Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

2. Passar pela morte é atravessar “o portão da vida”.



Continuando a reflexão sobre o tema da morte, o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, aponta para os textos bíblicos, à luz dos quais a morte para o homem, na verdade, é como atravessar o portão da vida. Ela não é mais o fim, mas um novo começo de uma vida que não terá fim. E isso faz muita diferença!
Não deixe de ler.
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[ Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações seria bom ler desde o início todos os seus textos sobre este assunto (é uma série de 11 textos publicados aqui, no  blog Indagações, com o começo no dia 29 de janeiro de 2013  -  http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2013/01/sobre-morte-o-que-sabemos-no-que.html  ) ].


(2)


A morte como portão da vida



Muitos consideram a  morte uma barreira contra  a qual destroça-se a vida. O  futuro depois da morte?...   Não  é fácil controlar protestos e dúvidas! Alguns acham que alimentar a  esperança de  que existe algum tipo de vida após a morte e a possibilidade de recompensa não  é nada mais que uma mentira para  confortar os homens simples e para deslocar a  atenção do ser humano das deficiências e dificuldades da vida real. Resumindo: com a  morte – tudo acaba.


Será que esta maneira de ver a morte como um fim definitivo não teria conseqüências para a vida no mundo? O homem não deveria, neste caso, “apostar tudo numa carta só” para aproveitar em qualquer situação ao máximo o tempo  que  ainda tem? Claro, uma atitude dessa seria possível e não poderia ser proibida, mas  isso não  levaria à situação de extrema rivalidade?


Neste contexto, alguém que  é humanista, que ama o ser humano, que entrega o seu conhecimento e os seus recursos à disposição de algum hospital para  leprosos, não seria um  tolo diante do bando de homens sem escrúpulos que, por exemplo, de propósito começam alguma guerra para poder lucrar com ela? Pois, se a morte tudo aniquila, então por que  precisamos fazer algo mais que  necessário para nos sentirmos bem?


Já reparamos, não poucas vezes, que alguma coisa em nós não aceita a idéia de total  aniquilação. Por isso, muitas pessoas querem continuar vivas nas suas obras ou nos seus filhos. Os faraós egípcios construíam as pirâmides para fazer valer a sua memória para o futuro. Por sua vez, outros trabalham em algum grande projeto ou “criam a história”, para a humanidade não os esquecer. No entanto, tudo isso não deixa  de ser apenas uma “sombra”, porque aqui, de fato, esse homem não viverá mais, mas somente o seu “eco”.


O que sobre o futuro nos  diz a Fé?  Jesus Cristo promete: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá. E quem vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11, 25-26). São Paulo, por exemplo, sabe como a morte invade impiedosamente a vida e como destrói a esperança, os planos e o contato e a convivência com os outros, mesmo assim para ele o morrer não é a dolorosa separação, mas significa voltar para casa: “Estou como que na alternativa. Pois de um lado desejo partir para estar com Cristo, o que  é melhor. Por outro, quisera permanecer na carne, o que  é mais necessário para vós” (Fl 1, 23) e “Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos do corpo para morar junto do Senhor” (2Cor 5,8).

Para uma pessoa crente, que tem fé, a morte não é um fim inevitável e absurdo, mas  um novo começo. Por isso a Bíblia, falando da morte, usa as  palavras que  transmitem conforto, e  não as que expressam a resignação.


Obviamente, não podemos imaginar que Jesus Cristo trouxe para nós algum tipo de “comprimido” contra a morte. Mas, depois dele, a morte não é mais um mal inevitável, ao qual temos que nos submeter. Assim como Ele voltou da morte, assim também nós continuaremos viver com Ele: “[...] Se cremos  que Jesus morreu  e  ressuscitou,  cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morreram. [...]” (1 Tes 4, 13-18).

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 346-347)²
Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]

²  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

1. Sobre a morte. O que sabemos? No que acreditamos?



O tema da morte sempre intriga todo o ser humano. É carregado de suspense, incertezas, inquietude, resignação, medo e pavor - para uns; de  certeza,  confiança, saudade, espera e a prontidão de entregar a sua vida a Deus, em quem acreditam – para outros;  ou é considerado absolutamente “normal”, mas também absurdo, como a própria morte, e por isso corriqueiro, “dispensável”, tratado sem dar a ele nenhuma importância, porque simplesmente “não restará nada!” – para outros ainda. Para esses últimos, o que importa é viver até quando for possível, e é só! O “resto” não importa.

Na verdade, um pouco de tudo isso sempre fica nos pensamentos de qualquer pessoa, quando o assunto  é o fim da vida humana e a morte inevitável - o fato, que é a única certeza que o homem tem neste mundo, onde é apenas peregrino. Ninguém permanecerá  aqui para sempre, eis a verdade!  A imagem da folha seca, caindo ao chão, levada pelo vento – é muito expressiva quando comparada com a fragilidade e a temporalidade da vida humana neste mundo.

Qualquer que seja “visão” ou “explicação” que se possa dar ao desfecho da vida humana, sempre estará carente de provas contundentes e definitivas que permitiriam afirmar com certeza que  é assim mesmo, e não diferente. Isso explica o fato de existirem  tantas versões diferentes, tantas doutrinas, e – na vida concreta – tantas posturas diversas, muitas vezes completamente opostas, em relação à morte.

Também nós, os cristãos, acreditamos na doutrina sobre o último destino do ser humano, baseando-nos nos ensinamentos de Jesus Cristo e na Revelação Divina contida nas Sagradas Escrituras, confirmados pela fé e pregação dos primeiros Padres da Igreja (patrística). Acreditamos que a morte não é o fim do ser humano, pois assim nos garante Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele próprio padeceu, foi morto e sepultado, mas ressuscitou e está vivo! E porque acreditamos na doutrina da Igreja de Jesus cristo, dizemos também: creio na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na  vida eterna. Amém. (Credo - “Símbolo dos Apóstolos”)

Mas, como realmente entendemos todos esses termos? A doutrina cristã sobre a escatologia¹ usa muitos outros termos, que fazem parte do nosso vocabulário: o céu, o juízo, o purgatório, o inferno, a volta de Jesus Cristo, a ressurreição dos mortos... Tudo isso,  apesar de ter nomes,  faz  parte de um grande mistério. O próprio Jesus disse com as palavras da parábola sobre rico e o Lázaro: “[...] Ademais entre nós e vós há um grande abismo. Os que quiserem passar daqui para aí não podem nem tampouco daí para cá(Lc 16,26). Portanto, não há como provar nada, verificar nada, a não ser acreditar. E  para quem acredita – não há mais dúvidas: há a certeza da fé! Quem, no entanto, não acredita – não existem provas materiais que lhe provem ao contrário.

Nós tentamos, muitas vezes, imaginar tudo isso com as nossas limitadas categorias humanas, cheias de imagens grotescas e exuberantes, talvez ainda do tempo da nossa infância... A imaginação humana freqüentemente mostra-se exageradamente “fértil” e quase “ilimitada” nas obras cinematográficas, poluindo e deformando mais  e mais a mente de muitas pessoas passíveis às influências... Nós nos baseamos na fé cristã, porém, freqüentemente, misturamos ao nosso gosto as suas verdades essenciais com os elementos da cultura, folclore, superstições e até de “magia”...

Enfim, qual é a doutrina da Igreja Católica sobre a morte e o destino do homem? Como podemos entendê-la melhor, para não cultivar imagens falsas ou deformadas  em relação ao que ela nos ensina? O que é essencial nessa doutrina e o que não é?

É sobre estes assuntos serão as próximas reflexões no blog Indagações. São os textos de autoria de Ferdinand Krenzer², que podem ajudar, a todos nós, a compreendermos melhor as questões que fazem parte da escatologia. O autor dirige essas reflexões para os cristãos de modo geral,  principalmente para os jovens.
Para começar, o texto que aborda a pergunta: “Morte, e o que depois?”
É interessante.  Não deixe  de ler.


 (1)

Morte e o que depois?
Deus é como alguém
conquistado – o céu;
como alguém perdido –  o inferno;
como alguém que investiga – o juízo;
como alguém que purifica – o fogo.

Um comunicado no jornal de tarde era curto: Uma catástrofe de Boeing 727 na baía de São Francisco: 129 mortos. A causa do  acidente desconhecida. Não foi possível prever o que aconteceu. A catástrofe surpreendeu os passageiros do avião. A morte chegou “como ladrão durante a  noite”.

(Podemos também pensar na recente  tragédia do incêndio no boate em Santa Maria, RS, que provocou a morte de mais  que 230 pessoas, além de muitos feridos, na sua maioria jovens universitários, trazendo dor, desespero e luto para tantas famílias e amigos das vítimas. [N do T.])

Onde vivem os homens, sempre existe também a possibilidade de perder a vida. Não tem sentido fechar os olhos para isso. Os transplantes de coração, transplantes da medula e de outras novas células, as cirurgias realizadas em baixas temperaturas, etc. servem para  prolongar a vida, mas não liquidam a morte.

O que é a morte?

O que acontece quando uma pessoa morre? Diante desta pergunta todos ficamos preocupados. O último passo cada um faz sozinho. A respiração para, o coração deixa de bater, terminam  as atividades do cérebro – eis o último  quadro que permite dar o atestado de óbito. Mas, será que isso já diz tudo sobre a  morte?

Procurando na Bíblia as respostas sobre a  morte, não podemos esperar que de lá surgirá algo mais para entrar nas discussões médicas. O que aqui interessa é uma explicação e compreensão religiosa de morte. A Bíblia se expressa com as imagens que, às vezes, não  são fáceis para entender e, por isso, facilmente muitas delas são  interpretadas dentro dos esquemas humanos e servem como fonte de imaginação infantil. Por isso é necessário sempre investigar com o novo empenho, qual é o verdadeiro sentido das imagens de conteúdo teológico. Compare: “Quando era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança; quando cheguei a ser homem, deixei as coisas de criança agora inúteis. No presente vemos por um espelho e  obscuramente; então veremos face a face. No presente conheço só em parte; então conhecerei  como sou conhecido.” (1 Cor 13, 11-12).

Por que o homem deve morrer?

De imediato a nossa resposta é esta: Porque as forças e energias do  corpo se esgotaram. Começamos a existir, crescemos, madurecemos, alcançamos o ponto máximo, e depois, com a idade, vamos sofrendo a diminuição da vitalidade. Morrer é, portanto, algo totalmente natural. Isto é verdade. Mas, será que não nos desafia o fato que, por exemplo,  esse processo de desgaste não afeta na mesma proporção o estado psíquico e espiritual do ser humano? Têm enfermos no corpo e pessoas velhas, que espiritualmente permanecem muito jovens, conscientes e ágeis. A morte do ser humano não é só  o processo físico – químico: o homem sabe da sua morte e sobretudo fica  consciente das perguntas ligadas a ela. Morre de modo diferente que uma planta ou animal.

Na Bíblia, a morte freqüentemente tem ligação com o pecado que desde o início perturba a vida humana: “[...] Foi por isso que o pecado entrou no mundo como por um só homem e, pelo pecado, a morte, e assim a morte transmitiu-se a todos os homens naquele em quem todos pecaram.” (Rm 5,12). Isso não significa que se não tivesse pecado, que o homem não  haveria de morrer. Mas, certamente, não experimentaria a morte como catástrofe, como um grande absurdo. A morte não seria simplesmente o fim, mas se tornaria uma transformação, complementação e o ponto culminante. Atrás disso existe  o pensamento que o homem pode se  libertar das garras da morte unicamente em ligação com Deus, a fonte de toda vida.

No projeto Divino do mundo a morte realmente é uma intrusa, uma inimiga do homem: “O último inimigo reduzido a nada será a morte [...]”(1Cor 15, 26). Não deveria existir e também não permanecerá para sempre. Por isso o novo protesto contra ela é totalmente justificado. A morte contraria, no sentido mais profundo, o nosso desejo de viver.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 345-346)³

Continua...
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¹   Escatologia cristã é o estudo do fim das coisas, tanto o fim de uma vida individual, ao final da época, ou o fim do mundo, nos aspectos do cristianismo. A palavra "escatologia" é derivada de duas palavras gregas que significam: "último" e "estudo" (σχατος, por último, e λογία, lit.). Em termos gerais, é o estudo do destino do homem como é revelado na Bíblia, fonte primária de todos os estudos sobre escatologia cristã. (Wikipédia)

²   Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]


³  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]