual; se o que  é visível não expressar aquilo que  é interior e íntimo. Tudo poderia ser,  neste caso, apenas uma fachada, e, então, melhor talvez seria acabar com ela.

Imaginemos, no entanto, uma celebração litúrgica “puramente espiritual”: precisaríamos desistir não só das palavras, músicas, cantos e sinais, mas também do próprio reunir-se dos fiéis num só lugar, porque isso também já seria uma coisa “exterior”.

Chegamos ao ser  humano não somente pela razão, mas mais ainda através dos quadros e sinais. Uma fotografia de uma  criança faminta mexe conosco muito mais do que um grande artigo de várias páginas no jornal, falando da miséria  nos países pobres. A mesma coisa acontece em relação à postura religiosa. Tanto é que o próprio Jesus Cristo levou em consideração essa inclinação humana e estabeleceu  sinais visíveis da fé, como no caso do batismo e da comunhão. Desde o momento em que Deus se fez homem em Jesus Cristo, não devemos mais temer de  incluir também o que é corporal e externo para adorar e louvar a Deus com tudo que temos. E mais: hoje sabemos bem melhor que antes como estão ligados os elementos espiritual com  corporal.

Obviamente, a Igreja carrega também um volume grande de  ritualidade religiosa histórica, devido, em parte, ao pensamento oriental  tão antigo que hoje se tornou quase  incompreensível para nós. É justamente por isso existe a necessidade de uma reforma litúrgica que vise uma verdadeira  reconstrução e atualização da Liturgia.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 278-279)²
Continua...
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¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

 

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quarta-feira, 20 de junho de 2012

O que as igrejas católicas têm? O que é o Ano Litúrgico?

Agora a reflexão continua, falando sobre alguns elementos que desempenham importante função durante cultos litúrgicos e paralitúrgicos nas igrejas católicas. Por que isso tudo é tão valorizado pelos católicos? Sobre isso trata o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  A leitura é fácil e pode ser muito útil para as pessoas interessadas neste assunto.
Não deixe de ler.
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[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

 

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Sacrário – Ostensório – Procissão
  
Talvez o elemento  de uma igreja católica que mais impressiona a maioria das pessoas é a lamparina, que fica acesa continuamente, de dia e de noite, por 
perto do Sacrário2 . O católico, quando entra e sai da igreja, normalmente genuflexa diante desse Sacrário, pois aqui são guardadas as hóstias consagradas durante a Missa (que se tornaram o Corpo de Cristo) que sobraram e as quais se leva aos enfermos. Também no Sacrário é guardada a Hóstia Magna, que é maior apenas por uma questão de prática, e  que é usada durante solenes Cultos de Adoração ao Santíssimo.

Diante do Sacrário, ajoelhadas ou sentadas nos bancos, muitas pessoas gostam de passar horas inteiras mergulhadas em silenciosa oração, porque  aqui sentem-se particularmente perto de Cristo. Como diz o evangelista João sobre a Encarnação de Jesus: “Ele abriu a sua tenda no meio de nós”.

Existe uma festa especial, que já tem 700 anos e é uma festa especificamente católica – a Festa do Corpus Christi. A sua característica maior é que neste dia faz-se as procissões  com o Santíssimo Sacramento fora dos templos, percorrendo as ruas e lugares de cidades e vilas. A Hóstia Magna consagrada é levada no Ostensório , debaixo do dossel (baldaqim). É uma forma de adoração a Jesus Cristo, que  quer estar perto de nós sob espécie deste Pão. 

Durante mais que mil anos não existia na Igreja nem sacrário, nem ostensório e nem a procissão eucarística; não teve também nenhuma outra forma de adoração a Hóstia Sagrada. Celebrava-se a Santa Missa, recebia-se a Comunhão, guardava-se algumas Hóstias para levá-las aos enfermos. Quando, porém, começaram as discussões sobre a presença de Cristo no Sacramento do Altar, emergiu a grande necessidade de demonstrar mais concretamente a fé na presença de Jesus na Hóstia Santa. Assim surgiu o Culto ao “Santíssimo Sacramento”.

Nessa mesma época a participação do povo da Santa Missa em algumas regiões começou a se limitar  apenas a uma reverente presença. Os fiéis raramente aproximavam-se da mesa do Senhor, assim que já no século XIII o Quarto Concílio de Latrão³ precisara impor aos fiéis como  obrigação a Comunhão no tempo da Páscoa. E o Concílio de Trento (1545 – 1563) novamente se pronunciou a este respeito, exigindo dos fiéis a participação ativa da Santa Missa e recomendando a Sagrada Comunhão. Lembrou ele também que a celebração santa, isto é, a celebração do banquete Eucarístico, e ligada a ela a recepção da Santa Comunhão, é o maior louvor do Sacramento do Altar. No entanto, para que essas recomendações entrassem  em prática – demorou ainda muito tempo e somente aconteceu a partir do Movimento Litúrgico (a partir do ano 1909).

Hoje, o  acento principal está na  celebração do banquete Eucarístico com a recepção da Comunhão. Porém, seria empobrecimento da devoção do povo ao Cristo presente na Hóstia Sagrada, se o Culto a Eucaristia  fosse diminuído. Por isso hoje se pratica ao mesmo tempo ambas as formas de devoção: a Missa e o Culto Eucarístico. É por isso também, que o Sacrário continua ocupando hoje nos templos católicos o lugar central.

Sobre o Ano Litúrgico 

Agora, algumas pequenas notas sobre o Ano  Litúrgico4, com as suas datas marcantes. A maior de todas as festas da Igreja Católica é a Páscoa, porque a ressurreição de Jesus Cristo constitui o fato central da fé cristã. Cada domingo é uma repetição da solenidade pascoal. Por causa da sua grande importância o período pascoal começa com uma preparação de 40 dias (de Quarta Feira de Cinzas até a Quarta Feira da Semana Santa), que chamamos de Quaresma. São as semanas de reflexão interna sobre si, sobre a vida, no clima de retiro e penitência (por isso a cor das vestes litúrgicas que se usa neste período é violeta5).

Os três dias da Semana Santa que antecedem a Páscoa (Quinta Feira Santa, Sexta Feira Santa e Sábado de Aleluia), nos quais meditamos sobre a Paixão e sobre a morte do Senhor, estão fortemente ligadas com a festa da Páscoa, porque a cruz e a ressurreição têm um grande significado tanto para a fé cristã, como na liturgia, que a expressa. Após a Páscoa, de acordo com a Bíblia, festeja-se a Solenidade de Ascensão e o Pentecostes (a Festa do Espírito Santo), que fecham o Tempo Pascoal.

Um outro período festivo foi implantado um pouco mais tarde e se concentra em volta do nascimento de Jesus Cristo – a Festa de Natal. Depois do Natal, no dia 6 de Janeiro, ocorre uma grande festa de Epifania (dia dos Três Reis Magos), e logo no domingo seguinte termina o Tempo do Natal. A preparação para o Natal é o Advento, com que inicia-se o Ano Litúrgico. O Advento é como se fosse a  repetição do período antes do nascimento de Cristo, junto com a sua espera pela vinda do Salvador.

O tempo Comum foi organizado em 34 semanas, móveis – enquanto não tem um dia fixo da Páscoa. Depois do Pentecostes a ideia principal é a chegada de Cristo no fim dos tempos. Desta maneira, o fim e o início do Ano Litúrgico estão impregnados pelo pensamento voltado para a espera pelo Senhor.

 (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 276 278)6
Cuntinua...
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¹   Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.
Chamado também de Tabernáculo.
3   O IV Concílio de Latrão, o XII ecuménico, realizado em 1215, que condenou o Catarismo, definiu a transsubstanciação e impôs a obrigação da assistência à missa pascal (cânone utriusque sexus).
4  O Ano Litúrgico é o “Calendário religioso”. Contém as datas dos acontecimentos da História da Salvação. Não coincide com o ano civil, que começa no dia primeiro de janeiro e termina no dia 31 de dezembro. O Ano Litúrgico começa e termina quatro semanas antes do Natal. Tem como base as fases da lua. Compõe-se de dois grandes ciclos: o Natal e a Páscoa. São como dois pólos em torno dos quais gira todo o Ano Litúrgico.
5  As cores litúrgicas são seis:
Branco - Usado na Páscoa no Natal, nas Festas do Senhor, nas Festas da Virgem Maria e dos Santos, exceto dos mártires. Simboliza alegria, ressurreição, vitória e pureza. Sempre é usado em missas festivas.
Vermelho - - Lembra o fogo do Espírito Santo . Por isso é a cor de Pentecostes. Lembra também o sangue. É a cor dos mártires e da sexta-feira da Paixão e do Domingo de Ramos. Usado nas missas de Crisma, celebradas normalmente no dia dos Pentecostes, e de mártires.
Verde - Usa-se nos domingos normais e dias da semana do Tempo Comum. Está ligado ao crescimento, à esperança.
Roxo - - Usado no Advento. Na Quaresma também se usa, a par de uma variante, o violeta. É símbolo da penitência, da serenidade e de preparação, por lembrar a noite. Também pode ser usado nas missas dos Fiéis Defuntos e na celebração da penitência.
Rosa - O rosa pode ser usado no 3º domingo do Advento (Gaudete) e  4º domingo da Quaresma (Laetare). Simboliza uma breve pausa, um certo alívio no rigor da penitência da Quaresma e na preparação do Advento.
Preto - Representa o luto e pode ser usado na celebração do Dia dos Fiéis Defuntos e nas missas dos Fiéis Defuntos..
6  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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sábado, 16 de junho de 2012

Por que a Missa é assim?


Continuamos falar sobre a Missa.  Qual é a sequência dos ritos durante a celebração da Missa? Que significação tem cada parte da Missa?  Sobre isto trata o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, trazendo mais reflexões e informações.  A leitura é fácil e agradável.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

   

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A ordem (forma) da Santa Missa

Na Missa temos unidos dois tipos de ritos: a ceia Eucarística (Memorial do Senhor - o Banquete), que remete à Última Ceia, e a liturgia da palavra, onde ficou preservada a herança dos ritos judaicos. (...)  A distinção dessas duas  partes é visível: durante a ceia Eucarística o celebrante²  fica junto ao altar e isto é compreensível, porque para o banquete é necessária a mesa. Porém, durante as leituras e orações da liturgia da palavra, ele  fica assentado no lugar mais distante do altar, ou junto ao púlpito.

O Rito da Entrada

Acompanhados de canto da comunidade reunida, o celebrante, junto com os ministros, leitores e coroinhas, aproxima-se do altar. Aos pés do altar eles genuflectem, e  enquanto todos dirigem-se para os seus lugares, o celebrante dirige-se ao altar e o beija.

Em seguida, já no seu lugar, ele (o celebrante) começa os santos ritos com o sinal da cruz e cumprimenta os fieis, sendo correspondido por eles.

A primeira sensação do ser humano diante de Deus á a consciência da sua imperfeição. Por isso também a primeira oração comunitária é a oração penitencial, em que pedimos a Deus que Ele tenha piedade e misericórdia para conosco. O mesmo sentimento  expressamos com a fórmula Kyrie Eleison - “Senhor, tende piedade de nós”.

Por sua vez, o hino Glória – “Glória a Deus nas alturas...” é a louvação a Deus, apontando para a alegria da promessa de nascimento de Jesus. Após o convite “Oremos” e um curto momento de silêncio, o  celebrante reza a oração destinada para o determinado dia, e os fiéis reforçam essa  oração com o seu “Amém”.  Aqui terminam  os  ritos iniciais da Santa Missa.

A Liturgia da Palavra

O ponto central desta parte da Missa é a leitura de fragmentos do Antigo Testamento, das cartas do Novo Testamento e do Evangelho. Essas  leituras estão unidas com um Salmo Responsorial (de Meditação) recitado ou cantado. De modo geral, depois da  leitura do trecho do Evangelho vem a homilia, com a explicação dos textos bíblicos que acabamos de ouvir, e atualização dos mesmos para a vida do dia a dia. Nos domingos e dias solenes todos juntos recitam a Profissão de Fé (Credo). A Liturgia da Palavra termina com a Oração da Comunidade, na qual são incluídas as preces concretas e atuais.

[...] A fé nasce daquilo, o que se ouve [...] (Rm 10, 17). A escuta da palavra de Deus desperta e aprofunda a fé, sem a qual a ceia que vai acontecer em seguida, não teria fundamento.

Nas palavras da Bíblia o Cristo está presente; isto  prepara os fiéis para o encontro direto com Ele na ceia Eucarística. É por isso que para ouvir as palavras do Evangelho, todos se levantam e ficam em pé. Nas Missas festivas, para ainda mais expressar esse respeito à palavra do Evangelho, junto ao púlpito são levadas velas e o incenso. 

O banquete Eucarístico

Enquanto a  comunidade canta o canto de ofertório, os ministros ou coroinhas trazem ao altar o cálice e o Missal³. O celebrante (sacerdote) também se aproxima para receber o pão (hóstias) e o vinho,  que na maioria das vezes são trazidos ao altar pelos leigos,  representantes da comunidade reunida. Depois de colocar o vinho no cálice, ele abençoa o pão e o vinho, e, em  seguida, lava as mãos para demonstrar, simbolicamente, que para participar da refeição que o Cristo nos oferece, precisamos ter uma boa  pré-disposição e o coração limpo. Ao terminar a  preparação das oferendas o sacerdote conclama os fiéis para pedirem a Deus que aceite este sacrifício (a oferenda) compartilhado.  A primeira parte deste rito da Eucaristia termina com a Oração sobre as Oferendas.

Ao preparar as oferendas, faz se a  coleta entre os fiéis para os fins filantrópicos ou para as  necessidades da própria comunidade. Desta maneira fica  claro para toda a comunidade que o serviço a Deus não pode ser algo puramente íntimo e particular, mas que tem a ver com a vida cotidiana de todos os fieis, da comunidade e da paróquia.

Agora sucede a Oração Eucarística4. É precedida pelo prefácio – solene ação de graças e louvor, que varia dependendo do tempo litúrgico ou do dia em questão;  termina este prefácio com canto Santo, Santo, Santo...

[...] O conteúdo de todas Orações Eucarísticas constitui o pedido da Igreja e a Obra de vida de Jesus. O centro da Oração Eucarística sempre são as palavras pronunciadas por Jesus Cristo durante a Última Ceia (compare Lc 22, 7-23). Quando os fiéis, de acordo com a ordem de Jesus: “Fazei isto em  minha memória”, repetem, através do sacerdote, essa fórmula, então se realiza o mesmo que no Cenáculo: Cristo torna-se presente no pão e no vinho (transubstanciação)5. Agora o sacerdote levanta a hóstia e o cálice – para que todos possam ver e  adorar,  dizendo:  “Eis o mistério da fé!”, ao qual os fieis respondem com uma curta fórmula de fé (que é uma fórmula dos tempos dos primeiros cristãos). A finalização da Oração Eucarística (do Canon) constitui um solene louvor.

A terceira parte é a Santa Comunhão. Reza-se a oração Pai nosso, que é uma preparação para o recebimento da Comunhão, no mesmo sentido da oração antes de  comer.

O celebrante reza em silêncio pedindo pela paz, e , depois, expressa o desejo de paz: como e de que maneira os fiéis manifestam e trocam esse sinal da paz  - depende dos costumes da  região. Em seguida ele parte o pão, enquanto os fiéis recitam ou cantam “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo – tende piedade de nós”.

O celebrante, agora, prepara-se para a Comunhão,  fazendo uma oração particular. Logo depois, voltando-se para todos presentes, levanta a hóstia bem alto e diz: “ Eis o Cordeiro de Deus...”, os fiéis agora respondem: “Senhor, eu não sou digno(a) de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo(a)” (compare Mt 8, 8).  A Sagrada Comunhão agora é distribuída aos fiéis. Após o sacerdote limpar o cálice, reza uma curta Oração final.

Envio

Neste momento é lugar para os avisos de interesse da comunidade. Quando terminam, o celebrante abençoa a comunidade reunida com a bênção em nome do Pai, Filho e do Espírito Santo, e pronuncia as palavras “Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe!”

O rito litúrgico é finalizado com o canto ou música final. Os fieis voltam para a sua vida cotidiana.

 (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, pp. 274-276)6
Continua...
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¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

² Na Igreja Católica, o celebrante ou presidente da Celebração Eucarística sempre é um sacerdote (padre ou bispo), que recebeu o sacramento da Ordem.

³ (Missal Romano é o livro usado na Missa de rito romano para as leituras próprias do celebrante (sacerdote).

4  São quatro as Orações Eucarísticas Universais:
Oração Eucarística I: Conhecida como Cânon Romano, a Oração Eucarística da Igreja de Roma. Ela a Oração Eucarística mais antiga. Já era usada na Igreja no século IV.
Oração Eucarística II: Conhecida como o Cânon de Santo Hipólito. O próprio Santo Hipólito a compôs por ocasião de sua ordenação episcopal. Sua composição foi feita por volta do século IV.
Oração Eucarística III: Esta oração foi composta por uma comissão de liturgistas que participaram do Concilio Vaticano II. Ela afirma que a Eucaristia é o sacrifício perfeito, pelo qual toda a humanidade presta um ato de louvor a Deus. A Igreja como principal responsável pela prolongação dos mistérios de Cristo, não se cansa de oferecer do nascer ao por do sol este sacrifício agradável ao Senhor.
Oração Eucarística IV: Também composta por ocasião do Concilio Vaticano II. Ela narra as maravilhas realizadas por Deus ao longo da História da Salvação.

No Brasil, por autorização da Santa Sé, existem outras fórmulas de Orações Eucarísticas:
Oração Eucarística V: Do Congresso Eucarístico de Manaus
Oração Eucarística para diversas circunstâncias VI A: – A Igreja a Caminho da Unidade
Oração Eucarística para diversas circunstâncias VI B: – Deus conduz sua Igreja pelo caminho da salvação.
Oração Eucarística para diversas circunstâncias: VI C: – Jesus caminho para o Pai
Oração Eucarística para diversas circunstâncias VI D: – Jesus que passa fazendo o bem
Oração Eucarística VII: Sobre Reconciliação I
Oração Eucarística VIII: Sobre Reconciliação II
Oração Eucarística IX: Para Missa com crianças I
Oração Eucarística X: Para Missa com crianças II
Oração Eucarística XI: Para Missa com crianças III
 5 Transubstanciação é a conjunção de duas palavras latinas: trans (além) e substantia (substância), e significa a mudança da substância do pão e do vinho na substância do Corpo e Sangue de Jesus Cristo no ato da consagração. Isto significa que esta doutrina defende e acredita na presença real de Cristo na Eucaristia. É adotada pela Igreja Católica.
A Igreja Ortodoxa, Igreja Anglicana, Igreja Luterana e Igrejas Calvinistas, crêem na presença real mas não na transubstanciação.
A crença da transubstanciação se opõe à da consubstanciação, que prega que o pão e o vinho se mantêm inalterados, ou seja, continuam sendo pão e vinho.

 6 Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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terça-feira, 12 de junho de 2012

Missa como Sacrifício – o Mistério da fé!


Continuamos o tema sobre a Missa.  O  texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, traz mais reflexões.  A leitura é fácil e agradável. Não deixe de ler.
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[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema,  é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 3 de junho de 2012: Corpus Christi. Algumas indagações)].

 

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Missa como sacrifício

A história da religião ensina que o ser humano sempre expressava a sua relação com Deus, sobretudo, através das oferendas. Entregar algo da sua propriedade significava que a sua existência e tudo o que  possuía devia a Deus. No ritual do sacrifício, onde o homem oferece algo, por exemplo através da queima no fogo, acontece a conscientização de que ele – homem – é finito e mortal. Deste jeito o oferecimento de sacrifício tornou-se sinal de entrega a Deus e de reconciliação com Ele. 

Quando os católicos chamam a Missa de “Sacrifício”, aí precisamos lembrar que, neste caso, isso tem outro significado. Em primeiro lugar, os  ritos litúrgicos cristãos não devem ser entendidos como atos puramente humanos, mas como a atuação de Deus. Não somos nós que fazemos sacrifício na Santa Missa, mas é o Cristo que intercede por nós. O sinal da entrega a Deus e a fonte de reconciliação com Ele não  é nosso sacrifício, mas  é o sacrifício de vida de Jesus Cristo. Desta maneira, Jesus terminou com as  formas anteriores de oferecer sacrifícios, que sempre eram insuficientes (compare Hb 9, 13. 28; 10, 12; 1 Jo 3,16).

A Missa, então, não é somente a repetição da Última Ceia, mas nela torna-se presente, de verdade, a morte de Jesus na cruz. São Paulo escreve: “Pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha.” (1Cor 11, 26)

O próprio Jesus estabeleceu a união entre a ceia e os acontecimentos na cruz dizendo: ... o meu corpo entregue por vós ... . O meu sangue derramado por todos. Não se pode, no entanto, entender o sacrifício de sua morte como se Deus fosse aplacado com o sacrifício de sangue. O ato de Jesus tem o duplo objetivo: Deus e o homem. Ele mesmo assemelhou-se ao homem e tomou sobre si todo o mal humano, todo pecado. Em seguida ele tinha que experimentar a derrota, porque o pecado sempre age destrutivamente. Porém, mantendo-se nisso tudo fiel a Deus, Cristo corrigiu o mal, venceu o pecado. Graças a isso ocorreu a unificação daquilo que estava separado – o homem e Deus (compare Rom 3,25; 8,3 Hbr 2,17). O ser humano quando se relaciona com Jesus – participa nesse ato e não será mais derrotado.

Uma participação verdadeira e autêntica dos ritos da Santa Missa consiste em nós nos juntarmos ao sacrifício de Cristo. Estamos aos pés da cruz e ali não podemos ficar passivos: precisamos assumir a postura do discípulo e estarmos prontos a viver a nossa vida para Deus e para os homens, nossos irmãos. É neste sentido o sacrifício de Cristo torna-se também a nossa oferenda.

Vemos aqui como os ritos litúrgicos cristãos estão ligados com a vida diária do ser humano. Onde essa ligação foi rompida, onde não se concretiza “o existir para o outro”, os ritos litúrgicos tornam-se infrutíferos. Neste caso, nós não agimos como discípulos e amigos de Cristo.

Missa – o Mistério da fé.

Aqui entra novamente em ação a nossa razão crítica: Será que realmente tudo isso tem que estar  oculto sob um simples símbolo da Santa Missa? Deus teria que estar tão perto do nós? Permitiria se tocar sob espécie de pão e de vinho? Será que ali nós podemos realmente encontrá-lo pessoalmente?

São João disso que os Judeus polemizavam sobre este tema. Quando Jesus falou desse mistério, murmuravam até os seus discípulos e muitos chegaram a abandoná-l’O. Ele, porém, exige deles uma decisão clara. Insistia que precisassem entender a sua palavra na sua  forma concreta (Jo 6,48–69).

Trata-se, aqui, então, não dos símbolos e nem de sinais devotos, mas da presença real de Deus entre os homens. Quem não experimenta o próprio Deus em Jesus, esse não compreende a Santa Missa. (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 272-274)²
Contiuna...
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¹   Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

²  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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