Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 29 de março de 2014

“O mendigo diz-lhe: “Creio, Senhor”. Reflexão de José Antonio Pagola. Muito boa!


Episódio bíblico: Jesus cura o cego de nascença. 
Abaixo, uma reflexão muito interessante e atual sobre esse milagre de Jesus, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU). 
Não deixe de ler.

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IHU – Niticias
Sexta, 28 de março de 2014.

Para excluídos

A leitura que a Igreja propõe neste domingo e o evangelho de Jesus Cristo segundo João 9,1-41, que corresponde ao Quarto Domingo de Quaresma, ciclo A do ano litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto.

É cego de nascimento. Nem ele nem seus pais têm culpa alguma, mas o seu destino ficará marcado para sempre. As pessoas olham-no como um pecador castigado por Deus. Só Jesus olha-o de forma diferente. Desde que o viu, só pensa em resgatá-lo daquela vida desgraçada de mendigo, desprezado por todos como pecador. Ele sente-se chamado por Deus para defender, acolher e curar precisamente os que vivem excluídos e humilhados.


Depois de uma cura trabalhosa em que ele também tem que colaborar com Jesus, o cego descobre pela primeira vez a luz. O encontro com Jesus mudou a sua vida. Por fim poderá desfrutar de uma vida digna, sem temor de se envergonhar ante ninguém.
Engana-se. Os dirigentes religiosos sentem-se obrigados a controlar a pureza da religião. Eles sabem quem não é pecador e quem está em pecado. Eles decidirão se pode ser aceito na comunidade religiosa.

O mendigo curado confessa abertamente que foi Jesus quem se aproximou e o curou, mas os fariseus rejeitam-no irritados: “Nós sabemos que esse homem é um pecador”. O homem insiste em defender Jesus: é um profeta, vem de Deus. Os fariseus não o podem aguentar: “Amaldiçoado nasceste dos pés à cabeça, e tu vais dar-nos lições?”.

O evangelista diz que, “quando Jesus ouviu que o tinham expulsado, foi encontrar-se com ele”. O diálogo é breve. Quando Jesus lhe pergunta se crê no Messias, o expulso diz: “E, quem é, Senhor, para que eu creia Nele?”. Jesus responde-lhe comovido: Não está longe de ti. “Estás a vê-Lo; o que te está a falar, esse é ele”. O mendigo diz-lhe: “Creio, Senhor”.

Assim é Jesus. Ele vem sempre ao encontro daqueles que não são acolhidos oficialmente pela religião. Não abandona quem o procura e ama-os mesmo que sejam excluídos das comunidades e instituições religiosas. Os que não têm sítio nas nossas igrejas têm um lugar privilegiado no Seu coração.

Quem levará hoje esta mensagem de Jesus até esses grupos que, a qualquer momento, escutam condenações públicas injustas de líderes religiosos cegos; que se aproximam das celebrações cristãs com medo de ser reconhecidos; que não podem comungar com paz nas nossas eucaristias; que se veem obrigados a viver a sua fé em Jesus no silêncio do seu coração, quase de forma secreta e clandestina? Amigos e amigas desconhecidos, não se esqueçam: quando os cristãos os rejeitam, Jesus acolhe-os.   



sexta-feira, 28 de março de 2014

“Mais de quinhentos anos de golpes.” – Artigo de José Lisboa Moreira de Oliveira. Muito bom!


O artigo que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania é muito oportuno para ser lido neste momento, quando se fala  dos 50 anos que se passaram, lembrando  do golpe militar de 1964 no Brasil.  Penso que esta é uma boa oportunidade para  “refrescar” a nossa memória a respeito do passado, a fim de podermos  corrigir as opiniões equivocadas ou falsas. 

 

O artigo abaixo, de José Lisboa Moreira de Oliveira, foi publicado recentemente pelo autor no seu blog O Chamado. A abordagem é muito atual, oportuna e sobretudo – competente.

Não deixe de ler!

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O Chamado

Sábado, 22 de março de 2014-03-28

Conjuntura brasileira

Mais de quinhentos anos de golpes

José Lisboa Moreira de Oliveira
Filósofo, teólogo, escritor, conferencista e professor universitário

Estamos refletindo nestes dias sobre os cinquenta anos do golpe violento praticado em 1964 pelas elites de nosso país contra o povo brasileiro, usando como escudo de proteção as Forças Armadas da nação. A reflexão é de fundamental importância, pois, lamentavelmente, somos tentados a esquecer nosso passado, e a repetir no presente certas barbáries praticadas outrora. Dizem que o brasileiro “tem memória curta”. Isso, até certo ponto, continua sendo verdade.

Mas aquele de 1964 não foi o único golpe aplicado pelos ricos e opulentos contra a sociedade brasileira. Tudo já começa em 1500 quando a Coroa Portuguesa desembarca nas costas da Bahia e invade de forma violenta e truculenta esta terra que já era habitada há milhares de anos por numerosos povos e etnias. O rei de Portugal chega por meio de suas caravelas e vai se apoderando de tudo. Não quer saber quem habita estas terras. E para se apoderar das riquezas determina a escravização e o extermínio de todos aqueles povos que mostrassem resistência. Muitas vezes a extinção não era praticada através de armas de fogo, mas por meio de métodos sofisticados e baratos como, por exemplo, a introdução nas aldeias indígenas de objetos contaminados por doenças dos brancos (gripe, varíola etc.), capazes de dizimar populações inteiras. Esse golpe violento, que exterminou milhões de pessoas, continua acontecendo até hoje. Em nossos dias latifundiários, mineradoras, o agronegócio e grandes empresas multinacionais continuam desejando avaramente e compulsivamente as terras indígenas. E, quando eles resistem, não hesitam em matar, estuprar, destruir e espalhar terror, como fizeram recentemente com indígenas do sul da Bahia e do Mato Grosso do Sul. Tudo sob o olhar complacente dos governantes, dos legisladores e do poder judiciário. Este último sempre conivente e sempre a favor dos poderosos e exterminadores.

Em seguida, a Coroa Portuguesa vai aplicando sucessivos golpes contra o povo pobre das terras “abaixo do Equador”. Basta pensar, por exemplo, nas capitanias hereditárias, verdadeiro exemplo de violência contra os primeiros habitantes das regiões que hoje chamamos de Brasil, contra os portugueses pobres e contra os seus filhos aqui nascidos. Pense-se também no lucrativo comércio de escravos africanos, um duro golpe contra povos da África e contra os seres humanos trazidos como verdadeiras mercadorias a serem vendidas nas feiras e nos mercados de algumas cidades brasileiras. Lembremo-nos dos pesados fardos e impostos aplicados pela Coroa contra os que aqui se encontravam, motivando a revolta que ficou conhecida como Inconfidência Mineira. Por fim, para não mencionar outros tantos, o último golpe, aplicado por Dom Pedro I, filho de Dom João VI, imperador de Portugal, proclamando uma independência que na verdade nunca existiu, pois, na prática, o Brasil continuou subjugado aos ditames e interesses dos poderosos da Europa.  

Em razão disso, o império brasileiro não passou de sucessivos golpes da burguesia que tudo controlava. Seria suficiente recordar o conturbado período vivido entre a renúncia de Dom Pedro I e o início do reinado de Dom Pedro II. Quem conhece a verdadeira história do Brasil sabe como esse período foi recheado de verdadeiros golpes, através dos quais se salvaguardava sempre os interesses das elites. O império, na verdade, continuou com práticas golpistas como, por exemplo, o modo de distribuição das terras e a permanência da escravidão. E quando decretou a extinção da escravatura foi por oportunismo financeiro e não por uma visão humanitária. Tanto que os escravos tiveram que, na prática, permanecer escravos, uma vez que não tiveram direito a nada. E nessa situação só lhes restava ficar subjugados de maneira ainda mais brutal e cruel aos seus antigos patrões.

Quanto à República brasileira, a história é bem conhecida. Nasceu de um golpe e se manteve através de sucessivos golpes, todos eles sempre a favor das elites, da burguesia e contra os pobres. Todas as vezes que o povo ensaiava um movimento de verdadeira libertação, as elites reprimiam esses movimentos com golpes cruéis. Logo no início da República tivemos a brutal repressão do movimento de Canudos (Bahia) e, um pouco mais tarde, o massacre do Contestado, na divisa do Paraná com Santa Catarina. E aí vieram os sucessivos golpes, passando por Getúlio Vargas e chegando àquele de 1964. Convém salientar que todos esses golpes não foram somente militares. Todos eles foram civis, ou seja, golpes das elites brasileiras, que usaram como aparelho de repressão as Forças Armadas. Na verdade, as elites brasileiras usaram os militares para reprimir os anseios e as lutas do povo pobre brasileiro.

No que diz respeito ao golpe de 1964, foi, na verdade, uma sucessão de golpes dentro do golpe. Isso se deu em primeiro lugar através dos malditos “atos institucionais”, pelos quais as Juntas Militares no poder, a serviço da burguesia, destruíram por completo a democracia. Ao determinarem, arrogantemente, a cassação de políticos, o fechamento do Congresso, a censura à imprensa, a cessação das liberdades democráticas, os golpistas se autoproclamaram os donos do poder, ou seja, afirmaram que o poder não emana do povo, pelo povo e para o povo, mas que o poder emana do poder. Além disso, se utilizaram da tortura e mataram muitas pessoas, violando princípios elementares de convenções internacionais, começando pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por fim, notando o próprio fracasso, introduziram uma aparente abertura e proclamaram uma falsa anistia que perdoava também os golpistas, os torturadores e os assassinos do regime. Com mais esse golpe dissolveram os dois partidos existentes, e, assim, continuaram controlando tudo. Os políticos de esquerda, na época, não perceberam que se tratava de mais um golpe dentro do golpe e realizaram, de bom grado, a sua própriapulverização. O resultado foi a continuação da ditadura até pelos menos 1985.

Porém, é preciso não esquecer que os golpes continuaram após a chamada “redemocratização”, mesmo que não se apresentassem mais com a crueldade daquele de 1964. O primeiro deles aconteceu em 1989, na primeira eleição para presidente da República, após a ditadura. As elites, percebendo que o povo poderia realmente tomar as rédeas do destino da nação, com a ajuda da mídia que continuava golpista, fabricaram um “caçador de marajás”, lá da “República das Alagoas”, e o apresentaram como o salvador da Pátria. O “caçador de marajás”, após tomar posse, mostrou a sua verdadeira face, seqüestrou, com a ajuda de sua parenta, o dinheiro dos pobres, quebrou pequenas empresas e pequenos negócios, levou muita gente à miséria e até ao suicídio. Não contente disso, resolveu “reformar a casa da Dinda”, ou seja, como se dizia na época, encontrou formas de lavar legalmente o dinheiro roubado anteriormente das poupanças dos pobres. E como, talvez, tenha se recusado a repartir o bolo com outros políticos corruptos, foi forçado a renunciar.

Logo em seguida acontece outro golpe: parte de uma falsa esquerda, representada pelo PSDB e seus “nanicos satélites”, se junta ao PFL, neto da ARENA, aquele partido que tinha abrigado os políticos da elite golpista de 1964, e coloca no poder um presidente, cuja marca principal foi leiloar e vender a preço de banana um imenso patrimônio do povo brasileiro. Os detalhes, bem documentados, desse golpe estão amplamente difundidos em dois livros que a mídia golpista atual não ousa comentar: A privataria tucana do jornalista Amaury Ribeiro Júnior e O príncipe da privataria de outro jornalista, Palmério Dória.

No momento atual o golpe em ação atende pelo nome de “mensalão do PT”. A burguesia, como sempre, percebendo o crescente avanço da insatisfação popular, decide desviar a atenção da sociedade brasileira insistindo pesadamente num suposto crime do Partido dos Trabalhadores. Não duvido que tenha havido esse “mensalão”, embora ilustres figuras do mundo jurídico e acadêmico coloquem em dúvida muita coisa. E tenho bons motivos para acreditar que o “mensalão do PT” seja mais uma armação para desviar a atenção dos brasileiros de mais um golpe contra o povo. Neste caso o PT é apenas o “bode expiatório” sobre o qual concentrar a raiva e a ira das multidões, como aconteceu em 1964, quando se acusava os “comunistas”, de serem “antropofagistas”, ou seja, “devoradores de crianças”. E, enquanto o povo tem a sua atenção desviada para o “mensalinho” do PT, as elites tratam de esconder as roubalheiras praticadas pela privataria e por outros estrondosos “mensalões” que passam pelos “buracos” do metrô de São Paulo, pela venda das teles e da Vale, pelas “caixas de Pandora” de Brasília e pelos paraísos fiscais do mar do Caribe e da Suíça.

A atual elite usa a mídia golpista para insuflar multidões e encontrar “culpados”. Como em 1989 gera novos “caçadores”. E o pior de tudo é que esses novos caçadores estão abrigados sob as togas da Justiça, a qual, por natureza, deveria ser totalmenteimparcial na defesa da verdade e do bem-comum. A estes novos “caçadores” são dedicados elogios, reportagens, capas de revistas, programas, entrevistas etc. Ora, como nos mostra a experiência, a grande mídia, verdadeiro oligopólio concentrado nas mãos de poucas famílias opulentas, está a serviço dos poderosos, dos ricos e dos inimigos do povo. Por isso, tudo o que sai dela é, pelo menos, duvidoso. Quando ela faz elogios a determinados personagens do Judiciário é porque estes personagens estão a serviço das elites que elas representam e não a serviço do povão dos pobres. Aliás, como disse o desembargador Paulo Rangel, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em programa exibido pela TV Brasil em 19 de março de 2014, o sistema judiciário brasileiro é racista. Só prende, condena e pune o pobre que, normalmente, é também negro. Os bandidos engravatados, ricos e brancos, os verdadeiros “mensaleiros”, continuam soltos.

Por esse motivo os membros do Judiciário, que são muitos e defendem realmente o povo, não fazem parte das pautas de reportagens e dos noticiários na grande mídia. É o caso, por exemplo, do juiz Márlon Reis, do Maranhão, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa. Os promotores e juízes que estão denunciando os grandes mensalões e outras tantas falcatruas da direitona nunca aparecem na grande mídia, a não ser de “raspão”, quando não dá mais para ocultá-los sem colocar em risco o índice de audiência. E como cerca de 70% da população brasileira são de analfabetos funcionais e, pior ainda, de analfabetos políticos, consegue-se facilmente cativar a simpatia do povo e elevar à condição de heróis certas figuras do alto escalão do Poder Judiciário, as quais nunca se importaram com os pobres e os oprimidos desse nosso país. Se não fosse assim, “grandes assaltantes” do dinheiro público como aqueles da “Caixa de Pandora” aqui do Distrito Federal e da “privataria tucana”, do Banco Opportunity, o chefe da máfia da jogatina, Carlinhos Cachoeira, e seu “representante” no Senado, não continuariam soltos. Só para citar alguns exemplos.


Neste momento da história somos convidados a agir mais racionalmente e mais criticamente. Não podemos ceder a mais um golpe. Precisamos usar de esperteza. Sem abrir mão da apuração e da punição de toda e qualquer forma de corrupção, não podemos esquecer que a elite brasileira sempre usou um fato menor de corrupção para esconder a corrupção maior e mais estrondosa. E se alguém ainda dúvida dessa real possibilidade, que volte a fazer memória do famoso “caçador de marajás” da “República das Alagoas”. Ninguém tem a menor dúvida de que em Alagoas e em todo o Nordeste existiam e continuam existindo “marajás”. Mas eles foram utilizados como verdadeiros “bodes expiatórios” para esconder o projeto de leiloar o Brasil. Os brasileiros e as brasileiras não foram espertos, caíram na arapuca e entregaram o patrimônio do nosso povo à privataria, uma vez que a venda do nosso país, realizada pelos tucanos e seus aliados, começa com o seqüestro das poupanças feitas pelo ilustre “príncipe caçador de marajás”. O sucessor desse príncipe, o homem do topete, foi quem armou todo o esquema para que a partir de 1995 o Brasil começasse a ser vendido a preço de banana. Só espero que em outubro o povo brasileiro esteja mais esperto e não volte a cair de novo na arapuca de mais um golpe bem bolado.



domingo, 23 de março de 2014

“Dá-me de beber.” (Jo 4,7) – Uma reflexão de José Antonio Pagola. Excepcional!


“Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede de beber, serias tu a pedir-lhe, e Ele te daria da água da vida”. (Jo 4,10)

Abaixo, uma reflexão comovente do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler.

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IHU – Notícias
Sexta, 21 de março de 2014.

À vontade com Deus

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 4, 5-42 que corresponde ao Terceiro Domingo de Quaresma, Ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

A cena é cativante. Cansado do caminho, Jesus senta-se junto ao manancial de Jacó. Rapidamente chega uma mulher a recolher água. Pertence a uma população meio pagã, desprezada pelos judeus. Com toda a espontaneidade, Jesus inicia o diálogo. Não sabe olhar para ninguém com desprezo, mas sim com grande ternura. “Mulher, dá-me de beber”.


A mulher fica surpreendida. Como se atreve a entrar em contato com uma samaritana? Como se rebaixa a falar com uma mulher desconhecida? As palavras de Jesus surpreendem-na ainda mais: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede de beber, serias tu a pedir-lhe, e Ele te daria da água da vida”.

São muitas as pessoas que, ao longo destes anos, foram se afastando de Deus, sem dar-se conta do que realmente estava a ocorrer no seu interior. Hoje, Deus é-lhes um “ser estranho”. Tudo o que está relacionado com Ele lhes parece vazio e sem sentido: um mundo infantil, cada vez mais distante.

Entendo-os. Sei o que podem sentir. Também eu me fui afastando pouco a pouco daquele “Deus da minha infância” que despertava dentro de mim tantos medos, mal-estar e desconforto. Provavelmente, sem Jesus nunca me teria encontrado com um Deus que hoje é para mim um Mistério de bondade: uma presença amistosa e acolhedora em que posso confiar sempre.

Nunca me atraiu a tarefa de verificar a minha fé com provas científicas: creio que é um erro considerar o mistério de Deus como se fosse um objeto de laboratório. Tampouco os dogmas religiosos me ajudaram a encontrar-me com Deus. Simplesmente deixei-me conduzir por uma confiança em Jesus que foi crescendo com os anos.

Não saberia dizer exatamente como se sustenta hoje a minha fé no meio de uma crise religiosa que me sacode também a mim como a todos. Só diria que Jesus trouxe-me a viver a fé em Deus de forma simples do fundo do meu ser.  Se eu escuto, Deus não se cala. Se eu me abro, Ele não se fecha. Se eu me confio, Ele me acolhe. Se eu me entrego, Ele me sustém. Se eu me afundo, Ele me levanta.

Creio que a experiência primeira e mais importante é encontrar-nos à vontade com Deus, porque O percebemos como uma “presença salvadora”. Quando uma pessoa sabe o que é viver à vontade com Deus, porque apesar da nossa mediocridade, nossos erros e egoísmos, Ele nos acolhe tal como somos e nos impulsiona a enfrentar a vida com paz, dificilmente abandonará a fé. Muitas pessoas estão hoje abandonando Deus antes de tê-lo conhecido. Se conhecessem a experiência de Deus que Jesus contagia, procurá-lo-iam.



sábado, 22 de março de 2014

Kilka wielkopostnych myśli. – Krótkie refleksje.


Wspaniałe krótkie myśli.

A może komuś posłużą za tło do osobistej refleksji? ... 


Wyjęte z Power Point (PPS) – strona internetowa  Sióstr Benedyktynek z Montesserrat.
(Tłumaczone z j. Portugalskiego)
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Tabor naszych zwykłych dni

Kiedy zapominasz o sobie,
kiedy wyczerpujesz siły służąc tym ostatnim,
kiedy przyjmujesz cierpienie za towarzysza,
kiedy umiałeś przebaczyć,
kiedy już nie chcesz zysków,
kiedy podzieliłeś się tym czego sam potrzebujesz,
kiedy zaryzykowałeś  broniąc ubogiego,
kiedy otarłeś łzę niewinnego,
kiedy wydobyłeś kogoś z jego piekła,
kiedy  wnikłeś do serca świata,
kiedy  złożyłeś swoją wolę w rękach Boga,
kiedy się oczyściłeś ze swojej pychy,
kiedy pozbyłeś się  swoich niepotrzebnych drogiazgów,
kiedy czujesz się zraniony...  błyszczy w tobie, darmowo, 
światło Boga, czujesz jego obecność rozsiewającą wiosenną świeżość,
i jego zapach porusza cię i ożywia.
Już nie potrzebujesz innych skarbów.
Bóg ci towarzyszy, mówi do ciebie, chroni cię. Czujesz się jak gąbka w morzu szczęscia...  I to nie jest urojenie...
Jesteś Taborem, kóry ci się ofiaruje za darmo,
abyś zakosztował już teraźniejszości
i szedł zdecydownie, bez strachu.

Ulibarri Fl. 


Spragniony

Daj mi pić.
-           Jesteś tak spragniony że nie widzisz kim jestem?
Daj mi pić.
-           Żartujesz, Panie?
Daj mi pić.
-           Jakie schematy zamierzasz zburzyć?
Nie pytaj mnie.  Ty daj mi pić.
-           Tego mi  brakowałżby  usłyszeć to od ciebie!
Daj mi pić...
-           Ja nie mam wody, lecz pragnienie...
Daj  mi,  więc, twoje pragnienie.
...//...

Ulibarri Fl. 


“Dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede.”(Jo 4,15) – Comentário bíblico de Asun Gutiérrez Cabriada. Bem interessante!


“A vida eterna” não é o ponto de chegada, mas um modo de viver cada instante de modo novo, profundo e coerente." (do comentário abaixo)

O episódio bíblico A mulher Samaritana e Jesus (Jo 4, 5-42)  é muito conhecido e bastante comentado. Porém, sempre podemos descobrir novos detalhes e elementos.

Abaixo, o comentário bíblico sobre esse texto, de M. Asun Gutiérrez Cabriada, é  muito completo e interessante. É uma excelente oportunidade para aprofundar a reflexão.
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Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montserrat. benedictinescat.com/montserrat  Trabalho muito bonito!


O ser humano não tem só sede:
É SEDE!
Comentário
Naquele tempo, chegou Jesus a uma cidade da Samaria,
 chamada Sicar, junto de propriedade que Jacó
 tinha dado a seu filho José, onde estava a fonte de Jacó.
Jesus, cansado da caminhada, sentou-se à beira do poço.
 Era por volta do meio dia.
Veio uma mulher da Samaria para tirar água.
 Disse-lhe Jesus:
- Dá-me de beber.
Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos.

Os samaritanos são pessoas desprezadas pelos judeus. Jesus atua com total liberdade, não lhe importam os preconceitos que proibiam a conversa pública com uma mulher, interessa-lhe que ela solucione a sua vida. Jesus, cansado e sedento encontra uma mulher sedenta.

Boa oportunidade para refletir nas situações nas quais Jesus sai ao meu encontro ou eu vou ao seu.
Que me pede?  Que Lhe peço?  Que me oferece?  Que Lhe ofereço?  Tenho sede? De que tenho sede?
Onde, em quem descubro hoje a Jesus cansado, sedento, dizendo-me «dá-me de beber»?
Respondeu-Lhe a samaritana:
- Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber,
sendo eu samaritana?
De fato, os judeus não se dão com os samaritanos.
Disse-lhe Jesus:
- Se conhecesses o dom de Deus
e quem é Aquele que te diz ‘Dá-me de beber’,
tu é que lhe pedirias e Ele te daria água viva.

Aparentemente a samaritana tem tudo para matar a sede: o poço, o balde, a corda, o cântaro....
Jesus fala de outros poços, de outras águas, de outros desejos, de outra sede.
Fala do dom de Deus, o Espírito, alegria indizível, paz contagiosa, liberdade plena, força criadora..., que nos lava, sacia os nossos desejos e nos faz desejar mais, nos fecunda, nos vivifica, nos pacifica, nos torna livres, e nos enche de tudo o que podemos desejar, em plenitude.

Respondeu-Lhe a mulher:
- Senhor, Tu nem sequer tens um balde,
e o poço é fundo: donde Te vem a água viva?
Serás Tu maior que o nosso pai Jacó,
 que nos deu este poço,
do qual ele mesmo bebeu,
com os seus filhos e os seus rebanhos?
Porventura Te consideras maior que ele?
Disse-lhe Jesus:
- Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede.
Mas aquele que beber da água que Eu lhe der,
nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der
 tornar-se-á nele uma nascente
que jorra para a vida eterna.

Jesus vai-se revelando ao ritmo das inquietações que descobre na mulher. Não a acabrunha nem condena, mas fala-lhe com palavras que a vão levando de desejo em desejo, de verdade em verdade, fazendo-a sair de si mesma para se abrir ao dom de Deus.
“A vida eterna” não é o ponto de chegada, mas um modo de viver cada instante de modo novo, profundo e coerente.
Suplicou a mulher:
- Senhor, dá-me dessa água,
para que eu não sinta mais sede
e não tenha de vir aqui buscá-la.

“Dá-me dessa água”  que me alivia o cansaço dos caminhos e a tortura da sede,
essa água que me liberta de tantas desilusões,
essa água que me aclara o olhar e limpa o meu coração,
que fecunda o meu deserto e me enche de felicidade e de vida.

Disse-lhe Jesus: - Vai  chamar o teu marido e volta aqui.
Respondeu-Lhe a mulher:  - Não tenho marido.
Jesus replicou: - Disseste bem que não tens marido,
pois tiveste cinco, e aquele que tens agora
não é teu marido.
Neste ponto falaste verdade.

Os cinco maridos simbolizam os ídolos com os quais Samaria se tinha prostituído (2 Re 17, 24-41; Os 2, 4-25). A samaritana não tem marido, não tem o verdadeiro Deus. Jesus substitui todos os seus deuses.
A mulher sedenta é um bom retrato duma humanidade que busca, porque não está satisfeita, que tem sede,  não só de água, mas de felicidade, de justiça, de verdade, de liberdade, de beleza, de Deus... e não sabe bem a que poço poderá acudir.

Disse-Lhe a mulher: - Senhor, vejo que és profeta.
Os nossos antepassados adoraram neste monte,
e vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar.
Disse-lhe Jesus: - Mulher, podes acreditar em Mim:
vai chegar a hora em que nem neste monte
nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não conheceis;
nós adoramos o que conhecemos,
porque a salvação vem dos judeus.
Mas vai chegar a hora – e já chegou –
em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai
 em espírito e verdade…

Jesus vai descobrindo a necessidade duma relação nova com o Pai, mais além do culto institucionalizado ou de um lugar determinado.
Já chegou a hora de dar culto "em espírito e em verdade”. Os ritos exteriores, as normas estéreis, a categoria dos templos já não têm capacidade para matar a sede de Deus. O fundamental é o compromisso interior da pessoa. Podemos aprender a lição. O autêntico culto ao Pai não pode reduzir-se a um  ritual rotineiro nem ficar “sequestrado” no templo, mas traduzir-se  na vida vivida ao estilo de Jesus.  Jesus encontra-nos e encontramo-l’O nos irmãos,  na alegria, na tristeza, na esperança, na solidariedade..., em tudo o que faz parte da vida cotidiana dos seus filhos e filhas.

… pois são esses os adoradores que o Pai deseja.
Deus é espírito e os seus adoradores
devem adorá-l’O em espírito e verdade.

O amor de Jesus não tem limites, o Deus que Ele anuncia não cabe nos espaços que se constroem para Ele. Não é a pertença a uma instituição, mas a forma de nos relacionarmos com os outros e com o mundo que define a nossa relação com o Pai de todos.
Disse-Lhe a mulher:
- Eu sei que há-de vir o Messias, isto é,
Aquele que chamam Cristo.  
Quando vier, há-de anunciar-nos todas as coisas.
- Respondeu-lhe Jesus:
- Sou Eu, que estou a falar contigo.
Nisto, chegaram os discípulos e ficaram admirados
 por Ele estar a falar com aquela mulher,
mas nenhum deles Lhe perguntou:
 ‘Que pretendes?’ ou então:  ‘Porque falas com ela?’

Jesus é a resposta a todas as formas de sede que há na humanidade e a toda a busca de luz e de vida. 
Jesus supera barreiras, rompe modelos, apesar da surpresa e do escândalo que continuamente provoca, até nos mais próximos.

A mulher deixou a bilha, correu à cidade e falou a todos:
- Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz .
Não será ele o Messias?
Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus.

Quando a mulher descobre que o seu desejo mais profundo só se pode saciar
no “poço de Jesus”  deixa o cântaro, já não necessita apoios exteriores.  É uma mulher nova. Ela mesma se converteu em manancial de “água viva”,  semeadora do Evangelho e em apóstola do seu povo.
O encontro com Jesus leva a partilhar essa experiência e ao compromisso com o anúncio da Boa Notícia.
Jesus aproveita o nosso poço para descansar e fazer-se o encontrado com todos os sedentos necessitados da água que limpa, refresca, dá alegria, paz, esperança, vida ....

Entretanto, os discípulos insistiam com Ele, dizendo:
- Mestre, come.
Mas Ele respondeu-lhes:
- Eu tenho um alimento para comer que vós não conheceis.
Os discípulos perguntavam uns aos outros:
- Porventura alguém Lhe trouxe de comer?
Disse-lhes Jesus:
- O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele
que Me enviou e realizar a sua obra.
Não dizeis vós que dentro de quatro meses
chegará o tempo da colheita? Pois bem, Eu digo-vos:
Erguei os olhos e vede os campos,
 que já estão loiros para a ceifa.
Já o ceifeiro recebe o salário e recolhe
o fruto para a vida eterna e, deste modo,
se alegra o semeador juntamente com o ceifeiro.
Nisto se verifica o ditado:
 ‘Um é o que semeia e outro o que ceifa’.
Eu mandei-vos ceifar o que não trabalhastes.
Outros trabalharam e vós aproveitais-vos do seu trabalho.

Jesus alimenta-se da sua união com o Pai. “Fazer” a sua vontade não é só aceitá-la com plena confiança, mas cooperar na sua realização. A obra do Pai é a missão de Jesus e dos seus seguidores e seguidoras.

Muitos samaritanos daquela cidade
 acreditaram em Jesus, por causa
da palavra da mulher, que testemunhava:
- ‘Ele disse-me tudo o que fiz
Por Isso os samaritanos, quando
vieram ao encontro de Jesus,
pediram-Lhe que ficasse com eles.
E ficou lá dois dias.
Ao ouvi-l’O, muitos acreditaram e diziam à mulher:
- Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos.
Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele
é realmente o Salvador do mundo.

A samaritana, cheia da Palavra que a ilumina e a queima por dentro, converteu-se em evangelista e testemunha de Jesus.  Mulher e testemunha. Samaritana e evangelista.
O Espírito não distingue sexos, raças nem religiões. O seu testemunho, cheio de capacidade de convicção e de paixão, leva os samaritanos a uma experiência pessoal de Jesus, a crer n’Ele.
Que, como a a samaritana, o encontro com Jesus nos impulsione a ser doadores de água viva e testemunhas da Boa Notícia.


Sedento

Dá-me de beber.
Tão sedento estás que não reparas em quem sou?
Dá-me de beber.
Estás a brincar, Senhor?
Dá-me de beber.
Que esquemas queres romper?
Não me perguntes. Tu, dá-me de beber.
Era o que me faltava ouvir  isso de ti!
Dá-me de beber...
Eu não tenho água, mas sede...
Dá-me, pois, a tu sede.
...//...

Ulibarri Fl.