Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Tantas Igrejas no mundo.... O que é catolicidade?



Nas postagens anteriores do blog Indagações falamos sobre o tema da Igreja Católica, com o propósito de desenhar claramente a imagem que ela – a Igreja Católica – tem de si mesma.

Mas têm ainda outras questões que também devem ser apresentadas. Por exemplo, como entender a existência, ao lado dela, tantas Igrejas cristãs no mundo inteiro? Qual  é a relação da Igreja Católica com essas Igrejas e com as outras religiões?  “Fora da Igreja não tem Salvação” – dizia-se antigamente, e hoje - como se pensa?   Qual é a importância do ecumenismo? Como a Igreja Católica vê a sua missão no mundo? Qual é a sua relação com este mundo?

Para essas perguntas a Igreja Católica tem as suas respostas e entende as questões, mencionadas acima,  do seu jeito.  Mas, será que realmente conhecemos bem essas suas posições a esse respeito?  Como já escrevi numa das postagens anteriores, acredito que  somente quando conhecemos  alguma coisa bem mesmo,  então   criamos condições para verificar se as nossas opiniões realmente correspondem  à verdade.

Com intuito de falar sobre os  assuntos enumerados ainda pouco, trago aqui os textos de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  Para começar, o texto abaixo analisa o fato da Igreja Católica existir no mundo inteiro, mas, ao mesmo tempo, ao lado de muitas outras Igrejas, sobretudo cristãs, que surgiram ao longo da história.
É interessante.  Não deixe  de ler.
WCejnog

Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (é uma série de 16 textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto de 2012  -  http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).


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Igreja e Igrejas no mundo

Todos os homens são chamados para fazer parte da sociedade (comunidade)  que Jesus Cristo quer reunir. Isto significa que pode existir só uma comunidade dos fieis, só uma Igreja, que deve  estender-se “no mundo inteiro” (é isso justamente que significa a palavra “católica”  = universal) e deve permanecer por todos os tempos. Universalidade e unidade, catolicidade e unidade da Igreja – são as características da Igreja, que se complementam.

É verdade que o Novo Testamento, nas cartas de São Paulo e nos Atos dos Apóstolos, fala sobre várias Igrejas, mas refere-se às Igrejas locais (por exemplo, no Corinto,  Éfeso,  em Roma).  Durante séculos as Igrejas locais desse  tipo elaboravam e preservavam características específicas, como por exemplo os próprios costumes, próprios  rituais,o próprio idioma. Todas elas, no entanto, eram unidas pela única fé e se consideravam Igrejas particulares dentro da Igreja universal, isto é, católica. Nesse  sentido a expressão “Igrejas” é totalmente justificada. Assim, por exemplo, surgiram os patriarcados no Oriente, chamados “antigos” (em Constantinopla, em Jerusalém, em Antioquia), que, no entanto, permaneciam  unidos entre si e com o sucessor de São Pedro, o papa. Com muita razão todos eles se chamam “Igrejas”.

Neste sentido também a Igreja Católica Romana é uma Igreja particular, porque a Igreja Católica não se identifica com a romana, ou – como se fala costumeiramente – com a Igreja latina. Assim descreve-se apenas a Igreja particular  do Ocidente, o patriarcado de Roma. O termo “católico” expressa, então,  não só a expansão geográfica da Igreja  pelo mundo todo, mas também significa que as Igrejas locais e também as Igrejas particulares deveriam manter entre si a unidade e não podem se  isolar. Portanto, cada Igreja, tanto local como particular, existe voltada para a Igreja universal e sem isso não teria a  razão de ser. Como cada bispo é  responsável também pela Igreja universal (católica), assim também cada Igreja particular traz os seus valores para o tesouro de toda a Igreja -  e isso  se chama catolicidade. Neste sentido, na Igreja de Cristo realmente existe pluralismo e diversidade, que surgem do seu alcance mundial – da sua universalidade.

Precisamos reconhecer que a diversidade de Igrejas particulares, às vezes, era pouco respeitada – e isso por causa da necessidade de manter a unidade. Sobretudo no passado, nas terras missionárias muito freqüentemente  pouco se  levava em consideração a específica e a mentalidade de outros povos, impondo formas européias ocidentais e romanas, inclusive com a construção de igrejas no estilo europeu. O último Concílio, Vaticano II, novamente colocou acento no fato que sobre a verdadeira catolicidade pode se falar somente lá, onde todas as Igrejas particulares trazem os seus valores para a Igreja universal; hoje estamos profundamente convencidos de que também as sociedades eclesiais separadas de Roma têm idéias importantes para serem incluídas dentro da realidade da “totalidade” católica.

“Católico”, “abrangente”, “universal” – são os termos  que sobretudo  lembram que deve ser preservada integralmente a verdade de Jesus Cristo.  O perigo de isolamento e de separação de pequenas parcelas da Igreja, sendo tratadas  de maneira  exclusiva ,  se entrelaça ao longo da história da Igreja.  Exatamente assim aconteciam as “cismas”.  A Igreja Católica está convicta de que preservou, mesmo considerando  apenas  em termos humanos,  de maneira imperfeita  – tudo aquilo  o que é essencial na mensagem de Jesus Cristo:  os mais importantes ofícios, todos os santos sacramentos, a mesma fé (com a sua profundidade interior e as realizações externas), laços e a liberdade, a graça Divina e o esforço humano, as normas sólidas e as decisões pessoais baseadas na consciência, ascese e alegria de  vida. Todas essas formas, mesmo demonstrando aparentes contrariedades – cabem dentro da dimensão da Igreja  católica.


(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 161-162)²


Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]

²  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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sábado, 27 de outubro de 2012

A força da fé. O que significa?



Jesus cura o Bartimeu,  o homem que era  cego e mendigava  por esmola. O grito desse homem pelo socorro fez Deus operar milagre. Jesus devolve-lhe  a visão.  - É o episódio muito conhecido, narrado pelo evangelista Marcos.

Provavelmente, já tivemos a oportunidade de refletir muito sobre esse quadro,  ou ler os comentários. Acredito, no entanto,  que a riqueza da Palavra de Deus é inesgotável:  cada vez que nos dispomos a “parar” para meditá-la, ela  se apresenta de forma nova e  mais forte diante de nós. E isso é fascinante!

Trago aqui, no blog Indagações,  o comentário de  Asun Gutiérrez Cabriada, que é uma reflexão maravilhosa sobre esse episódio.
Não deixe de ler.

[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat:   http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom30B12port.pps .
Trabalho muito bonito!]
WCejnóg 



Contra todo o paternalismo milagreiro,
isto é o mais característico dos milagres de Jesus
e a suprema discrição de Deus: curar,
fazendo que os seres humanos se curem a si mesmos.

 Jon Sobrino

Evangelho segundo Marcos 10, 46b-52

Naquele tempo, ao sair de Jericó com os discípulos e numerosa multidão, um cego sentava-se à beira do  caminho pedindo esmolas. Era o filho de Timeu, Bartimeu.  E, ouvindo que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar as palavras:
– Jesus, filho de David, tem piedade de mim!
Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais:
– Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!
Muitos o repreendiam para que se calasse mas ele gritava ainda mais alto: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!
Jesus parou e disse:
– Chamai-o.
Chamaram então o cego e disseram-lhe:
Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te!
Jogando para o lado o manto,  levantou-se de um pulo e foi ter com Jesus.
Jesus perguntou-lhe:
– Que queres que  te faça?
O cego respondeu-lhe:
–“Meu mestre”, respondeu o cego, “que eu torne a ver!”.
Jesus disse-lhe:
-“Vai, a tua fé te salvou!”.
E no mesmo instante ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.


“Filho de Davi, tem piedade de mim!” – gritava o cego Bartimeu.
Qual é o meu/seu  grito perante Jesus?

Comentário

Nesta época, as pessoas cegas eram a viva estampa da miséria, do desamparo e da desesperança. Não é estranho que o homem dos olhos mais amáveis, puros  e profundos, sentisse especial simpatia por eles.
Não nos incomodam os “gritos” dos que encontramos no caminho? Não nos são incômodas as pessoas que  fazem perguntas?
Impedimos  outras pessoas que possam sentir, escutar e ver Jesus?
Ou, pelo contrário, nos aproximamos, animamos, facilitamos e clarificamos o caminho até Ele?  Qual é o meu grito perante Jesus?

Para seguir Jesus há que ver. 
O reconhecimento de Jesus vem dos últimos da sociedade, das pessoas “mal vistas”, dos que estão à beira do caminho, daqueles a quem alguns pretendem fazer calar.
Um personagem marginal e secundário encarna atitudes e respostas que os que estão próximos de Jesus não são capazes de oferecer. Jesus  entra sempre em relação com quem está à beira do caminho. Detém-se,  preocupa-se em ver e convida a pôr-se de pé. Tem sempre tempo para quem necessita buscar, receber, levantar-se, retomar o caminho, ver...

O encargo vai também para nós: Animai! Chamai! Não deixeis ninguém caído na valeta. Anunciai que estou a passar.


Coragem! Levanta-te!

Sabes, Senhor? Pergunto-me si te agrada, se estás de acordo com que nos ponhamos de joelhos, mesmo que seja diante do sacrário, ou diante da cruz na Sexta-feira Santa...

Pergunto-me se não nos olhas com mais satisfação, quando nos vês de pé; se não é melhor uma postura de adoração estar de pé, não por um orgulho desafiante de quem não se dobra,
nem baixa a cabeça nem sequer perante Ti, mas porque é a postura à qual nos chama o Abbá: a postura que Tu pediste para toda a pessoa... e por isso Te mataram.

Pergunto-me, Senhor, se essa postura tão reverente de nos pormos de joelhos com a cabeça inclinada, não está refletindo uma postura de estar curvados sobre nós mesmos; de poder dizer a Deus, olha, estou assim por Ti  (uma forma de passar faturas).

É certo que, a partir do nosso amor próprio, nos é muito mais fácil ajoelhar-nos e baixar o olhar, que permanecer em pé e olhar uns olhos que nos olham com uma misericórdia e amor infinitos.

Eu creio que, se voltarmos o olhar para Ti, Jesus, que jogaste a vida para  pôr toda a pessoa em pé (especialmente os que estavam humilhados), para nos dizeres o quê e como é isso de ser filhos e filhas; se voltarmos o olhar para o Abbá, que nos chama a ser filhas e filhos, a postura correta, a verdadeira postura de adoração e reconhecimento para Ti, a que Tu esperas, é ver-nos de pé.

Marta Zubía


O cego tirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus.

O manto representa a pessoa. O cego deixa a sua vida passada, aproxima-se da luz e segue Jesus. Jesus faz a Bartimeu a mesma pergunta que aos Zebedeus. A resposta é diferente. 
 
A disposição do coração de Bartimeu, contrasta com a dos Zebedeus. Eles queriam sentar-se à direita no Reino. Bartimeu quer deixar de estar sentado, quer levantar-se para seguir Jesus.

– Que queres que Eu te faça?

Jesus não dá por certo o que as pessoas querem. Pergunta e escuta.
Para se informar do que as pessoas necessitam, é necessário aprender a receber e escutar as perguntas que fazem. Se não, corremos o risco de responder a perguntas que ninguém faz ou dar respostas que não interessam a ninguém.

Para poder servir e saber o que os outros necessitam, há que fazer a pergunta correta: que queres que faça por ti? E esperar, respeitar e escutar aquilo que responderem.
Como faz Jesus.
– Mestre, que eu veja.

O mendigo cego pede orientação e luz.
Começa a ver com claridade, a perceber as coisas como são, quando dialoga com Jesus e responde à sua Palavra.

Descubro perante Jesus as minhas cegueiras.  As que me impedem ver e desfrutar, as que me levam a confundir a realidade,  as que não me deixam perceber  os sinais dos tempos  e o verdadeiro sentido da vida, as que me paralisam à beira do caminho...

Olhando para Jesus aprendo a abrir os olhos e a ajudar outras pessoas a que abram os seus, a sair das suas cegueiras.
- Vai: a tua fé te salvou.

Jesus diz que é a fé, a plena confiança n’Ele, que dá a vida, que salva.  O cego não acreditou por ter sido curado; foi curado por ter acreditado. Este curar não é só cura física, mas profunda transformação dos olhos e do coração para uma nova caminhada.

Bartimeu é modelo de autêntico discípulo: testemunha e proclama a sua fé, tradu-la em oração perseverante e confiante, liberta-se de tudo o que impede um encontro pessoal com Jesus e, com a sua luz, segue-O com decisão e alegria no seu caminho.


A beira do caminho

Aqui  estou, Senhor,
como o cego à beira do caminho
- cansado, suado, empoeirado;
mendigo por necessidade e ofício.

Mas ao sentir os teus passos,
ao ouvir a tua voz inconfundível,
todo o meu ser estremece
como se um manancial brotasse
dentro de mim.

Ah, que pergunta a tua!
Que deseja um cego se não ver?
Que eu veja, Senhor!
Que veja, Senhor, os teus caminhos.
Que veja, Senhor, os caminhos da vida.
Que veja, Senhor, acima de tudo,
o teu rosto, os teus olhos,
o teu coração.
Ulibarri, Fl.