Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Posso mudar? – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


“Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido”.(Lc 19,10)

Abaixo, uma bonita reflexão, muito concreta e bem atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 19,1-10 (Jesus hospeda-se na casa de Zaqueu). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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30 de outubro de 2016

Posso mudar?
Por José Antonio Pagola

Lucas narra o episódio de Zaqueu para que seus leitores souberem melhor o que podem esperar de Jesus: O Senhor ao que invocam e continuam nas comunidades cristãs "veio buscar e salvar o que estava perdido". Não devem esquecer.

Ao mesmo tempo, o seu relato da ação de Zaqueu ajuda a responder à pergunta que não poucos carregam em seu interior: ainda posso mudar? Já não é demasiado tarde para refazer uma vida que, em boa parte, sinto que a perdi? Que passos eu posso dar?

Zaqueu vem descrito com duas características que definem com precisão a sua vida. É "Chefe de publicanos" e é "rico". Em Jericó todos sabem que ele é um pecador. Um homem que não serve a Deus mas sim ao dinheiro. A sua vida, como tantas outras, é pouco humana.

No entanto, Zaqueu "procura ver a Jesus". Não é mera curiosidade. Quer saber quem é Jesus, o que se encerra neste profeta que tanto atrai as pessoas. Não é tarefa fácil para um homem instalado no seu mundo. Mas este desejo de ver Jesus vai mudar a sua vida.

O homem terá que superar vários obstáculos. É "de estatura baixa", sobre tudo porque sua vida não está fundamentada por ideais tão nobres. O outro impedimento são pessoas: terá que superar preconceitos sociais que impossibilitam o encontro pessoal e responsável com Jesus.

Mas Zaqueu prossegue sua busca com simplicidade e sinceridade. Corre para antecipar a multidão, e sobe a uma árvore como uma criança. Não pensa na sua dignidade de homem importante. Ele só quer encontrar o momento e o lugar adequado para entrar em contato com Jesus. Quer vê-Lo. É então quando descobre que também Jesus está procurando por ele pois chega até aquele lugar, o procura com o olhar e lhe diz: "o encontro será hoje mesmo na tua casa de pecador".

Zaqueu desce e O recebe em sua casa cheio de alegria. Há momentos decisivos em que Jesus passa por nossa vida porque ele quer salvar o que nós estamos a estragar. Não devemos deixar escapar esse momento.

Lucas não descreve o encontro. Só fala da transformação de Zaqueu. Muda sua maneira de ver a vida: já não pensa só no seu dinheiro mas no sofrimento dos outros. Muda seu estilo de vida: fará justiça aos que explorou e partilhará seus bens com os pobres.

Mais cedo ou mais tarde, todos corremos o risco de "assentar" na vida e a renunciar a qualquer desejo de viver com mais qualidade humana. Os crentes temos de saber que um encontro mais autêntico com Jesus pode fazer nossa vida mais humana e, sobretudo, mais solidária.


Fonte: Facebook


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A postura justa. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!


«Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.» (Lc 18,14)

Abaixo, uma bonita reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 18, 9-14 (A parábola do fariseu e do publicano orando no templo).
É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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IHU – Adital
21 de outubro de 2016.

A postura justa

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 18,9-14, que corresponde ao 30° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Segundo Lucas, Jesus dirige a parábola do fariseu e do publicano a alguns que presumem ser justos ante Deus e desprezam os outros. Os dois protagonistas que sobem ao templo para orar representam duas atitudes religiosas opostas e irreconciliáveis. Mas, qual é a postura justa e acertada ante Deus? Esta é a pergunta de fundo.

O fariseu é um observador escrupuloso da lei e um praticante fiel de sua religião. Sente-se seguro no templo. Reza de pé e com a cabeça erguida. Sua oração é mais bem apresentada: uma oração de louvor e ação de graças a Deus. Mas não lhe dá graças pela sua grandeza, sua bondade ou misericórdia, mas pelo bom e grande que é ele mesmo.

Imediatamente observa-se algo falso nesta oração. Mais que orar, este homem contempla-se a si mesmo. Narra-se a sua própria história cheia de méritos. Precisa sentir-se em ordem diante de Deus e exibir-se como superior aos demais.
Este homem não sabe o que é orar. Não reconhece a grandeza misteriosa de Deus nem confessa sua própria pequenez. Procurar Deus para enumerar diante dele nossas boas obras e desprezar os demais é néscio. Por trás de sua aparente piedade, esconde-se uma oração de “ateu”. Este homem não necessita de Deus. Não lhe pede nada. Basta-se a si mesmo.

A oração do publicano é muito diferente. Sabe que sua presença no templo é mal vista por todos. Seu trabalho de cobrador é odiado e desprezado. Não se desculpa. Reconhece que é pecador. Os seus golpes no peito e as poucas palavras que sussurra dizem tudo: “Oh Deus! tem compaixão deste pecador”.

Este homem sabe que não pode vangloriar-se. Não tem nada para oferecer a Deus, mas sim muito que receber dele: o Seu perdão e a sua misericórdia. Na sua oração há mais autenticidade. Este homem é pecador, mas está no caminho da verdade.

O fariseu não se encontrou com Deus. Este cobrador, pelo contrário, encontra em seguida a postura correta ante Ele: a atitude do que não tem nada e necessita tudo. Não se detém sequer a confessar com detalhe as suas culpas. Reconhece-se pecador. Dessa consciência brota a sua oração: «Tem compaixão deste pecador».

Os dois sobem ao templo para orar, mas cada um leva no seu coração a sua imagem de Deus e o seu modo de relacionar-se com Ele. O fariseu continua enredado numa religião legalista: para Ele o importante é estar em ordem com Deus e ser mais observador que ninguém. O cobrador, pelo contrário, abre-se ao Deus do Amor que Jesus prega: aprendeu a viver do perdão, sem vangloriar-se de nada e sem condenar a ninguém.

Fonte: IHU – Comentário doEvangelho



sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O clamor dos que sofrem. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!



“Faze-me justiça contra o meu adversário”. (Lc 18,3)

Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 18,1-8 (Parabola da viúva que enfrenta o juiz injusto). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) - Adital.
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IHU - Adital
14 de outubro de 2016.

O clamor dos  que sofrem


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 18,1-8 que corresponde ao 29° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.


Eis o texto

A parábola da viúva e do juiz sem escrúpulos é, como tantos outros, um relato aberto que pode suscitar nos ouvintes diferentes ressonâncias. Segundo Lucas, é uma chamada para orar sem desanimar-se, mas é também um convite para confiar que Deus fará justiça a quem lhe grita dia e noite. Que ressonância pode ter hoje em nós este relato dramático que nos recorda tantas vítimas abandonadas injustamente à sua sorte?

Na tradição bíblica a viúva é símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada. Esta mulher não tem marido nem filhos que a defendam. Não conta com apoios nem recomendações. Só tem adversários que abusam dela, e um juiz sem religião nem consciência a quem não importa o sofrimento de ninguém.

O que pede a mulher não é um capricho. Só reclama justiça. Este é o seu protesto repetido com firmeza ante o juiz: “Faça-me justiça”. A sua petição é a de todos os oprimidos injustamente. Um grito que está na linha do que dizia Jesus aos seus: "Buscai o reino de Deus e a sua justiça".

É certo que Deus tem a última palavra e fará justiça a quem lhe grita dia e noite. Esta é a esperança que acendeu em nós Cristo, ressuscitado pelo Pai de uma morte injusta. Mas, enquanto chega essa hora, o clamor de quem vive gritando sem que ninguém escute o seu grito, não cessa.

Para uma grande maioria da humanidade a vida é uma interminável noite de espera. As religiões predicam Salvação. O cristianismo proclama a vitória do Amor de Deus encarnado em Jesus crucificado. Entretanto, milhões de seres humanos só experimentam a dureza dos irmãos e irmãs e o silêncio de Deus. E, muitas vezes, somos os mesmos crentes que ocultamos seu rosto de Pai velando-o com o nosso egoísmo religioso.

Por que é que a nossa comunicação com Deus não nos faz escutar por fim o clamor dos que sofrem injustamente e nos gritam de mil formas: «Fazei-nos justiça»? Se, ao rezar, nos encontramos de verdade com Deus, como não somos capazes de escutar com mais força as exigências de justiça que chegam até ao seu coração de Pai?

A parábola interpela-nos a todos os crentes.
Seguiremos alimentando as nossas devoções privadas esquecendo quem vive no sofrimento?
Continuaremos rezando a Deus para colocá-lo a serviço dos nossos interesses, sem que nos importem muito as injustiças que há no mundo?
E se rezar fosse se esquecer de cada um e procurar do lado de Deus um mundo mais justo para todos?




sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Cura. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!


«Jesus perguntou: "Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?"  Então ele lhe disse: "Levante-se e vá; a sua fé o salvou".» (Lc 17,17-19)

Abaixo, uma excelente reflexão,  concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 17,11-19 (Jesus cura dez leprosos). É de autoria do teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
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IHU - Adital
7 de Outubro de 2016.
                                                        
Cura

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 17,11-19 que corresponde ào 28° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

O episódio é conhecido. Jesus cura dez leprosos enviando-os aos sacerdotes para que os autorizem a voltar sãos para as suas famílias. O relato podia ter terminado aqui. Ao evangelista, no entanto, interessa-lhe destacar a reação de um deles.

Uma vez curados, os leprosos desaparecem de cena. Nada sabemos deles. Parece como se nada tivesse acontecido nas suas vidas. No entanto, um deles “percebe que está curado” e compreende que algo grande lhe foi presenteado: Deus está na origem daquela cura. Entusiasmado, volta “louvando a Deus a grandes gritos” e “dando graças a Jesus”.

Em geral, os comentaristas interpretam a sua reação sob a forma de agradecimento: os nove são desagradecidos; só o que voltou sabe agradecer. Certamente é o que parece sugerir o relato. No entanto, Jesus não fala de agradecimento. Diz que o samaritano voltou “para dar glória a Deus”. E dar glória a Deus é muito mais do que dizer obrigado.

Dentro da pequena história de cada pessoa, provada por doenças, enfermidades e aflições, a cura é uma experiência privilegiada para dar glória a Deus como Salvador da nossa vida. Assim diz uma célebre fórmula de São Irineu de Leão: “O que a Deus lhe dá glória é um homem cheio de vida”. Esse corpo do leproso curado é um corpo que canta a glória de Deus.

Acreditamos saber tudo sobre o funcionamento do nosso organismo, mas a cura de uma grave doença não deixa de nos surpreender. Sempre é um “mistério” experimentar em nós como se recupera a vida, como se reafirmam as nossas forças e como cresce a nossa confiança e a nossa liberdade.

Poucas experiências se podem viver tão radicais e básicas como a cura, para experimentar a vitória frente ao mal e ao triunfo da vida sobre a ameaça da morte. Por isso, ao nos curarmos, oferece-se a possibilidade de acolher de forma renovada Deus que vem a nós como fundamento do nosso ser e fonte de vida nova.

A medicina moderna permite hoje a muitas pessoas viver o processo de cura com mais frequência que em tempos passados. Temos de agradecer a quem nos cura, mas a cura pode ser, além disso, ocasião e estímulo para iniciar uma nova relação com Deus. Podemos passar da indiferença à fé, da rejeição ao acolhimento, da dúvida à confiança, do temor ao amor.

Este acolhimento saudável de Deus pode curar-nos de medos, vazios e feridas que nos fazem mal. Pode-nos enraizar à vida de forma mais saudável e liberta. Pode-nos sanar integralmente.