Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Com os olhos abertos. - Reflexão de José Antonio Pagola. Bem atual!



«Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor».  (Mt 24,42)

Abaixo, uma bonita reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 24, 37-44 (Jesus fala  da necessidade de estar desperto e vigiando). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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IHU - Adital
25 Novembro 2016

Com os olhos abertos

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 24, 37-44 que corresponde ao Primeiro Domingo de Advento, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

As primeiras comunidades cristãs viveram anos muito difíceis. Perdidos no vasto Império de Roma, no meio de conflitos e perseguições, aqueles cristãos procuravam força e alento esperando a pronta vinda de Jesus e recordando as suas palavras: “Vigiai. Vivei despertos. Tende os olhos abertos. Estai alerta.”   Significarão, todavia, algo para nós estas chamadas de Jesus para viver despertos?

Que é hoje para os cristãos colocar nossa esperança em Deus vivendo com os olhos abertos? Deixaremos que se esgote definitivamente no nosso mundo secular a esperança numa última justiça de Deus para essa imensa maioria de vítimas inocentes que sofrem sem culpa alguma?

Precisamente, a forma mais fácil de falsear a esperança cristã é esperar de Deus a nossa própria salvação eterna enquanto viramos as costas ao sofrimento que há agora mesmo no mundo. Um dia teremos que reconhecer nossa cegueira ante Cristo Juiz: quando te vimos faminto ou sedento, estrangeiro ou nu, doente ou na prisão, e não te assistimos? Este será o nosso diálogo final com Ele se vivemos com os olhos fechados.

Temos que despertar e abrir bem os olhos. Viver vigilantes para ver por cima dos nossos pequenos interesses e preocupações. A esperança do Cristão não é una atitude cega, pois não esquece os que sofrem. A espiritualidade cristã não consiste só num olhar para o interior, pois o seu coração está atento a quem vive abandonado à sua sorte.

Nas comunidades cristãs temos que cuidar cada vez mais que nosso modo de viver a esperança não nos leve à indiferença e ao esquecimento dos pobres. Não podemos isolar-nos na religião para não ouvir o clamor dos que morrem diariamente de fome. Não nos está permitido alimentar a nossa ilusão de inocência para defender nossa tranquilidade.

Uma esperança em Deus que se esquece dos que vivem nesta terra sem poder esperar nada, não poderá ser considerada como uma versão religiosa do otimismo a todo o custo, vivido sem lucidez nem responsabilidade? Uma busca da própria salvação eterna de costas aos que sofrem, não poderá ser acusada de ser um sutil «egoísmo estendido para o além»?

Provavelmente, a pouca sensibilidade ao sofrimento imenso que há no mundo seja um dos sintomas mais graves do envelhecimento do cristianismo atual. Quando o Papa Francisco reclama «uma Igreja mais pobre e dos pobres», está gritando-nos sua mensagem mais importante e interpeladora aos cristãos dos países do bem-estar.




quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Quem quebrou o Estado brasileiro. – Artigo de Ladislau Dowbor. Excelente! Precisa ser lido!


Excelente o texto Quem quebrou o Estado brasileiro, de Ladislau Dowbor. Penso que a sua leitura é indispensável para quem realmente procura com sinceridade entender os fatos, a situação econômica, política e social do nosso Brasil, para poder elaborar a sua opinião mais objetiva e justa possível. É fundamental saber separar o que é a verdade das mentiras e manipulações que hoje tenta-se impor à sociedade brasileira. Isso é a condição primária para ter as condições de situar-se do lado certo dos acontecimentos atuais no Brasil.
Não deixe de ler!

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IHU - Adital
23 Novembro 2016

Quem quebrou o Estado brasileiro

Examine os números: gasto social é moderado, enquanto pagamento de juros explode. País entre em crise — e governo mantém justamente as despesas mais devastadoras.

O artigo é de Ladislau Dowbor, professor de economia nas pós-graduações em economia e em administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e consultor de várias agências das Nações Unidas, publicado por Outras Palavras, 22-11-2016.

Eis o artigo.

Você provavelmente se sente perplexo frente à situação econômica do país. Está em boa companhia. Quem é que entende de resultado primário, de ajuste fiscal e outros termos que povoaram os nossos noticiários? A imensa maioria balança a cabeça de maneira entendida, e faz de conta. Pois vejam que realmente não é complicado entender, é só trocar em miúdos. E com isso o rombo fica claro. Aqui vai a conta explicitada, não precisa ser economista ou banqueiro. E usaremos os dados do Banco Central, a partir da tabela original, pois confiabilidade, nesta era melindrada, é fundamental. Para ver os dados no próprio BC, é só clicar no link embaixo da tabela.

política econômica do governo atual está baseada numa imensa farsa: a de que as políticas redistributivas da era progressista quebraram o país enquanto o novo poder, com banqueiros no controle do dinheiro, iriam reconstruí-lo. Segundo o conto, como uma boa dona de casa, vão ensinar responsabilidade, gastar apenas o que se ganha. A grande realidade é que são os juros extorquidos pelos banqueiros que geraram o rombo. A boa dona de casa que nos governa se juntou aos banqueiros e está aumentando o déficit.

Os dados publicados pelo Banco Central mostram a imagem real do que está acontecendo:

Acesse o portal do Tesouro.

A tabela, tal como aparece no site do Banco Central, parece complexa, mas é de leitura simples. Na linha IX, “Resultado primário do governo central” é possível acompanhar a evolução dos números. O resultado primário é a conta básica de quanto o governo recolheu com os impostos e acabou gastando nas suas atividades, propriamente de governo, investindo em educação, saúde, segurança etc — ou seja, em políticas públicas.

Quando se diz que o governo deve ser responsável, não gastar mais do que ganha, é disto que estamos falando. Confira a tabela abaixo, extraída da tabela principal: trata-se apenas de melhorar a legibilidade.
No caso, houve um superávit nos anos 2010 até 2013 (gastou menos do que arrecadou) e um déficit insignificante de 20 bilhões em 2014, e moderado em 2015, 116 bilhões de reais, 2% do PIB, perfeitamente normal.

Na União Europeia, por exemplo, um déficit de até 3% do PIB é considerado normal, com variações entre um ano e outro. Ou seja, fica claro, note-se que ao contrário do que dizem os gastos com as políticas públicas não causaram nenhum “rombo” como tem sido qualificado.

A linha seguinte da tabela, X – “Juros Nominais”, dá a chave da quebra e da recessão. Os juros nominais representam o volume de recursos que o governo gastou com os juros sobre a dívida pública. Esta é a caixa preta que trava a economia na dimensão pública.
Trata-se da parte dos nossos impostos que em vez de servirem para infraestruturas e políticas sociais, são transferidos para os bancos e outros intermediários financeiros, além de um volume pequeno de aplicadores individuais no tesouro direto. Estes em boa parte reaplicam os resultados, aumentando o volume de recursos apropriados.

dívida pública é normal em inúmeros países, assegurando aplicações financeiras com risco zero e liquidez total, e por isto pagando em geral na faixa de 0,5% ao ano, nos mais variados países, inclusive evidentemente nos EUA e União Europeia. Não é para aplicar e ficar rico, é para ter o dinheiro seguro enquanto se busca em que investir.

No Brasil, o sistema foi criado em julho de 1996, pagando uma taxa Selic fantástica de mais de 15% já descontada a inflação. Instituiu-se assim por lei um sistema de transferência de recursos públicos para os bancos e outros aplicadores financeiros. Com juros deste porte, rapidamente o governo ficou apenas rolando a dívida, pagando o que conseguia de juros, enquanto o que não conseguia pagar aumentava o estoque da dívida. Nada que qualquer família brasileira não tenha conhecido quando pega dívida para saldar outra dívida. O processo vira, obviamente, uma bola de neve.

Em 2003 Lula assume com uma taxa Selic pagando 24,5%, quando a inflação estava em 6%. Importante notar que são lucros gigantescos  para os bancos e os rentistas em geral, sem nenhuma atividade produtiva correspondente. E nenhum benefício para o governo ou a população, pois o governo, com este nível de juros, apenas rola a dívida.

O sistema é absolutamente inviável a prazo. E ilegítimo, pois se trata de ganhos sem contrapartida produtiva, gerando uma contração econômica. Na passagem de 2012 para 2013, o governo Dilma passa a reduzir progressivamente a taxa de juros sobre adívida pública, chegando ao nível de 7,25% ao ano, para uma inflação de 5,9%, aproximando-se das taxas praticadas na quase totalidade dos países. Isto gerou uma revolta por parte dos bancos e por parte dos rentistas em geral.

Por que tantos países mantêm uma taxa de juros sobre a dívida pública da ordem de 0,5% ou menos? Porque um juro baixo sobre a dívida pública estimula os donos dos recursos financeiros a buscar outras aplicações mais rentáveis, em particular investimentos produtivos, que geram ganhos mas fomentando a economia. Aqui, estimulou-se o contrário: para que um empresário se arriscar em investimentos produtivos se aplicar na dívida pública rende mais?

A revolta dos banqueiros e outros rentistas levou a uma convergência com outras insatisfações, inclusive oportunismos políticos, provocando os grandes  movimentos de 2013. E com um legislativo eleito pelo dinheiro das corporações, atacou-se na mídia qualquer tentativa de reduzir os juros e resgatar a política econômica do governo. Futuros candidatos também viram aí brechas oportunas. O governo recuou, iniciando um novo ciclo de elevação da taxa Selic, reconstituindo a bonança de lucros sem produção, essencialmente para bancos e outros rentistas.

Difícil dizer o que causou o recuo do governo. O fato é que desde meados de 2013 instalou-se a guerra política e o boicote, e não houve praticamente um dia de governo, seguindo-se a eleição e a desarticulação geral da capacidade de ação do Palácio do Planalto. O essencial para nós, é que não houve uma quebra de governo, e muito menos do Brasil, como dizem, pois as políticas públicas mantiveram o seu equilíbrio financeiro. O que quebrou o sistema, e é fato essencial, está aprofundando a crise, é o volume de transferências de recursos públicos para bancos e outros intermediários financeiros que são essencialmente improdutivos.

Confira a tabela dos juros nominais:

Com a Selic elevada, o governo transferiu em 2010, nas contas do Banco Central, 125 bilhões de reais sobre a dívida pública. Em 2011, este montante se elevou para 181 bilhões, caindo para 147 bilhões em 2012 com a redução dos juros Selic (a 7,5%) por parte do governo Dilma. Em 2013 começa o drama: sob pressão dos bancos, voltam a subir os juros sobre a dívida pública, e o dinheiro transferido ou reaplicado pelos rentistas sobe para 186 bilhões em 2013. Na fase do ministro Nelson Levy, portanto, com um banqueiro tomando conta do caixa, esse valor explode para 251 bilhões em 2014, e para 397 bilhões em 2015. Veja que o rombo criado pelos altos juros da dívida é incomparavelmente superior ao déficit das políticas públicas propriamente ditas, na linha IX “Resultado primário do governo central” visto acima.

Aqui são praticamente 400 bilhões de reais que poderiam se transformar em investimentos de infraestruturas e em políticas sociais, apropriados não por produtores, mas sim essencialmente por intermediários financeiros como bancos, fundos e inclusive aplicadores estrangeiros, gerando o rombo que agora vivemos e que aumenta ainda mais em 2016, pois continuamos com banqueiros no controle do sistema.

Confira, agora, a linha XI – Resultado Nominal do Governo Central, que vai apontar o rombo crescente. Trata-se do déficit já incorporando o gasto com juros sobre a dívida pública, hoje os mais altos do mundo. Veja o déficit gerado na tabela abaixo:



Ele passa de 46 bilhões em 2010, explodindo para 272 bilhões em 2014 já com a política econômica controlada pelos banqueiros, e chegando a astronômicos 514 bilhões em 2015, já com políticas confortavelmente orientadas para desviar recursos públicos para intermediários financeiros.

Essas três linhas da tabela do Banco Central mostram o equívoco do chamado “ajuste fiscal” do governo. E permitem entender, de forma clara, que não se tratou, de maneira alguma, de um governo que gastou demais com as políticas públicas, e sim de um governo em que os recursos foram desviados das políticas públicas para satisfazer o sistema financeiro.

Veja na tabela principal na linha “% do PIB gasto em juros” que o volume de recursos transferidos para os grupos financeiros passou de 3,2% do PIB em 2010 para 6,7% do PIB em 2015. E a conta cresce.
Quem gerou a crise é quem está no poder hoje, no Brasil, ditando o aumento da taxa Selic que voltou ao patamar surrealista de 14%. Em nome da austeridade, e de “gastar responsavelmente o que se ganhou”, aumentaram em 2016 o déficit primáriopara R$ 170 bilhões, repassando dinheiro para deputados e senadores (emendas parlamentares), aumentando os salários dos juízes e de segmentos de funcionários públicos (em nome da redução dos gastos) e assistindo a uma explosão dos juros pagos pela população.
Ponto chave: a PEC 241 trava os gastos com políticas públicas. São gastos que resultam no resultado primário, ou seja, onde o déficit é muito limitado e a utilidade é grande, tanto econômica como social. Mas a PEC 241 (e 55 no Senado) não limita os gastos com a dívida pública, que é onde ocorre o verdadeiro e imenso rombo.

Não se trata aqui, com esta medida, de reduzir os gastos do Estado, mas de aumentar os gastos com juros, que alimentam aplicações financeiras, em detrimento do investimento público e dos gastos sociais. Trata-se simplesmente de aprofundar ainda mais o próprio mecanismo que nos levou à crise.

Seriedade? Gestão responsável? A imagem da dona de casa que gasta apenas o que tem? Montou-se uma farsa. Os números aí estão. Assim o país afunda ainda mais e eles querem que o custo da lambança saia dos direitos sociais, das aposentadorias, da terceirização e outros retrocessos. Isto reduz a demanda e o PIB, e consequentemente os impostos, aumentando o rombo. Esta conta não fecha, nem em termos contábeis nem em termos políticos. Aliás, dizer que os presentes trambiques se espelham no modelo da boa dona de casa constitui uma impressionante falta de respeito.

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Nota: aqui abordamos a questão central dos juros sobre a dívida pública, visando mostrar o absurdo dos argumentos do governo ter “quebrado” a economia. Importante também mencionar que o próprio volume (estoque) da dívida, da ordem de 60% do PIB (e muito menos para a dívida líquida) não é particularmente maior do que a de outros países, e muito menor, por exemplo, do que a dos EUA ou do Japão. Para uma visão mais ampla, há um excelente documento Austeridade e Retrocesso, que traz a análise financeira completa. O documento é de outubro de 2016, 50p, disponível aqui
Quanto ao endividamento da população, com juros absurdamente abusivos para pessoa física e pessoa jurídica, o mecanismo gerado pode ser consultado no documento Resgatando o potencial financeiro do país, inclusive com as propostas correspondentes. Veja aqui

Para conferir a planilha do Banco Central, clique aqui, Aba 4.1, Séries históricas – Resultado Fiscal do Governo Central – Estrutura Nova (janeiro/1997 – agosto/2016).

Fonte: IHU - Adital


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Carregar com a cruz. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito boa!


“Então Jesus declarou aos seus discípulos: <Se alguém deseja seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me acompanhe>.” (Mt 16, 24)

Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 23,35-43 (Os soldados caçoam de Jesus pregado na cruz, dizendo: ‘Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!').
É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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IHU - Adital
18 de novembro de 2016.

Carregar com a cruz
  
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 23,35-43, que corresponde a Solenidade de Cristo Rei ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

O relato da crucificação, proclamado na festa do Cristo Rei, recorda aos seguidores de Jesus que seu reino não é um reino de glória e de poder, mas de serviço, amor e entrega total para resgatar o ser humano do mal, do pecado e da morte.

Acostumados a proclamar a «vitória da Cruz», corremos o risco de esquecer que o Crucificado nada tem a ver com um falso triunfalismo que esvazia de conteúdo o gesto mais sublime de serviço humilde de Deus para com suas criaturas. A Cruz não é uma espécie de troféu que mostramos a outros com orgulho, mas o símbolo do Amor crucificado de Deus que nos convida a seguir seu exemplo.

Cantamos, adoramos e beijamos a Cruz de Cristo porque no profundo do nosso ser sentimos a necessidade de dar graças a Deus pelo seu amor insondável, mas sem esquecer que o primeiro que nos pede Jesus de forma insistente não é beijar a Cruz mas sim carregar com ela.  E isso consiste simplesmente em seguir seus passos de forma responsável e comprometida, sabendo que esse caminho nos levará mais tarde ou mais cedo a partilhar seu destino doloroso.

Não nos está permitido aproximar-nos do mistério da Cruz de forma passiva, sem intenção alguma de carregar com ela. Por isso, temos que cuidar muito de algumas celebrações que podem criar em torno da Cruz uma atmosfera atrativa mas perigosa, se nos distraem do seguir fielmente o Crucificado fazendo-nos viver a ilusão de um cristianismo sem Cruz. É precisamente ao beijar a Cruz quando temos que escutar a chamada de Jesus: «Se alguém vem detrás de mim... que carregue com a sua cruz e me siga».

Para os seguidores de Jesus, reivindicar a Cruz é aproximar-nos serviçalmente aos crucificados; introduzir justiça onde se abusa dos indefesos; reclamar compaixão onde só há indiferença ante os que sofrem. Isto irá trazer-nos conflitos, rejeição e sofrimento. Será a nossa forma humilde de carregar com a Cruz de Cristo.

O teólogo católico Johann Baptist Metz insistiu no perigo que a imagem do Crucificado nos esteja a ocultar o rosto de quem vive hoje crucificado. No cristianismo dos países do bem-estar está acontecendo, segundo ele, um fenômeno muito grave: «A Cruz já não intranquiliza a ninguém, não tem nenhum aguilhão; perdeu a tensão do seguimento a Jesus, não chama a nenhuma responsabilidade, mas retira-nos dela».


Não teremos todos de rever qual a nossa verdadeira atitude ante o Crucificado? Não teremos de nos aproximarmos Dele de forma mais responsável e comprometida?



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Jesus Cristo seria crucificado novamente. – Artigo de D. Luiz Carlos Eccel. Vale a pena ler!


O artigo  de Dom Luiz Carlos Eccel Jesus Cristo seria crucificado novamente oferece uma boa ajuda para quem realmente procura a entender o atual momento político no Brasil.

Concordo plenamente com tudo o que o autor escreve  e por considerar este texto muito oportuno e útil para uma objetiva reflexão que a sociedade brasileira precisa fazer, trago-o também para o blog Indagações-Zapytania.
Vale a pena ler e refletir.
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IHU - Adital
08 Novembro 2016

Jesus Cristo seria crucificado novamente

"Tenho esperança de que um dia essa massa incauta amadureça e desperte de sua letargia mórbida, se dando conta do quanto perdeu de conquistas e fez os inocentes perderem", escreve Dom Luiz C. Eccel, bispo emérito de Caçador/Santa Catarina.

Eis o artigo.

Hoje tenho provas e convicção que os mais fortes argumentos não convencem a massa de incautos, obtusos e apáticos de que cometeram injustiça, e uma grande asneira, em apoiar o golpe.

Nem Jesus Cristo, em pessoa, convenceria esta massa de ignorantes e fanáticos pelas mentiras com cara de verdade, que a elite, com o apoio da grande mídia, colocou em suas mentes apequenadas. Esta massa está simploriamente obcecada pelo “grande feito” de “purificar” o Brasil, devolvendo-o para a elite nacional e internacional que explora sem compaixão.

Sem dúvida, crucificariam Jesus Cristo, novamente, se ele tentasse mostrar o contrário. A grande mídia conseguiu seu objetivo de, não somente, emburrecer e amortecer as consciências da massa, mas de a plenificar de ódio pela esquerda, exatamente como Hitler o fez contra os Judeus, e outras etnias e seguimentos sociais, no início do século XX, época para a qual o Brasil já regrediu em quase todos os aspectos, em poucos meses.

A elite demonizou o PT, e a esquerda em geral, porque sabia que mais um pouco de tempo e o Brasil se tornaria uma democracia plena, onde prevaleceria a igualdade geradora de vida com dignidade para todas as pessoas, ao contrário da desigualdade promotora da morte, propiciada pela elite.

A massa desconhece a História; desta forma, não sabe que a corrupção sempre esteve presente entre os políticos de todos os tempos, especialmente entre os políticos de direita, ou seja, da elite burguesa.

Qual o índice das pessoas que conhecem um pouco da geopolítica, e como funciona? Creio que a grande maioria não sabe que os donos do capital, sempre apoiados pelo Tio Sam, invadem nações, dão golpes, promovem guerras, com o pretexto de proteger os povos, mas na verdade o fazem para dominar, se apropriar das riquezas naturais desses países; no caso do Brasil especialmente o pré-sal e o Aquífero Guarani. A história prova que os da “casa grande” não se importam com os da “senzala”.

Há poucos dias li uma matéria que criticava a PEC 241, que no Senado é de número 55, afirmando que ela trará muitos sofrimentos aos pobres, sem taxar as grandes fortunas, que poderia solucionar o problema fiscal do país; mas criticava, também, o governo anterior por não tê-lo feito. Esquece o autor que o governo anterior tentou fazer isto, e muito mais, porém a elite não permitiu, portanto, o autor usou de má fé. Não mencionou sequer os avanços sociais do governo anterior; foi, no mínimo, tendencioso. Alguns críticos da esquerda elogiaram a atitude do autor em relação à PEC 241, sem perceber que este detalhe faz muita diferença. Poderia, pelo menos, ter afirmado que o governo anterior tirou o Brasil do mapa da fome, segundo a ONU; e que, no governo anterior, em torno de 40 milhões de pessoas foram tiradas da miséria absoluta, que é mais ou menos o tanto da população da nação Argentina.

Aliás, parece que a maioria esquece que a presidenta, vítima do golpe, praticamente não conseguiu implementar quase nada no seu segundo mandato, pois seus projetos não eram aprovados pelo congresso, dominado pela elite, com o objetivo de alardear, pela mídia golpista, que havia um desgoverno, mas gerado pela burguesia sórdida, infiltrada em tudo.

Tenho esperança de que um dia essa massa incauta amadureça e desperte de sua letargia mórbida, se dando conta do quanto perdeu de conquistas e fez os inocentes perderem.

Após ler o exposto, alguém se perguntará se sou contra a Lava Jato. Sou a favor, desde que se faça justiça. Mas é preciso dizer que também este processo foi engendrado pelo imperialismo estadunidense, com a finalidade acima mencionada, de tomar nossas riquezas naturais. Isto fica provado pela espionagem revelada pelo Edward Snowden, ex-técnico da CIA, hoje exilado na Rússia (o caso WikiLeaks) e também, pela seletividade, parcialidade, falta de isenção e arbitrariedade com que é conduzido o processo.

Enquanto isto, nos bastidores, e também à luz do dia, a elite safada se banqueteia, jogando as migalhas para esta massa deformada, que age como animal adestrado, pela mídia golpista. Assim, a maioria do povo caminha por uma pinguela que, infelizmente, levará a um túnel escuro (contrário ao clarão dos fogos na noite de 17/04/2016, quando o processo de impedimento foi aprovado na Câmara Federal, mesmo não havendo crime para tal), sem previsão de luz no seu final, pois desde agora aumenta, também, o preço da energia elétrica...

Outros poderiam argumentar: ele é adepto do quanto pior melhor. Não o sou. Mas sou realista aberto à esperança. Tenho consciência que se colhe o que é semeado. Por este país afora foi semeada a injustiça, e infelizmente as classes menos favorecidas, que são compostas pela maioria do povo, vão colher os frutos amargos da mesma. Porém, tenho a esperança de que as sementes lançadas pelos profetas e profetizas, levadas pelos ventos e vendavais, a seu tempo, germinarão, florescerão e os bons frutos ressurgirão... A classe estudantil, plena de sonhos lindos, começa a dar sinais, apesar de todas as repressões deste Estado de Exceção...


Deus tenha compaixão e misericórdia dos pobres desta nação, e do mundo inteiro.

Fonte: IHU- Adital


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Para tempos difíceis. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!



“Antes, porém, que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”.  (Lc 21, 12-13)

Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 21, 5-19   (Jesus  fala da destruição do templo e sobre os tempos difíceis). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!

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IHU
11 Novembro 2016.

Para tempos  difíceis

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 21,5-19, que corresponde ao 33° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

As profundas mudanças socioculturais que se estão a produzir nos nossos dias e a crise religiosa que sacode as raízes do cristianismo no ocidente urge-nos mais do que nunca a procurar em Jesus a luz e a força que necessitamos para ler e viver estes tempos de forma lúcida e responsável.

Chamada ao realismo

Em nenhum momento pressagia Jesus aos seus seguidores um caminho fácil de êxito e glória. Pelo contrário, dá-lhes a entender que a sua longa história estará cheia de dificuldades e lutas. É contrário ao espírito de Jesus cultivar o triunfalismo ou alimentar a nostalgia de grandezas. Este caminho que nos parece duro é o que está mais de acordo com uma Igreja fiel ao Senhor.

Não à ingenuidade

Em momentos de crise, desconcerto e confusão não deve estranhar que se escutem mensagens e revelações propondo caminhos novos de salvação. Estas são as consignas de Jesus. Em primeiro lugar, «não sejam enganados»: não cair na ingenuidade de dar crédito a mensagens alheias ao evangelho, nem fora nem dentro da Igreja. Portanto, «Não sigam essa gente»: Não seguir a quem nos separa de Jesus Cristo, único fundamento e origem da nossa fé.

Centrarmos no essencial

Cada geração cristã tem os seus próprios problemas, dificuldades e buscas. Não temos de perder a calma, mas assumir a nossa própria responsabilidade. Não se nos pede nada que esteja acima das nossas forças. Contamos com a ajuda do próprio Jesus: «Eu vos darei palavras e sabedoria» ... Inclusive num ambiente hostil de rejeição ou desafeto, podemos praticar o evangelho e viver com sensatez cristã.

A hora do testemunho

Os tempos difíceis não hão de ser tempos para lamentos, nostalgia ou desalento. Não é a hora da resignação, passividade ou demissão. A ideia de Jesus é outra: em tempos difíceis «tereis ocasião de dar testemunho». É agora precisamente quando temos que reavivar entre nós a chamada para ser testemunhas humildes mas convincentes de Jesus, da sua mensagem e do seu projeto.

Paciência

Esta é a exortação de Jesus para momentos duros: «É permanecendo firmes que vocês irão ganhar a vida». O término original pode ser traduzido indistintamente como«paciência» ou «perseverança». Entre os cristãos falamos pouco da paciência, mas necessitamo-la mais do que nunca. É o momento de cultivar um estilo de vida cristã, paciente e tenaz, que nos ajude a responder a novas situações e desafios sem perder a paz nem a lucidez.