Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 31 de maio de 2014

“Não fechar o horizonte.” - Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos.” (Mt 10,4)

É muito gratificante poder ler uma reflexão tão concreta e atual, que tem como fundo o texto Mt 28,16-20.  Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de aproveitar!
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IHU – Notícias

Sexta, 30 de maio de 2014.

Não fechar o horizonte

leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 28, 16-20 que corresponde ao Domingo da Ascensão, Ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Ocupados apenas em conseguir de imediato um maior bem-estar e atraídos por pequenas aspirações e esperanças, corremos o risco de empobrecer o horizonte da nossa existência perdendo a aspiração da eternidade. É um progresso? É um erro?

Há dois aspetos que não é difícil comprovar neste novo milênio em que vivemos há alguns anos. Por um lado, está crescendo na sociedade humana a expectativa e o desejo de um mundo melhor. Não nos contentamos com qualquer coisa: necessitamos progredir para um mundo mais digno, mais humano e feliz.

Por outro lado, está crescendo o desencanto, o ceticismo e a incerteza ante o futuro. Há tanto sofrimento absurdo na vida das pessoas e dos povos, tantos conflitos envenenados, tais abusos contra o Planeta, que não é fácil manter a fé no ser humano.

No entanto, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia está conseguindo resolver muitos males e sofrimentos. No futuro se conseguirá, sem dúvida, êxitos ainda mais espetaculares. Ainda não somos capazes de intuir a capacidade que se encerra no ser humano para desenvolver um bem-estar físico, psíquico e social.

Mas não seria honesto esquecer que este desenvolvimento prodigioso nos vai “salvando” só de alguns males e de forma limitada. Agora precisamente que desfrutamos cada vez mais do progresso humano, começamos a perceber melhor que o ser humano não pode dar-se a si mesmo tudo o que deseja e procura.

Quem nos salvará do envelhecimento, da morte inevitável ou do poder estranho do mal? Não há de nos surpreender que muitos comecem a sentir a necessidade de algo que não é técnica, nem ciência, nem doutrina ideológica. O ser humano resiste a viver encerrado para sempre nesta condição caduca e mortal.

No entanto, não poucos cristãos vivem hoje olhando exclusivamente para a terra. Ao que parece, não nos atrevemos a levantar o olhar mais além do imediato de cada dia. Nesta festa cristã da Ascensão do Senhor quero recordar umas palavras daquele grande cientista e místico que foi Theilhard de Chardin: “Cristãos, a apenas vinte séculos da Ascensão, que haveis feito da esperança cristã?”.

No meio de interrogações e incertezas, os seguidores de Jesus seguem caminhando pela vida, trabalhados por uma confiança e uma convicção. Quando parece que a vida se fecha ou se extingue, Deus permanece. O mistério último da realidade é um mistério de Bondade e de Amor. Deus é uma Porta aberta à vida que ninguém pode fechar.

Fonte:  IHU - Notícias




sexta-feira, 30 de maio de 2014

“Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos.” - Comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez.


“Todo o poder me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” (Mt 28, 18-19)

A festa de Ascensão de Jesus.
O comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada sobre o texto Mt 28,16-20 é muito bom. Vale a pena ler!
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Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montserrat. www.benedictinescat.com/montserrat 
Trabalho muito bonito!

Comentário

Naquele tempo, os onze discípulos
partiram para a Galileia,
em direção ao monte
que Jesus lhes indicara.
Quando O viram, adoraram-n’O;
mas alguns ainda duvidaram. 

O lugar onde Jesus se reúne com os discípulos é significativo, na Galileia, nas margens, onde começou a sua missão, e num monte, onde congregou todo o povo.
Eu também sou um(a) discípulo(a). Onde me convoca Jesus? Onde me reúno com Ele e com os outros?
A presença de Jesus dá lugar à adoração e à dúvida.
A fé está misturada com a dúvida, companheira inseparável da fé itinerante. É o claro-escuro da fé: fé e vacilação, claridade e desconcerto...

Jesus aproximou-se e disse-lhes:
- Todo o poder me foi dado
no Céu e na terra.
Ide e ensinai todas as nações,
batizando-as em nome do Pai
e do Filho e do Espírito Santo,

Jesus aproxima-se de nós. Está sempre próximo. Convida-nos a seguir o seu caminho, a nos pormos a caminho, a sair onde estão as pessoas, as suas alegrias, as suas dificuldades,  as suas esperanças…

Anima-nos a nos comprometermos no empenho de trabalhar para que o nosso mundo seja mais justo, mais solidário, mais limpo, mais fraterno, mais livre, mais pacífico, mais feliz.
A tarefa está na vida de cada dia.  A fórmula “Pai, Filho e Espírito Santo”, recorda-nos que Deus é Amor. Amor comunicado. A sua glória e o seu poder é amar. Igualmente que a nossa.

Ensinando-as a cumprir
tudo o que vos mandei.

Jesus encarrega-nos de mostrar, com as nossas palavras e a nossa vida, o modelo que nos deixou: a sua humanidade profunda, a sua personalidade sensível, a sua coerência e valentia, o seu olhar misericordioso, a sua liberdade e solidariedade,  a sua capacidade de servir.
Mostramos que Deus é amor, amando.
Que é misericórdia, acolhendo e aliviando.
Que é felicidade, vivendo e contagiando alegria.
Mostremos que Deus é comunidade, partilhando, unindo,
solidarizando-nos...
É nossa missão tornar presente a sua presença no mundo, comunicar a Boa Notícia, ser Boa Notícia.

Eu estou sempre convosco
até ao fim dos tempos.

São as últimas palavras de Jesus nos três sinóticos. Não há tristeza de despedida, é uma mensagem de consolo, alegria e júbilo. Uma grande notícia.

A Ascensão não é o final da atividade de Jesus, é o começo da missão dos seus seguidores. Ele continua conosco, alimenta a nossa esperança e torna-nos capazes de proporcionar esperança aos outros. Enche-nos da sua presença.
Jesus diz-nos: vivei como eu vivi. Não fiqueis parados olhando para céu; olhai para o mundo e tratai de pôr o céu na terra.
Para o conseguir, não estamos sós nem abandonados. Contamos com o seu estímulo, a sua ajuda e a sua companhia. Ele acompanha-nos todos os dias.


Fazei discípulos

Fazei discípulos meus, não mestres;
fazei pessoas, não escravos;
fazei caminhantes, não gente sentada,
fazei servidores, não chefes. Fazei irmãos.

Fazei buscadores da verdade, não amos de certezas,
fazei poetas, não pragmáticos.
Fazei criadores, não plagiadores.
Fazei pessoas arriscadas, não espectadores. Fazei irmãos.

Fazei profetas, não cortesãos,
fazei gente inquieta, não satisfeita;
fazei pessoas livres, não legalistas;
fazei gente evangélica, não agoireira. Fazei irmãos.

Fazei artistas, não soldados,
fazei testemunhas, não inquisidores.
Fazei amigos de caminho. Fazei irmãos.

Fazei pessoas de encontro, com entranhas e ternura,
com promessas e esperanças, com presença e paciência,
com missão e envio. Fazei irmãos.

Fazei discípulos meus;
Dai-lhes tudo o que vos dei e senti-vos irmãos.

Ulibarri Fl. 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Entrevista com o Papa. Francisco responde a várias perguntas. O que falou? – confira aqui!


Acho que é importante conhecer as opiniões do Papa Francisco sobre vários temas e questões, dos quais atualmente se fala muito. Embora de forma bem curta, ele respondeu às perguntas durante uma entrevista, ao estar terminando a sua viagem à Terra Santa. É muito bom saber o que ele diz.

A matéria foi publicada recentemente por Vatican Insider, e também no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).  Para ajudar na sua divulgação, trago-a para o blog Indagações-Zapytania. 
Vale a pena conferir!

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IHU - Notícias
Quarta, 28 de maio de 2014

Abusos, celibato, família, liberdade religiosa... Os temas tratados pelo Papa na viagem de retorno a Roma

O Papa Francisco, novamente, abre-se com os jornalistas. Apesar do cansaço da viagem, submeteu-se durante uma hora às perguntas dos jornalistas que viajaram com ele à Terra Santa. Os temas abordados nas respostas do Pontífice aos jornalistas, durante o voo de retorno a Roma de Israel, foram:
- “Tolerância zero, inclusive aos bispos, contra a pedofilia. Não haverá “filhos de papai”.
- Liberdade religiosa: “Hoje há mais mártires do que nos primeiros tempos”.
- Minhas decisões? “Será o que Deus quiser. Ratzinger abriu o caminho”.
-  Sobre os 15 milhões perdidos no IOR, que foram investidos na “Lux Vide”: “É uma coisa sob análise. Somos pecadores, mas é preciso procurar fazer com que aconteçam menos escândalos”.
-  Divorciados em segunda união: “Não gostei que homens de Igreja tenham se focado apenas sobre esse tema da relação de Kasper, o Sínodo é sobre a família”.



A compilação dos principais trechos da entrevista do Papa Francisco é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 27-05-2014. A tradução é do Cepat.


Entrevista












Os abusos contra menores

Neste momento, há três bispos sendo investigados. Sobre um, já condenado, está se estudando a pena. Não há privilégios sobre este tema dos menores. 

Na Argentina dizemos sobre os privilegiados: este é um filho de papai. Sobre este tema não haverá filhos de papai. É um problema muito grave. Um sacerdote que realiza um abuso trai o corpo do Senhor. O sacerdote deve conduzir o menino ou a menina à santidade. E este confia nele. Ao invés de conduzi-lo à santidade, ele abusa dele ou dela. É gravíssimo! É como fazer uma missa negra! Ao invés de conduzi-lo à santidade, levo-o a um problema que terá por toda a sua vida. Em breve, haverá uma missa com algumas pessoas vítimas de abuso, em Santa Marta, e depois haverá uma reunião, eu com eles. Sobre isto deve haver tolerância zero.

Os 15 milhões de euros do IOR investidos na “Lux Vide

O Senhor Jesus disse, certa vez, aos seus discípulos: é inevitável que haja escândalos, somos humanos e todos pecadores. O problema é evitar que haja mais escândalos. Na administração econômica, requer-se honestidade e transparência. As duas comissões, a que estudou o IOR e a que estudou a situação econômico-financeira de todo o Vaticano, chegaram a suas conclusões e agora, com o ministério e a Secretaria para a Economia, dirigida pelo cardeal Pell, vão ser realizadas as reformas aconselhadas. No entanto, ainda haverá contradições, sempre haverá, porque somos humanos. E a reforma deve ser constante.

Os Padres da Igreja diziam que a Igreja deve ser “semper reformanda”. Somos pecadores, somos fracos. A Secretaria para a Economia ajudará a evitar escândalos e problemas. Por exemplo, no IOR foram fechadas 1600 contas de pessoas que não tinham direito. O IOR é para ajudar a Igreja, os bispos têm direito, as dioceses, os empregados do Vaticano, suas viúvas, as embaixadas, porém nada mais. Não é uma coisa aberta. E este é um bom trabalho, fechar as contas dos que não têm direito. Eu diria uma coisa: a questão dos 15 milhões ainda está sendo estudada, ainda não está claro o que aconteceu.

Os gestos na Terra Santa e o encontro com Peres e Abbas

Os gestos mais autênticos são os que não são pensados. Eu havia pensado se poderia ser feito algo, mas nenhum dos gestos concretos que fiz havia sido pensado. Algumas coisas, como o convite aos dois presidentes, havia se pensado que fosse ali, durante a viagem, mas havia tantos problemas logísticos, muitos: o território onde deveria ocorrer; não era fácil. Entretanto, ao final, surgiu o convite, e espero que o encontro ocorra bem. No entanto, os meus gestos não eram pensados. Tenho isso de fazer algo, assim, espontaneamente.
Para esclarecer sobre o encontro no Vaticano, será um encontro de oração, não para fazer uma intermediação. Com os dois presidentes, nós nos reuniremos somente para rezar e acredito que a oração é importante, e fazer isto ajuda. E, depois, todos retornam para casa. Estará um rabino, um islâmico e eu. Pedi ao Custódio da Terra Santa que organize um pouco as coisas práticas.

Populismo e eleições europeias

Tive tempo para rezar alguns Pais-nossos, mas não soube nada sobre as eleições. O populismo na Europa, a confiança ou a desconfiança, algumas teses sobre o euro..., disto não entendo muito. Todavia, o desemprego é grave: estamos em um sistema econômico mundial em que o centro é o dinheiro, não a pessoa humana. Este sistema descarta para se manter. Descartam-se crianças: o nível dos nascimentos não é alto, na Itália são menos de dois por casal; na Espanha ainda é mais baixo. Descartam-se os anciãos, inclusive com a eutanásia escondida, os remédios são dados somente até certo ponto. E se descartam os jovens. Na Itália, acredito que o desemprego juvenil está ao redor de 40%, na Espanha é de 50% (em Andaluzia de 60%). Há toda uma que não estuda e nem trabalha. Esta cultura do descartável é gravíssima. Não existe apenas na Europa, mas na Europa se sente muito forte. É um sistema desumano este sistema econômico, como disse na Evangelii Gaudium.

Sobre Jerusalém, capital da Palestina

Há muitas propostas sobre a questão de Jerusalém. A Igreja católica, o Vaticano, tem sua posição do ponto de vista religioso: uma cidade da paz para as três religiões. As medidas concretas para a paz devem ser negociadas, talvez se decida que uma parte se torne a capital de um estado e a outra do outro... Contudo, não me sinto competente para dizer para que se faça isto ou aquilo, seria uma loucura de minha parte. Acredito que se deve entrar com fraternidade, mútua confiança, na via da negociação. Requer-se coragem, e eu rezo muito ao Senhor para que estes dois presidentes tenham a coragem de seguir em frente. Sobre Jerusalém digo apenas para que seja a cidade de paz para as três religiões.

Celibato e sacerdotes

A Igreja católica tem sacerdotes casados nos ritos orientais. O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida que eu aprecio muito e que acredito que é um dom para a Igreja. Ao não ser um dogma de fé, a porta está aberta.

Relação com os ortodoxos

Com Bartolomeu I conversamos sobre a unidade, que é feita pelo caminho, em um caminho. Nunca poderemos fazer a unidade em um congresso de teologia. Confirmou-me que Atenágoras disse, de verdade, para Paulo VI: “Coloquemos todos os teólogos em uma ilha, e sigamos juntos’. Devemos nos ajudar, por exemplo, com as Igrejas, inclusive em Roma. Muitos ortodoxos usam igrejas católicas. Conversamos sobre o Concílio pan-ortodoxo, para que seja feito algo a respeito da data da Páscoa. É um pouco ridículo: “Vamos ver, diga-me, seu Cristo quando ressuscita? O meu na próxima semana. O meu já ressuscitou na semana passada”. Com Bartolomeu conversamos como irmãos, queremo-nos muito, compartilhamos as dificuldades de nossos governos. Falamos bastante sobre a ecologia, de juntos fazermos um trabalho sobre este problema.

Viagem ao Sri Lanka e Filipinas. Liberdade religiosa

Há duas viagens programadas: para a Ásia, Coreia do Sul, (em agosto deste ano - nota da IHU On-Line) e em janeiro uma viagem de dois dias ao Sri Lanka e, depois, Filipinas, na região onde ocorreu o tsunami. O problema da liberdade de praticar a religião não existe somente em alguns países asiáticos, mas também em outros. A liberdade religiosa é algo que nem todos os países têm. Alguns exercem um controle, outros tomam medidas que acabam em uma verdadeira perseguição. Há mártires hoje, mártires cristãos, católicos e não católicos. Em alguns lugares não se pode carregar um crucifixo, ter uma Bíblia ou ensinar o catecismo às crianças. E eu acredito que, no momento atual, há mais mártires do que nos primeiros tempos da Igreja.

Devemos nos aproximar de alguns lugares, com prudência, para ajudá-los. Rezar muito por estas Igrejas que sofrem tanto. Também os bispos e a Santa Sé trabalham com discrição para ajudar os cristãos destes países, mas não é nada fácil. Por exemplo, em um país é proibido rezar juntos. Os cristãos que vivem lá querem celebrar a Eucaristia, e há um senhor que é operário, mas é sacerdote, e vai à mesa com os outros. Agem como se estivessem tomando chá e celebram a Eucaristia. Caso cheguem os policiais, escondem os livros e parece que estavam tomando chá.

Minha eventual renúncia

Eu farei o que o Senhor me disser que faça. Rezar, procurar fazer a vontade de Deus. Bento XVI já não tinha forças e, honestamente, como homem de fé, humilde como é, tomou esta decisão. Há setenta anos, os bispos eméritos não existiam. O que vai acontecer com os Papas eméritos? Devemos ver Bento XVI como uma instituição, abriu uma porta: a dos Papas eméritos. A porta está aberta, haverá outros ou não. Deus é quem sabe. Eu acredito que caso um bispo de Roma sinta que as forças o abandonam, deve se colocar as mesmas perguntas que o Papa Bento refletiu.

A Beatificação de Pio XII

A causa está aberta. Informei-me e ainda não há nenhum milagre. Está parada e não pode seguir adiante. Devemos respeitar a realidade da causa. Mas, não há milagre. É necessário que haja pelo menos um para a beatificação. Eu não posso pensar se o faço beato ou não.

Divorciados em segunda união

O Sínodo será sobre a família, sobre o problema da família e sobre suas riquezas e situação atual. A exposição preliminar que o cardeal Kasper fez tinha cinco capítulos, quatro dos quais sobre as coisas belas da família e sobre seu fundamento teológico. O quinto capítulo era sobre o problema pastoral das separações e sobre a nulidade matrimonial, e aí também está o tema da comunhão aos divorciados em segunda união.

Eu não gostei que muitas pessoas, inclusive da Igreja, tenham dito: “O Sínodo é para dar a comunhão aos divorciados em segunda união”, como se tudo se reduzisse a uma casuística. Hoje sabemos, a família está em crise, é uma crise mundial, os jovens não querem se casar ou convivem. Não gostaríamos que caíssemos nesta casuística: será permitido ou não dar a comunhão? O problema pastoral da família é muito amplo, muito amplo. Deve-se estudar caso por caso. Sempre considero uma coisa que Papa Bento já disse três vezes: é preciso estudar os procedimentos da nulidade matrimonial, estudar a fé com a qual uma pessoa vai ao casamento e esclarecer que os divorciados não estão excomungados. Muitas vezes, são tratados como se estivessem. Escolher o tema do Sínodo sobre a família foi uma experiência espiritual muito forte, lentamente se acabou falando sobre a família. Estou seguro de que o Espírito do Senhor nos conduziu até este ponto.

Obstáculos para a reforma da Cúria

O primeiro obstáculo sou eu! Estamos em um bom momento, consultamos toda a Cúria. As coisas começam a ser estudadas para dar agilidade à organização, por exemplo, juntando dicastérios. Um dos pontos chave foi o da economia: o dicastério da Economia deve trabalhar com a Secretaria de Estado. Agora, em julho, teremos quatro dias de trabalho e, depois, em fins de setembro, outros quatro, mas se trabalha. Todos os resultados não são vistos ainda, mas a parte econômica é a que se tocou antes. Havia alguns problemas sobre os quais a imprensa falava bastante. A via da persuasão é muito importante. Há algumas pessoas que não veem as coisas com clareza. Mas, eu estou contente, trabalhou-se bastante.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

“O Espírito da verdade.” – Reflexão de José Antonio Pagola. Bem atual!


E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós.”    (Jo 14,16-17)

Trazer para o blog Indagações-Zapytania um bom artigo, texto ou uma boa reflexão que ajudam a entender melhor os textos da Bíblia e descobrir a sua mensagem profunda e atual, ou que me proporcionam o conhecimento mais completo de outros assuntos, é o meu propósito. Compartilhar tudo isso com as outras pessoas – é a minha satisfação e alegria.

Abaixo, uma curta mas muito atual reflexão do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler.

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IHU – Notícias
Sexta, 23 de maio de 2014.

O Espírito da verdade

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o evangelho de Jesus Cristo segundo João 14, 15-21, que corresponde ao Sexto Domingo da Páscoa, ciclo A do ano litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto.


Jesus está se despedindo de seus discípulos. Ele os vê tristes e abatidos. Logo ele já não estará com eles. Quem poderá preencher o vazio?  Até agora foi Jesus quem cuidou deles, quem os defendeu dos escribas e fariseus, quem apoiou sua fé débil e vacilante, lhes descobriu a verdade de Deus e os iniciou no seu projeto humanizador.

Jesus lhes fala apaixonadamente do Espírito. Ele não quer que fiquem órfãos. Ele mesmo pedirá ao Pai que não os abandone, que lhes dê “outro defensor” que esteja sempre com eles. Jesus o chama de “Espírito da verdade”. Que há nessas palavras de Jesus?

Este “Espírito da verdade” não pode ser confundido com uma doutrina. Esta verdade não deve ser procurada nos livros dos teólogos nem nos documentos de hierarquia. É uma realidade muito mais profunda. Jesus disse que “vive no meio de nós e está em nós”. É alento, força, luz, amor… que nos chega do mistério último de Deus. Devemos acolhê-lo com coração simples e confiante.
Este “Espírito da verdade” não nos transforma em proprietários da verdade. Não vem para que imponhamos aos outros a nossa fé, nem para que controlemos sua ortodoxia. Ele vem para que não fiquemos órfãos de Jesus e nos convida a nos abrir à sua verdade, escutando, acolhendo e vivendo seu Evangelho.

Este “Espírito da verdade” não nos faz tampouco “guardiões” da verdade, mas testemunhas. Nossa tarefa não é disputar, combater nem derrotar adversários, senão viver a verdade do Evangelho e “amar Jesus guardando seus mandamentos”.

Este “Espírito da verdade” está no interior de cada um de nós, defendendo-nos de tudo aquilo que pode nos separar de Jesus. Convida-nos a nos abrir com simplicidade ao mistério de um Deus, Amigo da vida. Quem procura este Deus com honradez e verdade não está longe dele. Em certa ocasião Jesus disse: “todo aquele que é da verdade escuta minha voz”. É assim!

Este “Espírito da verdade” nos convida a viver na verdade de Jesus no meio de uma sociedade onde com frequência a mentira é chamada estratégia; a exploração, negócio; a irresponsabilidade, tolerância; a injustiça, ordem estabelecida; a arbitrariedade, liberdade; a falta de respeito, sinceridade…

Que sentido pode ter na Igreja de Jesus se deixamos que o “Espírito da verdade” fique esquecido nas nossas comunidades? Quem pode salvar a comunidade do próprio engano, dos desvios e da mediocridade generalizada? Quem anunciará a Boa Notícia de Jesus numa sociedade tão necessitada de alento e esperança?