Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Aumenta-nos a fé. – Reflexão de José Antônio Pagola. Bem atual!


«Disseram então os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a fé.».  (Lc 17, 5)

Abaixo, uma bonita reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 17, 5-10 (O poder da fé). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!

WCejnóg


IHU - Comentário ao Evangelho
30 de setembro de 2016.


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 17,5-10 que corresponde ao 27° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol  José Antonio Pagola comenta o texto.


Eis o texto

Aumenta-nos a fé

De forma repentina, os discípulos fazem a Jesus uma petição vital: «Aumenta-nos a fé». Em outras ocasiões tinham pedido: «Ensina-nos a rezar". À medida que Jesus lhes desvenda o projeto de Deus e o trabalho que lhe quer encomendar, os discípulos sentem que não lhes basta a fé que vivem desde crianças para responder à sua chamada. Necessitam de uma fé mais robusta e vigorosa.

Passaram mais de vinte séculos. Ao longo da história, os seguidores de Jesus viveram anos de fidelidade ao Evangelho e horas obscuras de deslealdade. Tempos de fé forte e também de crise e incerteza. Não necessitaremos de pedir de novo ao Senhor que aumente a nossa fé?

Senhor aumenta-nos a fé

Ensina-nos que a fé não consiste em acreditar em algo, mas sim em acreditar em ti, Filho de Deus encarnado, para nos abrirmos ao teu Espírito, deixar-nos alcançar pela tua Palavra, aprender a viver com o teu estilo de vida e a seguir de perto teus passos. Só tu és quem «inicia e consuma a nossa fé».

Aumenta-nos a fé

Dá-nos uma fé centrada no essencial, purificada de adesões artificiais que nos afastam do núcleo do teu Evangelho. Ensina-nos a viver nestes tempos uma fé, não fundada em apoios externos, mas na tua presença viva nos nossos corações e nas nossas comunidades crentes.

Aumenta-nos a fé

Faz-nos viver uma relação mais vital contigo, sabendo que tu, nosso Mestre e Senhor, és o primeiro, o melhor, o mais valioso e atrativo que temos na Igreja. Dá-nos uma fé contagiosa que nos oriente para uma fase nova de cristianismo, mais fiel ao teu Espírito e à tua trajetória.

Aumenta-nos a fé

Faz-nos viver identificados com o teu projeto de reino de Deus, colaborando com realismo e convicção em fazer a vida mais humana, como quer o Pai. Ajuda-nos a viver humildemente a nossa fé com paixão por Deus e compaixão pelo ser humano.

Aumenta-nos a fé

Ensina-nos a viver convertendo-nos a uma vida mais evangélica, sem nos resignarmos a um cristianismo rebaixado aonde o sal se vai tornando insosso e a Igreja vai perdendo a sua qualidade de fermento. Desperta entre nós a fé das testemunhas e dos profetas.

Aumenta-nos a fé

Não nos deixes cair num cristianismo sem cruz. Ensina-nos a descobrir que a fé não consiste em acreditar no Deus que nos convém, mas naquele que fortalece a nossa responsabilidade e desenvolve a nossa capacidade de amar. Ensina-nos a seguir-te tomando a nossa cruz cada dia.

Aumenta-nos a fé 

Que te experimentemos ressuscitado no meio de nós renovando as nossas vidas e alentando as nossas comunidades.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Não ignorar o que sofre. - Reflexão de José Antonio Pagola. Muito concreta e atual!


Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 16, 19-31 (Parábola do rico e Lázaro). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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IHU
23 de setembro de 2016.

Não ignorar o que sofre

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 16,19-31 que corresponde ao 26° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

O contraste entre os dois protagonistas da parábola é trágico. O rico veste-se de púrpura e de linho. Toda a sua vida é luxo e ostentação. Só pensa em «banquetear esplendidamente cada dia». Este rico não tem nome pois não tem identidade. Não é ninguém. A sua vida vazia de compaixão é um fracasso. Não se pode viver só para banquetear.

Deitado no portal da sua mansão jaz um mendigo faminto, coberto de chagas. Ninguém o ajuda. Só uns cães se aproximam a lamber as suas feridas. Não possui nada, mas tem um nome portador de esperança. Chama-se «Lázaro» ou «Eliezer», que significa«O meu Deus é ajuda».

A sua sorte muda radicalmente no momento da morte. O rico é enterrado, seguramente com toda a solenidade, mas é levado ao «Hades», o «reino dos mortos». Também morre Lázaro. Nada se diz de rito funerário algum, mas «os anjos levam-no junto a Abraão». Com imagens populares do seu tempo, Jesus recorda que Deus tem a última palavra sobre ricos e pobres.

O rico não é julgado como explorador. Não se diz que é um ímpio afastado da Aliança. Simplesmente, desfrutou da sua riqueza ignorando o pobre. Tinha-o ali mesmo, mas não o viu. Estava no portal da sua mansão, mas não se aproximou dele. Excluiu-o da sua vida. O seu pecado é a indiferença.

Segundo os observadores, está a crescer na nossa sociedade a apatia ou a falta de sensibilidade ante o sofrimento alheio. Evitamos de mil formas o contato direto com as pessoas que sofrem. Pouco a pouco, vamo-nos fazendo cada vez mais incapazes para perceber a sua aflição.

A presença de uma criança mendiga no nosso caminho incomoda-nos. O encontro com um amigo, doente terminal, perturba-nos. Não sabemos o que fazer nem o que dizer. É melhor tomar distância. Voltar quanto antes às nossas ocupações. Não nos deixarmos afetar.

Se o sofrimento se produz longe é mais fácil. Temos aprendido a reduzir a fome, a miséria ou a doença a dados, números e estatísticas que nos informam da realidade sem sequer tocar o nosso coração. Também sabemos contemplar sofrimentos horríveis na televisão, mas, através do monitor, o sofrimento sempre é mais irreal e menos terrível. Quando o sofrimento afeta alguém mais próximo de nós, esforçamo-nos de mil formas para anestesiar o nosso coração.

Quem segue Jesus vai-se fazendo mais sensível ao sofrimento de quem encontra no seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se está nas suas mãos, trata de aliviar a sua situação.




sábado, 17 de setembro de 2016

O persistente bullyng sobre o PT, Lula e Dilma Rousseff. – Artigo de Leonardo Boff. Excelente!



O artigo O persistente bullyng sobre o PT, Lula e Dilma Rousseff, de Leonardo Boff, oferece uma preciosa ajuda para quem honestamente procura a entender o atual momento político no Brasil.

Concordo plenamente com todas as colocações do autor e por considerar este texto muito oportuno e útil para uma reflexão urgente, necessária e objetiva que a sociedade brasileira precisa fazer, trago-o também para o blog Indagações-Zapytania.
Aproveito para parabelizar o Leonardo Boff por este excelente artigo.

Vale a pena ler e refletir.
WCejnóg 
  


O persistente bullyng sobre o PT, Lula e Dilma Rousseff
16/09/2016

Por Leonardo Boff

É notório o bullyng politico e social (acossamento) sofrido persistentemente pelo PT,  pelo Lula e pela ex-presidenta Dilma Rousseff. Uma coisa é reconhecer que houve corrupção e erros politicos por parte de setores do PT e outra coisa é tributar quase exclusivamente tais fatos e mais a  crise atual, ao PT a Lula e à ex-presidenta.

Para entender este penoso fenômeno socorre-nos um dos maiores pensadores da atualidade que dedicou grande parte de sua obra a decifrar o que seja a agressividade humana e seus disfarses: René Girard (+2015), francês, professor de Letras e antropólogo, que viveu nos EUA. Seu principal livro se intitula exatamente “O bode expiatório” (Le bouc émisaire, Paris 1982).

Constata Girad que todos os grupos e mesmo as sociedades conhecidas vêm atravessadas por tensões e conflitos. O processo civilizatorio, a educação, as leis e as religiões propõem um ponto de equilíbrio que permita a convivência minimamente pacífica ou impedir que os conflitos não sejam destrutivos.

Mas pode chegar a um momento em que os conflitos recrudecem e as forças do Negativo  vão se acumulando, rompendo o referido equilíbrio. Começam os processos de ruptura nas relações sociais e até nas famílias e entre amigos, rejeições de uns e de outros, distorções na percepção da realidade, difamações, descontrução da imagem do outro, dando lugar até ao ódio aberto. Os instrumentos mais usados é a mídia, seja pelos jornais, pela televisão e hoje pelas redes sociais da internet. É o bullying em funcionamento.

Lentamente emerge o sentimento  de que assim como se encontra a sociedade não pode continuar. Ela tem que encontrar um novo equilíbrio. Uma das formas, a mais equivocada e persistente, é a criação de um bode expiatório. Os grupos mais dominantes  definem um bode expiatório e praticam terrível bullyng sobre ele, para descarregar todas as forças do Negativo. Esse bode expiatório varia consoante as circunstâncias históricas: podem ser os comunistas, os sem-terra, os pobres que ascenderam socialmente, os terroristas, os muçulmanos, as esquerdas que querem mudanças estruturais e outros.

No nosso caso, o bode expiatório escolhido foi e continua sendo, o PT e pessoalmente a ex-presidente Dilma Rousseff, incluindo o ex-presidente Lula. Ele cumpre uma dupla função: uma de aplacar e outra de  ocultar.  Toda a raiva e o ódio acumulado são lançados sobre o bode expiatório. Ele carrega todas as maldades e é feito responsável por todos os desmandos ocorridos e pela crise econômico-financeira. Esquecidos ficam, consciente ou inconscientemente, todos os acertos, em especial, a maior transformação social pacífica feita em nosso país, que implicou na diminuição de nossa maior vergonha, a desigualdade social e, positivamente, a integração de cerca de 40 milhões, sempre considerados peso morto da história. Para o efeito da construção do bode expiatório tudo isso não conta, caso contrario não se cumpriria a função do bode expiatório de aplacar a fúria coletiva. Desta forma, todos se sentem livres desta praga, se possível, a ser extermianda. É a função de aplacar a carga negativa jogada sobre a vítima.

Mas há uma outra função, de ocultar. Ao colocar toda culpa e todos os males sobre PT, Lula e a ex-presidenta, feitos bodes expiatórios, esses grupos dominantes ocultam sua própria perversidade e sua culpa. Apresentam-se, farisaicamente, como paladinos da moralidade e tomados de indignação contra a corrupção. No entanto, a bem da verdade, exatamente dentre esses grupos dominantes se encontram os maiores corruptos, corruptores e sonegadores de impostos, no estilo da FIESP, esteio do impeachment, aquela que mais sonega impostos, na ordem de bilhões, como o tem denunciado o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, sem ainda referir os cerca de 600 bilhões de reais de brasileiros, mantidos no exterior em paraísos fiscais e em offshores.

A Bíblia conhece também as figura do bode expiatório, sobre o qual a comunidade colocava todas as ofensas a Javé e o levava para o deserto para lá morrer. O mesmo faziam os gregos, chamando o bode expiatório, uma pessoa ou animal, de phármacon que como um remédio farmacêutico purificava a sociedade de seus desacertos. O cristianismo ve na figura do cordeiro imolado, aquele que vicariamente tira  os pecados do mundo, como se reza por três vezes na missa. O efeito é sempre o mesmo: aplacar a sociedade para que, refeita, possa equilibrar seus conflitos até que estes se agravem novamente e acabem por criar algum outro bode expiatório.

Pois assim funciona canhestramente a nossa história sacrificialista. Gerard vê uma saída sensata: na coordenação dos interesses ao redor do bem comum, na total transparência e da inclusão de todos, sem sacrificar ninguém. Mas reconhece que este não é o caminho seguido pela maioria das sociedades conhecidas. O mais fácil  é criar bodes expiatórios como se pratica atualmente no Brasil. Para a infelicidade geral.

Leonardo Boff é teólogo e filósofo, articulista do JB on line.




sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Dinheiro. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito boa!



Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. (Lc 16, 13)

A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania é de autoria do teólogo espanhol José Antônio Pagola. Considero ela muito interessante e, sobretudo, bem atual para os cristãos de hoje. Tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 16, 1-13 (parábola do administrador infiel).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Recomendo para leitura e reflexão.
WCejnog


REVISTA  IHU ON-LINE
16 de setembro de 2016

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 16,1-13 que corresponde ào 25° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. 
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

A sociedade que conheceu Jesus era muito diferente da nossa. Apenas as famílias poderosas de Jerusalém e os grandes senhores de Tiberíades podiam acumular moedas de ouro e prata. Os camponeses só podiam ficar com algumas moedas de bronze ou cobre, de escasso valor. Muitos viviam sem dinheiro, intercambiando produtos num regime de pura subsistência.

Nesta sociedade, Jesus fala do dinheiro com uma frequência surpreendente. Sem terras nem trabalho fixo, sua vida itinerante de Profeta dedicado à causa de Deus permite-lhe falar com total liberdade. Por outra parte, o seu amor aos pobres e a sua paixão pela justiça de Deus urgem-no a defender sempre os mais excluídos.

Fala do dinheiro com uma linguagem muito pessoal. Chama-lhe espontaneamente «dinheiro injusto» ou «riquezas injustas». Ao que parece, não conhece «dinheiro limpo». A riqueza daqueles poderosos é injusta porque foi amassada de forma injusta e porque desfrutam sem a compartilhar com os pobres e os famintos.

Que pode fazer quem possui estas riquezas injustas? Lucas conservou umas palavras curiosas de Jesus. Apesar de que a frase pode resultar algo obscura pela sua concisão, o seu conteúdo não deve cair no esquecimento. «Eu vos digo: Ganhai amigos com o dinheiro injusto para que quando os falte, os recebam nas moradas eternas».

Jesus está dizendo assim aos ricos: «Utilizai a vossa riqueza injusta em ajudar os pobres; ganhai a sua amizade partilhando com eles os vossos bens. Eles serão vossos amigos e, quando na hora da morte o dinheiro não vos sirva já para nada, eles vos acolherão na casa do Pai». Dito com outras palavras: a melhor forma de «branquear» o dinheiro injusto ante Deus é partilhá-lo com os seus filhos mais pobres.

Suas palavras não foram bem acolhidas. Lucas nos disse que «estavam ouvindo estas coisas uns fariseus, amantes das riquezas, e escarneceram dele». Não entendem a mensagem de Jesus. Não lhes interessa ouvir falar de dinheiro. A eles só lhes preocupa conhecer e cumprir fielmente a lei. A riqueza considera-se como um sinal de que Deus abençoa a sua vida.

Apesar de vir reforçada por uma larga tradição bíblica, esta visão da riqueza como sinal de bênção não é evangélica. Há que o dizer em voz alta porque há pessoas ricas que de forma quase espontânea pensam que o seu êxito econômico e a sua prosperidade é o melhor sinal que Deus aprova a sua vida.

Um seguidor de Jesus não pode fazer qualquer coisa com o dinheiro: há um modo de ganhar dinheiro, de gastá-lo e de desfrutá-lo que é injusto, pois esquece os mais pobres.




sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Uma parábola para os nossos dias. – Reflexão de José Antonio Pagola. Bem atual!



O comentário que trago hoje para o blog Indagações, de autoria do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito oportuno e bem atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 15, 1- 32 (parábola do filho pródigo).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler e refletir.
WCejnog

 

 


REVISTA IHU ON-LINE

09 Setembro 2016

Uma parábola para os nossos dias


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 15,1-32 que corresponde ao 24° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanho José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Em nenhuma outra parábola quis Jesus fazer-nos penetrar tão profundamente no mistério de Deus e no mistério da condição humana. Nenhuma outra é tão atual para nós como esta do “Pai bom”.

O filho mais novo diz ao seu pai: “Pai me dá a parte da herança que me cabe”. Ao reclamar, está a pedir de alguma forma a morte do seu pai. Quer ser livre, romper obrigações. Não será feliz até que o seu pai desapareça. O pai acede ao seu desejo sem dizer palavra: o filho tem que escolher livremente o seu caminho.

Não é esta a situação atual? Muitos querem hoje ver-se livres de Deus, ser felizes sem a presença de um Pai eterno no seu horizonte. Deus deve desaparecer da sociedade e das consciências. E, o mesmo que na parábola, o Pai guarda silêncio. Deus não condiciona ninguém.

O filho parte para “um pais longínquo”. Necessita viver noutro país, longe do seu pai e da sua família. O pai vê-o partir, mas não o abandona; o seu coração de pai acompanha-o; em cada manhã o estará esperando. A sociedade moderna afasta-se mais e mais de Deus, da Sua autoridade, da sua memória... Não estará Deus acompanhando-nos enquanto o vamos perdendo de vista?

Prontamente se instala o filho numa “vida desenfreada”. O termo original não sugere apenas uma desordem moral, mas também uma existência insana, demente, caótica. Ao fim de pouco tempo, a sua aventura começa a converter-se em drama. Vem uma “grande fome” e só consegue sobreviver tratando de porcos como escravo de um desconhecido. As suas palavras revelam a sua tragédia: “Eu aqui morrendo de fome”.

vazio interior e a fome de amor podem ser os primeiros sinais do nosso afastamento de Deus. Não é fácil o caminho da liberdade. Que nos falta? O que poderia encher o nosso coração? Temos quase tudo, por que sentimos tanta fome?

O jovem “entrou dentro de si mesmo” e, afundado no seu próprio vazio, recordou o rosto do seu pai associado à abundância de pão: em casa do meu pai “tem pão” e aqui “eu morro de fome”. No seu interior desperta-se o desejo de uma liberdade nova junto do seu pai. Reconhece o seu erro e toma uma decisão: “Vou me levantar, e voltarei ao pai”.

Iremos pôr-nos a caminho em direção a Deus nosso Pai? Muitos o fariam se conhecessem esse Deus que, segundo a parábola de Jesus, “Saiu correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos”. Esses abraços e beijos falam do seu amor, melhor que todos os livros de teologia. Junto a Ele poderíamos encontrar uma liberdade mais digna e ditosa.






segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Temer: ou não governa ou cai. – Artigo de Aldo Fornazieri. Vale a pena ler!


Hoje trago para o blog Indagações-Zapytania um artigo bem atual e muito oportuno do professor Aldo Fornazieri sobre a situação política e social em que neste momento encontra-se o Brasil.  

Como analisar e entender as recentes mudanças políticas que ocorreram no Brasil? Por que se deu o processo de impeachment? Quais são as perspectivas para o novo governo que assumiu o poder após o afastamento de Dilma? O que pensar sobre a crescente onda de manifestações populares contra o ‘Golpe’ e contra as mudanças de arrocho sinalizadas pelo presidente Temer e o seu governo? Que chance de algum sucesso pode ter um governo considerado como ilegítimo por uma grande parte da sociedade brasileira? – Essas são algumas indagações, para as quais certamente neste momento  buscamos respostas e esclarecimento.

Acho que o artigo Temer: ou não governa ou cai  possa ser muito útil para quem procura a formar uma opinião própria mais objetiva e justa. 
Vale a pena ler !
WCejnóg

  


REVISTA IH!U – ON-LINE

05 Setembro 2016

Temer: ou não governa ou cai.

“Os analistas mais sensatos já sabem que Temer não conseguirá fazer as reformas e que a presença do PSDB e do DEM no governo tem prazo de validade. Sabem também que o próprio PMDB está trincado e que o centrão se guia por interesses próprios. Assim, Temer não conseguirá governar no sentido dos compromissos que ele mesmo se propôs. E na medida em que as propostas de arrocho dos trabalhadores e das políticas sociais se explicitarem, crescerão as mobilizações e as manifestações contra o governo usurpador”, afirma Aldo Fornazieri, professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em artigo publicado por Jornal GGN, 05-09-2016.

Eis o artigo.

Com a consumação do impeachment de Dilma sem crime de responsabilidade e com a violação da Constituição, o que caracteriza o golpe, o país se encaminha para uma perigosa e irresponsável aventura política cuja desfecho é imprevisível. Mesmo que a democracia brasileira seja jovem, padecendo de enfermidades de nascença e muito imperfeita, não se pode brincar de democracia violentando a soberania popular e caçando 54 milhões de votos.

Nos Estados Unidos da América, país onde o instrumento do impeachment foi criado no sistema presidencialista, após de 230 anos, nenhum presidente foi afastado em definitivo por esse mecanismo, pois, para levar a democracia a sério é preciso um ato muito grave do mandatário supremo da nação para que se justifique tão drástica medida. A exigência da gravidade do ato de afastamento de um presidente está diretamente ligada ao fato de que seu mandato é expressão da vontade soberana do povo. Não é por acaso que, em editorial, o New York Times, a exemplo de outros jornais da grande imprensa dos EUA e da Europa, afirmou que os deputados e senadores não têm moral para afastar Dilma.

Nos Estados Unidos existiram presidentes com baixa popularidade, como aqui no Brasil e em outros países presidencialistas também. No seu segundo mandato, o presidente Fernando Henrique Cardoso, tinha uma popularidade semelhante à de Dilma e as condições econômicas e sociais eram piores do que as de 2015 e 2016. Nem por isso se abriu o processo de impeachment. O próprio PT, em decisão de Congresso Nacional, barrou o “Fora FHC”, desobstruindo um estorvo político que poderia inviabilizar aquele governo.

Fernando Henrique afirmou, em artigo publicano no domingo, que o melhor seria que Dilma tivesse chegado ao fim do seu mandato em 2018. Mas o que o ex-presidente tem a dizer acerca do fato de que, desde o término das eleições em 2014, o PSDB desestabilizou o governo Dilma e se aliou a toda sorte de conspiradores, incluindo Cunha e a extrema direita de Bolsonaro? A crise política foi fator fundamental de agravamento da crise econômica e de criação das condições de ingovernabilidade.

Evidentemente, Dilma e o PT contribuíram para que esse curso dos acontecimentos se agravasse. Mas jogar a responsabilidade apenas sobre Dilma, escamoteando a conspiração do PSDB e de Cunha e as traições de Temer e de outros partidos que faziam parte do governo, é incorrer naquele crime político assinalado por Max Weber, que consiste em colocar sempre a culpa nos outros.

O golpe é inaceitável pela consciência democrática e progressista porque é uma violência contra a democracia e contra a soberania popular. Acresce-se a isso que o golpe é inaceitável pelos trabalhadores e pelos movimentos sociais porque o programa do governo ilegítimo consiste em jogar todo o peso da crise nos ombros dos assalariados, dos mais pobres e das políticas sociais.

Elites aventureiras e um governo sem futuro

Olhando mesmo do ponto de vista dos interesses das elites, o golpe foi uma aventura. Aventura que se explica pela endógena vocação golpista dessas elites, que nunca se preocuparam em construir um projeto de país, tomando dos outros o que está ao alcance de suas mãos e se servindo do Estado para subtrair riqueza. É aventura porque o capitalismo precisa de segurança jurídica e de ambiente de regulação do conflito social para prosperar. Mas como as elites estão menos preocupadas com um capitalismo competitivo e mais em subtrair sem esforço, o que elas querem é viabilizar um capitalismo aventureiro e predador.

A aventura consiste em que, se Dilma era impopular, Temer é tão ou mais impopular do que DilmaDilma, reconhecidamente honesta, foi derrubada com o pretexto de combater a corrupçãoTemer, que tem várias citações na Lava Jato, integra um partido cujo comando central é um comitê de corruptos. Aqui há um curto circuito com a opinião pública: não se convocam milhões de pessoas às ruas para combater a corrupção entregando-lhes como recompensa um governo constituído por corruptos. É por isso que o governo Temer não terá o beneplácito da sociedade. Afinal de contas, a própria manipulação da opinião pública tem seus limites.

Os analistas mais sensatos já sabem que Temer não conseguirá fazer as reformas e que a presença do PSDB e do DEM no governo tem prazo de validade. Sabem também que o próprio PMDB está trincado e que o centrão se guia por interesses próprios. Assim, Temer não conseguirá governar no sentido dos compromissos que ele mesmo se propôs. E na medida em que as propostas de arrocho dos trabalhadores e das políticas sociais se explicitarem, crescerão as mobilizações e as manifestações contra o governo usurpador.

Um governo ilegítimo, fraco, impopular tenderá a perder base de apoio no próprio conglomerado golpista da Câmara e do Senado. Esse governo, para se manter, buscará implementar a repressão política e policial, como ficou evidente nos primeiros dias do pós impeachment. A radicalização política, de desfecho imprevisível, é o cenário da aventura em que os golpistas e as elites encaminharam o país. Trata-se de um governo sem futuro: ou se arrastará penosamente até 2018 ou será derrubado pela força da democracia.

Mas os movimentos democráticos e progressistas e as esquerdas também têm seus dilemas. Um dos principais consiste em conter os provocadores e controlar as próprias manifestações, impedido os quebra-quebras que favorecem a repressão.

Convocar manifestações aos domingos, à luz do dia, sob o sol do final das manhãs, parece ser uma condição preliminar para impedir que as mesmas descambem para a violência e para o esvaziamento. Mas é preciso também se opor à violência desmedida das polícias politicamente orientada pelo ministro da Justiça. A grande imprensa está assumindo a lógica da radicalização do golpe estimulando a repressão fascista. A intervenção das Forçar Armadas nas ruas e para arbitram o conflito político é inaceitável e caso isto ocorra será preciso promover uma campanha internacional de denúncias.

Se “Fora Temer” e “Diretas Já” é o mote mobilizador, será preciso politizar este embate com uma plataforma que se oponha ao programa conservador e antipopular do governo. As duas frentes – Povo Sem Medo e Brasil Popular – devem comandar esse movimento. O PT não deve ser excluído, mas ao mesmo tempo não se deve aceitar que ele pretenda assumir uma condição de hegemonia desse novo processo que se abre. Uma plataforma de construção democrática do país também deve ser debatida ao mesmo tempo em que os movimentos sociais e populares se reorganizam com novos paradigmas e novos princípios. O ideal seria que se buscasse uma unidade com pluralidade, sob os auspícios de uma frente política nos moldes da Frente Ampla do Uruguai.


Nenhum reconhecimento ao governo Temer e oposição sistemática devem ser orientadores da conduta política da oposição. As elites econômicas e políticas devem aprender que os golpes e a ilegitimidade custam caro. Devem aprender que a democracia deve ser respeitada. O jogo da conciliação acabou. A natureza própria da democracia, desde os antigos, é o dissenso. É o dissenso dentro das regras do jogo. Mas, desta vez, como em outras, as regras do jogo foram violadas. A violação da soberania popular e da democracia não pode ser recompensada pela mansuetude da cidadania, pela paz dos cemitérios, pela desigualdade ignominiosa e pela injustiça que se pretende perpetuar.