Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Nova tentativa de assassinato da Teologia da Libertação. Artigo de José Lisboa Moreira de Oliveira.


Abaixo, um excelente artigo de José Lisboa Moreira de Oliveira que fala sobre a nova (e mais uma) tentativa dos adversários da Teologia da Libertação de diminuir a importância dessa corrente teológica. Desta vez, trata-se do pronunciamento de um prelado, o presidente da CELAM, dom Carlos Aguiar Retes, como representante do grupo conservador dos bispos da Igreja Católica da América Latina.

Por concordar com todas as colocações do autor do artigo, faço questão de publicá-lo no blog  Indagaçoes-Zapytania  para contribuir na sua divulgação.

O texto foi publicado no blog O Chamado. Vale a pena ler!
WCejnóg 



O Chamado
Quinta-feira, 12 de junho de 2014.

Nova tentativa de assassinato da Teologia da Libertação

José Lisboa Moreira de Oliveira
Filósofo, teólogo, escritor e professor universitário

 A Teologia da Libertação (TdL) foi gestada na 2ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (CELAM), realizada em 1968 em Medellín, na Colômbia. Naquela ocasião os bispos do nosso continente tentaram aplicar o Concílio Vaticano II à realidade que marcava a vida dos nossos povos e dos nossos países. Logo depois, a TdL foi sistematizada pela obra de Gustavo Gutiérrez e de outros teólogos, os quais tentaram fazer uma reflexão teológica que desenvolvesse a intuição de Medellín, que era centrar a sua atenção sobre o ser humano do continente, frustrado em suas legítimas aspirações, devido às enormes injustiças e à opressão que assolavam os diversos países.

Depois de alguns anos de aceitação e de esforço para traduzir na prática as suas intuições, a TdL passou a ser incompreendida e perseguida. Isso aconteceu de modo particular a partir de 1978, com o início do pontificado do polaco Wojtyla. Este papa, assessorado por uma Cúria ultraconservadora, foi podando sistematicamente e cruamente todas as iniciativas da Igreja da Libertação. Censurou e até cassou alguns dos mais renomados teólogos da libertação, nomeou bispos tradicionalistas e perseguiu aqueles que tinham desenvolvido em suas dioceses uma pastoral da libertação. Esta política continuou no pontificado do alemão Ratzinger. Com a chegada do papa Francisco houve uma diminuição da perseguição, mas ainda existem resquícios de tentativas de assassinato da TdL.

 A mais recente tentativa de assassinato aconteceu poucos dias atrás. Segundo informação do site do Instituto Humanitas da Unisinos, os membros da presidência do CELAM, em sua visita anual à Santa Sé, afirmaram em entrevista que a TdL está “muito velha, se não é que já está morta”. Embora tenha reconhecido os esforços dos teólogos da libertação, o presidente do CELAM, dom Carlos Aguiar Retes, disse que depois da TdL “temos uma reflexão teológica mais sapiencial” que abandonou a luta de classes e a confrontação entre ricos e pobres. Com estas afirmações o ilustre prelado, presidente do CELAM, tentou desacreditar a TdL: ela está velha ou morta e não é uma teologia “sapiencial”.

Os membros da presidência do CELAM, resquícios de um episcopado alinhado com a Cúria Romana de Wojtyla e Ratzinger, ainda tentam sufocar uma teologia original, autêntica e que incomodou muita gente, especialmente os empacotados de roxo e os purpurados que frequentavam as luxuosas casas e as cozinhas das “raposas” (Lc 13,32) que patrocinaram a opressão, a injustiça e a miséria em nosso continente.

Mas um simples olhar mostra que a TdL não morreu e nem envelheceu. Ela continua nova e vigorosa, antes de tudo no legado que nos foi deixado por pastores como Oscar Romero, Dom Hélder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Pedro Casaldáliga e Dom Angélico Sândalo Bernardino, só para citar alguns nomes. O legado desses pastores da libertação ultrapassou as fronteiras da própria Igreja Católica Romana e as fronteiras do tempo. Hoje, no mundo, centenas de milhares de mulheres e homens continuam a testemunhar a sua fé, graças ao testemunho desses pastores da libertação. Milhares de iniciativas surgiram por conta da ação pastoral desses bispos católicos e continuam existindo e agindo, apesar dos ventos que sopram em sentido contrário.

Também alguns bispos e pastores de outras Igrejas irmãs, como a Igreja de Confissão Luterana, a Igreja Anglicana, a Igreja Metodista, a Igreja Presbiteriana, descobriram na TdL o caminho para uma ação mais incisiva em nosso continente e no mundo. Não posso deixar de lembrar a figura de dois representantes destas Igrejas: o pastor presbiteriano Jaime Wright e o pastor luterano Milton Schwantes, verdadeiros ícones das Igrejas da Reforma no Brasil e que encontraram na TdL o caminho para a evangelização. Ainda hoje homens e mulheres dessas Igrejas, teólogas e teólogos, pastoras e pastores desenvolvem suas atividades de anúncio da Boa-Notícia tendo como ponto de apoio a TdL. Sem falar depois nas inúmeras iniciativas ecumênicas ainda hoje em pleno vigor e que tiveram o seu berço na TdL. Basta lembrar, por exemplo, o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) com a sua vasta produção de subsídios para a animação bíblica popular. Por fim, cabe lembrar também a maravilhosa experiência das Comunidades Eclesiais de Base, expressão máxima de uma Igreja que bebe na fonte da libertação. Alguns tentam hoje minimizar essas comunidades, mas elas continuam aí, existindo como jeito novo de ser Igreja. No último Intereclesial, realizado no início deste ano em Juazeiro do Norte (CE), a terra do Padim Ciço, elas mostraram a sua força e a sua pujança.

No campo da reflexão teológica, depois da chegada do papa Francisco, houve uma retomada da TdL, até então sufocada e proibida pelos monsenhores curiais. O pai da TdL, Gustavo Gutiérrez, publicou recentemente com o Cardeal Gerhard Ludwig Müller , atual Prefeito da Congregação Vaticana para a Doutrina da Fé, um texto no qual retomam os principais elementos dessa teologia. O livro, originalmente escrito em alemão, foi traduzido para o português e publicado no início deste ano por Edições Paulinas, com o título: Ao lado dos pobres. Teologia da Libertação. Muito significativa a intervenção do Cardeal Müller, especialmente no capítulo quatro do livro, no qual o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé fala das controvérsias em torno da TdL. Antes de tudo o Cardeal Müller reconhece a sua legitimidade, afirma a sua necessidade para a Igreja e diz tratar-se de uma autêntica teologia. Lembra que a teologia latino-americana ajudou a corrigir a “clássica doutrina social da Igreja”, construída a partir de um dualismo entre mundo natural e mundo sobrenatural. O Cardeal Müller reconhece também a legitimidade da mediação socioanalítica, lembrando inclusive que esse tipo de recurso não é novidade na teologia católica. Grandes teólogos, como Tomás de Aquino, já tinham utilizado tal método, uma vez que é impossível fazer teologia abstrata, ou seja, sem partir da realidade. O Cardeal chega mesmo a reconhecer a importância da mediação da análise marxista e até da referência à luta de classes, lembrando-nos que o marxismo não deve ser confundido com o totalitarismo ideológico leninista e stalinista. Aliás, diga-se de passagem, foram os teóricos do capitalismo, que não conheciam o pensamento marxista, que confundiram Marx com Lênin e Stalin. Para o Cardeal Müller, ao mencionar a luta de classes, a TdL não entende desenvolver uma guerra de eliminação de uma classe, mas apenas lembrar que “a história não se desenvolve a partir do desenvolvimento harmônico de suas virtualidades, mas mediante o antagonismo de princípios e de interesses opostos”. A menção à luta de classes é um convite a participar “na luta da graça contra o pecado e, concretamente, também, de uma encarnação da salvação nas estruturas sociais promotoras da vida e uma superação do pecado e de sua objetivação em sistemas exploradores”. Isso porque “a graça e o pecado não existem simplesmente de modo puramente idealista e espiritualista em si, mas sempre unicamente junto com sua encarnação e materialização nas condições de vida humanas”.

A fala da presidência do CELAM tem um lado positivo: mostra que no momento, em Roma, há um clima de distensão, de mais respeito e de mais diálogo. Até alguns meses atrás seria impensável que bispos discordassem abertamente do pensamento do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Tal discordância era punida severamente, mesmo que fosse apenas com o puro isolamento e descrédito dos interessados. A presidência do CELAM ousou discordar do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que, como vimos, tem outro olhar sobre a TdL. E isso é positivo.

Porém, é lamentável que tenham tentado, a partir de Roma, decretar a caduquice e a morte da TdL; tenham efetivado mais uma tentativa de assassinato da teologia latino-americana. É lamentável porque foram essas tentativas que fizeram a Igreja Católica regredir em nosso continente, perdendo a credibilidade e um número cada vez mais expressivo de fiéis, como têm apontado as recentes pesquisas, mesmo que os eclesiásticos queiram minimizar esses dados. Na Europa, onde a TdL nunca foi admitida, o catolicismo agoniza, a Igreja envelhece rapidamente, tornando-se cada dia mais feminil e senil. Os prelados do CELAM deveriam aprender com o europeu Cardeal Müller, o qual afirma no texto acima mencionado que a Igreja, tanto no nosso continente como no mundo inteiro, “não pode renunciar à continuação e ao uso da Teologia da Libertação”, pois “a pretensão metodológica da Teologia da Libertação, de empregar uma práxis transformadora, outra coisa não é senão a nova formulação do evento original da teologia em absoluto”. Por isso, no “contexto regional e para a comunicação teológica mundo afora, a Teologia da Libertação é imprescindível” (p. 109).

Fonte:Blog  O Chamado



sexta-feira, 27 de junho de 2014

“Quem edifica a Igreja não é Pedro, mas Jesus.” – Reflexão de José Antonio Pagola. Bem atual!


“E vós, quem dizeis que Eu sou?”.
“Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”.
“Agora Eu te digo: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja”.

Embaixo, uma reflexão bem concreta que tem como fundo o texto Mt 16, 13-19.  É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler.
WCejnog

IHU – Notícias
Sexta, 27 de junho de 2014.

Só Jesus edifica a Igreja

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16, 13-19 que corresponde a  Festividade de São Pedro e São Paulo, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

O episódio tem lugar na região pagã da Cesareia de Filipo. Jesus interessa-se por saber o que se diz entre as pessoas sobre Ele. Depois de conhecer as diversas opiniões que há entre o povo, dirige-se diretamente aos Seus discípulos: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”.

Jesus não lhes pergunta que é que pensam sobre o sermão da montanha ou sobre a Sua atuação de curar entre as populações da Galileia. Para seguir Jesus, o decisivo é a adesão à Sua pessoa. Por isso, quer saber o que é que captam Nele.

Simão toma a palavra em nome de todos e responde de forma solene: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Jesus não é um profeta mais entre outros. É o último Enviado de Deus ao seu povo eleito. Mais ainda, é o Filho do Deus vivo. Então Jesus, depois de felicitá-lo, porque esta confissão só pode vir do Pai, diz-lhe: “Agora eu te digo: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.

As palavras são muito precisas. A Igreja não é de Pedro mas de Jesus. Quem edifica a Igreja não é Pedro, mas Jesus. Pedro é simplesmente “a pedra” sobre a qual se assenta “a casa” que está a construir Jesus. A imagem sugere que a tarefa de Pedro é dar estabilidade e consistência à Igreja: cuidar que Jesus a possa construir, sem que os Seus seguidores introduzam desvios ou reducionismos.

O Papa Francisco sabe muito bem que a sua tarefa não é “fazer as vezes de Cristo”, mas cuidar que os cristãos de hoje se encontrem com Cristo. Esta é a sua maior preocupação. Já desde o início do seu serviço como sucessor de Pedro, dizia assim: “A Igreja há de chegar a Jesus. Este é o centro da Igreja. Se alguma vez acontecesse que a Igreja não levasse a Jesus, seria uma Igreja morta”.

Por isso, ao fazer público o seu programa de uma nova etapa evangelizadora, Francisco propõe dois grandes objetivos. Em primeiro lugar, encontrar-nos com Jesus, pois “Ele pode, com a Sua novidade, renovar a nossa vida e as nossas comunidades… Jesus Cristo pode também acabar com os esquemas aborrecidos nos quais pretendemos encerrá-Lo”.

Em segundo lugar, considera decisivo “voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho”, pois, sempre que o fazemos, brotam novos caminhos, métodos criativos, sinais mais eloquentes, palavras carregadas de renovado significado para o mundo atual”. Seria lamentável que o convite do Papa para impulsionar a renovação da Igreja não chegasse até os cristãos das nossas comunidades.

Fonte:  IHU - Notícias


quarta-feira, 25 de junho de 2014

“A Palavra de Deus faz doer." - Relato de um encontro com Oscar Romero.



Acho muito interessante  essa pequena reportagem, abaixo, que nos mostra um aspecto importante da vida do mártir dom Óscar Romero: os traços da sua profunda espiritualidade. Vale a pena conhecer.
A matéria foi publicada no início do mês de junho de 2014, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
WCejnog


IHU-Notícias
Segunda, 02 de junho de 2014.

A Palavra de Deus faz doer. Um encontro com Oscar Romero

Procurando beber da rica espiritualidade latino-americana, o CJCIAS/CEPAT promoveu um dia de reflexão e aprofundamento na espiritualidade de Óscar Romero, o São Romero das Américas. O encontro ocorreu no dia 31 de maio, na Casa do Trabalhador, cumprindo com a programação do Projeto Rezar com os Místicos que, nesse ano, volta-se para grandes exemplos de vivência cristã na América-Latina.
Foi um rico momento de interiorização da força profética de Romero, de seu compromisso com os pobres e da sua coragem de ir até as últimas consequências por seu compromisso com os autênticos valores evangélicos. O padre jesuíta Rogério Mosimann da Silva, do Núcleo de Irradiação da Espiritualidade Inaciana - Pelotas-RS, que possui um aprofundado estudo sobre o bispo de El Salvador, foi quem assessorou nesse belíssimo dia de reflexão.
O relato é de Jonas Jorge da Silva, da equipe do CJCIAS/CEPAT.

Sobre o encontro

A partir dos estudos das homilias de Romero e de sua fecunda participação na vida de seu povo, padre Rogério entende que o critério central na atuação do bispo de El Salvador foi o bem dos pobres. Romero sempre foi um homem muito sério, comprometido com os seus ideais, contudo, para sua grande guinada em favor dos direitos humanos foi fundamental ter experimentado a dor do martírio do padre jesuíta Rutilio Grande, seu amigo, passando a enxergar a tremenda injustiça que seu povo vivia diante da repressão daqueles que mantinham o poder em mãos. Em fins dos anos 1970, a partir de sua prática pastoral evangélica, Romero sintoniza-se com a fecunda e vívida teologia da libertação produzida no continente latino-americano. No núcleo central da espiritualidade proveniente dessa caminhada sempre esteve presente o princípio básico de que Deus se revela nos pobres e que, portanto, o encontro com Deus se dá a partir do encontro com os pobres. Como bem frisou o salvadorenho Jon Sobrino, grande teólogo da libertação, fora dos pobres não há salvação.

Padre Rogério enfatizou que, nesse momento, em que tanto se fala da possível canonização de Romero, precisamos fugir da armadilha de uma falsa memória desse pastor. Nesse sentido, não se deve admitir uma memória branda ou intimista de Romero. Para não trair a memória de Romero, devemos entendê-lo vinculado à caminhada da Igreja latino-americana, encarnado na história e vida do povo salvadorenho, que teve muitos dos seus dizimados pela repressão.
Dom Romero foi assassinado no dia 24 de março de 1980, quando celebrava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência, vítima da violência daqueles que renunciam a paz e usam da força para manipularem e dominar o povo.

Durante o encontro, o pe. Rogério Mosimann compartilhou trechos das pregações e depoimentos de Romero, que são como faca cortante que fere todas as nossas pretensões de buscar o caminho mais fácil, em detrimento do caminho da cruz, que é condição para todos aqueles que ousam denunciar a idolatria do dinheiro e do poder, em favor da vida para todos, sem distinção.

Abaixo, reproduzimos algumas dessas frases do grande Óscar Romero, que fortalecido pelo Espírito de Deus viveu autenticamente a fé cristã. Que a memória desse mártir, que ousou sonhar e lutar por um caminho de paz e justiça para o seu povo, jamais seja esquecida. Romero vive em seu povo!


- “A palavra fica. E este é o grande consolo de quem prega. Minha voz desaparecerá, mas minha palavra, que é Cristo, permanecerá nos corações que quiseram acolhê-lo”. (17-12-1978)

- “Além da leitura da Bíblia, que é Palavra de Deus, um cristão fiel a essa Palavra tem de ler também os sinais dos tempos, os acontecimentos, para iluminá-los com essa Palavra”. (30-10-1977)

- “Um Evangelho que não leva em conta os direitos das pessoas, um cristianismo que não constrói a história da terra não é a autêntica doutrina de Cristo, mas simplesmente instrumento do poder. Lamentamos que, em algum momento, nossa Igreja também tenha caído nesse pecado; entretanto, queremos revisar essa atitude e, de acordo com essa espiritualidade autenticamente evangélica, não queremos ser fantoches dos poderes da terra, mas queremos ser a Igreja que leva o Evangelho autêntico, corajoso, de nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo quando seja necessário morrer com ele, numa cruz”. (27-11-1977)

- “Irmãos, não meçamos o valor da Igreja pela quantidade de gente, nem pelos seus edifícios materiais. A Igreja construiu muitos templos, muitos seminários. Porém o que importa são vocês, as pessoas, os corações, a graça de Deus dando-lhes a verdade e a vida de Deus. Não se mede a Igreja por multidões, mede-se pela sinceridade de coração com que seguem esta verdade e esta graça de nosso Divino Redentor”. (19-12-1977)

- “Há um critério para saber se Deus está perto de nós ou se está longe: todo aquele que se preocupa com o faminto, com o maltrapilho, o pobre, o desaparecido, o torturado, o prisioneiro, com todos esses corpos que sofrem, está perto de Deus. “Chamarás o Senhor e Ele te escutará”. A religião não consiste em rezar muito. A religião consiste nessa garantia de ter meu Deus perto de mim porque faço o bem aos meus irmãos. A garantia de minha oração não está em dizer muitas palavras; a garantia de minha prece é muito fácil de conhecer: como me comporto com o pobre? Porque ali está Deus”. (05-02-1978)

- “A Igreja quer isso: inquietar as consciências, provocar crise no momento atual. Uma Igreja que não provoca crise, um Evangelho que não inquieta, uma Palavra de Deus que não faz doer na pele – como se diz vulgarmente -, uma Palavra de Deus que não mexe no pecado concreto da sociedade em que se está anunciando, que Evangelho é esse? Considerações piedosas, muito bonitas, que não incomodam ninguém, assim muitos gostariam que fosse a pregação. E aqueles pregadores que, para não se incomodarem, para não terem conflitos e dificuldades, evitam tudo o que é espinhoso, não iluminam a realidade em que se vive... O Evangelho corajoso é a Boa Nova que veio tirar os pecados do mundo”. (16-04-1978)

- “Um cristão que se alimenta com a comunhão eucarística, em que sua fé lhe diz que, com isso, une-se à vida de Cristo, como pode viver idólatra do dinheiro, idólatra do poder, idólatra de si mesmo, o egoísmo? Como pode ser idólatra um cristão que comunga? Pois, queridos irmãos, há muitos que comungam e são idólatras”. (28-05-1978)

- “Esta é a missão da Igreja: despertar, como estou fazendo neste momento, o sentido espiritual de sua vida, o valor divino de suas ações humanas. Não percam isso, queridos irmãos. É o que a Igreja oferece às organizações, à política, à industria, ao comércio, aos que trabalham por dia, à dona do mercadinho, a todos a Igreja leva esse serviço de promover o dinamismo espiritual”. (28-08-1978)

- “Queridos irmãos, sobretudo vocês, meus queridos irmãos, que me odeiam; vocês, meus queridos irmãos, que creem que estou pregando a violência e me caluniam e sabem que não é verdade; vocês, que têm as mãos manchadas de crime, de tortura, de agressão, de injustiça: convertam-se! Quero-lhes muito, dão-me pena, porque vão por caminhos de perdição”. (10-09-1978)

- “A Igreja dos pobres é um critério de autenticidade porque não é uma Igreja classista. Não significa desprezar os ricos, mas dizer aos ricos que, se não transformarem seu coração em coração pobre, não poderão entrar no Reino de Deus. O verdadeiro pregador de Cristo é a Igreja dos pobres, para encontrar na pobreza, na miséria, na esperança daquele que reza na favela, na dor, no não ser escutado, um Deus que ouve, e somente aproximando-se dessa voz pode-se sentir também Deus”. (05-11-1978)

- “A pobreza da Igreja não poderá ser mais autêntica e eficaz do que quando verdadeiramente não depende nem busca o socorro dos poderosos, o amparo dos poderes; não faça a evangelização consistir em ter poder, mas em ser evangélica e santa; em apoiar-se no pobre que, com sua pobreza, enriquece”. (10-07-1979)



sábado, 21 de junho de 2014

Sair da “estagnação infecunda” - Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6, 54)


É muito bom poder ler uma reflexão tão concreta e atual, que tem como fundo o texto Jo 6, 51-58. Ajuda a sair da ‘letargia’ e enxergar o que é realmente importante.
Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de aproveitar!
WCejnog

 

IHU – Notícias

Sexta, 20 de junho de 2014.


Estagnados

 


O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o Evangelho de João 6, 51-58 que corresponde a Festa do Corpo e Sangue de Cristo.

Eis o texto. 

Papa Francisco repete que os medos, as dúvidas, a falta de audácia... podem impedir pela raiz que se possa impulsionar a renovação que necessita hoje a Igreja. Na sua Exortação  “A alegria do Evangelho” chega a dizer que, se ficamos paralisados pelo medo, uma vez mais podemos ficar simplesmente como “espectadores de uma estagnação infecunda da Igreja”.

As suas palavras fazem pensar. Que podemos perceber entre nós? Estamos nos mobilizando para reavivar a fé das nossas comunidades cristãs, ou continuamos instalados nessa “estagnação infecunda” de que fala Francisco? Onde podemos encontrar forças para reagir?
Uma das grandes contribuições do Concílio foi de impulsionar o caminho desde a “missa”, entendida como uma obrigação individual para cumprir um preceito sagrado, para a “eucaristia” vivida como celebração gozosa de toda a comunidade para alimentar a sua fé, crescer em fraternidade e reavivar a sua esperança em Cristo.

Sem dúvida, ao longo destes anos, temos dado passos muito importantes. Ficam muito longe aquelas missas celebradas em latim em que o sacerdote “dizia” a missa e o povo cristão vinha “ouvir” a missa ou “assistir” à celebração. Mas, não estamos celebrando a eucaristia de forma rotineira e aborrecida?

Há um fato inegável. As pessoas estão se afastando de forma imparável da prática dominical porque não encontram nas nossas celebrações o clima, a palavra clara, o rito expressivo, a acolhida estimulante que necessita para alimentar a sua fé débil e vacilante.

Sem dúvida, todos, pastores e crentes, temos de nos perguntar que estamos fazendo para que a eucaristia seja, como quer o Concílio, “centro e cúpula de toda a vida da comunidade cristã”.  Porém, basta a boa vontade das paróquias ou a criatividade isolada de alguns, sem mais critérios de renovação?

A Ceia do Senhor é demasiado importante para que deixemos que continue se “perdendo”, como “espectadores de uma estagnação infecunda”. Não é a eucaristia o centro da vida cristã? Como permanece tão calada e imóvel a hierarquia? Por que é que nós crentes não manifestamos a nossa preocupação e a nossa dor com mais força?

O problema é grave. Temos de continuar “estagnados” num modo de celebração eucarística, tão pouco atrativo para os homens e as mulheres de hoje?  É esta liturgia que temos repetido desde séculos a que melhor pode ajudar-nos a atualizar aquela ceia memorável de Jesus onde se concentra de modo admirável o núcleo da nossa fé?