Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Acolher a força do evangelho. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!




Aproximaram-se da aldeia para onde iam e ele fez como se quisesse passar adiante. Mas eles forçaram-no a parar: Fica conosco, já é tarde e já declina o dia. Entrou então com eles. Aconteceu que, estando sentado conjuntamente à mesa, ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e serviu-lho. Então se lhes abriram os olhos e o reconheceram... mas ele desapareceu. Diziam então um para o outro: Não se nos abrasava o coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?.”  (Lc 24, 28-32)

Abaixo, uma reflexão bem concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 24, 13-35 (Discípulos de Emaús).  É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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IHU - Adital
28 abril 2017

Acolher a força do evangelho

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 24, 13-35 que corresponde ao Terceiro Domingo de Páscoa, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Dois discípulos de Jesus vão-se afastando de Jerusalém. Caminham tristes e desolados. Quando o viram morrer na cruz, nos seus corações apagou-se a esperança que tinham posto nele. No entanto continuam pensando nele. Não o podem esquecer. Terá sido tudo uma ilusão?

Enquanto conversam e discutem sobre tudo o que viveram, Jesus aproxima-se e caminha com eles. No entanto, os discípulos não o reconhecem. Aquele Jesus em quem tinham confiado e que tinham amado com paixão parece-lhes agora um caminhante estranho.

Jesus junta-se à conversa. Os caminhantes escutam-no primeiro surpreendidos, mas pouco a pouco algo vai despertando nos seus corações. Não sabem exatamente o que lhes está a suceder. Mais tarde dirão: «Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?».

Os caminhantes sentem-se atraídos pelas palavras de Jesus. Chega um momento em que necessitam da Sua companhia. Não querem deixá-Lo partir: «Fica conosco». Durante o jantar abrir-se-ão os olhos e o reconhecem. Esta é a grande mensagem deste relato:quando acolhemos Jesus como companheiro de caminho, suas palavras podem despertar em nós a esperança perdida.

Durante estes anos, muitas pessoas perderam a sua confiança em Jesus. Pouco a pouco converteu-se num personagem estranho e irreconhecível. Tudo o que sabem dele é o que podem reconstruir, de forma parcial e fragmentada, a partir do que escutaram a predicadores e catequistas.

Sem dúvida, a homilia dos Domingos cumpre uma função insubstituível, mas é claramente insuficiente para que as pessoas de hoje possam entrar em contato direto e vivo com o Evangelho. Tal como se leva a cabo, ante um povo que deve permanecer mudo, sem expor as suas inquietudes, interrogações e problemas, é difícil que consiga regenerar a fé vacilante de tantas pessoas que procuram, por vezes sem o saber, encontrar-se com Jesus.

Não terá chegado o momento de instaurar, fora do contexto da liturgia dominical, um espaço novo e diferente para escutar juntos o Evangelho de Jesus? Por que não reunirmos laicos e presbíteros, mulheres e homens, cristãos convictos e pessoas que se interessam pela fé, para escutar, partilhar, dialogar e acolher o Evangelho de Jesus?

Temos de dar ao Evangelho a oportunidade de entrar com toda a sua força transformadora em contato direto e imediato com os problemas, crises, medos e esperanças das pessoas de hoje. Em breve será demasiado tarde para recuperar entre nós a frescura original do Evangelho. Hoje é possível.




quinta-feira, 27 de abril de 2017

As eternas perguntas da vida terrena: "Onde está Deus? Onde está o ser humano?". - Artigo de Enzo Bianchi. Muito interessante!


Hoje trago para o blog Indagações-Zapytania o artigo As eternas perguntas da vida terrena: "Onde está Deus? Onde está o ser humano?, do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi. O texto foi publicado no jornal  L'Observatore  Romano em outubro do ano passado (2016) e posteriormente também  no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Ao meu ver, essa é uma reflexão valiosa e muito interessante. Pode ajudar muito a quem está a procura de entendimento e/ou de respostas para as perguntas difíceis diante do sofrimento e do mal que existe no mundo (e na vida de cada um) e por que Deus permite que isso aconteça... São os questionamentos da maior importância para todo o ser humano, mas sobretudo para os crentes.

Vale a pena ler i refletir!
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IHU – Adital
22 de outubro de 2016.

As eternas perguntas da vida terrena: "Onde está Deus? Onde está o ser humano?". Artigo de Enzo Bianchi. 


"O verdadeiro problema não é o silêncio de Deus, mas a não escuta do ser humano, do crente. O Senhor não se esconde para nos pôr à prova, para testar se O amamos ou não: quem conhece o sofrimento, a exaustão da dúvida, não pode pensar que seja Deus quem queira isso! A noite, a escuridão da fé, o silêncio de Deus são apenas aspectos do enigma do mal: somos criaturas frágeis e capazes de pecar, e o nosso pecado começa justamente com a não escuta de Deus."

A opinião é do monge e teólogo italiano  
Enzo Bianchi
, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal  L'Observatore  Romano, 21-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Diante dos totalitarismos e dos trágicos acontecimentos vividos no século passado, mas também diante de eventos desumanos que se renovam nos nossos dias, parece surgir quase espontaneamente a pergunta: "Onde está Deus? Por que não intervém?". Talvez, nas nossas vidas, nós também conheçamos horas de prova em que nos fazemos interrogações análogas. 

Às vezes, essas perguntas também aparecem nas biografias de homens e mulheres que acusam atravessar uma noite escura, uma noite em que falta a luz, na qual Deus parece ausente e, principalmente, taciturno, mudo, como se tivesse posto entre si e o crente uma espessa nuvem que impede todo tipo de relação, até mesmo a da palavra. Deus se cala, não se faz sentir, obscurece o Seu rosto... e o crente geme, sofre essa ausência de Deus, até a tentação do desespero, de ceder ao nada que faz dizer no coração: "Deus não existe, não há nada, nada vale a pena".

Hoje, além disso, os crentes cristãos conhecem, pelo menos um pouco, a tradição judaica que define Deus mesmo como "El mistatter", "Deus que se esconde" (Is 45, 15); conhecem os gritos, relatados por Elie Wiesel,  daqueles que, no fogo da Shoá, ousavam a perguntar: "Onde está Deus?". Assim como se tornou fácil, fácil demais, dizer, como muitas vezes também aflora nos lábios de cristãos comuns: "Deus se cala, Deus não me fala, Deus me tortura ao não me responder, Deus está mudo".

Também se registra uma certa tendência a culpar Deus por parte de cristãos que, lendo os escritos em que se descrevem as crises espirituais da Madre Teresa de Calcutá ou de outras testemunhas da fé, se sentem autorizados a reivindicar as mesmas experiências e, portanto, a afirmar o silêncio de Deus. 

De acordo com alguns teólogos, além disso, esse silêncio seria desejado justamente também por Deus, feito sofrer ao crente em vista da sua purificação, de um caminho de fé mais merecedor, de um verdadeiro jogo de amor entre amante e amado, que se alimenta de escondimento e manifestação. 

Há quem chegue a se pensar como partícipe da noite escura de Jesus às vésperas da Sua paixão, a noite da "agonia" (Lc 22, 44), da Sua "alma triste até a morte" (Mc 14, 34; Mt 26, 38; cf. Sl 42, 6.12; 43, 5), ou mesmo partícipe da hora da cruz e o grito: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mc 15, 34; Mt 27, 46; Sl 22, 2).

Eu confesso: esses "testemunhos" ou "confidências-confissões" me irritam muito e me parecem contemplações narcisistas que evidenciam protagonismos perigosos, não só para a fé, mas também para as relações humanas que podem surgir de tais pretensas experiências espirituais. E, então, eu ouso pronunciar algumas palavras em voz baixa, despretensiosas, porque, no máximo, são palavras pronunciadas kivjaqol, diriam os judeus, "se assim se pode dizer".

Acima de tudo, pode-se dizer, como fez João Paulo II na audiência geral do dia 11 de dezembro de 2002, que "Deus está em silêncio, não Se revela mais e parece ter Se fechado no Seu céu, quase enojado com o agir da humanidade"?  Pode-se compreender esse grito de Wojtyla como literário, como um grito enfático a ser lido na sua intenção, mas certamente não pode ser entendido como afirmação de que Deus já teria se retirado de cena. É verdade que se pode recorrer a textos presentes na Bíblia, imbuídos do mesmo sabor, do mesmo desafogo, do mesmo protesto. Bastaria ler Jeremias, o profeta ministro da "condenação de Deus" sobre o seu povo (não por acaso, naquela ocasião, o papa estava comentando Jer 14, 17-21), para nos encontrarmos diante de expressões semelhantes, senão até mais fortes.

O Senhor me conduziu e me fez andar 
nas trevas e não na luz...
Ele foi para mim como urso de tocaia, 
um leão de emboscada…
Fez-me dar com os dentes numa pedra, 
estendeu-me na poeira (Lm 3, 2.10.16).

Assim diz o Senhor: "Não interceda por este povo. Não faça por ele nenhuma súplica ou prece. Quando eles clamarem por mim na hora da desgraça, eu não os ouvirei" (Jr 11, 14; cf. 7, 16).

Mas essas expressões passionais de Jeremias pertencem ao gênero literário do riv, da contestação, são expressões hiperbólicas próprias da linguagem amorosa na hora da traição e da ruptura das núpcias: linguagem antropomórfica emprestada a Deus para narrar o Seu amor ciumento, a Sua paixão, mas não afirmações sobre Deus, sobre a Sua presença e sobre a Sua relação conosco! Se Deus se cala ou, melhor, parece calar e fazer silêncio, é apenas porque não há ninguém que O escute e O interrogue, como observado com fineza por Massimo Cacciari. 

Por outro lado, uma grande lição já tinha sido dada por Primo Levi, ele, não crente, que não se perguntava como Elie Wiesel, crente, onde estava Deus em Auschwitz, mas, ao contrário, onde estava o ser humano: onde foi parar a humanização na Shoá? Como o ser humano pôde se tornar torturador e aniquilar a tal ponto o outro, o ser humano, seu irmão?

Não quero defender Deus, quero apenas que Ele não seja acusado para que as pessoas se defendam a si mesmas. Para a pessoa comum, simples, que às vezes afirma sofrer o silêncio de Deus, não ouvir Deus presente, que acusa Deus de permanecer distante e mudo, com muito respeito pela sua dor e sem nenhum julgamento, penso em perguntar: "Mas talvez não seria você o surdo, aquele que não escuta?". 

Eu não consigo pensar que Deus seja capaz de interromper o Seu amor, de querer ser mudo ou estar escondido para fazer sofrer o crente que O invoca e que está na provação. É claro, no "cântico do mar", a expressão: "Quem é como tu entre os deuses, Senhor?" (Mi kamokah ba-’elim YHWH: Ex 15, 11) também foi lida por alguns rabinos como: "Quem é como tu entre os mudos, Senhor?" (Mi kamokah ba-illelim YHWH); mas isso apenas quer dizer que Deus, mesmo quando vê o sofrimento, a provação do Seu povo ou do crente individual, não faz nada e se cala, não porque seja indiferente ou esteja irado, mas porque respeita o mundo, a história, respeita a grandeza e a fragilidade dos humanos. 

Se há uma voz de Deus – não o esqueçamos – é "voz de silêncio sutil, contida" (qol demamah daqqah: 1Re 19, 12), porque Deus fala também no silêncio, basta saber escutar o silêncio. Se Deus realmente permanecesse mudo, então o crente cairia logo na fossa, como diz o salmista: "Se tu permaneceres mudo, cairei na cova!" (Sl 28, 1).

O verdadeiro problema, portanto, não é o silêncio de Deus, mas a não escuta do ser humano, do crente. O Senhor não se esconde para nos pôr à prova, para testar se O amamos ou não: quem conhece o sofrimento, a exaustão da dúvida, não pode pensar que seja Deus quem queira isso! A noite, a escuridão da fé, o silêncio de Deus são apenas aspectos do enigma do mal: somos criaturas frágeis e capazes de pecar, e o nosso pecado começa justamente com a não escuta de Deus... 

É por isso que a provação, o sofrimento pode ser sem Deus: esse é apenas um agravamento do mal, da provação, mas, assim como é verdade que Deus não quer o nosso sofrimento, assim também Ele nunca quereria agravá-lo com o Seu silêncio e a Sua ausência. O nosso caminho de homens e mulheres é um caminho, às vezes, na noite profunda, às vezes na névoa, porque não sabemos ver bem, não sabemos escutar bem. O silêncio de Deus acolhido como nossa não escuta, como nossa surdez, faz parte do nosso caminho árduo, da tarefa de viver como humanos e como cristãos.

A esse propósito, na espiritualidade católica do segundo milênio, foram feitas inteligentes considerações sobre algumas situações em que o crente pode se encontrar, situações de escuridão, de não percepção da presença de Deus, de tristeza que parece perder toda esperança de socorro. Essas situações foram encerradas sob a categoria de "desolação espiritual", condição que aqueles que têm uma vida espiritual, mais cedo ou mais tarde, conhecem, como provação forte ou fraca, breve ou prolongada. 

Na desolação, quando Deus parece distante, parece se calar, e o sofrimento parece nos oprimir, é preciso apenas manter viva a relação com Ele, através do gemido, do grito, do pranto, às vezes até com palavras que invocam a morte. Decisivo na vida do cristão é continuar batendo, pedindo, rezando ao Senhor, não ter medo de pôr toda a nossa fraqueza diante dele, tentando permanecer firme na adesão a Ele. 

Jesus, mesmo quando não escutou a voz do Pai – que, aliás, tinha lhe falado no batismo e na transfiguração –, dizendo-lhe: "Por que me abandonaste?", nunca abriu mão da fidelidade ao Pai, mesmo quando parecia que Ele o tinha abandonado. Sobre essa desolação espiritual, quem falou várias vezes foi o Papa Francisco, discípulo de Inácio de Loyola. São estas as suas últimas e recentes palavras a respeito, nas quais fornece um diagnóstico e uma terapia da desolação, indicando também o comportamento que os irmãos e as irmãs em Cristo devem ter em relação àqueles que conhecem tal provação:

"A desolação espiritual nos faz sentir como se tivéssemos a alma esmagada, que não quer viver. 'Melhor é a morte!', é o desafogo de ; melhor morrer do que viver assim...  A liturgia de hoje nos mostra como é preciso se comportar com essa desolação espiritual, quando estamos mornos, lá embaixo, sem esperança. Uma ajuda vem do Salmo responsorial: 'Chegue até ti a minha oração, Senhor'. Portanto, a primeira coisa a fazer é rezar. Oração forte, forte, forte... O Salmo 87 (88) que recitamos juntos nos ensina como rezar no momento da desolação espiritual, da escuridão interior, quando as coisas não vão bem, e a tristeza entra tão fortemente no coração. 'Senhor, Deus da minha salvação, diante de Ti eu grito dia e noite': as palavras são fortes! Em suma, é uma oração que consiste em bater na porta, mas com força: 'Senhor, eu estou repleto de infortúnios. A minha vida está à beira dos infernos. Estou contado entre aqueles que descem à cova, sou como um homem já sem forças'... Diante de uma pessoa que está nessa situação, as palavras podem fazer mal. É preciso apenas tocá-la, estar perto, de modo que ela sinta a proximidade, e dizer aquilo que ela pede, mas não fazer discursos... Quando uma pessoa sofre, quando está na desolação espiritual, deve-se falar o mínimo possível e deve-se ajudar com o silêncio, a proximidade, as carícias, a sua oração diante do Pai... Que o Senhor nos ajude: primeiro, a reconhecer em nós os momentos da desolação espiritual, quando estamos na escuridão, sem esperança, e a nos perguntar por que; segundo, a rezar como hoje a liturgia nos ensina; terceiro, quando eu me aproximo de uma pessoa que sofre, tanto por causa de uma doença, quanto por qualquer outra circunstância, mas que está justamente na desolação: fazer silêncio. Um silêncio com tanto amor, proximidade, carícias. E não fazer discursos que não ajudam, mas fazem mal"   (Meditação matinal na capela da Domus Sanctae Marthae, 27-09-2016).

Avançando nos anos e navegando no mar da vida, a todos é dado a conhecer tempestades e naufrágios. Então, a cada um de nós é espontâneo dizer, como fizeram os discípulos: "Senhor, por que dormes? Não te importa que eu pereça? Onde estás? Por que Tu te calas?" (cf. Sl 44, 24; Mc 4, 38 e par)?. Mas mesmo que na linguagem de uma relação amorosa usemos essas expressões sob a insígnia do riv, que talvez tenham o sabor de blasfêmia, não podemos pensar que Deus tem a possibilidade de interromper o Seu amor, de fechar para sempre uma relação, de ver o ser humano sofrer e de Se comprazer com isso. 

O mal, sob qualquer forma de sofrimento, não vem de Deus (cf. Tg 1, 13-15)! O amor de Deus não deve ser merecido, e nenhum de nós pode pensar que tem em si mesmo um amor que Deus nega, detesta ou não vê, porque o Seu amor é maior do que o nosso coração e o nosso amor (cf. 1Jo 3 , 20).

Gostaria de concluir estas minhas reflexões citando um famoso texto anônimo:

"Sonhei que eu caminhava à beira-mar com o meu Senhor e via novamente na tela do céu todos os dias da minha vida passada. E, para cada dia passado, apareciam na areia quatro pegadas, as minhas e as do Senhor. Mas, em alguns trechos, vi apenas duas pegadas, justamente nos dias mais difíceis da minha vida. Então eu disse: 'Senhor, eu escolhi viver contigo, e Tu me prometeste que sempre estarias comigo. Por que me deixaste sozinho justamente nos momentos mais difíceis?'. E Ele me respondeu: 'Filho, tu sabes que eu te amo e nunca te abandonei: os dias em que tu vês apenas duas pegadas na areia são justamente aqueles em que eu te carreguei nos braços'."


Sim, o Senhor sempre abre o caminho para nós e, justamente nas horas mais escuras, é Ele quem nos toma nos braços!

Fonte: IHU - Adital


terça-feira, 25 de abril de 2017

19 de abril: o que resta da civilização indígena. – Artigo de Jacques Távola Alfonsin. Importante!


Hoje trago para o blog Indagações-Zapytania mais um artigo sobre a questão indígena no Brasil. É de autoria do Jacques Távola Alfonsin, procurador aposentado do estado do Rio Grande do Sul e membro da ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos. Faço isso na esperança de poder contribuir pelo menos um pouco na sua divulgação.

Acho que é muito importante a sociedade brasileira tomar conhecimento da situação dos Povos Indígenas que ainda restam no Brasil e das reais ameaças que eles sempre sofreram e sofrem ainda hoje. É importante ressaltar aqui, que atualmente esses ataques e ameaças contra os indígenas brasileiros estão aumentando mais ainda, devido às mudanças promovidas pelo atual governo e congresso brasileiro. 

O texto foi publicado no site do Instituto Humanitas Unissinos (IHU).
Não deixe de ler!
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IHU - Adital
20 abril 2017.

19 de abril: o que resta da civilização indígena

"Se o povo indígena não for extinto sob toda essa adversidade, como aconteceu com os seus ascendentes, não vai faltar argumento à bancada ruralista e ao atual ministro da justiça (da justiça é bom que se frise...) sustentando ser essa mesmo a condição de vida reservada “normalmente” para as/os índios", escreve Jacques Távola Alfonsin, procurador aposentado do estado do Rio Grande do Sul e membro da ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos.

Eis o artigo

Dia 19 de abril é uma data lembrada no Brasil, como “dia do índio”, desde 1943, quando, durante a ditadura Vargas, um decreto presidencial acatou uma recomendação feita pelo Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, reunido no México em 1940, objetivando outorgar aos governos americanos normas necessárias à orientação de suas políticas indigenistas.

Em tempos como os de hoje, nem se consegue imaginar qual o sentido ainda remanescente para celebrar-se a data. O que resta do povo indígena brasileiro está para sofrer mais uma das graves agressões brancas que lhe foram infligidas desde a chegada da colonização espanhola e portuguesa na América.

A proposta de emenda constitucional 215, sob forte apoio da bancada ruralista no Congresso Nacional, pretendendo retirar da administração pública do Poder Executivo a competência para demarcar as terras indígenas e até ratificar ou não as demarcações já homologadas, ficando o Legislativo com tal poder, está recebendo pressão crescente, ainda mais agora que o deputado Osmar Serraglio, ex-relator dessa matéria na Câmara dos Deputados, é ministro da justiça.

Em estudo que o Instituto Apoio Jurídico Popular publicou em 1989 (“Negros e índios no cativeiro da terra”, Rio de Janeiro: Fase), abriu-se a oportunidade para juristas e advogadas/os publicar alguns estudos sobre essas duas verdadeiras “civilizações”, composta por negras/os (quilombos) e índias/os (aldeias), com atenção mais detalhada sobre a sua concepção de direito em relação à “mãe terra”.

O descaso do Estado, o peso dos preconceitos, as perseguições, criminalizações a que ficaram sujeitas, a ponto de mal sobreviverem hoje no que já foi o seu território, descritas naqueles estudos, se forem comparadas com o que estão sofrendo hoje, aumentaram em vez de diminuir.

Carlos Frederico Marés de Souza Filho, um dos mais credenciados juristas, conhecedor do povo e do direito indígena, publicou a sua participação nessa coletânea sob o título “Índios e direito: o jogo duro do Estado”. Tratou de ver o direito sob método inculturado, aquele que busca entender qualquer aplicação de lei, não à luz do poder de quem a promulga, no caso brasileiro, sabidamente, a civilização branca, mas sim de quem dela é destinatário; no caso do povo indígena, como ele sofre os efeitos dessa lei:
“Assim, a forma como cada nação indígena vê o direito do Estado Brasileiro difere e deve ser objeto de análise separada. Cada uma delas tem a sua própria concepção, experiência e nível de análise. Porém, há uma coisa que é comum a todas: enquanto o direito de cada uma das nações indígenas é o resultado de uma cultura aceita e professada por todos os habitantes igualmente, inclusive na aceitação das diferenças, o Direito Estatal Brasileiro é fruto de uma sociedade profundamente dividida, onde a dominação de uns pelos outros é o primado principal e o individualismo, o marcante traço característico. Desta forma, a distância entre o coletivismo e o individualismo é que diferencia o Direito indígena do Direito Estatal.”

O autor mostra, não sem certo humor, como isso é bem percebido pelo povo indígena, pela voz de um dos seus integrantes, o índio Paiarê-Parpakategê, do sul do Pará, em 1985, “por ocasião das discussões sobre a passagem da linha de ferro Carajás, em território do seu povo, numa afirmação corajosa e simbólica:
“A lei é uma invenção. Se a lei não protege o direito dos índios (sobre suas terras), o branco que invente outra lei.” 

O trágico dessa história é que, mesmo com lei que proteja o direito do povo indígena, inclusive em capítulo expresso na Constituição Federal (artigos 231/232), além de ser reduzida a praticamente letra morta, cada vez que esse direito, especialmente sobre terra, é posto em causa, o branco está procurando “inventar” outra, não para beneficiar, mas sim para sacrificar mais ainda esse mesmo povo, na forma como a PEC 215 quer impor.

É possível se repetir aqui no Brasil, então, em pleno século XXI, o que aconteceu quatro séculos atrás, quando o massacre das/os índias/os brasileiras/os eram o resultado das disputas de Portugal e Espanha sobre o nosso território, somente unidos quando o “inimigo” assim considerado por ambos, era justamente o povo indígena, como aconteceu com a dizimação dos sete povos das missões, no sul do país, Sepé Tiaraju servindo de heróica lembrança.

Vai restar, para essa outra forma de civilização humana, - se não houver poder suficiente para barrar a maré montante atualmente em movimento contra ela - apenas o mesmo destino que sobrou para as/os remanescentes de Sepé:
“Durante o século XVII e mais da metade do XVIII, prevaleceu na região platina a propriedade coletiva dos municípios guaranis. Nos fins do século XVIII implantou-se ali a propriedade latifundiária dos estancieiros brancos. O índio se viu relegado à condição humilde de peão de estância ou proletário da terra.” (“O direito de propriedade entre os índios missioneiros”, Ruschel, Ruy Ruben, in “Direito e justiça na América Latina, Wolmer, Antonio Carlos, Porto Alegre: Livraria do advogado, 1998, p. 108)


Se o povo indígena não for extinto sob toda essa adversidade, como aconteceu com os seus ascendentes, não vai faltar argumento à bancada ruralista e ao atual ministro da justiça (da justiça é bom que se frise...) sustentando ser essa mesmo a condição de vida reservada “normalmente” para as/os índios. Que as ONGs de defesa desse povo e as do meio-ambiente, portanto, os movimentos populares de defesa dos direitos humanos, a Comissão Pastoral da terra e o Conselho Indigenista Missionário, entre outras organizações, estejam atentas/os e, mesmo na enorme desproporção dos seus poderes em relação à bancada ruralista e ao ministro da Justiça, não desperdicem nenhuma oportunidade de opor-se aos seus intentos, apoiando todo o empenho indispensável para barrar qualquer possibilidade de a tal PEC 215 cumprir os seus desumanos efeitos.

Fonte: IHU - Adital


sexta-feira, 21 de abril de 2017

Ressurreição de Jesus, Ressurreição cósmica. – Reflexão bíblica do Pe. Adroaldo Palaoro sj. Interessante!




Ainda no clima especial da Páscoa, trago hoje para o blog Indagações-Zapytania uma  boa reflexão sobre o tema da ressurreição de Jesus Cristo. Para quem gosta e/ou estiver interessado no tema, esta é uma oportunidade para uma tranquila leitura.
O texto/reflexão de autoria do Pe. Adroaldo Palaoro,sj foi publicado recentemente  no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Não deixe de ler!

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 IHU – Adital
21 abril 2017

Ressurreição de Jesus, Ressurreição cósmica

 Por Pe. Adroaldo Palaoro sj

“De repente, houve um grande tremor de terra: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, retirou a pedra e sentou-se nela”. (Mt 28,2)
A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, sacerdote jesuíta, comentando o evangelho do 1° Domingo do Tempo de Páscoa  (23/04/2017) que corresponde ao Evangelho segundo Mateus 28,1-10.

Iniciamos o Tempo Quaresmal sendo convocados a refletir sobre os “biomas brasileiros e defesa da vida”. Tal como Jesus, a natureza é também lugar do padecido, da harmonia quebrada, da bondade violentada, da beleza ferida... “A criação geme em dores de parto” (Rom 8,22).

Jesus e a Criação carregam a Cruz às costas até o Gólgota.
Há uma crise ecológica que se alastra rapidamente, quebrando o equilíbrio vital que sustenta a natureza toda. O uso desordenado dos recursos naturais e o “descuido” como modo habitual de viver, faz sofrer tanto o ser humano como a própria natureza.
No entanto, a novidade do universo é expressa pelo Apocalipse: “Eis que faço novas todas as coisas”- 21,5).

Ressurreição de Jesus nos oferece uma perspectiva para ver essa novidade , enquanto a “comunidade de vida” se desenvolve e caminha em direção ao “Grande Mar Cósmico”.

“Na verdade, o ventre da Terra contraiu-se, a natureza gemeu em dores de parto. O túmulo rompeu-se e a pedra rolou. De repente a Vida!”. (Zé Vicente)
O “mistério pascal” é o salto para a novidade, para a beleza, para a transcendência. Imersos na natureza, a Ressurreição nos faz descobrir a verdadeira extensão da Vida.

A luz da Ressurreição ilumina toda a Criação: a vida de Cristo na vida da Terra nos traz alegria e esperança. O universo inteiro é o “habitat” do Cristo Cósmico.
A aparição de Jesus Ressuscitado no primeiro dia da semana foi entendida como a aurora do “primeiro dia” da Nova Criação de todas as coisas. À luz deste “novo dia” de Deus, Cristo aparece como o primogênito de toda a Criação, que reconcilia todas as coisas no céu e na terra.

O “primogênito entre os mortos” é também o “primogênito de toda criatura”, por quem todas as coisas foram criadas.
Ressurreição pulsa em nós e na natureza com o coração de Deus.
Em Cristo, todas as criaturas apontam para o Criador. Elas também apontam para além de si mesmas, para o futuro da redenção, para sua forma verdadeira e permanente no Reino de Deus.

À luz da Ressurreição compreendemos a Criação como “criação de Deus”, porque confiamos na fidelidade de seu Criador, e percebemos a capacidade que ela tem de se transformar, em vista de sua plenitude.
Ressurreição é colocada no grande contexto da Criação em que o próprio ser humano participa.
Ressurreição é encontro com a vida plena, em um processo da Criação que chega a seu desfecho.
Pela Ressurreição, romperam-se todas as amarras do espaço e do tempo. Cristo ganhou uma dimensão cósmica. A evolução se transformou numa verdadeira revolução.

Gólgota remete aos gemidos de parto, e o túmulo vazio representa a concretização do parto. Nova história, nova criação está iniciada. O Cristo cósmico surge então como motor da evolução, como seu libertador e seu plenificador.

A salvação é salvação de toda a Criação e de todas as criaturas, e não pode ficar restrita à “salvação da alma humana” nem à bem-aventurança da existência humana. A “ressurreição dos mortos” ocorre nesta terra e leva os que receberam a vida para uma “nova terra onde mora a justiça, de acordo com sua pro-messa” (2Pd 3,13). O Reino de Deus não é um reino “no” céu, mas ele vem “assim na terra como no céu”. Ressurreição e vida eterna são promessas de Deus para os todos os seres desta terra.

Por isso, também a ressurreição da natureza há de levar não para o Além, mas para o Aquém da nova criação de todas as coisas. Não é para o céu que Deus salva sua Criação, mas Ele renova a terra.

A terra é o palco da vinda do Reino de Deus, por isso a ressurreição para o Reino de Deus é a esperança desta terra. Sobre esta terra embebida em sangue esteve a Cruz de Cristo, por isso Deus lhe permanece fiel e afastará dela toda dor, sofrimento e morte, para Ele mesmo nela vir morar.

“O Reino de Deus é o reino da ressurreição na terra” (Bonhoeffer).
Somos já “seres ressuscitados”: sentimos hoje a urgência de seguir os caminhos de uma ética ecológica para que possamos nos situar, na Criação, numa atitude participativa e de cuidado responsável. Cresce um novo modo de pensar e de conceber o universo enquanto “teia de relações”. Isto significa que há uma unidade fundamental e uma vasta rede de inter-relações, conectados a todos os elementos da natureza.

Todos os seres, vivos e não vivos, são parceiros numa verdadeira “dança cósmica”, numa grande comunhão universal. Fazemos parte de uma “rede” de relações múltiplas e recíprocas, nas quais o próprio Cristo Ressuscitado se faz presente, como fonte de vida. Para chegar a viver o Novo Céu e a Nova Terra é preciso renovar radicalmente este céu tantas vezes opaco e esta terra tão violada.

Se não houver uma “salvação da natureza”, também não poderá haver uma salvação definitiva do ser humano, pois os seres humanos são seres da natureza. Isto obriga a todos os que esperam a ressurreição a permanecerem fiéis à terra, a respeitá-la, cuidá-la e amá-la como a si mesmos.

Na perspectiva da natureza, a ressurreição de Cristo significa que com Ele teve início a universal “destruição da morte” (1Cor. 15,26), e que se torna visível o futuro da Nova Criação, quando a morte deixar de existir.

A ressurreição dos mortos, a destruição da morte e a ressurreição da natureza constituem os pressupostos para a eterna Criação que participa da habitação do Deus vivo e eterno.

Criação “no princípio” está orientada para este fim. De acordo com isto “toda a Criação geme conosco” e esta é a verdadeira ressurreição da natureza. Este é o lado cósmico da esperança da ressurreição. As forças do pecado e da morte, destrutivas e contrárias a Deus, são expulsas da criação, que é boa, e na presença do Deus vivo esta se transformará em uma criação eternamente viva.

O Deus que ressuscita os mortos é o mesmo Deus que chamou todas as coisas do nada à existência; Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos é o Criador do novo ser de todas as coisas.
Ressurreição e Criação constituem, portanto, uma unidade, pois a ressurreição dos mortos e a destruição da morte são a completude da criação original.

Para meditar na oração

Fico maravilhado com a nova comunidade universal de vida que emerge da Noite Pascal. A Luz da Ressurreição integra tudo.

Considero como nosso Senhor ressuscitado revela toda a vida futura do universo como uma comunidade em evolução de esplendor e diversidade crescentes. Reflito como Cristo nos leva a evoluir para uma humanidade em plenitude, vivendo uma relação plena com todas as criaturas.

Fraternizo com todas as criaturas e me faço humano em toda minha plenitude.

Páscoa: um salto para a transcendência... para o Novo Céu e Nova terra.




Jesus salvará a sua igreja. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!




"Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.
E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo." (Jo 20, 21-22)


Abaixo uma pequena reflexão, porém muito concreta e atual que todos os cristãos precisariam e deveriam ler e interiorizar. Tem como pano de fundo o texto bíblico João 20, 19-31 (Jesus ressuscitado aparce aos discípulos. A confissão de fé do Tomé).  É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg


IHU - Adital
21 abril 2017

Jesus salvará a sua igreja

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo João 20, 19-31 que corresponde ao Segundo Domingo de Páscoa, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol Josè Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Aterrados pela execução Jesus, os discípulos refugiam-se numa casa conhecida. De novo estão reunidos, mas já não está com eles Jesus. Na comunidade há um vazio que ninguém pode preencher. Falta-lhes Jesus. A quem seguirão agora? Que poderão fazer sem Ele? “Está anoitecendo” em Jerusalém e também no coração dos discípulos.

Dentro da casa estão “com as portas bem fechadas”. É uma comunidade sem missão e sem horizonte, encerrada em si mesma, sem capacidade de acolhimento. Já ninguém pensa em sair pelos caminhos a anunciar o reino de Deus e curar a vida. Com as portas fechadas não é possível aproximar-se do sofrimento das pessoas.

Os discípulos estão cheios de “medo dos judeus”. É uma comunidade paralisada pelo medo, em atitude defensiva. Eles só vêm hostilidade e rejeição por toda parte. Com medo não é possível amar o mundo como o amava Jesus nem infundir a ninguém alento e esperança.

De repente, Jesus ressuscitado toma a iniciativa. Vem resgatar seus seguidores. “Entra na casa e coloca-se no meio deles”. A pequena comunidade começa a transformar-se. Do medo passam à paz que lhes infunde Jesus. Da obscuridade da noite passam à alegria de voltar a vê-Lo cheio de vida. Das portas fechadas vão passar rapidamente a anunciar por todas partes a Boa Nova de Jesus.

Jesus fala-lhes colocando naqueles homens toda sua confiança: “Como o Pai me enviou, assim também Eu vos envio”. Não lhes diz de quem aproximar-se, que devem anunciar, nem como devem atuar. Já aprenderam dEle pelos caminhos da Galileia. Serão no mundo o que Ele foi.

Jesus conhece a fragilidade dos seus discípulos. Muitas vezes os criticou na sua fé pequena e vacilante. Necessitam a força do Espírito Santo para cumprir a sua missão. Por isso faz com eles um gesto especial. Não lhes impõe as mãos nem os abençoa como aos doentes. Exala seu alento sobre eles e diz-lhes: “Recebei o Espírito Santo”.

Só Jesus salvará a sua Igreja. Só Ele nos libertará dos medos que nos paralisam, quebrará os esquemas aborrecidos em que o pretendemos encerrar, abrirá tantas portas que fechamos ao longo dos séculos, endireitará tantos caminhos que nos têm desviado Dele.

O que se nos pede é reavivar muito mais em toda a Igreja, a confiança em Jesus ressuscitado, mobilizar-nos para colocá-lo sem medo no centro das nossas paróquias e comunidades, e concentrar todas as nossas forças em escutar bem o que o Seu Espírito diz hoje aos seus seguidores.

Fonte: IHU - Comentário ao Evangelho