Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Jaka jest nasza pozycja? – Bardzo aktualna refleksja. Autor: José Antonio Pagola.


“W tym samym czasie przyszli niektórzy i donieśli Mu o Galilejczykach, których krew Piłat zmieszał z krwią ich ofiar. Jezus im odpowiedział: ”Czyż myślicie, że ci Galilejczycy byli większymi grzesznikami niż inni mieszkańcy Galilei, że to ucierpieli? Bynajmniej, powiadam wam; lecz jeśli się nie nawrócicie, wszyscy podobnie zginiecie.  Albo myślicie, że owych osiemnastu, na których zwaliła się wieża w Siloé i zabiła ich, było większymi winowajcami niż inni mieszkańcy Jerozolimy?  Bynajmniej, powiadam wam; lecz jeśli się nie nawrócicie, wszyscy tak samo zginiecie”. (Łk 13, 1-5)

Poniżej, krótka refleksja, bardzo konkretna i aktualna, której tłem jest biblijny tekst Łk 13,1-9. Jej autorem jest hiszpański teolog José Antonio Pagola.

Tekst został opublikowany na internetowej stronie Instytutu Unisinos Humanitas  (IHU).

Zachęcam do przeczytania!
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(Tłumaczenie z języka portugalskiego)


Refleksja

Nieznani  ludzie powiadamiają  Jezusa o okrutnym zabójstwie kilku Galilejczyków w świętych pomieszczeniach świątyni.  Autorem znowu był Piłat. Co ich najbardziej przeraża to to, że krew tych ludzi została  zmieszana z krwią zwierząt, które były przeznaczone na ofiarę Bogu.

Nie wiemy dlaczego ci ludzie zwracają się do Jezusa. Chcą żeby solidaryzował się z ofiarami? Chcą żeby im wyjaśnił jaki przerażający grzech został popełniony, by zasłużyć na tak haniebną śmierć? I jeśli nie zgrzeszyli, dlaczego Bóg zezwolił na tak świętokradzką śmierć w Jego własnej świątyni?

Jezus  odpowiada  przypominając inne dramatyczne zdarzenie, które miało miejsce w Jerozolimie: śmierć osiemnastu ludzi zmiażdżonych przez przewracającą się wieżę przy sadzawce Siloé.

Otóż, w obu przypadkach Jezus stwierdza to samo: ofiary nie były bardziej grzesznikami niż inni. Kończy swoją wypowiedź  jednym i tym samym ostrzeżeniem: "jeśli się nie nawrócicie, wszyscy tak samo zginiecie."

Odpowiedź Jezusa daje dużo do myślenia. Przede wszystkim odrzuca tradycyjne przekonania, że nieszczęścia są karą od Boga. Jezus nie myśli o Bogu "czyniącym sprawiedliwość", który karze  swoich synów i swoje córki obdarzając ich tu i tam chorobami, wypadkami czy nieszczęściami, jako zapłatą za ich grzechy.

Następnie, Jezus zmienia perspektywę sytuacji. Nie traci czasu na teoretyczne rozmyślania o ostatecznych przyczynach zaistniałych nieszczęść, rozważając o winach i grzechach ofiar lub o woli Boga. Swoje spojrzenie zwraca na obecnych i konfrontuje ich z nimi samymi: powinni słyszeć i widzieć w tych wszystkich wydarzeniach Boże wezwanie do nawrócenia i do przemiany życia.

Obecnie, na przyklad, żyjemy  dotąd wstrząśnięci tragicznym trzęsieniem ziemi na Haiti. Jak odczytać tę tragedię z punktu widzenia postawy Jezusa? Oczywiście, nie powinniśmy  od razu pytać o to, gdzie jest Bóg, ale gdzie my jesteśmy, jakie jest nasza pozycja.

Pytaniem, które może prowadzić nas do nawrócenia na pewno nie jest "Dlaczego Bóg pozwala na tak straszną katastrofę?", lecz  "jak się czujemy godząc się z faktem, że tak wiele ludzi żyje w ogromnym ubóstwie, tak bezradni wobec  sił przyrody?".

Nie napotkamy Boga ukrzyżowanego, zwracając się o wyjaśnienia do oddalonego bóstwa, lecz identyfikując się z ofiarami. Nie znajdziemy Go protestując przeciw Jego obojętności lub negując Jego istnienie, lecz współpracując na tysiąc sposobów, aby złagodzić ból w Haiti i na świecie. Być może wtedy będziemy mogli wyczuć między światłami i cieniami, że Bóg jest w ofiarach, broniąc ich wiecznej godności i jest w tych, co walczą ze złem, umacniając ich siły.

Źródło: IHU-Notícias



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Onde estamos nós? – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


Neste mesmo tempo contavam alguns o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. Jesus toma a palavra e lhes pergunta: “Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por terem sido tratados desse modo? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo”. (Lc 13, 1-5)

Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 13, 1-9. É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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 IHU - Notícias
Sexta, 26 de fevereiro de 2016   

Onde estamos nós?

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lc 13, 1-9 que corresponde ao 3° Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Uns desconhecidos comunicam a Jesus a notícia da horrível matança de alguns galileus no recinto sagrado do templo. O autor foi, mais uma vez, Pilatos. O que mais os horroriza é que o sangue daqueles homens se tenha misturado com o sangue dos animais que estavam para oferecer a Deus.

Não sabemos por que recorrem a Jesus. Desejam que se solidarize com as vítimas? Querem que lhes explique que horrendo pecado foi cometido para merecer uma morte tão ignominiosa? E se não pecaram, por que Deus permitiu aquela morte sacrílega no Seu próprio templo?

Jesus responde recordando outro acontecimento dramático ocorrido em Jerusalém: a morte de dezoito pessoas esmagadas pela queda de um torreão da muralha próxima da piscina de Siloé. Pois bem, em ambas as situações Jesus faz a mesma afirmação: as vítimas não eram mais pecadoras que outros. E termina Sua intervenção com a mesma advertência: «se não vos converteis, todos perecereis».

A resposta de Jesus faz pensar. Antes de tudo, recusa a crença tradicional de que as desgraças são um castigo de Deus. Jesus não pensa num Deus «justiceiro» que vai castigando os Seus filhos e filhas repartindo aqui ou ali doenças, acidentes ou desgraças, como resposta a Seus pecados.

Depois, muda a perspectiva da situação. Não se detém em elucubrações teóricas sobre a origem última das desgraças, falando da culpa das vítimas ou da vontade de Deus. Volta o Seu olhar para os presentes e confronta-os consigo mesmos: devem escutar nestes acontecimentos a chamada de Deus à conversão e à mudança de vida.

Todavia vivemos abalados pelo trágico terremoto do Haiti. Como ler esta tragédia a partir da atitude de Jesus? Certamente, em primeiro lugar não é perguntar-nos onde está Deus, mas onde estamos nós. A pergunta que pode encaminhar-nos para uma conversão não é “por que Deus permite esta horrível desgraça?”, mas “como nós consentimos que tantos seres humanos vivam na miséria, tão indefesos ante a força da natureza?”.

Ao Deus crucificado não o encontraremos pedindo contas a uma divindade longínqua, mas identificando-nos com as vítimas. Não o descobriremos protestando da Sua indiferença ou negando a Sua existência, mas colaborando de mil formas por mitigar a dor no Haiti e no mundo inteiro. Então, talvez, possamos intuir entre luzes e sombras que Deus está nas vítimas, defendendo Sua dignidade eterna e nos que lutam contra o mal, alentando o seu combate.



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Escutar somente Jesus. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito boa!


« Então da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o!”».  (Lc 9, 35)

Abaixo, uma bonita reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 9, 28-36  (Transfiguração de Jesus). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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IHU – Notícias
Sexta, 19 de fevereiro de 2016

Escutar somente a Jesus

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo lucas 9, 28-36 que corresponde ao 2° Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
  
Eis o texto

A cena é considerada tradicionalmente como «a transfiguração de Jesus». Não é possível reconstruir com certeza a experiência que deu origem a este surpreendente relato, apenas sabemos que os evangelistas lhe dão uma grande importância, pois, segundo o seu relato, é uma experiência que deixa entrever algo da verdadeira identidade de Jesus.

Num primeiro momento, o relato destaca a transformação do Seu rosto e, apesar de estar conversando com Ele Moisés e Elias, talvez como representantes da lei e dos profetas respectivamente, apenas o rosto de Jesus permanece transfigurado e resplandecente no centro da cena.

Ao que parece, os discípulos não captam o conteúdo profundo do que estão a viver, pois Pedro diz a Jesus: «Mestre, que bom que se está aqui. Faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias». Coloca Jesus no mesmo plano e ao mesmo nível que os dois grandes personagens bíblicos. Para cada um, sua tenda. Jesus não ocupa, todavia, um lugar central e absoluto nos seus corações.

A voz de Deus vai corrigi-los, revelando a verdadeira identidade de Jesus: «Este é o Meu Filho, o escolhido», o que tem o rosto transfigurado. Não tem de ser confundido com os de Moisés ou Elias, que estão apagados. «Escutai-o». A ninguém mais. A Sua Palavra é a única decisiva. As outras apenas nos levam até Ele.

É urgente recuperar na Igreja atual a importância decisiva que teve nos seus começos a experiência de escutar no seio das comunidades cristãs o relato de Jesus recolhido nos evangelhos. Estes quatro escritos constituem para os cristãos uma obra única que não devemos equiparar ao resto dos livros bíblicos.

Há algo que só neles podemos encontrar: o impacto causado por Jesus nos primeiros que se sentiram atraídos por Ele e o seguiram. Os evangelhos não são livros didáticos que expõem doutrina acadêmica sobre Jesus. Tampouco biografias escritas para informar com detalhe sobre Sua trajetória histórica. São «relatos de conversão» que convidam à mudança, a seguir Jesus e a identificar-se com o Seu projeto.


Por isso pedem para ser escutados numa atitude de conversão. E nessa atitude têm de ser lidos, pregados, meditados e guardados no coração de cada crente e de cada comunidade. Uma comunidade cristã que sabe escutar cada domingo o relato evangélico de Jesus numa atitude de conversão, começa a transformar-se.  Não há na Igreja um potencial mais vigoroso de renovação que o que se encerra nesses quatro pequenos livros.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Rozpoznać pokusy. – Krótka, aktualna refleksja. Autor: José Antonio Pagola.


“Jezus mu odparł: «Powiedziano: Nie będziesz wystawiał na próbę Pana, Boga swego»”. (Łk 4,12)

Moim zdaniem, komentarze napisane przez José Antonio Pagola są ciekawe i bardzo aktualne, i mogą służyć ogromną pomocą tak dla katolików, jak i dla wszystkich chrześcijan dzisiejszych czasów. Publikowanie takich niezwykłych tekstów w moim blogu Indagações-Zapytania to konkretny sposób do przyczynienia się choć troszeczkę do ich upowszechniania. Dobrymi rzeczami powinniśmy się dzielić z innymi, nieprawdaż?

Poniżej bardzo konkretna refleksja, której  tłem jest biblijny tekst Łk 4,1-13 (Kuszenie Jezusa na pustyni).
Została ona opublikowana na internetowej stronie Instytutu Unisinos Humanitas (IHU).
Zachęcam do przeczytania.
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(Tłumaczenie z języka portugalskiego)



Refleksja

Według Ewangelii, pokusy jakich Jezus doświadcza właściwie nie są pokusami w znaczeniu moralnym. Są sytuacjami, w których są Mu proponowane błędne sposoby rozumienia i przeżywania Jego misji. Dlatego też Jego reakcja służy i nam jako wzór dla naszego moralnego postępowania, jak również jako ostrzeżenie, abyśmy  nie oddalali  się od misji, którą Jezus powierzył swoim uczniom.

Przede wszystkim, Jego pokusy pomagają nam identyfikować  z większą świadomoscią  i odpowiedzialnością te, na które dzisiaj jest wystawiony Jego Kościół i ci wszyscy, którzy go tworzą. Jak możemy być  Kościołem wiernym Jezusowi, jeśli nie jesteśmy świadomi najbardziej niebezpiecznych pokus, które dzisiaj mogą nas oddalać od Jego projektu i Jego stylu życia?

W przypadku pierwszej pokusy, Jezus rezygnuje z używania Boga, aby "przemienić" kamienie w chleb, a tym samym aby zaspokoić swój głód.  Taką drogą nie pójdzie. Nie będzie żył szukając zaspokojenia swego własnego interesu. Nie będzie używał Ojca w sposób egoistyczny. Będzie się karmił żywym słowem Boga; tylko dla nakarmienia rzeszy głodnych ludzi będzie "rozmnażać" chleb.

Prawdopodobnie  ta pokusa  jest najpoważniejsza  dla chrześcijan w krajach bogatych: używać religii do uzupełnienia naszego materialnego dobrobytu, do uspokojenia naszych sumień i do eliminowania z naszego chrześcijaństwa współczucia, stając się głuchymi na głos Boga, który nadal woła: gdzie są twoi bracia?

W przypadku drugiej pokusy, Jezus rezygnuje z ofiarowanej Mu możliwości uzyskania "mocy i chwały", czego warunkiem jest godzenie się na uprawianie, tak jak wszyscy potężni władcy, nadużyć, kłamstw i niesprawiedliwości, na których opiera się władza inspirowana przez "diabła". Królestwa Bożego nie narzuca się: ofiaruje się je  z miłością. Będzie jedynie adorował Boga ubogich, słabych i bezbronnych.

W czasach, kiedy podupada znaczenie władzy społecznej, kuszącym staje się dla Kościoła odzyskanie “mocy i chwały” jakie posiadał w innych czasach, zamierzając 
na nowo odzyskać władzę absolutną nad społeczeństwem.

Postępując w taki sposób możemy utracić historyczną szansę  wejścia na nową drogę pokornej służby i braterskiego towarzyszenia mężczyznom  i kobietom naszych czasów, tak bardzo potrzebującym miłości i nadziei.

W przypadku trzeciej pokusy,  Jezus rezygnuje z wypełniania swojej misji   uciekając się do łatwego sukcesu i ostentacji. Nie będzie triumfalnym Mesjaszem. Nigdy nie użyje Boga  by się Nim służyć do zabiegania o własne zaszczyty.  Będzie wśród swoich jako sługa.

Zawsze będzie dla niektórych wielką pokusą wykorzystywać przestrzeń religijną  do zdobycia sobie reputacji, renomy i szacunku. Niewiele rzeczy może być  bardziej odrażających w naśladowaniu Jezusa, jak szukanie dla siebie ostentacji i zaszczytów. Takie rzeczy są szkodliwe dla Kościoła i najbardziej powodują zgorszenie, z którego powodu wiele ludzi  od Kościoła odchodzi.


Źródło: IHU - Notícias


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Identificar as tentações. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!


Jesus disse: “Foi dito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’.”. (Lc 4,12)

Considero os comentários escritos por José Antonio Pagola muito interessantes e, principalmente, muito atuais para os católicos (e cristãos, de modo geral) nos dias de hoje. Publicar esses textos extraordinários no blog Indagações-Zapytania é uma forma concreta de ajudar na sua divulgação.  As coisas boas devemos compartilhar com os outros, não é verdade?

Abaixo, uma reflexão bem concreta, que tem como fundo o texto bíblico Lc 4, 1-13 (Jesus enfrenta as tentações no deserto).
Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler.

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 o texto.
IHU - Notícias
sexta, 12 de fevereiro de 2016

Identificar as tentações

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 4,1-13 que corresponde ao 1° Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico.

O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto


Segundo os evangelhos, as tentações experimentadas por Jesus não são propriamente de ordem moral. São situações em que lhe são propostas formas falsas de entender e viver a sua missão. Por isso, a sua reação serve-nos de modelo para o nosso comportamento moral, mas, sobretudo, alerta-nos para não nos desviarmos da missão que Jesus confiou a seus seguidores.

Antes de qualquer coisa, as suas tentações ajudam-nos a identificar com mais lucidez e responsabilidade as que podem experimentar hoje a sua Igreja e os que a formam. Como seremos uma Igreja fiel a Jesus se não somos conscientes das tentações mais perigosas que nos podem desviar hoje do seu projeto e estilo de vida?

Na primeira tentação, Jesus renuncia a utilizar Deus para «converter» as pedras em pães e saciar assim sua fome. Não seguirá esse caminho. Não viverá procurando seu próprio interesse. Não utilizará o Pai de forma egoísta. Se alimentará da Palavra viva de Deus, só «multiplicará» os pães para alimentar a fome das pessoas.
Esta é provavelmente a tentação mais grave dos cristãos dos países ricos: utilizar a religião para completar nosso bem-estar material, tranquilizar nossas consciências e esvaziar nosso cristianismo de compaixão, vivendo surdos à voz de Deus que nos continua a gritar, onde estão vossos irmãos?

Na segunda tentação, Jesus renuncia a obter «poder e glória» oferecidos com a condição de submeter-se como todos os poderosos aos abusos, mentiras e injustiças em que se apoia o poder inspirado pelo «diabo». O reino de Deus não se impõe, oferece-se com amor. Só adorará ao Deus dos pobres, débeis e indefesos.
Nestes tempos de perda de poder social é tentador para a Igreja tentar recuperar «o poder e a glória» de outros tempos pretendendo inclusive um poder absoluto sobre a sociedade.  Assim podemos perder uma oportunidade histórica para entrar num caminho novo de serviço humilde e de acompanhamento fraterno ao homem e à mulher de hoje, tão necessitados de amor e de esperança.

Na terceira tentação, Jesus renuncia a cumprir a sua missão recorrendo ao êxito fácil e à ostentação. Não será um Messias triunfalista. Nunca colocará Deus ao serviço da Sua vanglória. Estará entre os seus como quem que serve. 
Sempre será tentador para alguns utilizar o espaço religioso para procurar reputação, renome e prestígio. Poucas coisas são mais ridículas no seguimento de Jesus que a ostentação e a busca de honras. Fazem mal à Igreja e esvaziam-na de verdade.



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Carnaval & cinzas. - Artigo de Frei Betto. Muito bom!



Acho excelente e muito oportuno para o momento atual, que é o começo de Quaresma no calendário litúrgico, o artigo Carnaval & cinzas, de autoria do Frei Betto, que foi publicado recentemente (07/02/2016) no jornal O Globo (Coluna Frei Betto).
Vale a pena ler!


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O Globo
Coluna Frei Betto 
religião

07/02/2016.

Carnaval & Cinzas

Proclamar que a vida tem a palavra final, inclusive sobre a morte, implica também empenhar-se para que a nossa juventude não se transforme numa geração perdida.

Carnaval significa "festa da carne" e era, em seus primórdios, uma festa religiosa. Às vésperas da Quaresma, diante da perspectiva de passar quarenta dias em abstinência de carne, os cristãos fartavam-se de assados e frituras entre o domingo e a "terça-feira gorda". Na quarta, revestiam-se de cinzas, evocando que do pó viemos, para o pó retornaremos, e ingressavam no período em que a Igreja celebra a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
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A modernidade secularizou a cultura e, de certo modo, esvaziou o significado das festas religiosas.
Com certeza ganhou a autonomia da razão e perdeu a consistência da subjetividade. Trocou-se São Nicolau, que no século V distribuiu sua herança aos pobres, pela figura consumista de Papai Noel; transformou-se o carnaval em festa da carne em outro sentido; e fez-se da Semana Santa um período extra de férias.

Essa reificação dos ritos de passagem torna-se mais evidente nesse momento em que a humanidade enfrenta a crise de paradigmas. Destituído o marxismo da condição de ciência da História, e constatado o fracasso crônico do liberalismo nos países da América Latina e da África, ocorre uma emergência espiritual em todo o mundo.

Parafraseando Rimbaud, há uma grande "gula de Deus", que favorece o encontro, afinal, da mística oriental com a doutrina cristã ocidental, introduz a new age e a meditação, mas também abre campo aos mercenários da salvação que pregam de olho na cobiça, convencidos de que "no princípio era a verba..."

A Quarta-Feira de Cinzas instiga-nos a refletir sobre esta experiência inelutável: a morte. O processo reificador da modernidade tende a tornar descartáveis também os ritos de passagem que se sobrepõem às esferas religiosas, como nascimento, casamento e morte.

Outrora, morria-se em casa e, contra a vontade do poeta, havia choro, vela e fita amarela. Criança em Minas, acorri a enterros que eram uma festa, com toda a força paradoxal da expressão. Havia velório e carpideiras, cachaças e empadas, coroas de flores e procissão fúnebre, missa de corpo presente e encomendação no cemitério.

Hoje, morre-se quase clandestinamente, e o enterro se faz antes que os amigos possam ser avisados, como se resistíssemos à ideia de que esta vida escapa ao nosso absoluto controle.

A evocação da morte incomoda porque remete ao sentido da vida. Só assume morrer quem imprime à vida um sentido altruísta, que transcende a existência individual. Fora disso, a morte é brutal sonegação da vida.

Porém, já não se enfatiza o tema do sentido da vida. Na escola, aprende-se a competir, a ter sucesso, a dominar a ciência, a técnica e o patrimônio cultural de que somos herdeiros, mas não há nenhuma disciplina que prepare os alunos para as crises quase inevitáveis da existência: o fracasso profissional, a ruptura afetiva, a doença, a falência, a morte. Socializada a ambição, toda as vezes que o desejo esbarra na frustração ele privatiza o consolo: o alcoolismo, as drogas, o essentimento, o lobo que nos devora o coração.

A fé cristã não faz o panegírico da morte, mas proclama o seu fracasso ao centrar seu eixo na “ressurreição da carne”. Isso significa a recusa de todas as situações de morte, do pecado individual às estruturas sociais incapazes de assegurar a todos um futuro melhor.

Proclamar que a vida tem a palavra final, inclusive sobre a morte, implica também empenhar-se para que a nossa juventude não se transforme numa geração perdida.

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* Frei Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros.






Fonte: O Globo