Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

“O decisivo”. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!



Então o Rei lhes responderá: <Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!>".  (Mt 25,40)

A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito concreta e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 25, 31-46 (Jesus fala do “Juizo final”).
Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler e refletir!
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IHU – ADITAL
24 de Novembro 2017.

O decisivo

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 25,31-46 que corresponde a Solenidade de Jesucristo Rei do Universo, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

O relato não é propriamente uma parábola, mas uma evocação do juízo final de todos os povos. Toda a cena se concentra num diálogo longo entre o juiz, que não é outro que Jesus ressuscitado, e dois grupos de pessoas: os que aliviaram o sofrimento dos mais necessitados e os que viveram negando-lhes a sua ajuda.

Ao longo dos séculos, os cristãos viram neste diálogo fascinante «a melhor recapitulação do Evangelho», «o elogio absoluto do amor solidário» ou «a advertência mais grave a quem vive refugiado falsamente na religião». Vamos assinalar as afirmações básicas.

Todos os homens e mulheres, sem exceção, serão julgados pelo mesmo critério. O que dá um valor imperecível à vida não é a condição social, o talento pessoal ou o êxito realizado ao longo dos anos. O decisivo é o amor prático e solidário aos necessitados de ajuda.

Este amor traduz-se em atos muito concretos. Por exemplo, «dar de comer», «dar de beber», «acolher o imigrante», «vestir os nus», «visitar os doentes ou os presos». O decisivo ante Deus não são as ações religiosas, mas estes gestos humanos de ajuda aos necessitados. Podem  brotar de uma pessoa crente ou do coração de um agnóstico que pensa nas pessoas que sofrem.

O grupo dos que ajudaram os necessitados que foram encontrando no seu caminho não o fez por motivos religiosos. Não pensou em Deus nem em Jesus Cristo. Simplesmente procurou aliviar um pouco o sofrimento que há no mundo. Agora, convidados por Jesus, entram no reino de Deus como «benditos do Pai».

Por que é tão decisivo ajudar os necessitados e tão condenável negar-lhes a ajuda? Porque, segundo revela o juiz, o que se faz ou se deixa de fazer a eles está-se a fazer ao mesmo Deus encarnado em Cristo. Quando abandonamos um necessitado, estamos a abandonar Deus. Quando aliviamos o seu sofrimento, estamos fazendo-o com Deus.

Esta surpreendente mensagem coloca-nos a todos olhando para os que sofrem. Não há religião verdadeira, não há política progressista, não há proclamação responsável dos direitos humanos se não é defendendo os mais necessitados, aliviando o seu sofrimento e restaurando a sua dignidade.

Em cada pessoa que sofre, Jesus sai ao nosso encontro, olha-nos, interroga-nos e interpela-nos. Nada nos aproxima mais Dele que aprender a olhar demoradamente o rosto dos que sofrem com compaixão. Em nenhum lugar poderemos reconhecer com mais verdade o rosto de Jesus.




Oração

O bem estar da aparência

Ai daqueles
que saboreiam o doce do açúcar em pratos refinados
mas não têm paladar para a amargura do haitiano que corta a cana;
que olham a beleza nas fachadas dos grandes edifícios
mas não ouvem nas pedras o grito dos operários mal pagos
que passeiam em carros de luxo pelas novas avenidas,
mas não têm memória para as famílias desalojadas como escombros
que exibem roupa elegante em corpos bem cuidados
mas não se preocupam com as mãos que colhem o algodão;
porque deixam resvalar sobre a vida seu olhar de turistas
e não contemplam por trás das fachadas com olhos de profeta!

Ai daqueles
que só vêem no pobre uma mão que mendiga
e não uma dignidade indestrutível que busca a justiça;
que só vêem nas numerosas crianças marginalizadas uma praga
e não uma esperança para todos que há que cultivar;
que só escutam nos gritos dos pobres caos e perigos
e não ouvem o protesto de Deus contra os fortes;
que só contemplam o sadio, belo e poderoso
e não esperam salvação desde o mais baixo e humilhado,
porque não poderão contemplar a salvação
que brota em Jesus marginalizado desde baixo!

(Benjamin González Buelta)

Esta oração faz parte do Cometário de Ana Maria Casarotti Seremos julgados pelo amor. Para acessar clique  aqui.


terça-feira, 21 de novembro de 2017

“A era do capital improdutivo” – Prof. Ladislau Dowbor fala sobre o seu livro. Uma reportagem bem interessante e esclarecedora!



Mais uma excelente matéria, oportuna e atual, sobre as questões econômicas no mundo e principalmente no Brasil. A reportagem do Ricardo Machado traz colocações interessantes do economista Ladislau Dowbor, que fala sobre o assunto, por ocasião da apresentação do seu novo livro “A era do capital improdutivo”.

Penso que essa reportagem possa ajudar um pouco para quem já se perguntou a si mesmo: Por que será que os bancos registram lucros astronômicos justamente em plena recessão e nos tempos de crise econômica, financeira e de tanto desemprego? Ou, talvez, para procurar alguma resposta também para outras questões, por exemplo: Por que a crise só afeta algumas parcelas da sociedade e não os bancos e o sistema financeiro? Quem está por trás desse "mercado" ou "jogo", que serve apenas aos interesses do “capital”, em detrimento da população? É importante entender de que se trata!

Gostei da matéria e para contribuir um pouco na sua divulgação, trago-a também para o  meu blog.
Vale a pena  ler!


WCejnóg


IHU – ADITAL
20 Outubro 2017

Por: Ricardo Machado 
A era do capital improdutivo


A estranheza do tempo presente é tão grande que vivemos a época em que é o rabo que balança o cachorro. Quer entender como isso funciona em termos sociais e econômicos? O professor Ladislau Dowbor explica: “O sistema financeiro é de mediação, não produz nada. Então as áreas produtivas se tornam o meio para os especuladores ganharem dinheiro. Por isso eu digo, que é o rabo que balança o cachorro”, brinca Dowbor, ao fazer uma alegoria para demonstrar a centralidade do poder financeiro.

O professor Ladislau Dowbor apresentou seu livro A era do capital improdutivo. A nova arquitetura do poder: dominação financeira, sequestro da democracia e destruição do planeta (São Paulo: Autonomia Literária, 2017), na noite da quinta-feira, 19-10-2017, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no Instituto Humanitas Unisinos -  IHU.

A reportagem

A intereferência do sistema financeiro nas relações sociais gera profundos desequilíbrios. “Na questão ambiental, estamos diante de um desastre porque não estamos acostumados a pensar em longo prazo. Nós temos uma tremendo gap entre nossascapacidades técnicas e nossas capacidades de governança”, pondera Dowbor. “No plano social é inadmissível que oito famílias tenham a metade de recursos financeiros do mundo, sendo que nenhuma delas produz nada, são todas donas de negócios intermediários”, complementa. 


Professor Ladislau Dowbor apresenta seu livro A era do capital improdutivo 
(Fotos: Ricardo Machado/IHU)

Crise civilizacional

A crise financeira mundial instaurada a partir de 2008, não é somente no campo da econômico, mas o reflexo de uma crise civilizacional mais ampla. “A desigualdade não é somente um problema ético, é um problema político. E como respondemos a essa questão? Construindo muros? Colocando barcos no mediterrâneo para as pessoas não chegarem à Europa?”, questiona.

“Nosso problema não é falta de recursos. É um problema de governança. O ser humano é insuperável na capacidade de construir computadores, mas ainda temos pobreza e fome. Inclusive os custos indiretos de não resolver a pobreza são muito maiores do que os necessários para combater essas mazelas”, provoca. 

Para Dowbor a questão de recursos financeiros não é um problema frente os desafios atuais, porque há dividendos financeiros, o único ponto é destiná-los para reduzir o impacto ambiental e social. “A partir de 2008 não mudou nada em termos de estrutura, mas começamos a entender algumas coisas.Stiglitz é um dos que têm estudado os efeitos do desajuste financeiro, onde o capital improdutivo rende mais que o produtivo”, exemplifica. 

Estamos, segundo o professor, diante de uma nova ordem de influência das corporações na política, em que elas incidem diretamente nos políticos por lobbies peer-to-peer, entre empresários e ocupantes de cargos eletivos. É esse fenômeno que Stiglitz analisa nos EUA, mas que ocorre de maneira similar no Brasil. “O sistema financeiro está comprando universidades pelo mundo todo, sem falar no Brasil. Há revistas acadêmicas compradas com dinheiro desses grupos. Há compra da mídia do modo clássico e as invasões de privacidade no nível das mídias digitais. Hoje em dia, laboratórios vendem informações de pacientes para seguradoras. As transformações nos regimes de poder são absolutamente radicais”, destaca o conferencista.

O fim do capitalismo democrático

Para o professor, o capitalismo tardio não está perto de fim, o que mostra sinais de esgotamento frente o avanço dos processos de financeirização é o capitalismo democrático. “Não é o fim do capitalismo, mas o fim do capitalismo democrático. Antes eles precisavam de milhares de pessoas, hoje a regra mudou e são as próprias corporações quem decidem o que pode e o que não. Isso porque o sistema financeiro é global e o controle dos bancos centrais são nacionais”, frisa.

Ao refletir sobre os quatro motores que colocam em marcha a economia, Dowbor demonstra porque  nossa engrenagem social emperrou. “O primeiro motor é o da exportação, mas é muito instável porque não controlamos os preços e dependemos do mercado externo. O segundo motor, é o consumo das famílias, que com o desemprego e a instabilidade econômica está travado. Quebrando o segundo motor, que são as famílias, o terceiro, o do mercado produtivo, entra em colapso porque não tem consumo e o juro é muito alto. O quarto motor, o investimento estatal, que deveria ser utilizado para o investimento em estruturas, é usado para o pagamento de juros da dívida para bancos”, pontua Dowbor.

Além disso, o professor lembrou que os juros no Brasil são pornográficos, fruto de agiotagem pura. “Há um mecanismo muito simples, mas eficaz, de desvio dos recursos públicos para os bancos. Isso drena a capacidade financeira do estado. O sistema tributário não corrige, agrava o problema. Ainda tem todo o valor que vai para paraísos fiscais. Esses especuladores não só não investem, como deixam o dinheiro parasitar”, critica. 

Por fim, para fugir de um binarismo que em nada contribui com o debate, Dowbor descarta qualquer possibilidade de um debate radicalizado e polarizado. “Nós somos muito grandes e complexos para ficarmos em um esquemão ideológico estatal ou privado. Precisamos pensar de maneira diversificada”, sugere e finaliza. 

Ladislau Dowbor

Ladislau Dowbor no IHU

Ladislau Dowbor é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP e da Universidade Metodista de São Paulo – Umesp. Além disso, é consultor de diversas agências das Nações Unidas.

Fonte:  IHU - ADITAL


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

“Arrisca teus passos...” – Comentário de Ana Maria Casarotti. Interessante!


Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. 
O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e que ceifo onde não semeei? Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’.” (Mt 25, 24-27)


Hoje, para quem estiver interessado em entender melhor o texto bíblico Mt 25, 14-30 (Parábola dos Talentos), trago para o blog Indagações-Zapytania duas reflexões.

A primeira é do padre e teólogo José Antonio Pagola, que já foi publicada neste espaço no ano 2014 e pode ser acessada no link: Busca criativa

E a outra, muito interessante, segue agaixo. É o comentário de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado, publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler e refletir!
WCejnóg

IHU – ADITAL
17 Novembro 2017.


Leitura do Evangelho segundo Mateus Mt 25,13. (Correspondente ao 32° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).

O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo
Ressuscitado.

Arrisca teus passos...

Hoje continua a leitura do capítulo 25 do Evangelho de Mateus, que começou no domingo passado com a parábola das dez virgens, cinco precavidas e outras cinco insensatas. Nos últimos domingos do Ano Litúrgico, antes do Advento, os textos Evangélicos nos apresentam diferentes atitudes para aguardar a vinda do Filho de Deus. Hoje lemos a parábola do empresário que sai ao estrangeiro e distribui seus talentos, em abundância, a três empregados.

O homem entrega uma fortuna considerável, se temos em conta que cada talento, nessa época, equivalia a aproximadamente 26 quilogramas de prata. O proprietário entrega a cada um uma quantidade diferente. Ele confia a seus empregados as quantias que, a seu juízo, podem administrar. Ao seu retorno, recebe a produção que cada um realizou com os bens recebidos.

Somos portadores de diferentes tipos de bens que nos foram confiados para que administremos. Não importa a quantidade, mas a importância que tem para cada pessoa é o valor daquilo que recebemos. Temos consciência disso?

E agora também podemos perguntar qual é nossa atitude diante deste bem recebido? Pode significar algo muito apreciado, e daí seu valor, para a pessoa que deposita em nós sua riqueza, aquilo que é considerado um bem pessoal, que nos confia uma situação determinada.

E Deus foi o primeiro a depositar sua confiança em nós, sem limites. Ele nos confiou toda sua criação para que nós a cuidemos e distribuamos de forma equitativa entre todas as pessoas. Ela é nossa casa comum e assim deve ser preservada e considerada.

Na Encíclica Laudato Si: cuidado da Casa Comum (maio de 2015), o Papa Francisco relê as narrações da Bíblia e articula a “tremenda responsabilidade” (90) do ser humano diante da criação, o elo íntimo entre todas as criaturas e o fato de que “o meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos” (95). Nela, apresenta a necessidade de enfrentar vários aspectos da atual crise ecológica, (15) como nas mudanças climáticas, que “são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade” (25). Porque se “o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos” (23), Deus confiou sua criação à nossa responsabilidade pessoal e social para que seja equitativo para todas as pessoas que moram nesta terra.

E, junto com esta riqueza, fomos marcados com a grandeza do seu amor. Ele nos confia seu tesouro, como disse Paulo, de sermos seus filhos e filhas amados. Como disse Paulo aos Coríntios, “Pois o Deus que disse: ‘Do meio das trevas brilhe a luz’!, foi ele mesmo que reluziu em nossos corações para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo. Todavia, esse tesouro nós o levamos em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e não é propriedade nossa” (2Cor 4, 6-7).

O fato de confiar a uns mais e a outros menos talentos não significa amar a uns mais que a outros: uma parábola deve ser considerada não em suas particularidades, mas como um todo e dentro do contexto geral do Evangelho.

A diversa quantidade de talentos distribuídos sublinha a ideia de que somos diferentes, devendo, por isso mesmo, complementar-nos, como bem nos ensina Paulo a respeito da diversidade dos dons e dos carismas (cf 1 Cor 12).

Na parábola, o problema se apresenta com a diversa atitude diante dos talentos recebidos. O primeiro apresenta-se diante do administrador com o dobro do que foi recebido. E o segundo empregado também. Mas o terceiro tem uma atitude totalmente diferente: “Senhor, eu sei que tu és um homem severo, pois colhes onde não plantaste, e recolhes onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence”.

Ele acha que conhece seu senhor e por isso ficou com medo e escondeu o talento. Ele fica dominado pelo medo, considerando que está fazendo o correto. Não se anima aarriscar à procura de outra coisa, acha melhor enterrar o talento, aquilo que lhe foi confiado e o devolve aparentemente intacto, mas ele não fez nada!

O medo de arriscar paralisou-o, levando-o a ocultar numa cova o talento recebido. Ele escolheu a segurança do mais fácil, tentando convencer-se de que era o melhor, e para isso muda a ideia do seu senhor e apresenta-o como uma pessoa que é muito exigente e, além disso, que “colhe onde não semeou”. Quase uma pessoa injusta, digna de se ter medo. Ele não ama, porque amar é comprometer-se, tentar, expor-se, estar disposto a dar a vida, não omitir-se!

Ele tem medo de ser livre e ter que tomar as decisões próprias de uma pessoa livre, ele enterra seu talento como enterra os dons recebidos e omite a confiança que lhe é depositada. Escolhe a comodidade que lhe traz segurança aparente, mas que não frutifica em nada.

Nesta parábola Jesus nos ensina uma vez mais a não ficar numa atitude cautelosa, medida, seja no plano religioso, social, político ou econômico.

Também me é dirigido o convite a dispor livremente de minha vida a serviço de Deus e do próximo. Qual é a minha resposta?




terça-feira, 14 de novembro de 2017

“O mundo mantido pelos pobres.” – Reportagem do jornalista italiano Furio Colombo. Muito atual e esclarecedora!



Acho muito atual e interessante a reportagem “O mundo mantido pelos pobres”, do italiano Furio Colombo, que analisa com olhar crítico a situação econômica, política e social no sentido global, hoje praticamente subjugada e controlada pelos interesses dos grandes ‘donos’ do mundo, isto é, dos donos do mercado econômico mundial.  A reportagem, na verdade, apenas explicita a realidade que é um fato conhecido por todos, mas da qual não se fala e não se denuncia com a devida urgência, pois seria ‘politicamente incorreto’ – obviamente, de acordo com o desejo desses ‘donos’ do mundo. O fato é que sempre são os mais pobres que pagam mais. Do bolo cada vez maior, que eles produzem, sobra uma fatia cada vez menor para ser dividida por eles, que são cada vez mais numerosos. A globalização, inclusive, serve, de fato, muito bem para esses poucos ‘ricos’, em detrimento das masas exploradas.

A reportagem foi publicada por Il Tatto Cotidiano, na Itália, e posteriormente também no site do Instituto humanitas Unisinos (IHU).
Vale  a pena ler!

WCejnóg

IHU - ADITAL
13 Novembro 2017.

O mundo mantido pelos pobres

Os imensos montantes de riquezas enormes colocadas em segurança nos "paraísos fiscais" com uma ampla cooperação técnica, política, econômica, daqueles que consideramos líderes ou classe dominante, são a prova de que o mundo é sustentado pelos pobres.
Aparentemente, os sistemas de tributação são mais pesados para alguns e mais leves para outros de acordo com a proporção da renda. Porém, a realidade é exatamente o contrário. Nas médias, pequenas e modestas remunerações do trabalho a taxação é um peso social, é um rombo na luta para sobreviver, que se torna mais insuportável para os trabalhadores mais pobres. Mas um sistema inexorável de controle não deixa saída para todo o universo do trabalho subordinado.

A reportagem é de Furio Colombo, jornalista, escritor e político italiano, em artigo publicado por Il Fatto Cotidiano, 12-11-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Reportagem

As Forças Armadas, escolas, hospitais e estradas são financiados pela porção pobre do mundo, cada um com o pouco de dinheiro que seria necessário para chegar ao fim do mês, ou com a metade de um salário que permitiria um modesto conforto.

Fora desses limites, começa o truque da tributação da riqueza, seja esta de empresas, de trocas ou de renda, que dispõe de numerosos e criativos ‘paradouros’ onde podem aguardar enquanto são estudadas rotas de fuga, dispondo de tempo e liberdade que jamais seriam concedidos à renda do trabalho. Eles nos explicaram a estratégia.

Uma atitude benevolente e relativamente tolerante em relação ao capital, incentiva uma parte dos grandes pagamentos que, de outra forma, poderiam nunca vir a acontecer. Nessa fase (que parece a batalha final de defesa da riqueza, mas, ao contrário, diz respeito a uma série de expedientes para manter ocupada e dividir a política até que quase todos, exceto alguns fora do jogo, sejam convencidos de que, com jeito, algo sempre se obtém, e que algo é melhor do que nada) alteram-se os papéis dos protagonistas do cenário social.

Os trabalhadores tornam-se reféns. "Sentimos muito, mas teremos que fechar e demitir todos se não aceitarem as nossas exigências". Ou também: "É necessário um corte de uma parcela do pessoal, caso contrário, não poderemos reequilibrar a empresa e não teremos condições de manter os pagamentos". Fala-se de impostos e, portanto, os governos ficam alerta. Acontece que os ministros do trabalho participam (às vezes junto com os sindicatos) na preparação das listas de reféns a serem oferecidos, alguns milhares de vítimas para o bem de todos, um ritual de sacrifício que se repete infinitas vezes. Os políticos se tornam cobradores de impostos. E precisam ser cobradores de impostos implacáveis com o trabalho, do qual deve ser exigido até o último centavo, e adicionam as taxas escondidas dos programas de governo e dos aumentos repentinos das tarifas (eletricidade, transporte), mas são respeitosos com as empresas, caso contrário colecionariam dados e avaliações econômicas que não favoreceriam as reeleições.

Alguns intelectuais (especialistas em sociologia e no trabalho) assumem espontaneamente o papel daqueles prisioneiros que agiam como comediantes nos campos de extermínio: explicam-te que chegou a vez dos robôs e não há mais necessidade de trabalhadores. Contam que você precisa aprender o benéfico tempo livre, e que isso não é tão ruim. Sugerem um slogan popular em tempos completamente diferentes: "Trabalhar menos, para ter trabalho para todos".

Os economistas fazem vista grossa e, quando podem, nem levantam os olhos para ver onde se escondem as grandes riquezas. São médicos militares que se prestam a declarar "aptos ao serviço" homens e mulheres por compensações cada vez menores. Enquanto isso, chegam os números da riqueza transferida para algum lugar que não faz mais parte do que chamamos de "Estados" ou de "a sociedade".

Eles nos contam que evaporou 10 por cento, 20 por cento, 30 por cento do PIB mundial. Você obrigatoriamente precisa tirar algumas consequências. A primeira é que se trata, na realidade, de valores muito mais elevados, porque se esse sistema de separação dos mundos funciona, não é razoável pensar que exista alguma continência e propensão para dizer "agora basta." Subtrair tudo parece um projeto possível.

A segunda consequência é que todas as contas do mundo são falsas e que agora se explica, de forma antiquada, quase como um conto de fadas, a frase que precede tantos sacrifícios: "Acabou o dinheiro" ou "antes era possível, hoje não mais".

A terceira consequência é que, depois de tamanho roubo, não corrigível e nem punível, a não ser com graves juízos morais, não é mais possível continuar a política como antes. E os economistas devem parar de ignorar o tremendo rabisco que muda o sentido dos seus tratados. Tudo, em condições extremamente difíceis, deve recomeçar desde o início. Deduzindo as enormes perdas, mas deixando de colocá-las a cargo dos pobres.

Fonte: IHU - ADITAL


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Acender uma fé gasta. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


 Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.” (Mt 25,13)

Abaixo, uma curta reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 25, 1-13  (a parábola das dez virgens), do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
WCejnóg


IHU – ADITAL
10 Novembro 2017.

Acender uma fé gasta.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 25,1-13, que corresponde ao 32° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

A primeira geração cristã viveu convencida de que Jesus, o Senhor ressuscitado, voltaria brevemente cheio de vida. Não foi assim. Pouco a pouco, os seguidores de Jesus tiveram que se preparar para uma longa espera.

Não é difícil imaginar as perguntas que foram despertadas entre eles. Como manter vivo o espírito do início? Como viver despertos enquanto chega o Senhor? Como alimentar a fé sem deixar que se apague? Um relato de Jesus sobre o sucedido num casamento ajudava a pensar na resposta.

Dez jovens, amigas da noiva, acenderam as suas lâmpadas e prepararam-se para receber o esposo. Quando, ao cair o sol, chegar o noivo para tomar consigo a esposa, acompanharão ambos no cortejo que os levará até a casa do esposo, onde se celebrará o banquete nupcial.

Há um pormenor que o narrador quer destacar desde o início. Entre as jovens há cinco “sensatas” e prevenidas que tomam consigo azeite para alimentar as suas lâmpadas à medida que se vai consumindo a chama. As outras cinco são umas “néscias” e descuidadas que se esquecem de levar o azeite, correndo o risco de que se lhes apaguem as lâmpadas.

Rapidamente descobrirão o seu erro. O esposo atrasa-se e não chega até a meia-noite. Quando se ouve a chamada a recebê-lo, as sensatas alimentam com o seu azeite a chama das suas lâmpadas e acompanham o esposo até entrar com ele na festa. As néscias não fazem mais do que se lamentar: “Que se nos apagam as lâmpadas”. Ocupadas em adquirir azeite, chegam ao banquete quando a porta está fechada. Demasiado tarde.

Muitos comentadores procuram encontrar um significado secreto para o símbolo do azeite. Está Jesus a falar do fervor espiritual, do amor, da graça batismal...? Talvez seja mais simples recordar o seu grande desejo: “Eu vim trazer o fogo à terra, que desejo eu senão que se acenda?”. Há algo que possa acender mais a nossa fé que o contato vivo com Jesus?

Não é uma insensatez pretender conservar uma fé gasta sem reavivá-la com o fogo de Jesus? Não é uma contradição considerarmo-nos cristãos sem conhecer o Seu projeto, nem nos sentirmos atraídos pelo seu estilo de vida?

Necessitamos urgentemente de uma nova qualidade na nossa relação com Ele. Cuidar de tudo o que nos ajude a centrar a nossa vida na Sua pessoa. Não consumir energia no que nos distrai ou desvia do Seu Evangelho. Acender cada domingo a nossa fé, refletindo nas Suas palavras e comungando vitalmente com Ele. Ninguém pode transformar as nossas comunidades como Jesus.