Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 26 de março de 2016

Onde procurar o que vive? – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!


"Se quisermos encontrar-nos com Cristo ressuscitado, cheio de vida e de força criadora, temos que procurá-lo não numa religião morta, reduzida ao cumprimento e à observância externa de leis e normas, mas ali onde se vive segundo o Espírito de Jesus, acolhido com fé, com amor e com responsabilidade pelos seus seguidores." - José Antônio Pagola (do texto abaixo)

Páscoa da Ressurreição
Abaixo, uma excelente reflexão muito atual e concreta para o dia de hoje. É do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola.

Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e refletir.
WCejnog


IHU - Notícias
Quinta, 24 de março de 2016

Onde procurar o que vive?


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo João 20,1-9 que corresponde ao Domingo de Ressurreição, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol  José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

A fé em Jesus, ressuscitado pelo Pai, não brotou de forma natural e espontânea no coração dos discípulos. Antes de encontrar-se com Ele, cheio de vida, os evangelistas falam da sua desorientação, da sua busca em torno do sepulcro, as suas interrogações e incertezas.

Maria de Mágdala é o melhor protótipo do que acontece provavelmente a todos. Segundo o relato de João, procura o crucificado no meio das trevas, «quando ainda estava escuro». Como é natural, procura-O «no sepulcro». Todavia não sabe que a morte foi vencida. Por isso, o vazio do sepulcro deixa-a desconcertada. Sem Jesus, sente-se perdida.

Os outros evangelistas recolhem outra tradição que descreve a procura de todo o grupo de mulheres. Não podem esquecer o Mestre que as acolheu como discípulas: o seu amor leva-as ao sepulcro. Não encontram Jesus ali, mas escutam a mensagem que lhes indica para onde devem orientar a sua busca: “Por que procurais entre os mortos aquele que vive?” “Não está aqui. Ressuscitou.”

A fé em Cristo ressuscitado não nasce tampouco hoje em nós de forma espontânea, apenas porque o escutamos desde crianças de catequistas e pregadores. Para nos abrirmos à fé na ressurreição de Jesus, temos que fazer o nosso próprio percurso. É decisivo não esquecer Jesus, amá-lo com paixão e procurá-lo com todas nossas forças, mas não no mundo dos mortos. Ao que vive há que procurá-lo onde há vida.

Se quisermos encontrar-nos com Cristo ressuscitado, cheio de vida e de força criadora, temos que procurá-lo não numa religião morta, reduzida ao cumprimento e à observância externa de leis e normas, mas ali onde se vive segundo o Espírito de Jesus, acolhido com fé, com amor e com responsabilidade pelos seus seguidores.

Temos que procurá-lo, não entre os cristãos divididos e confrontando-se em lutas estéreis, ocas de amor a Jesus e de paixão pelo Evangelho, mas ali onde vamos construindo comunidades que colocam Cristo no seu centro, porque sabem que «onde estão reunidos dois ou três em seu nome, ali está Ele».

Ao que vive não o encontraremos numa fé estagnada e rotineira, gasta por todo tipo de tópicos e fórmulas vazias de experiência, mas procurando uma qualidade nova na nossa relação com Ele e na nossa identificação com o seu projeto. Um Jesus apagado e inerte, que não apaixona nem seduz, que não toca os corações nem contagia a sua liberdade, é um «Jesus morto». Não é um Cristo vivo, ressuscitado pelo Pai. Não é o que vive e faz viver.



quinta-feira, 24 de março de 2016

O silêncio Daquele que Jesus chama "Abba, meu Pai". – Uma profunda reflexão!


Abaixo, uma pequena reflexão para os momentos de silêncio da Sexta-feira Santa. Muito boa!
O texto foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena refletir.
WCejnóg




IHU - Notícias
Quinta, 24 de março de 2016

O silêncio Daquele que Jesus chama Abba, meu Pai"

Artigo  de Alexander Nava









O Cristo torturado da América Latina de Guido Rocha.
(Fonte: dasilio.wordpress.com)





Jesus de Nazaré, o Filho, na vida “passou fazendo o bem” (cf. At 10, 37s), numa profunda intimidade com o Deus que chamava de “Abba, meu Pai” e com os abandonados de seu tempo. Ele se fez presença, companhia, remédio e esperança daqueles que tinham “fome e sede de Justiça”. 

Era portador de uma “Boa-Notícia”: o Reino de Deus como espaço disponível para todos, de espera escatológica (para além daqui), cuja realização é experimentada desde aqui. Hoje, garantir os valores do Reino – Justiça, Verdade, Direito, Paz, etc. – é viver centelhas do que “na plenitude escatológica” está reservado.

Não há espaço para remendos: “para vinho novo, odres novos”. O Reino exige uma nova postura, uma autêntica conversão. Em outras palavras, é buscar continuamente a vivência dos valores salutares do Reino com profecia e sem temor.

Por causa do Reino, que anunciou profeticamente, na opção de  Deus por aqueles que a religião e os “importantes da sociedade” julgavam desprezíveis, foi condenado à morte vergonhosa de cruz. É possível aprender uma lição: a verdade tem um preço! Queremos viver na verdade e assumir suas consequências?

A resistência ao sofrimento não é diferente para Jesus. Ele não é um super-homem, muito menos está imune de sofrer. O “grito forte” de Jesus na cruz, narrado pelo evangelista Marcos, desvela com fidelidade aquilo que vivenciou naquele madeiro: abandono, sofrimento, vergonha.

experiência do abandonado é atualizada no grito dos crucificados de hoje e de todos os tempos. Nele retoma-se a pergunta que surgiu no século XX, principalmente depois das guerras mundiais, genocídios, etc.: o que fazia Deus diante de tanta atrocidade?

Deus está ali, junto com os crucificados de cada tempo. É um Deus que sofre, aceita sofrer, porque ama apaixonadamente, não apenas o seu igual (Filho), mas o seu outro (mundo e ser humano). É um amor que não imuniza a dor.



quarta-feira, 23 de março de 2016

Despedida inesquecível. - Uma reflexão maravilhosa sobre Quinta-feira Santa, de José Antonio Pagola.


Hoje trago para o blog Indagações-Zapytania uma excelente reflexão  sobre a Quinta-feira Santa. O texto pode servir de grande ajuda para quem deseja entender melhor o que realmente aconteceu durante a Última Céia e que importância isso deveria ter tanto para os discípulos de Jesus, como também para os cristãos de hoje.

O texto é de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola e foi publicado pelo autor no seu espaço no Facebook.

Vale a pena ler até o fim!
WCejnóg


Quinta-feira santa na ceia do Senhor
José Antônio pagola


Despedida inesquecível


Também Jesus sabe que suas horas estão contadas. No entanto não pensa em se esconder ou fugir. O que faz é organizar um jantar especial de despedida com os amigos e amigas mais próximos. É um momento grave e delicado para ele e para os seus discípulos: quer vivê-lo em toda a sua expressão. É uma decisão pensada.

Consciente da iminência de sua morte, precisa de partilhar com os seus a sua confiança total no Pai mesmo nesta hora. Quer prepará-los para um golpe tão duro; sua execução não pode afundá-los na tristeza ou desespero. Têm que partilhar juntos as interrogações que acordam em todos eles: o que vai ser do reino de Deus sem Jesus? O que devem fazer os seus seguidores? Daqui para frente onde vão alimentar a sua esperança na vinda do reino de Deus?

Aparentemente, não se trata de um jantar pascal. É verdade que algumas fontes indicam que Jesus quis comemorar com os seus discípulos o jantar da Páscoa ou
Seder, na qual os judeus comemoram a libertação da escravidão egípcia. No entanto, ao descrever o banquete, não se faz uma alusão à liturgia da Páscoa, nada se diz do Cordeiro pascal nem das ervas amargas que se come essa noite, não se recorda ritualmente a saída do Egito, tal como estava prescrito.

Por outro lado, é impensável que essa mesma noite em que todas as famílias estavam comemorando o jantar mais importante do calendário judeu, os sumos sacerdotes e os seus ajudantes deixaram tudo isso para tratar da detenção de Jesus e organizar uma reunião noturna com o fim de ir concretizando as acusações mais graves contra Ele. Parece mais plausível a informação de outra fonte que coloca a ceia de Jesus antes da festa da Páscoa, pois nos diz que Jesus é executado em 14 de nisán, na véspera da Páscoa.

Assim, não parece possível estabelecer com segurança o caráter pascal da última ceia. Provavelmente, Jesus peregrinou até Jerusalém para celebrar a Páscoa com seus discípulos, mas não conseguiu realizar o seu desejo, pois foi preso e executado antes de chegar essa noite. No entanto, sim, deu tempo para realizar um jantar de despedida.

Em qualquer caso, não é uma comida normal, mas um jantar solene, o último de tantos outros que tinham celebrado pelas aldeias da Galiléia. Beberam vinho, como se fazia nas grandes ocasiões; jantaram deitados para ter uma mesa tranquila, não sentados, como o faziam cada dia.

Provavelmente não é um jantar de Páscoa, mas no ambiente já se respira a excitação das festas pascais. Os peregrinos fazem seus últimos preparativos: adquirem pão e compram seu cordeiro pascal. Todos procuram um lugar nas pousadas ou nos pátios e terraços das casas. Também o grupo de Jesus procura um lugar tranquilo. Essa noite Jesus não se retira à Betânia como nos dias anteriores. Fica em Jerusalém. Sua despedida tem de se realizar na cidade santa. Os relatos dizem que ele realizou o jantar com os doze, mas não devemos excluir a presença de outros discípulos e discípulas que vieram com ele em peregrinação. Seria muito estranho que, contra o seu hábito de dividir a mesa com todo o tipo de pessoas, mesmo pecadores, Jesus tomasse de repente uma atitude tão seletiva e restrita.

Podemos saber o que se passou realmente nesse jantar? Jesus considerava os almoços e jantares que fazia na Galiléia como símbolo e antecipação do banquete final no reino de Deus. Todos conhecem essas refeições animadas pela fé de Jesus no reino definitivo do Pai. É um dos seus traços característicos enquanto percorre as aldeias.

Também esta noite, aquele jantar lhe faz pensar no banquete final do Reino. Dois sentimentos penhoram a Jesus. Primeiro, a certeza da sua morte iminente; Ele não pode evitar: aquela é a última bebida que vai compartilhar com os seus; todos sabem: Não há como ter ilusões. Ao mesmo tempo, a sua confiança inabalável no reino de Deus, ao que dedicou sua vida inteira. Fala com clareza: "Garanto-vos: já não beberei do fruto da videira até o dia em que o beba novo, no reino de Deus". A morte está próxima. Jerusalém não quer responder à sua chamada. Sua atividade como profeta e portador do Reino de Deus vai ser violentamente truncada, mas sua execução não vai impedir a chegada do reino de Deus que será  anunciado a todos. Jesus mantém inalterável sua fé nessa intervenção salvadora de Deus. Tem a certeza da validade de sua mensagem. Sua morte não tem de destruir a esperança de ninguém. Deus não vai recuar. Um dia Jesus se sentará à mesa para celebrar, com uma bebida na mão, o banquete eterno de Deus com os seus filhos e filhas. Beber um vinho "novo" e partilhar juntos a festa final do Pai. O jantar desta noite é um símbolo.

Movido por esta convicção, Jesus se prepara para animar o jantar e contagiar os seus discípulos com a sua esperança. Começa com a comida seguindo a tradição judaica: fica em pé, toma nas suas mãos o pão e pronuncia, em nome de todos, uma bênção a Deus, ao qual todos respondem dizendo "Amém". Depois de partir o pão distribui um pedaço a cada um. Todos conhecem esse gesto. Provavelmente viram Jesus fazendo assim em mais de uma ocasião. Sabem o que significa aquele rito de quem preside à mesa: ao receber este pedaço de pão, Jesus lhes faz chegar a bênção de Deus. Como lhes impressionava quando ele dava isso aos pecadores, cobradores de impostos e prostitutas! Ao receber aquele pão, todos se sentiam unidos entre si e com Deus. Mas naquela noite, Jesus acrescenta algumas palavras que lhe dão um conteúdo novo e estranho ao seu gesto. Enquanto lhes distribui o pão vai dizendo estas palavras: " Isto é o meu corpo. Eu sou esse pão. Vede-me nestes pedaços me entregando até o final, para vos fazer chegar a bênção do reino de Deus".

O que sentiram aqueles homens e mulheres quando ouviram pela primeira vez estas palavras de Jesus? Surpreendeu-lhes muito mais o que Jesus fez ao acabar o jantar. Todos conhecem o rito ao qual estavam acostumados. No final da refeição, quem presidia à mesa, permanecendo sentado, pegava na sua mão direita uma taça de vinho, a mantinha a um centímetro de altura sobre a mesa e pronunciava sobre ela uma oração de ação de graças pela comida, ao que todos responderam "Amém". Em seguida bebia de seu copo, o qual serviu de sinal aos outros para que cada um beber do seu.

No entanto, naquela noite Jesus muda o rito e convida os seus discípulos e discípulas para que todos bebam de um único cálice: o dele! Todos partilham esse "Cálice de salvação" abençoado por Jesus. Nesse cálice que se vai passando e é oferecido a todos, Jesus vê algo "novo" e peculiar, o que quer explicar: "este cálice é a nova aliança em meu sangue. Minha morte abrirá um novo futuro para vós e para todos". Jesus não pensa só em seus discípulos mais próximos.
Neste momento decisivo e fundamental, o horizonte de seu olhar se faz universal: a nova aliança, o reino definitivo de Deus é para muitos, "para todos".

Com estes gestos proféticos da entrega do pão e do vinho, partilhados por todos, Jesus transforma aquele jantar de despedida em uma grande ação sacramental, a mais importante de sua vida, a que melhor resume o seu serviço ao reino de Deus, e quer deixá-la gravada para sempre em seus seguidores. Quer que continuem ligados a ele e que alimentem nele a sua esperança. Que se lembrem sempre, dedicados ao seu serviço. Continuará a ser "o que serve", o que ofereceu a sua vida e sua morte por eles, o servidor de todos. Assim está agora no meio deles neste jantar e assim quer que o lembrem-se sempre. O pão e o cálice de vinho lhes falará sobretudo da festa final do reino de Deus; a entrega desse pão a cada um e a participação na mesma bebida lhes trará à memória a entrega total de Jesus. "Por vocês": Estas palavras resumem bem o que foi a sua vida ao serviço dos pobres, dos doentes, dos pecadores, dos desprezados, dos oprimidos, de todos os necessitados... Estas palavras expressam o que a sua morte será agora: foi "tudo" por oferecer a todos, em nome de Deus, acolhimento, cura, esperança e perdão. Agora entrega a sua vida até a morte oferecendo a todos a salvação do Pai.

Assim foi a despedida de Jesus, que ficou gravada para sempre nas comunidades cristãs. Seus seguidores não são órfãos; a comunhão com ele não será quebrada por sua morte; se manterá até que um dia bebam todos juntos a taça de "vinho novo" no reino de Deus. Não sentirão o vazio da sua ausência: repetindo aquele jantar podem se alimentar de sua memória e sua presença. Ele estará com os seus alimentando sua esperança; eles prolongarão e reproduzirão seu serviço ao reino de Deus até o reencontro final. De maneira germinal, Jesus está projetando em sua despedida as linhas mestres de seu movimento de seguidores: uma comunidade alimentada por ele mesmo e dedicada totalmente a abrir caminhos para o reino de Deus, em uma atitude de serviço humilde e fraterno, com a esperança posta no reencontro da festa final.

Há também um novo sinal de Jesus, que convida os seus discípulos ao serviço fraterno. O Evangelho de João diz que, em um determinado momento do jantar, ele levantou-se da mesa e "começou a lavar os pés dos discípulos". Segundo o relato, o fez para dar exemplo a todos e que eles saibam que seus seguidores deveriam viver em atitude de serviço mútuo: "lavai-vos os vossos pés uns aos outros". A cena é provavelmente uma criação do Evangelista, mas apanha de maneira admirável o pensamento de Jesus. O gesto é insólito.

Em uma sociedade onde está tão perfeitamente determinado o papel das pessoas e dos grupos, é impensável que o convidado de uma refeição festiva, e menos ainda o que preside à mesa, se ponha a realizar esta tarefa humilde reservada aos servos e escravos. Segundo o relato, Jesus deixa seu posto e, como um escravo, começa a lavar os pés aos discípulos. Dificilmente se pode traçar uma imagem mais expressiva do que tem sido a sua vida, e o que quer deixar gravado para sempre em seus seguidores. Como foi repetido muitas vezes: "quem quiser ser grande entre vós, será vosso servo; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será escravo de todos". Jesus o expressa agora plasticamente nesta cena: limpando os pés aos discípulos está agindo como servo e escravo de todos; dentro de algumas horas vai morrer crucificado, um castigo reservado sobre tudo aos escravos.

Fonte: Facebook




Sobre atraso na liturgia. – Artigo de José Maria Castillo. Bem atual!


Abaixo, uma curta mas bem concreta análise da questão de liturgia existente na Igreja Católica. Penso que este é um dos grandes desafios que a Igreja Católica precisa de enfrentar e trabalhar nos  tempos atuais. É importante analisar com seriedade esta questão.

O texto, que foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) em junho de 2015, continua sendo muito atual hoje.
Não deixe de ler!
WCejnóg


  
IHU – Notícias
quinta, 30 de julho de 2015

“Na liturgia, a igreja tem um atraso de mais de mil anos”, diz José María Castillo.

“A linguagem e os ritos da eucaristia ficaram parados na Alta Idade Média”.
A análise é do teólogo José María Castillo e publicada em seu blog Teología sin Censura, 29-07-2015. A tradução é de André Langer.


Eis o artigo.

Sabe-se que o falecido cardeal Martini disse ao Papa Bento XVI que a Igreja está 200 anos atrasada em relação à sociedade e à cultura atual. Suponho que Martini se referia ao exercício do poder e ao sistema de governo eclesiástico. Se o cardeal tivesse falado ao Papa sobre a liturgia, o mais provável é que teria dito que a Igreja tem um atraso de mais de mil anos.

Não estou exagerando. Basta consultar a excelente e documentada história da missa, de Joseph A. Jungmann, para dar-se conta de que a estrutura da celebração eucarística, a linguagem que nela se utiliza (mesmo que traduzida do latim), a maior parte dos gestos rituais e o conjunto da cerimônia, tudo isso ficou ancorado e emperrado no que se fazia e se expressava segundo a linguagem e os costumes da Alta Idade Média.

Ou seja, segundo os usos e formas de expressão que eram atuais nos longínquos tempos do século V ao VIII. Sem dúvida alguma, pode-se afirmar que não existe nenhuma outra instituição, por mais conservadora que seja, que se comporte desta maneira. E ficamos surpresos com o fato de que haja tantos cristãos que vão apenas na missa?

Por isso, convém reconhecer que a Constituição sobre a Liturgia, do Concílio Vaticano II, fez bem à Igreja em algumas coisas, por exemplo, ao permitir a tradução do latim às línguas atuais. Mas também é verdade que aquilo foi uma “atualização” que ficou curta.
Seguramente, porque faltou tempo, a devida preparação e as condições indispensáveis para enfrentar os problemas mais de fundo e mais atuais que afetam a liturgia, os rituais, os sinais, os símbolos e os complicados e atualíssimos temas relacionados à comunicação entre os seres humanos.

Sobretudo quando se trata de comunicar e esclarecer questões tão complicadas como é tudo aquilo que se refere às nossas relações com “o transcendente”. E sabemos que é precisamente isso que se pretende na liturgia. Por que haverá tantos católicos mais preocupados em ser fiéis ao Catecismo do que em enfrentar e resolver estes problemas tão sérios e urgentes?

Fonte: IHU- Notícias


quinta-feira, 17 de março de 2016

O que faz Deus em uma cruz? – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


Domingo de Ramos

Abaixo, uma pequena mas muito valiosa e atual reflexão para todos nós, os cristãos de hoje, cujo pano de fundo é o texto bíblico Lc 22,14 – 23, 56 (Paixão de Jesus Cristo).
O texto é de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola e foi publicado pelo autor no seu espaço no Facebook.
Não deixe de ler!

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O que faz Deus em uma cruz?
Por José Antônio pagola

De acordo com o relato evangélico, os que passavam perante Jesus crucificado sobre a colina do Gólgota escarneciam dele e, rindo da sua impotência, diziam: "se és filho de Deus, desce da cruz". Jesus não responde à provocação. Sua resposta é um silêncio carregado de mistério. Precisamente porque é filho de Deus permanecerá na cruz até a sua morte.

As perguntas são inevitáveis: como é possível acreditar em um Deus crucificado pelos homens? Damo-nos conta do que estamos dizendo? O que faz Deus em uma cruz? Como pode existir uma religião fundada em uma concepção tão absurda de Deus?

Um "Deus crucificado" constitui uma revolução e um escândalo que obriga-nos a questionar todas as ideias que nós, os humanos, fazemos de um Deus que supostamente conhecemos. O crucificado não tem o rosto nem os traços que as religiões atribuem ao ser supremo.

O "Deus crucificado" não é um ser todo-Poderoso e majestoso, imutável e feliz, alheio ao sofrimento dos humanos, mas sim um Deus impotente e humilhado que sofre conosco a dor, a angústia e até a própria morte. Com a cruz, ou acaba a nossa fé em Deus, ou nos abrimos a uma compreensão nova e surpreendente de um Deus que, em nosso sofrimento, ele nos ama de forma incrível. Perante o crucificado começamos a intuir que Deus, em seu último mistério, é alguém que sofre conosco. 
A nossa miséria lhe afeta. O nosso sofrimento lhe importa. Não existe um Deus cuja vida decorre, por assim dizer, à margem das nossas tristezas, lágrimas e desgraças. Ele está em todos os calvários do nosso mundo.

Este "Deus crucificado" não permite uma fé frívola e egoísta em um Deus onipotente ao serviço dos nossos caprichos e pretensões. Este Deus põe-nos a olhar para o sofrimento, o abandono e o desespero de tantas vítimas da injustiça e das desgraças. Com este Deus nos encontramos quando nos aproximamos do sofrimento de qualquer crucificado.

Nós, os cristãos, continuamos dando todo tipo de rodeios para não dar de cara com o "Deus crucificado". Aprendemos, inclusive, levantar o nosso olhar para a cruz do Senhor como conforto dos crucificados que estão diante dos nossos olhos. No entanto, a forma mais autêntica de celebrar a paixão do Senhor é reavivar a nossa compaixão. Sem isto, dilui-se a nossa fé no "Deus crucificado" e abre a porta a todo o tipo de manipulações. Que o nosso beijo ao crucificado nos ponha sempre olhando para aqueles que, perto ou longe de nós, vivem a sofrer.

Fonte: Facebook