Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

“Por uma Igreja sem alfândegas e sem aduaneiros.” – O artigo de Josè Lisboa Moreira de Oliveira. Muito bom!


Como já escrevi anteriormente neste Blog, considero importante poder divulgar as coisas que acho boas e de valor, e compartilhá-las com os outros. É por isso que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania mais um artigo que fala da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (EG) do papa Francisco. O autor publicou este artigo recentemente no seu blog O Chamado. É muito atual e esclarecedor.
Não deixe de ler! .
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O Chamado
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Evangelii Gaudium

Por uma Igreja sem alfândegas e sem aduaneiros

José Lisboa Moreira de Oliveira
Filósofo, teólogo, escritor, conferencista e professor universitário

Aproveitei o período de férias do meu trabalho para fazer uma leitura meditativa da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (EG) do papa Francisco. Confesso com toda sinceridade que há um bom tempo não lia um documento do magistério da Igreja tão arejado e tão animador. Fiquei realmente surpreendido com a coragem e a determinação do papa Francisco em afrontar certos problemas e em falar da atual situação da Igreja Católica. Sem pretender esgotar o assunto, analiso agora alguns aspectos da exortação papal que julgo mais interessantes.

Creio que o fio condutor que permeia todo o documento é a determinação com a qual o papa Francisco fala sobre a urgente necessidade de voltarmos a ter uma Igreja sem “alfândegas”, ou seja, sem “controladores da graça divina”, mas aberta a todas as pessoas que em sua vida de lutas e fadigas queiram nela encontrar abrigo ao longo do caminho (EG, 47). Lamentavelmente, nas últimas décadas, tivemos que conviver com um modelo de Igreja na qual determinadas pessoas se diziam, e agiam, como se elas fossem as “donas” dela, formando uma espécie de “casta dos perfeitos”, única que podia ter acesso aos benefícios salvíficos. Esses grupinhos, apoiados por certos padres e bispos, se colocavam diante dos demais como os verdadeiros membros da Igreja e ousavam apontar o dedo acusador contra determinadas categorias de pessoas, arrogando-se no direito de impedi-las de participar da vida eclesial e dos sacramentos.

Isso aparecia com muita visibilidade nas pregações moralistas de alguns bispos e padres, em programas ultraconservadores das televisões católicas e na prática de alguns movimentos. Papa Francisco chega com ousadia e nos convida a sairmos do recinto sagrado, das proteções e amparos de uma religiosidade melosa e medrosa, afirmando que prefere “uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG, 49). 

Neste sentido causou-me alegria e me trouxe muita esperança o gesto com o qual o papa Francisco, corajosamente, nos convida a romper com toda forma de estrutura caduca atualmente existente na Igreja Católica Romana e que termina por condicionar o dinamismo evangelizador (EG, 26-27). Todo católico honesto, consciente e sincero sabe o quanto de “entulho institucional eclesiástico” fomos acumulando, de modo particular durante o segundo milênio. O convite do papa chega em boa hora, pois há muito que purificar para que volte a resplandecer na Igreja Católica Romana a beleza da mensagem do Evangelho. A nossa Igreja, há muito tempo, não consegue entusiasmar as pessoas porque se encontra sufocada pelos entulhos de um velho edifício eclesiástico em ruínas.

E o mais entusiasmante é que o papa nos convida a sermos  ousados ecriativos “nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades” (EG, 33). Ele insiste em nos dizer que isso tem que ser feito “sem impedimentos e sem receios”. Creio que o papa está convencido de que não há alternativa para a Igreja a não ser uma profunda ruptura com tudo aquilo que é arcaico e ultrapassado e que não mais expressa a beleza do Evangelho de Jesus. Para ele, uma Igreja que não ousa e que não cria se torna uma “mera fantasia”, uma comunidade meramente “obsessionada pela transmissão desarticulada de uma imensidade de doutrinas que se tentam impor à força de insistir” (EG, 35).

Papa Francisco retoma com determinação alguns princípios do Concílio Vaticano II. Lembra que há uma hierarquia de verdades da doutrina católica, as quais não podem ser apresentadas como se fossem todas iguais e tendo o mesmo peso (EG, 36). Recorda a necessidade do equilíbrio, ou o que ele chama de “proporção adequada”, entre as verdades cristãs e denuncia a atual prática de bispos, de padres, de lideranças e de movimentos católicos cuja pregação e catequese ressaltam mais a lei do que a graça, mas a Igreja do que Jesus Cristo e mais o Papa do que a Palavra de Deus (EG, 38). Conclui dizendo que “a pregação moral cristã não é uma ética estóica, é mais do que uma ascese; não é uma mera filosofia prática nem um catálogo de pecados e erros” (EG, 39).

Há, pois, a necessidade de uma mudança de linguagem, ou seja, da forma como comunicamos a alegria do Evangelho. Francisco deixa bem claro que nem sempre uma linguagem totalmente ortodoxa, como aquela de certas pregações e de certos programas veiculados nas televisões católicas, é a melhor para anunciar o Evangelho. Muitas vezes, diz o papa, com a preocupação de conservar a ortodoxia, nós terminamos por falar de um falso deus ou de um ideal humano que não é verdadeiramente cristão. Queremos ser fiéis a uma formulação, mas não transmitimos a substância do Evangelho. E isso é grave, conclui o papa Francisco (EG, 41).

E para que não fiquem dúvidas, o papa Francisco, citando o apóstolo Paulo, explica em que consiste a substância do Evangelho: “a fé que atua pelo amor” (Gl 5,6). “As obras de amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do Espírito” (EG, 37). E fundamenta esta sua afirmação citando Santo Tomás de Aquino. Embora devamos fazer o anúncio da Boa Notícia com profundidade e na fidelidade à verdade, é indispensável concentrar-se no essencial do Evangelho, “no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário” (EG, 35).

De fato, anota o papa, citando inclusive Tomás de Aquino e Santo Agostinho, os preceitos comunicados por Cristo e pelos Apóstolos são pouquíssimos. Por isso a Igreja precisa ter muito cuidado e moderação para não transmitir como sendo de Cristo aquilo que são apenas posicionamentos seus feitos em determinadas épocas e dentro de certos contextos (EG, 43). Dentre os preceitos de Cristo e dos Apóstolos e dos quais não podemos abrir mão está a opção pelos pobres. “Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima [...]. Há que se afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres” (EG, 48). Francisco nos lembra também que não podemos confundir a opção preferencial pelos pobres com uma “caridade por receita”, ou seja, “uma série de ações destinadas apenas a tranqüilizar a própria consciência” (EG, 180). A opção preferencial pelos pobres inclui necessariamente ações concretas, praticadas pelos cristãos, que visem gerar fraternidade, justiça, paz e dignidade para todas as pessoas. Ações que transformem os sistemas injustos.

Poderíamos nos delongar mostrando a beleza e a audácia desta exortação do papa Francisco. Pretendo fazer isso num texto maior que, espero, seja aceito para publicação por alguma editora católica. Para os objetivos deste artigo basta o que foi dito.

Porém, uma coisa me deixou preocupado. No final de janeiro prestei assessoria a quatro grupos diferentes de Igreja, incluindo um bom número de cristãos leigos e leigas, religiosos, religiosas e padres. Assustou-me o fato de que a quase totalidade das pessoas ainda não tinham tomado conhecimento nem sequer da existência da exortação, mesmo dois meses depois da sua publicação. Tive a sensação de certo boicote por parte de pessoas e instâncias eclesiásticas que parecem esconder dos fiéis este documento. Por esse motivo, nós, que continuamos a acreditar numa Igreja diferente dessa que aí está, precisamos conhecer esta exortação, estudá-la em profundidade e difundi-la ao máximo, inclusive através dos modernos meios de divulgação que a tecnologia da informação nos oferece.

Fonte: Blog O Chamado


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Amar os inimigos. – Reflexão de José Antonio Pagola.

 

Abaixo, uma reflexão muito interessante e bem atual do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler.
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IHU – Notícias
Sexta, 21 de fevereiro de 2014.
Uma chamada surpreendente

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 5, 38-48 que corresponde ao Sétimo Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.



Eis o texto

A chamada ao amor é sempre sedutora. Seguramente, muitos acolhiam com agrado a chamada de Jesus a amar a Deus e ao próximo. Era a melhor síntese da Lei. Mas o que não podiam imaginar é que um dia lhes falasse de amar os inimigos.

No entanto, Jesus o fez. Sem respaldo algum da tradição bíblica, distanciando-se dos salmos de vingança que alimentavam a oração do Seu povo, enfrentando-se ao clima geral de ódio que se respirava à Sua volta, proclamou com clareza absoluta a Sua chamada: “Eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei o bem a quem vos incomoda e rezai pelos que vos caluniam”.


A Sua linguagem é escandalosa e surpreendente, mas totalmente coerente com a Sua experiência de Deus. O Pai não é violento: ama inclusive os Seus inimigos, não procura a destruição de ninguém. A Sua grandeza não consiste em vingar-se, mas em amar incondicionalmente a todos. Quem se sinta filho desse Deus não introduzirá no mundo o ódio nem a destruição de ninguém.

O amor ao inimigo não é um ensinamento secundário de Jesus, dirigido a pessoas chamadas a uma perfeição heroica. A Sua chamada quer introduzir na história uma atitude nova ante o inimigo porque quer eliminar do mundo o ódio e a violência destruidora. Quem se assemelha a Deus não alimentará o ódio contra ninguém, procurará o bem de todos, inclusive dos seus inimigos.

Quando Jesus fala do amor ao inimigo, não está nos pedindo para nutrir sentimentos de afeto, simpatia ou carinho para quem nos faz mal. O inimigo continua sendo alguém de quem podemos esperar danos, e dificilmente podem mudar os sentimentos do nosso coração.
Amar o inimigo significa, antes de tudo, não fazer-lhe mal, não procurar nem desejar fazer-lhe mal. Não temos de estranhar se não sentimos amor algum para com ele. É natural que nos sintamos feridos ou humilhados. Temos de nos preocupar quando continuamos a alimentar o ódio e a sede de vingança.

Mas não se trata só de não fazer-lhe mal. Podemos dar mais passos até estar inclusive dispostos a fazer-lhe o bem se o encontramos necessitado. Não temos de esquecer que somos mais humanos quando perdoamos do que quando nos vingamos alegrando-nos da sua desgraça.

O perdão sincero ao inimigo não é fácil. Em algumas circunstâncias, à pessoa pode ser naquele momento praticamente impossível libertar-se da rejeição, do ódio ou da sede de vingança. Não devemos julgar ninguém. Só Deus nos compreende e perdoa de forma incondicional, inclusive quando não somos capazes de perdoar.



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

“Rewolucja” Jezusa – Krótkie refleksje.


Wspaniałe krótkie rozważania.
A może będą mogły posłużyć komuś za tło do osobistej zadumy? ... 




Wyjęte z Power Point (PPS) – strona internetowa  Sióstr Benedyktynek z Montesserrat:

(Tłumaczone z j. Portugalskiego)
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Kazanie na górze nie jest Prawem lecz Ewangelią.

Ewangelia nie jest nowym Prawem,
innymi doskonalszymi przepisami,
innym wyższym doświadczeniem.
Ewangelia jest Dobrą Wiadomością, zaproszeniem.
W tym tkwi różnica pomiędzy Prawem i Ewangelią:
Prawo pozostawia osobę zdaną na swoje własne siły,
 nakłada na nią przepisy które jest zmuszona przestrzegać,
grozi jej, wynagradza ją, wymaga od niej wysiłku...;
Ewangelia stawia człowieka wobec daru Boga, ukazuje mu Ojca, przemienia go w syna (córke), przemienia go wewnętrznie...
I już nie musi mu dawać rozkazów.
Mówiono kiedyś przodkom że Bóg jest twardym sędzią.
Jezus pokazuje serce Boga: serce jak matki.
To jest  rewolucja Jezusa.
Tak silna, że być może jeszcze się do niej nie przyłączyliśmy.

José Enrique Ruiz de Galarreta. 

Zamiast...

Wybierz miłować zamiast nienawidzić,

budować zamiast niszczyć,
chwalić zamiast krytykować,
leczyć zamiast ranić,
działać zamiast zostawiać na potem,
rosnąć zamiast zabiegać o przetrwanie,
dzielić zamiast gromadzić,
siać zamiast zbierać,
żyć zamiast umierać...  I dowiesz się dlaczego
moje słowo jest słowem życia: bo na próżno, nawet gdybyś się wysilał,
na  starą odzież naszywać nowe łaty
i wino nowe wlewać do starego bukłaka.
Przestań  śnić o zasobach,
i nie próbuj kupić Królestwa.
Chrzescijanin nie czołga się u stóp  przepisów;
biegnie wolny popychany miłością.

Ulibarri Fl.




quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Sermão da montanha: a "revolução" de Jesus. - Comentário bíblico de Asun Gutiérrez Cabriada.

 

O comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada sobre o texto Mt 5, 17-37 (faz parte do sermão da montanha) é  muito interessante e esclarecedor. Vale a  pena aproveitar a oportunidade  e fazer uma proveitosa reflexão.
Não deixe de ler.
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[Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montsserrat. benedictinescat.com . Trabalho muito bonito!]


O Sermão  da Montanha não é Lei mas sim Evangelho.
O Evangelho não é uma nova Lei, outros preceitos mais refinados,outra experiência mais elevada.
O Evangelho é Boa Notícia, convite.
Esta é a diferença entre a Lei e o Evangelho:
a Lei deixa o sujeito à mercê das suas próprias forças, impõe-lhe preceitos que tem de se esforçar em cumprir, ameaça-o, premeia-o, exige-lhe esforçar-se...;
O Evangelho coloca o ser humano perante o dom de Deus, fá-lo conhecer o Pai,
converte-o em filho, transforma-o por dentro...
E já não tem que dar-lhe ordens.
Disse-se aos antigos que Deus era juiz severo.
Jesus mostra o coração de Deus:  como uma mãe.
É a revolução de Jesus.
Tão forte que talvez ainda não tenhamos entrado nela.

José Enrique Ruiz de Galarreta.



No tempo de Jesus era enorme o número de leis  e tradições. Qualquer pessoa podia ser legalmente acusada e condenada.
As leis tinham-se convertido em motivos de inquietação e tortura moral e, muitas vezes, em instrumento de escravidão, tirania e fanatismo.
Tinham encoberto, suplantado e desfigurado o verdadeiro rosto do Deus do amor.

O texto evangélico, que pertence ao sermão da montanha, está situado nesse contexto.  Para entender o texto, segundo Mateus, é necessário ter em conta a pluralidade da comunidade à qual se dirige,comunidade formada por pessoas cristãs de origem judaica e pessoas de origem pagã.

COMENTÁRIO

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
 “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas;
 não vim revogar, mas completar.
 Em verdade vos digo. Antes que passem
o céu e a terra, não passará da Lei
a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal,
sem que tudo se cumpra.
Portanto, se alguém transgredir um só destes
mandamentos, por mais pequenos que sejam,
e ensinar assim aos homens, será
o menor no reino dos Céus.
Mas aquele que os praticar e ensinar
será grande no reino dos Céus.

Jesus não se apresenta como mais um legislador, que propõe umas leis mais perfeitas. O que faz é proclamar uma nova forma de atuar, baseada no Evangelho, nas bem-aventuranças. Trata-se de atuar segundo a mensagem evangélica, mais além da mera prática da lei. 
Jesus supera a Lei antiga numa linha de maior profundidade e autenticidade.
Propõe viver a lei de modo diferente, a partir do seu espírito e não da letra.
Coloca-se a relação entre evangelho e lei. Debate que voltará a colocar-se com frequência ao longo da história.

Porque Eu vos digo: se a vossa justiça
não superar a dos escribas e fariseus,
não entrareis no reino dos Céus.

A difícil missão de Jesus foi denunciar a hipocrisia do legalismo e tirar o véu que impedia conhecer, ver e amar a Deus e ao próximo. Denunciou a escravidão da letra da lei; proclamou e viveu o ar fresco da liberdade do Espírito.
Continuam a existir leis e normas que, em vez de ajudar a crescer como pessoas e como cristãos, acabam por asfixiar e afastar as pessoas de si mesmas, dos outros e de Deus. Hoje, como então, Jesus desperta-nos para nos fazer cair na conta de que o que importa é a pessoa, que toda a lei deve estar ao serviço dela e do evangelho e que, se oculta ou desvirtua o seu espírito, deve ser mudada ou abolida.
Sempre foi e continua a ser perigoso confundir evangelho e lei.

Ouvistes que foi dito aos antigos:
‘Não matarás; quem matar será
submetido a julgamento’.
Eu, porém, digo-vos: Todo aquele
que se irar contra seu irmão
será submetido a julgamento.
Quem chamar imbecil a seu irmão
será submetido ao Sinédrio,
e quem lhe chamar louco
será submetido à geena do fogo.

Jesus fala-nos de potenciar a vida, à qual se opõe a injustiça, a pobreza, a opressão.
A pobreza é um atentado contra a vida. “Alimenta o que morre de fome, porque, se não o alimentas, estás a matá-lo” (G.S. 69).
Também o insulto, a ofensa, a injúria, a perseguição, a desqualificação, a falta de respeito, o desprezo, vão matando pouco a pouco as pessoas.
Para não matar, há que amar.

Portanto, se fores apresentar a tua
oferta sobre o altar e ali te recordares
que o teu irmão tem alguma coisa contra ti,
deixa lá a tua oferta diante do altar,
vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão
 e vem depois apresentar a tua oferta.
 Reconcilia-te com o teu adversário,
enquanto vais com ele a caminho,
não seja o caso que te entregue ao juiz,
o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão.
Em verdade te digo: Não sairás de lá,
enquanto não pagares o último cêntimo.

É mais fácil e menos evangélico cumprir normas que comprometer-se e partilhar.
O que Jesus pede não se consegue com a mera observação de leis e ritos, mas com a boa relação com os outros.
”Se te lembrares que o teu irmão tem algo contra ti”. A referência são os outros.
Para Jesus, as pessoas e as suas necessidades são mais importantes que o sábado (Mc 2, 27) e a paz, o acolhimento, a harmonia, a solidariedade com os outros têm prioridade sobre todo o ato de culto.
Não se trata de não se vingar, mas de perdoar. Não é questão de não odiar, mas de amar a todos. O espírito do sermão da montanha é sempre mais e melhor.

Ouvistes que foi dito:
 ‘Não cometerás adultério?.
 Eu, porém, digo-vos: Todo aquele
que olhar para uma mulher desejando-a,
já cometeu adultério com ela no seu coração.
Se o teu olho é para ti ocasião de pecado,
 arranca-o e lança-o para longe de ti,
pois é melhor perder-se um dos teus
membros do que todo o teu corpo ser
lançado na geena.
E se a tua mão direita é para ti ocasião
 de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti,
porque é melhor que se perca
um só dos teus membros
do que todo o corpo ser lançado na geena.
Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher
dê-lhe certidão de repúdio’.
Eu, porém, digo-vos: Todo aquele
que repudiar a sua mulher,
salvo em caso de união ilegal,
fá-la cometer adultério.

O ideal a que se aspira é viver, desfrutar, testemunhar... um projeto de amor crescente, incondicional, profundo, enriquecedor, para toda a vida.
E compreender as pessoas que, por muitos motivos, não podem levá-lo a cabo. Recordando que não nos corresponde, em nenhum caso, julgar nem condenar a ninguém.

Ouvistes ainda que foi dito aos antigos:
 ‘Não faltarás ao que tiveres jurado,
mas cumprirás os teus juramentos
para com o Senhor’. 
Eu, porém, digo-vos que não jureis
em caso algum: nem pelo Céu,
que é o trono de Deus;  nem pela terra
que é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém,
que é a cidade do grande Rei.
Também não jures pela tua cabeça,
 porque não pode fazer branco ou preto
 um só cabelo.
A vossa linguagem deve ser:
 ‘Sim, sim; não, não’.
O que passa disto vem do Maligno.

As palavras de Jesus são sempre novas e libertadoras.
O critério, para os cristãos, não é o que dizem ou fazem os outros, nem o que é costume social, mas o que Jesus faz e diz, convidando-nos à verdade, à transparência, à sinceridade, no nosso trato conosco mesmos e com os outros.

Utilizo palavras, reflexo do meu sentimento, sinceras, construtivas, positivas, conciliadoras, de ânimo, de apoio, de bênção com as pessoas com quem me relaciono?


Em vez de...

Escolhe amar em vez de odiar,
criar em vez de destruir,
louvar em vez de criticar,
curar em vez de ferir,
atuar em vez de adiar,
crescer em vez de conservar,
partilhar em vez de armazenar,
semear em vez de colher,
viver em vez de morrer...
E saberás por que é que a minha palavra
é palavra de vida
e o meu Evangelho é Boa Notícia;
porque de nada serve, mesmo que se esforce,
pôr num vestido velho um remendo de pano novo
e vinho novo em odres velhos.
Pára já de sonhar em saldos,
e não tentes comprar o Reino!
O cristão não se arrasta sob o peso da lei;
corre livremente impulsionado pelo amor.


Ulibarri Fl.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

“Não à guerra entre nós” – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus”. (Mt,5, 20)

Palavras de Jesus são bem claras, objetivas e exigentes. São palavras “conhecidas” por todos os cristãos... Mas, será que essas palavras são levadas a sério pelas pessoas que dizem acreditarem em Cristo? Não é difícil encontrar cristãos que defendem guerras, o uso de armas, extermínio de povos indígenas, apoiando o aborto, a eutanásia, a liberação de drogas, praticando a corrupção etc. Não é difícil perceber aqui uma incoerência gritante! 
Quais seriam as causas? - Frutos de doutrinas relativistas? Acomodação? Hipocrisia?

Abaixo, uma reflexão curta mas muito concreta e oportuna para os tempos de hoje,  do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler.
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IHU – Notícias
Sexta, 14 de fevereiro de 2014.

Não à guerra entre nós

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo  Mateus 5, 17-37 que corresponde ao Sexto Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.


Eis o texto

Os judeus falavam com orgulho da Lei de Moisés. Segundo a tradição, foi mesmo Deus quem a ofereceu ao Seu povo. Era o melhor que tinham recebido Dele. Nessa Lei apresenta-se a vontade do único Deus verdadeiro. Aí podem encontrar tudo o que necessitam para ser fiéis a Deus.

Também para Jesus a Lei é importante, mas já não ocupa o lugar central. Ele vive e comunica outra experiência: está a chegar o reino de Deus; o Pai procura abrir o caminho entre nós para fazer um mundo mais humano. Não basta ficarmos com cumprir a Lei de Moisés. É necessário abrir-nos ao Pai e colaborar com Ele para fazer uma vida mais justa e fraterna.

Por isso, segundo Jesus, não basta cumprir a lei que ordena “Não matarás”. É necessário, também, arrancar da nossa vida a agressividade, o desprezo pelo outro, os insultos ou as vinganças. Aquele que não mata, cumpre a lei, mas se não se liberta da violência, no seu coração não reina todavia esse Deus que procura construir conosco uma vida mais humana.

Segundo alguns observadores, está-se a estender na sociedade atual uma linguagem que reflete o crescimento da agressividade. Cada vez são mais frequentes os insultos ofensivos proferidos só para humilhar, desprezar e ferir. Palavras nascidas da rejeição, do ressentimento, do ódio ou da vingança.

Por outra lado, as conversações estão frequentemente tecidas de palavras injustas que distribuem condenações e semeiam suspeitas. Palavras ditas sem amor e sem respeito, que envenenam a convivência e fazem mal. Palavras nascidas quase sempre da irritação, da mesquinhez ou da baixeza.

Não é este um fato que se dê só na convivência social. É também um grave problema na Igreja atual. O Papa Francisco sofre ao ver divisões, conflitos e confrontos de “cristãos em guerra contra outros cristãos”. É um estado de coisas tão contrário ao Evangelho que sentiu a necessidade de dirigir-nos uma chamada urgente: “Não à guerra entre nós”.

Assim fala o Papa: “Doí-me comprovar como em algumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, consentimos diversas formas de ódios, calunias, difamações, vinganças, ciúmes, desejos de impor as próprias ideias à custa de qualquer coisa, e até de perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. A quem vamos evangelizar com estes comportamentos?”. O Papa quer trabalhar por uma Igreja em que “todos podem admirar como vos cuidais uns aos outros, como vos dais alento mutuamente e como vos acompanhais”.