Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Não à idolatria do dinheiro. - Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente para os dias de hoje!


“Ninguém pode servir a dois senhores; pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.."  (Mt 6, 24)

O comentário que trago hoje para o blog Indagações, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito bom. Tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 6, 24-34 (Jesus ensina: “buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será dado por acréscimo...”). Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e refletir.
WCejnog


IHU - Adital

24 fev 2017.

Não à idolatria do dinheiro

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Mateus 6, 24-34, que corresponde ao Oitavo Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

O dinheiro, convertido em ídolo absoluto, é para Jesus o maior inimigo para construir esse mundo mais digno, justo e solidário que quer Deus. Faz já vinte séculos que o Profeta da Galileia denunciou de forma rotunda que o culto ao dinheiro será sempre o maior obstáculo que encontrará a humanidade para progredir para uma convivência mais humana.

A lógica de Jesus é esmagadora: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Deus não pode reinar no mundo e ser Pai de todos sem reclamar justiça para os que são excluídos de uma vida digna. Por isso não podem trabalhar por esse mundo mais humano pretendido por Deus os que, dominados pela ânsia de acumular riqueza, promovem uma economia que exclui os mais débeis e os abandona à fome e à miséria.

É surpreendente o que está a suceder com o Papa Francisco. Enquanto os meios de comunicação e as redes sociais que circulam pela internet nos informam, com todo o tipo de detalhes, dos gestos menores da sua personalidade admirável, se oculta de forma vergonhosa o seu grito mais urgente a toda a humanidade: “Não a uma economia da exclusão e da iniquidade. Essa economia mata.”

Francisco não necessita de grandes argumentações nem profundas análises para expor o seu pensamento. Sabe resumir a sua indignação em palavras claras e expressivas que poderiam abrir a informação de qualquer telejornal ou ser título da imprensa em qualquer país. Só alguns exemplos.

“Não pode ser que não seja notícia que morre de frio um idoso no meio da rua e que o seja a queda de dois pontos na bolsa. Isso é exclusão. Não se pode tolerar que se deite comida fora quando há pessoas que passam fome. Isso é iniquidade.”

Vivemos na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. Como consequência, “enquanto os ganhos de uns poucos crescem exponencialmente, os da maioria ficam cada vez mais longe do bem-estar dessa minoria feliz”.

“A cultura do bem-estar anestesia-nos, e perdemos a calma se o mercado oferece algo que todavia não compramos, enquanto todas essas vidas truncadas por falta de possibilidades nos parecem um espetáculo que de nenhuma maneira nos altera.”

Quando o acusaram de comunista, o Papa respondeu de forma rotunda: “Esta mensagem não é marxismo, mas sim Evangelho puro”. Uma mensagem que tem de ter eco permanente nas nossas comunidades cristãs. O contrário poderia ser sinal do que diz o Papa: “Estamos a tornar-nos incapazes de nos compadecermos com os clamores dos outros e já não choramos ante o drama dos outros”.



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Uma chamada escandalosa. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!



Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso! E se vocês saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês". (Mt 5, 44-48)


O comentário que trago hoje para o blog Indagações, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito concreto e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 5, 38-48  (Jesus exorta:“Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem”).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Não deixe de ler.
WCejnog



IHU - Adital
17 fevereiro 2017.

Uma chamada escandalosa

 A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Mateus 5, 38-48, que corresponde ao Sétimo Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

A chamada ao amor é sempre atrativaSeguramente, muitos acolhiam com agrado a chamada de Jesus a amar a Deus e ao próximo. Era a melhor síntese da Lei. Mas o que não podiam imaginar é que um dia lhes falará de amar os inimigos. No entanto, Jesus o fez. Sem a proteção da tradição bíblica, distanciando-se dos salmos da vingança que alimentavam a oração do seu povo, enfrentando-se ao espírito geral que se respirava à sua volta, de ódio para com os inimigos, proclamou com claridade absoluta sua chamada: «Eu, pelo contrário, vos digo: amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem».

Sua linguagem é escandalosa e surpreendente, mas totalmente coerente com sua experiência de Deus. O Pai não é violento: ama inclusive seus inimigos, não procura a destruição de ninguém. Sua grandeza não consiste em vingar-se, mas sim em amar incondicionalmente a todos. Quem se sinta filho de Deus não deve introduzir no mundo ódio nem destruição de ninguém.

O amor ao inimigo não é um ensinamento secundário de Jesus dirigido a pessoas chamadas a uma perfeição heroica. A sua chamada quer introduzir na história uma atitude nova ante o inimigo, porque quer eliminar do mundo o ódio e a violência destruidora. Quem se pareça a Deus não alimentará o ódio contra ninguém, procurará o bem de todos, inclusive o dos Seus inimigos.

Quando Jesus fala do amor ao inimigo não está a pedir que alimentemos em nós sentimentos de afeto, simpatia ou carinho para quem nos faça mal. O inimigo continua sendo alguém de quem podemos esperar dano, e dificilmente podem mudar os sentimentos do nosso coração.

Amar o inimigo significa, antes de tudo, não lhe fazer mal, não procurar nem desejar fazer-lhe mal. Não temos de estranhar se não sentimos amor ou afeto para com ele. É natural que nos sintamos feridos ou humilhados. Temos de nos preocupar quando continuamos a alimentar ódio e sede de vingança.

Mas não se trata só de não lhe fazer mal. Podemos dar mais passos até estarmos inclusive dispostos a fazer-lhe bem se o encontramos necessitado. Não temos de esquecer que somos mais humanos quando perdoamos que quando nos vingamos. Podemos inclusive devolver-lhe bem por mal.

O perdão sincero ao inimigo não é fácil. Em algumas circunstâncias, para uma pessoa pode-se tornar praticamente impossível libertar-se logo da rejeição, do ódio ou da sede de vingança. Não temos de julgar ninguém a partir de fora. Só Deus nos compreende e perdoa de forma incondicional, inclusive quando não somos capazes de perdoar.




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A doença chamada Homem. Artigo de Leonardo Boff. Vale a pena ler!



O artigo  de Leonardo Boff A doença chamada homem oferece uma boa reflexão sobre o ser humano, suas atitudes e comportamentos e sua complexa realidade. Neste caso, sobretudo sobre a sua capacidade de escolher e praticar os crimes que causam a morte e sofrimento.
Para quem fica espantado hoje em dia diante de tanta violência, tantos crimes e mortes provocados pelo homem (no Brasil e no mundo afora), e tenta entender essa realidade, o texto mencionado acima pode ajudar muito.
Foi escrito em 2011 por ocasião daquele crime cometido no Rio de Janeiro dentro de  uma escola, qundo foram mortos12 estudantes e feridos tantos outros. A reflexão é muito objetiva e continua bem atual... - Basta mencionar as recentes chacinas em alguns presídios brasileiros.
Por considerar este texto muito oportuno e útil para uma objetiva reflexão que a sociedade brasileira precisa fazer, trago-o também para o blog Indagações-Zapytania.
O artigo foi publicado pelo autor no seu blog leonardoBOFF.com, no mês de abril de 2011.
Vale a pena ler e refletir.
WCejnóg

  


A doença chamada Homem
15/04/2011

Por Leonardo Boff

Esta frase é de F. Nietzsche e quer dizer: o ser humano é um ser paradoxal, são e doente:nele vivem o santo e o assassino. Bioantropólogos, cosmólogos e outros afirmam:o ser humano é, ao mesmo tempo, sapiente e demente, anjo e demônio, dia-bólico e sim-bólico. Freud dirá que nele vigoram dois instintos básicos: um de vida que ama e enriquece a vida e outro de morte que busca a destruição e deseja matar. Importa enfatizar:nele coexistem simultaneamente as duas forças. Por isso, nossa existência não é simples mas complexa e dramática. Ora predomina a vontade de viver e então tudo irradia e cresce. Noutro momento, ganha a partida a vontade de matar e então irrompem crimes como aquele que ocorreu recentemente no Rio.

Podemos superar esta dilaceração no humano? Foi a pergunta que A. Einstein colocou numa carta de 30 de julho de 1932 a S. Freud: ”Existe a possibilidade de dirigir a evolução psíquica a ponto de tornar os seres humanos mais capazes de resistir à psicose do ódio e da destruição”? Freud respondeu realisticamente: ”Não existe a esperança de suprimir de modo direto a agressividade humana. O que podemos é percorrer vias indiretas, reforçando o princípio de vida (Eros) contra o princípio de morte (Thanatos). E termina com uma frase resignada: ”esfaimados pensamos no moinho que tão lentamente mói que poderemos morrer de fome antes de receber a farinha”. Será este o destino da espernaça?

Por que escrevo isso tudo? É em razão do tresloucado que no dia 5 abril numa escola de um bairro do Rio de Janeiro matou à bala 12 inocentes estudantes entre 13-15 anos e deixou 12 feridos. Já se fizeram um sem número de análises, foram sugeridas inúmeras medidas como a da restrição à venda de armas, de montar esquemas de segurança policial em cada escola e outras. Tudo isso tem seu sentido. Mas não se vai ao fundo da questão. A dimensão assassina, sejamos concretos e humildes, habita em cada um de nós. Temos instintos de agredir e de matar. É da condição humana, pouco importam as interpretações que lhe dermos. A sublimação e a negação desta anti-realidade não nos ajuda. Importa assumi-la e buscar formas de mantê-la sob controle e impedir que inunde a consciência, recalque o instinto de vida e assuma as rédeas da situação. Freud bem sugeria: tudo o que faz surgir laços emotivos entre os seres humanos, tudo o que civiliza, toda a educação, toda arte e toda competição pelo melhor, trabalha contra a agressão e a morte.

O crime perpretado na escola é horripilante. Nós cristãos conhecemos a matança dos inocentes ordenada por Herodes. De medo que Jesus, recém-nascido, mais tarde iria lhe arrebatar o poder, mandou matar todas as crianças nas redondezas de Belém. E os textos sagrados trazem expressões das mais comovedoras: ”Em Ramá se ouviu uma voz, muito choro e gemido: é Raquel que chora os filhos e não quer ser consolada porque os perdeu”(Mt 2,18). Algo parecido ocorreu com os familiares.

Esse fato criminoso não está isolado de nossa sociedade. Esta não tem violência. Pior. Está montada sobre estruturas permanentes de violênca. Aqui mais valem os privilégios que os direitos. Marcio Pochmann em seu Atlas Social do Brasil nos traz dados estarrecedores: 1% da população (cerca de 5 mil famílias) controlam 48% do PIB e 1% dos grandes proprietários detém 46% de todas as terras. Pode-se construir uma sociedade sem violência com estas relações injustas? Estes são aqueles que abominam falar de reforma agrária e de modificações no Código Florestal. Mais valem seus privilégios que os direitos da vida.

O fato é que em pessoas pertubadas psicologicamente, a dimensão de morte, por mil razões subjacentes, pode aflorar e dominar a personalidade. Não perde a razão. Usa-a a serviço de uma emoção distorcida. O fato mais trágico, estudado minuciosamente por Erich Fromm (Anatomia da destrutividade humana, 1975) foi o de Adolf Hittler. Desde jovem foi tomado pelo instinto de morte. No final da guerra, ao constatar a derrota, pede ao povo que destrua tudo, envene as águas, queime os solos, liquide os animais, derrube os monumentos, se mate como raça e destrua o mundo. Efetivamente ele se matou e todo os seus seguidores próximos. Era o império do princípio de morte.


Cabe a Deus julgar a subjetividade do assassino da escola de estudantes. A nós cabe condenar o que é objetivo, o crime de gravíssima perversidade e saber localizá-lo no âmbito da condição humana. E usar todas as estratégias positivas para enfrentar o Trabalho do Negativo e compeender os mecanismos que nos podem subjugar. Não conheço outra estratégia melhor do que buscar uma sociedade justa, na qual o direito, o respeito, a cooperação e a educacção e saúde para todos sejam garantidos. E o método nos foi apontado por Francisco de Assis em sua famosa oração: levar amor onde reinar o ódio, o perdão onde houver ofensa, a esperança onde grassar o desespero e a luz onde dominar as trevas. A vida cura a vida e o amor supera em nós o ódio que mata.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Não à guerra entre nós. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!


Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:  "Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus."  (Mt 5, 17-19)
  
O comentário que trago hoje para o blog Indagações, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito concreto e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 5, 17-37 (Jesus esina os seus seguidores).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Não deixe de ler.
WCejnog



IHU - Adital
10 fevereiro 2017.

Não à guerra entre nós.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Mateus 5, 17-37, que corresponde ao Sexto Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Os judeus falavam com orgulho da Lei de Moisés. Segundo a tradição, foi Deus que a ofereceu a seu povo. É o melhor que receberam Dele. Nessa Lei, acha-se a vontade do único Deus verdadeiro. Aí podem encontrar tudo o que necessitam para serem fiéis a Deus.

Para Jesus, também a Lei é importante, mas já não ocupa o lugar central. Ele vive e comunica outra experiência: está a chegar o reino de Deus; o Pai procura abrir um caminho entre nós para fazer um mundo mais humano. Não basta nos contentarmos em cumprir a Lei de Moisés. É necessário abrir-nos ao Pai e colaborar com Ele para fazer a vida mais justa e fraterna.

Por isso, segundo Jesus, não basta cumprir a Lei, que ordena «não matarás». É necessário, também, arrancar da nossa vida a agressividade, o desprezo pelo outro, os insultos ou as vinganças. Aquele que não mata cumpre a Lei, mas, se não se liberta da violência, no seu coração não reina ainda esse Deus que procura construir conosco uma vida mais humana.

Conforme alguns observadores, está se espalhando na sociedade atual uma linguagem que reflete o crescimento da agressividade. Cada vez são mais frequentes os insultos ofensivos, proferidos tão somente para humilhar, desprezar e ferir. Palavras nascidas da rejeição, do ressentimento, do ódio ou da vingança.

Por outro lado, as conversações estão frequentemente tecidas de palavras injustas que distribuem condenações e semeiam suspeitas. Palavras ditas sem amor e sem respeito que viciam a convivência e fazem mal. Palavras nascidas quase sempre da irritação, da mesquinhez ou da baixeza.

Esta não é uma situação que se dê apenas na convivência social. É também um grave problema no interior da Igreja atual. O papa Francisco sofre ao ver divisões, conflitos e confrontos de «cristãos em guerra contra outros cristãos». É um cenário tão contrário ao Evangelho que ele sentiu a necessidade de nos dirigir uma chamada urgente: «Não à guerra entre nós».

Assim fala o Papa: “Dói-me comprovar como em algumas comunidades cristãs, e entre pessoas consagradas, consentimos diversas formas de ódios, calúnias, difamações, vinganças, ciúmes, desejo de impor as próprias ideias à custa de qualquer coisa e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. A quem vamos evangelizar com esses comportamentos?”. O Papa trabalha por uma Igreja na qual «todos podem admirar como vos cuidais uns aos outros, como vos dais alento mutuamente e como vos acompanhais».



sábado, 4 de fevereiro de 2017

Sair para as periferias. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!




 Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.
 Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus."  (Mt 5, 13-16)


O comentário que trago hoje para o blog Indagações, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito concreto e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 5, 13-16.
Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Não deixe de ler.
WCejnog

IHU - Adital
03 fevereiro 2017

Sair para as periferias

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Mateus 5, 13-16, que corresponde ao Quintoo Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto.

Jesus dá a conhecer com duas imagens audazes e surpreendentes o que pensa e espera dos seus seguidores. Não deve viver pensando sempre nos seus próprios interesses, seu prestígio ou seu poder. Apesar de ser um grupo pequeno no meio do vasto Império de Roma, deve ser o “sal” que necessita a terra e a “luz” que faz falta ao mundo.

“Vós sois o sal da terra.” As pessoas simples da Galileia captam espontaneamente a linguagem de Jesus. Todo o mundo sabe que o sal serve, sobretudo, para dar sabor à comida e para preservar os alimentos da corrupção. Do mesmo modo, os discípulos de Jesus devem contribuir para que as pessoas saboreiem a vida sem cair na corrupção.

“Vós sois a luz do mundo.” Sem a luz do sol, o mundo fica nas trevas: já não nos podemos orientar nem desfrutar da vida no meio da obscuridade. Os discípulos de Jesus podem aportar a luz que necessitamos para nos orientar, aprofundar no sentido último da existência e caminhar com esperança.

As duas metáforas coincidem em algo muito importante. Se permanecer isolado num recipiente, o sal não serve para nada. Apenas quando entra em contato com os alimentos e se dissolve na comida pode dar sabor ao que comemos. O mesmo sucede com a luz. Se permanecer encerrada e oculta, não pode iluminar ninguém. Apenas quando está no meio das trevas pode iluminar e orientar. Uma Igreja isolada do mundo não pode ser nem sal, nem luz.

O papa Francisco viu que a Igreja vive encerrada em si mesma, paralisada pelos medos e demasiadamente afastada dos problemas e sofrimentos como para dar sabor à vida moderna e para oferecer a luz genuína do Evangelho. A sua reação foi imediata:“Temos de sair para as periferias existenciais”.

O Papa insiste uma e outra vez: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e manchada por sair à rua que uma Igreja doente por estar encerrada e pela comodidade de agarrar-se às suas próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada por ser o centro e que termina enclausurada num emaranhado de obsessões e procedimentos”.


A chamada de Francisco está dirigida a todos os cristãos: “Não podemos ficar tranquilos numa espera passiva nos nossos templos. O Evangelho convida-nos sempre a correr o risco do encontro com o rosto do outro”. O Papa quer introduzir na Igreja o que ele chama de “cultura do encontro”. Está convencido de que “o que necessita hoje a Igreja é capacidade de curar feridas e dar calor aos corações”.