Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

terça-feira, 28 de abril de 2015

Teilhard de Chardin, místico da matéria. – Artigo de Luciano Mazzoni Benoni. Muito bom!


Hoje trago para o blog Ingagações-Zapytania mais um artigo que fala da pessoa de Teilhard de Chardin e da importância de sua obra. É de autoria de Luciano Mazzoni Benoni – estudioso de antropologia religiosa, publicista e escritor.

O texto foi publicado no início deste mês (abril de 2015) na Itália, e, posteriormente, também no site  do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Teilhard de Chardin morreu há exatamente 60 anos atrás, em 1955. Portanto, esta não deixa de ser uma justa homenagem a esse grande teólogo.

Realmente, vale a pena ler!

WCejnóg

IHU - NOTÍCIAS
Sexta, 10 de abril de 2015

Teilhard de Chardin, místico da matéria

Inúmeras seriam as razões para celebrar as intuições do jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, antecipador sobre várias questões por ao menos uma geração: do nexo entre fé e ciência à possível leitura cristã da evolução; da reconciliação entre Matéria e Espírito à reabilitação do corpo e das suas dinâmicas.

A opinião é de Luciano Mazzoni Benoni, vice-presidente da Associação Italiana Teilhard de Chardin, animador das meditações  cristocósmicas (www.armoniecosmiche.it). O artigo foi publicado no sítio da associação Viandanti, 07-04-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto

Com este título ousado, defendido por Dom Loris Capovilla (é seu o posfácio, com uma relato inédito de um curioso encontro entre Leopold Senghor e João XXIII), a editora Velar-LDC se atreveu a publicar, em 2012 [1], o primeiro fascículo destinado ao povo dos fiéis, que, em grande parte, nunca conheceu a obra de Pierre Teilhard de Chardin. Justamente porque aquele que foi definido como o "jesuíta proibido" não podia cruzar o limiar nem dos seminários muito menos dos fiéis leigos.

damnatio memoriae

Hoje, ainda, consuma-se essa silenciosa remoção, como foi no passado com outros gigantes da fé, basta pensar em Antonio Rosmini (por mais de um século) ou no mais recente Óscar Romero (quase meio século).

Contudo, desse modo, poder-se-á tornar verdade a previsão do próprio padre Teilhard: "Serei entendido quando for superado". Na verdade, é possível entrever uma certa "analogia" entre a figura de Thomas Merton (assinalada por Christian Albini no sítio Viandanti  no dia 31 de janeiro deste ano, no centenário do nascimento) e a de Teilhard de Chardin, do qual se completa o 60º aniversário do seu nascimento no céu.

Era o dia de Páscoa, quando, no domingo, 10 de abril de 1955, na sua última residência de exílio em Nova York, parou o coração de Teilhard (cumprindo, assim, o último dos seus desejos).

Sem forçações, parece aplicável também ao jesuíta francês a conclusão daquela bela recordação: "Homens como Thomas Merton estão fora dos esquemas em que nos encalhamos, são os raros homens que encontraram e reabriram o olho que os ciclopes perderam". Como não reconhecer, de fato, também ao padre Teilhard, essas características de corajosa profecia e de constante obra contracorrente?

Vanguarda da Igreja

Inúmeras seriam as razões para celebrar a sua formidável intuição que, como reconheceu Henri de Lubac, viu-o avançar como antecipador sobre várias questões por ao menos uma geração. Os terremos que ele foi capaz de lavrar como vanguarda da Igreja não são poucos: do nexo entre fé e ciência à possível leitura cristã da evolução; da reconciliação entre Matéria e Espírito à reabilitação do corpo e das suas dinâmicas; do encontro entre as religiões ao debate virtuoso Oriente-Ocidente; da revisão da tradicional doutrina do pecado original à releitura do conceito de castidade; da proposta pastoral de evangelização na modernidade à recuperação da escatologia, não de acordo com uma chave de distorcida "apocalíptica".

Todos temas que, depois, viram se mover, com igual atraso, o Magistério da Igreja e a pesquisa teológica: começando pela virada do Concílio Vaticano II, que, especialmente na constituição pastoral Gaudium et spes, traz o seu inconfundível eco (como amplamente reconhecido e atestado pelas atas dos trabalhos conciliares).

Mas não façamos dele um "fóssil": seria o pior serviço que prestaríamos justamente a ele que, embora paleontólogo (e, portanto, explorador do passado distante), tornou-se apaixonado estudioso do futuro, até ser reconhecido como consultor da Unesco justamente nesse campo.

Impulsos de atualidade

Portanto, convirá, ao contrário, percorrer brevemente em resenha quais são os impulsos de atualidade do seu pensamento hoje, não por acaso expressados e/ou relançados por estudos recém-publicados:

Em termos de ética planetária: a urgência de dotar este mundo em conflito mundial de destinos convergentes é mais do que nunca premente; durante a Expo de Milão (30 de maio), as perspectivas delineadas por Teilhard (a Noosfera) e por Panikkar (a Ecosofia) serão propostas conjuntamente para oferecer sólidas margens para aqueles que pretendem trabalhar para recompor a humanidade no terceiro milênio.

No plano existencial: a fratura provocada pelos dualismos do Ocidente (antigo e moderno) não deixam de reconduzir as dinâmicas vitais ao coração, verdadeiro centro da aventura humana – investigado por Teilhard dentro de uma recompreensão unificada da dimensão corpórea e da centrologia cósmica: por uma vida a gastar e viver em plenitude, aqui e agora.

No campo do debate, sempre aberto, entre fé e ciência: comentando O futuro do homem de Pierre Teilhard de ChardinRoberto Guerra (Futurismo per la nuova umanità. Dopo Marinetti, Ed. Armando, 2012) escreve: "Einstein já sonhava com uma nova religiosidade cósmica, para além das ambiguidades literais e históricas de todo Credo, certamente necessidade legítima de devoção, mas depois da Ciência: mais recentemente, figuras como C. G. Jung, N. Wiener (Dio & Golem...), E. FrommM. McLuhanJ. GuittonF. Capra, muitos cientistas e os próprios físicos (em relação ao Big Bang, as perguntas "metafísicas" parecem "fatais"), na Itália, o próprio A. Zichichi, até mesmo teólogos, assinalam perspectivas de reflexão (senão, talvez, até de insuspeitas explorações científicas) no sentido de uma possível metassíntese entre Ciência e Deus (...)

Para a atual geração da internet e na era da informática, talvez a figura histórica mais célebre – em debates em curso constantemente – seja precisamente o filósofo paleontólogo jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, considerado praticamente um precursor, até mesmo desconcertante, da Rede. A chamada  Netsfera é muitas vezes comparada à Noosfera prevista pelo grande cientista místico. E especificamente: paradoxalmente, no século XX, o mais genial voo poético no futuro, síntese extraordinária entre a tradição cristã e o futurismo modernista, talvez tenha o nome do padre Pierre Teilhard de Chardin, cientista e jesuíta (...)

As mais recentes descobertas científicas (sobretudo em física e matemática, mas também na genética e na tecnologia, além das viagens espaciais e da internet (...) a Rede por ele adivinhada como Noosfera) evidenciam atualmente as intuições sensacionais de Teilhard, quase como – também – uma espécie de obras-primas da arte sacra renascentista ou tardo-medieval em versão científica ou computadorizada! (...) Em suma, a obra de Teilhard parece ser maravilhosa no seu impulso futurista de longo prazo, também pela sua formação aparentemente conservadora, religiosa: Teilhard praticamente traduziu em chave científica – em nome de Jesus e, portanto, do Ocidente – o celebérrimo poema místico-cósmico do Cântico dos Cânticos"!

No plano espiritual: por uma percepção da plenitude da vida cósmica, como ambiente da Encarnação, na companhia do "Cristo evoluidor e interveniente [evolutore e veniente]" (Ilia DelioIl Cristo emergente: il senso cattolico di un universo in continua evoluzione, Ed. San Paolo 2014).

No plano eclesial, por fim: por uma nova compreensão da comunhão como dinâmica de energias convergentes (finalmente inclusiva das femininas), para além das fronteiras visíveis da Igreja, eixo central da evolução.

* * *

Não é por acaso, portanto, que, no Sínodo sobre a nova evangelização, um bispo austríaco repropôs as suas intuições pastorais (datadas de 1919) como maduras para hoje; ou que inúmeros teólogos sul-americanos (começando por Leonardo Boff), abrindo o tema da libertação ao horizonte ecológico, sejam levados a uma nova narrativa cosmológica que retoma dele a inspiração cosmocêntrica; ou ainda que, cada vez mais frequentemente, vemos cientistas da "nova física" – embora como "não crentes" – cruzarem com as suas ousadas pesquisas.

Talvez seja um sinal que, justamente nestes dias, foi publicado um livro (Antonio GalatiTeilhard de Chardin, La chiesa nell’evoluzione  dell’Universo, Ed. Paoline 2015) que relê a vida da Igreja a partir da sua cosmovisão evolutiva: acontecimento já previsto pelo teólogo Joseph Ratzinger. Uma boa oportunidade para reabrir as páginas e obter delas novas sugestões...

Nota:

1. Livreto inserido na nova coleção dos "Profetas do século XX", inaugurada com o nome do inesquecível teólogo moral Bernhard Häring.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Aproximar-nos e conhecermo-nos. Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


Abaixo, uma reflexão curta mas muito concreta e bem atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 10, 11-18  (Jesus - Bom Pastor).
É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e refletir!

WCejnog


IHU - Notícias
Sexta, 24 de abril de 2015

Aproximar-nos e conhecermo-nos

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 10, 11-18 que corresponde ao Quarto Domingo da Páscao, Ciclo B, do Ano Litúrgico.  O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Quando entre os primeiros cristãos começaram os conflitos e dissensões entre grupos e líderes diferentes, alguém sentiu a necessidade de recordar que, na comunidade de Jesus, só Ele é o Pastor bom. Não um pastor mais, mas o autêntico, o verdadeiro, o modelo a seguir por todos.

Esta bela imagem de Jesus, Pastor bom, é uma chamada à conversão, dirigida a quem pode reivindicar o título de «pastor» na comunidade cristã. O pastor que se parece a Jesus, só pensa nas suas ovelhas, não «foge» ante os problemas, não as «abandona». Pelo contrário, está junto delas, defende-as, se interessa por elas, «expõe a Sua vida» procurando o seu bem.

Ao mesmo tempo, esta imagem é uma chamada à comunhão fraterna entre todos. O Bom Pastor «conhece» as Suas ovelhas e as ovelhas «conhecem-No» a Ele. Só desde esta proximidade estreita, desde este conhecimento mútuo e esta comunhão de corações, o Bom Pastor partilha a Sua vida com as ovelhas. Para esta comunhão e mútuo conhecimento temos de caminhar também hoje na Igreja.

Nestes momentos não fáceis para a fé, necessitamos como nunca congregar forças, procurar juntos critérios evangélicos e linhas mestras de atuação para saber em que direção tem de se caminhar de forma criativa para o futuro.

No entanto, não é isto o que está sucedendo. Fazem-se algumas chamadas convencionais para viver em comunhão, mas não estamos dando passos para criar um clima de escuta mútua e diálogo. Pelo contrário, crescem as desclassificações e dissensões  entre bispos e teólogos; entre teólogos de diferentes tendências; entre movimentos e comunidades de diversas correntes; entre grupos e «blogs» de todo gênero...

Mas, talvez, o mais triste é ver como continua a crescer o distanciamento entre a hierarquia e o povo cristão.  Dir-se-ia que vivem em dois mundos diferentes. Em muitos lugares os «pastores» e as «ovelhas» apenas se conhecem. A muitos bispos não lhes resulta fácil sintonizar-se com as necessidades reais dos crentes, para oferecer-lhes a orientação e o alento que necessitam. A muitos fiéis resulta-lhes difícil sentir afeto e interesse por alguns pastores a que acham afastados dos seus problemas.

Só crentes cheios do Espírito do Bom Pastor podem ajudar-nos a criar o clima de aproximação, mútua escuta, respeito recíproco e diálogo humilde que tanto necessitamos.



domingo, 19 de abril de 2015

A ressurreição de Cristo, um fato histórico? – artigo de José María Castillo. Muito bom!



“Ao falar da ressurreição falamos de um fato transcendente. E o transcendente, por sua própria definição, é real (para quem crê na transcendência), mas não é, nem pode ser, histórico. Já sei que tudo isso é uma reflexão elementar. Mas também é verdade que só quando temos claro o elementar, poderemos falar sobre as outras coisas. Neste caso, da ressurreição de Jesus, o Senhor.”       
(José María Castillo)

Abaixo, um artigo muito interessante e esclarecedor do teólogo espanhol José María Castillo, sobre a questão da ressurreição de Jesus. Penso, que uma leitura deste texto pode ser muito útil para todos aqueles que procuram entender, ‘purificar’ e abraçar com convicção a sua fé cristã.

Muitos fiéis e religiosos cristãos, apoiados nos relatos dos Evangelhos e, sobretudo, na ‘certeza da fé’, defendem a tese de que a ressurreição de Jesus Cristo é um fato histórico e ninguém pode e/ou deve questionar isso. Mas, também, para muitas outras pessoas, principalmente entre os estudiosos em teologia e filosofia que sabem separ radicalmente o real do transcendental, neste caso, o fato da ressurreição de Cristo não pode ser considerado um fato histórico.  Portanto, às vezes,  isso se torna causa de conflitos e desentendimentos.

Quem tem razão? Como entender essa questão? Isso implica ou não com a  nossa fé em Jesus Cristo ressuscitado?– podemos indagar.

O artigo, que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania, certamente pode ajudar a esclarecer pelo menos algumas dúvidas.

A matéria foi publicada neste mês (abril de 2015) no Religión Digital, e posteriormente, também, no site do instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler.
WCejnog.



IHU – Notícias
Quinta, 09 de abril de 2015

A ressurreição de Cristo, um fato histórico?

“Ao falar da ressurreição falamos de um fato transcendente. E o transcendente, por sua própria definição, é real (para quem crê na transcendência), mas não é, nem pode ser, histórico”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo, em artigo publicado por Religión Digital, 08-04-20915. A tradução é de André Langer.

Eis o artigo.

O bispo Munilla [José Ignacio Munilla Aguirre, bispo da diocese de San Sebastián, na Espanha] anda nervoso porque alguns se atreveram a dizer que a ressurreição de Cristo não é um fato histórico. Os entendidos em historiografia discutem o que se deve entender quando falamos de um “fato histórico”. Independente da postura que cada um adotar nessa discussão, o que parece que se pode afirmar com segurança é que um fato pode ser considerado como histórico quando esse fato acontece na história. O que acontece (ou pode acontecer) a um ser humano depois da sua morte, isso já não está, nem pode estar, na história, mas além da história. Em tal caso, já não estamos falando do “histórico”, mas do “meta-histórico”.

Evidentemente, pode haver pessoas (e elas existem em abundância) que, por suas crenças (religiosas, filosóficas ou de outra índole), estão persuadidas de que um morto vive, seja no céu, junto de Deus, na eternidade ou em alguma outra modalidade que os humanos podem imaginar ou idealizar. Mas, quando isso acontece, já não estamos falando da história, mas do que transcende a história. Com outras palavras, uma coisa é “o histórico” e outra coisa é “o transcendente”. Que pode ser “real”, mas não é “histórico”.

Dito isso, para um historiador, o histórico de um sujeito acaba com a morte do sujeito. O que não quer dizer que com a morte se acabe a realidade desse sujeito. Pode haver pessoas que, por suas crenças, estão persuadidas de que o morto vive em “outra vida”, que já não está na história, mas além da história. Mas nunca digamos que o que acontece depois da morte é “histórico”.

Então, o que dizemos das aparições do Ressuscitado que são relatadas nos Evangelhos? Esses relatos testemunham que houve crentes (alguns discípulos, algumas mulheres...) que tiveram, sentiram e viram experiências segundo as quais a eles constava que Jesus vivia, porque havia sido ressuscitado por Deus. Isso é histórico: que aquelas mulheres e aqueles homens asseguraram que eles o viram, o sentiram... Mas também é certo que, ao relatar as experiências que viveram, contaram-nas de maneira que não concordam umas com as outras em dados e detalhes importantes. Por exemplo, para Mateus e Marcos, as aparições ocorreram na Galileia, ao passo que para Lucas e João aconteceram em Jerusalém. Também foi uma experiência o que o apóstolo Paulo viu e sentiu no caminho de Damasco.

Eu me pergunto que cristologia terá estudado o bispo Munilla. Seja qual for a cristologia que estudou, demonstra sua boa vontade em afirmar a todo custo que Jesus, o Senhor, não passou à história, mas que é Vivo, no qual os cristãos creem. Isto é de elogiar. Mas, com todo o respeito e com a liberdade que o assunto exige, é aconselhável (e exigível) que um bispo tenha alguma ideia de coisas muito básicas, que se encontram no comum das boas cristologias que vêm sendo publicadas já há várias décadas. Ao falar da ressurreição falamos de um fato transcendente. E o transcendente, por sua própria definição, é real (para quem crê na transcendência), mas não é, nem pode ser, histórico. Já sei que tudo isso é uma reflexão elementar. Mas também é verdade que só quando temos claro o elementar, poderemos falar sobre as outras coisas. Neste caso, da ressurreição de Jesus, o Senhor.




sexta-feira, 17 de abril de 2015

Acreditar por experiência própria. – Reflexão de José Antonio Pagola. Bem atual!


Abaixo, uma reflexão curta mas muito concreta e importante, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 24, 35-48  (Jesus ressuscitado aparece aos apóstolos em Jerusalém).
É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e refletir!
WCejnog
  


IHU - Notícias
Sexta, 17 de abril de 2015

Acreditar por experiência própria


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 24, 35-48 que corresponde ao Terceiro Domingo da Páscoa, Ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Não é fácil acreditar em Jesus ressuscitado. Em última instância é algo que só pode ser captado e compreendido desde a fé que o mesmo Jesus desperta em nós. Se não experimentamos nunca “por dentro” a paz e a alegria que Jesus infunde, é difícil que encontremos “por fora” provas da Sua ressurreição.

Algo assim nos diz Lucas ao descrever o encontro de Jesus ressuscitado com o grupo de discípulos. Entre eles há de tudo. Dois discípulos contam como O reconheceram ao jantar com Ele em Emaús. Pedro diz que lhe apareceu. A maioria ainda não teve nenhuma experiência. Não sabem o que pensar.

Então ”Jesus apresenta-se no meio deles e diz-lhes: ‘Paz convosco´’”. O primeiro para despertar a nossa fé em Jesus ressuscitado é poder intuir, também hoje, a Sua presença no meio de nós, e fazer circular nos nossos grupos, comunidades e paróquias a paz, a alegria e a segurança que dá o fato de sabê-Lo vivo, acompanhando-nos de perto nestes tempos nada fáceis para a fé.

O relato de Lucas é muito realista. A presença de Jesus não transforma de forma mágica os discípulos. Alguns se assustam e ”acreditam que estão vendo um fantasma”. No interior de outros “surgem dúvidas” de todo o tipo. Há quem ”não acredite, tal a alegria”. Outros continuam ”atônitos”.

Assim sucede também hoje. A fé em Cristo ressuscitado não nasce de forma automática e segura em nós. Vai-se despertando no nosso coração de forma frágil e humilde. Ao início, é quase só um desejo.

Habitualmente, cresce rodeada de dúvidas e interrogações: Será possível que seja verdade algo tão grande? Segundo o relato, Jesus fica, come entre eles, e dedica-se a ”abrir-lhes o entendimento” para que possam compreender o que sucedeu. Quer que se convertam em ”testemunhas”, que podem falar desde a sua experiência, e predicar não de qualquer maneira, mas ”em Seu nome”.

Acreditar no Ressuscitado não é uma questão de um dia. É um processo que, às vezes, pode durar anos. O importante é a nossa atitude interior. Confiar sempre em Jesus. Disponibilizar-Lhe muito mais espaço em cada um de nós e nas nossas comunidades cristãs.