Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 30 de dezembro de 2017

“Reconhecer Jesus nos pobres”. – Comentário de Ana Maria Casarotti. Excelente!


O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”.(Lc 2, 33-35)

Festa da Sagrada Família

Hoje, para quem estiver interessado em entender melhor o texto bíblico Lucas 2, 22-40 (Apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém), trago para o blog Indagações-Zapytania o  comentário de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O texto foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos.

Vale a pena ler e refletir!

WCejnóg 

IHU –ADITAL
29 Dezembro 2017.

Evangelho segundo Lucas 2,22–40. (Correspondente à Festa da Sagrada Família, ciclo B do Ano Litúrgico).

O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.


Reconhecer Jesus nos pobres

Hoje a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família. O Evangelho de Lucas nos descreve um momento muito importante para a vida de Jesus e para Maria e José. Jesus é levado no Templo de Jerusalém para ser consagrado ao Senhor conforme está escrito na Lei de Moisés: «Todo primogênito de sexo masculino será consagrado ao Senhor».

Pela circuncisão o homem israelita era incorporado ao povo da Aliança e a partir desse momento pertencia ao Senhor como todo primogênito.

O texto de hoje pertence às narrativas da infância de Jesus. Neste rito da circuncisão, Jesus era aceito pelo seu pai como filho e ao mesmo tempo é acolhido na comunidade da Aliança. O menino torna-se para sempre membro do povo da aliança. E recebe o nome de Jesus, Jeshúa, “Javé salva”.

Nessa época era um nome muito comum, e por isso Jesus às vezes era conhecido como Jeshua bar Josef, “Jesus, o filho de José”, e em outras partes como Jeshúa há-notsrí, “Jesus, o de Nazaré”.

O lugar de procedência de uma pessoa era muito importante assim como sua família. Era uma forma de conhecer muito sobre essa pessoa. Assim acontecia com Jesus. Hoje, nos evangelhos, muitas vezes conhecemos o lugar de procedência e não se conhece o nome. Sabemos do cego que estava sentado à beira do caminho quando Jesus ia a caminho de Jericó. Escutando seus gritos é chamado e curado por Jesus (Lc 18) e assim, no seu caminhar, aparecem outros encontros que geram vida na pessoa.

Voltando ao texto, aparecem “os pais” Maria e José, que levam Jesus ao Templo. A pessoa de José aparece pouco nos evangelhos, e Mateus descreve um pouco mais sobre ele, a dificuldade em aceitar a incorporação de Jesus na sua vida, mas sua obediência total àquilo que lhe era dito em sonhos: aceitar Maria grávida era aceitar o projeto de Deus de uma forma diferente. Da mesma forma, quando lhe é dito, vai para o Egito e volta no momento que também lhe é anunciado num sonho. José era um homem justo e forma uma família onde a presença de Deus se manifesta de forma imprevisível. E ele aceita caminhar por este sendeiro.

Jesus nasce, assim, numa família judia e vive como um judeu. Sua família é pobre como tantas famílias dessa época que viviam submetidas ao poder religioso e ao pagamento que era necessário realizar ao poder romano. O texto nos descreve que a oferta que eles fazem no Templo: “um par de rolas ou dois pombinhos”, manifesta sua condição social.

Por isso o coração da família de Jesus é um exemplo para todos nós, seus seguidores. O coração dessa família tinha o mais essencial, que é o amor. Nas atitudes de sua mãe e de seu pai, José, já desde o início aparece o Sim ao amor de Deus.

Como disse Francisco: “A família é o ‘sim do Deus amor”. E acrescenta: “sem amor não se pode viver como filhos de Deus, como cônjuges, pais e irmãos”. E o que significa viver no amor? “Significa concretamente doar-se, perdoar-se, não perder a paciência, antecipar-se ao outro, respeitar-se. Como melhoraria a vida familiar se todos os dias se vivessem as três simples palavras ‘licença’, ‘obrigado’, ‘desculpa’!” (Texto completo:“Sonho com uma Igreja em saída, não autorreferente, que não passe longe das feridas do homem”, escreve Francisco).

Na narrativa evangélica aparece um homem, justo e piedoso, chamado Simeão que esperava a consolação de Israel. “Movido pelo Espírito, Simeão foi ao Templo. Quando os pais levaram o menino Jesus, para cumprirem as prescrições da Lei a respeito dele, Simeão tomou o menino nos braços, e louvou a Deus”, reconhecendo no menino o Messias como tinha sido prometido para ele pelo Espírito. Reconhece que será luz das nações e para todo o povo de Israel. Simeão abençoa os pais, que lhe escutavam maravilhados.

Apresenta-se também uma mulher idosa, profetisa, viúva e servia continuamente no Templo. Reconhece o menino e o proclama a “todos os que esperavam a libertação de Israel”.

Duas pessoas que ao longo de sua vida aguardavam o Messias tinham uma fervorosa esperança e por isso souberam reconhecê-lo.
Durante o tempo de Advento estamos nos preparando para este momento da presença de Jesus diante de nós. Celebramos o Natal, seu nascimento num presépio, porque não tinham outro lugar. E assim nasce o Filho de Deus, escolhendo ficar entre os mais pobres, marginalizado da sociedade.

Como reconhecemos hoje seu nascimento na nossa sociedade? Que características brotam desta Família que escuta sem entender, mas com fé, as palavras ditas sobre a criança?

Podemos olhar tantos seres humanos, tantas famílias que vivem hoje em condições pobres e miseráveis. Pensemos naqueles que estão nos campos de refugiados, em todos esses grupos que tiveram que deixar tudo o que tinham à procura de um pouco de paz e vida, mas ainda ficam nesse espaço restrito porque nos países “não há lugar para cada um deles”.

Sabemos reconhecer neles a presença do Salvador? Temos os sentidos e a esperança aberta para esse reconhecimento?



sábado, 23 de dezembro de 2017

Numa manjedoura. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!



“Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto servirá de sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura.” (Lc 2, 11-12)

Natal

Abaixo, uma pequena reflexão muito concreta, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 2, 1-14 (Nascimento do menino Jesus). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola e foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnog


IHU – ADITAL
22 de Dezembro 2017.

Numa manjedoura.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 2,1-14, que corresponde a Festa do Natal, ciclo B do Ano Litúrgico.O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Segundo o relato de Lucas, é a mensagem do anjo aos pastores que nos oferece a chave para ler a partir da fé o mistério que rodeia um menino nascido em estranhas circunstâncias nos arredores de Belém.

É de noite. Uma claridade desconhecida ilumina as trevas que cobrem Belém. A luz não desce sobre o lugar onde se encontra o menino, mas envolve os pastores que escutam a mensagem. O menino fica oculto na obscuridade, num lugar desconhecido. É necessário fazer um esforço para descobri-lo.

Estas são as primeiras palavras que temos de escutar: «Não temais. Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo». É algo muito grande o que sucedeu. Tudo é motivo para nos alegrarmos.  Esse menino não é de Maria e José. Nasceu para todos nós. Não é só de uns privilegiados. É para toda a gente.

O cristão não tem de monopolizar estas festas. Jesus é de quem o segue com fé e de quem o esqueceu, de quem confia em Deus e dos que duvidam de tudo. Ninguém está só frente aos seus medos. Ninguém está só na sua solidão. Há Alguém que pensa em nós.

Assim o proclama o mensageiro: «Nasceu hoje o Salvador: o Messias, o Senhor». Não é o filho do imperador Augusto, dominador do mundo, celebrado como salvador e portador da paz graças ao poder das suas legiões. O nascimento de um poderoso não é uma boa nova num mundo onde os débeis são vítimas de toda a classe de abusos.

Este menino nasce num povoado submetido ao Império. Não tem cidadania romana. Ninguém espera em Roma o Seu nascimento. Mas é o Salvador que necessitamos. Não estará a serviço de nenhum César.  Não trabalhará para nenhum império. É o Filho de Deus que se faz homem. Só procurará o reino do Seu Pai e a Sua justiça. Viverá para tornar a vida mais humana. Nele, encontrará este mundo injusto a salvação de Deus.

Onde está este menino? Como o podemos reconhecer? Assim diz o mensageiro: «Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado num casebre». O menino nasceu como um excluído. Os Seus pais não Lhe puderam encontrar um lugar acolhedor.  A Sua mãe deu à luz sem a ajuda de ninguém. Ela mesma fez o que pôde para envolvê-lo em panos e deitá-lo numa manjedoura.


Neste casebre começa Deus a Sua aventura entre os homens. Não o encontraremos entre os poderosos, mas entre os débeis. Não está no grande e espetacular, mas no pobre e pequeno. Vamos a Belém; voltemos às raízes da nossa fé. Procuremos Deus onde encarnou.



sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Com alegria e confiança. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito boa!


 Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.” (Lc 1, 30-33)

Abaixo, uma excelente reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 1, 26-38  (Maria responde ao anjo Gabriel: ’Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra’), do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
WCejnóg



IHU – ADITAL
21 Dezembro 2017.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 1, 26-38, que corresponde ao Quarto Domingo do Advento, ciclo B do Ano Litúrgico.O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

O Concílio Vaticano II apresenta Maria, Mãe de Jesus Cristo, como «protótipo e modelo para a Igreja», e descreve-a como mulher humilde que escuta Deus com confiança e alegria. Desde essa mesma atitude temos de escutar a Deus na Igreja atual.

«Alegra-te». É o primeiro que Maria escuta de Deus e o primeiro que temos de escutar também hoje. Entre nós falta alegria. Com frequência nos deixamos contagiar pela tristeza de uma Igreja envelhecida e gasta. Já não é Jesus a Boa Nova? Não sentimos a alegria de ser seus seguidores? Quando falta a alegria, a fé perde frescor, a cordialidade desaparece, a amizade entre os crentes esfria-se. Tudo se torna mais difícil. É urgente despertar a alegria nas nossas comunidades e recuperar a paz que Jesus nos deixou em herança.

«O Senhor está contigo». Não é fácil a alegria na Igreja dos nossos dias. Só pode nascer da confiança em Deus. Não estamos órfãos. Vivemos invocando cada dia a um Deus Pai que nos acompanha, nos defende e procura sempre o bem de todo o ser humano. Deus está também com nós.

Esta Igreja, por vezes tão desconcertada e perdida, que não acerta em regressar ao Evangelho, não está só. Jesus, o Bom Pastor, procura-nos. O seu Espírito atrai-nos. Contamos com o seu alento e compreensão. Jesus não nos abandonou. Com Ele tudo é possível.
«Não temas». São muitos os medos que nos paralisam aos seguidores de Jesus. Medo ao mundo moderno e a uma sociedade descrente. Medo a um futuro incerto. Medo à conversão ao Evangelho. O medo está a fazer-nos muito mal. Impede-nos de caminhar para o futuro com esperança. Fecha-nos no conservar estéril do passado. Crescem os nossos fantasmas. Desaparece o realismo são e a sensatez evangélica.

É urgente construir uma Igreja da confiança. A fortaleza de Deus não se revela numa Igreja poderosa, mas sim humilde. Também nas nossas comunidades temos de escutar as palavras que escuta Maria: «Não temas».

«Darás à luz um filho, e darás o nome de Jesus». Também a nós, como a Maria, se nos confia uma missão: contribuir a colocar luz no meio da noite. Não estamos chamados a julgar o mundo, mas sim a semear esperança. A nossa tarefa não é apagar a mecha que se extingue, mas acender a fé que, em não poucos, está a querer brotar: temos de ajudar os homens e mulheres de hoje a descobrir Jesus.

A partir das nossas comunidades, cada vez mais pequenas e humildes, podemos ser levedura de um mundo mais são e fraterno. Estamos em boas mãos. Deus não está em crise. Somos nós os que não nos atrevemos a seguir Jesus com alegria e confiança. Maria há de ser o nosso modelo.




sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Abrir-nos a Deus. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!



João respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. (Jo 1, 23) 

Hoje, uma excelente reflexão, muito atual e importante. Como pano de fundo  tem o texto bíblico Jo 1, 6-8, 19-28  (O testemunho de João Batista a respeito do Cristo). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e meditar sobre esse assunto.
WCejnóg
  

IHU – ADITAL
15 Dezembro 2017.

Abrir-nos a Deus

 A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João, capítulo 1, 6-8.19-28, que corresponde ao Terceiro Domingo do Advento, ciclo B do Ano Litúrgico.O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

A fé converteu-se para muitos numa experiência problemática.
Não sabem exatamente o que lhes aconteceu nestes anos, mas uma coisa é clara: já não voltarão a acreditar no que acreditavam em criança. De tudo aquilo só ficam algumas crenças de perfil bastante confuso. Cada um foi construindo o seu próprio mundo interior, sem poder evitar muitas vezes graves incertezas e interrogações.

A maioria destas pessoas faz o seu «percurso religioso» de forma solitária e quase secreta. Com quem irão falar destas coisas? Não há guias nem pontos de referência. Cada um atua como pode nestas questões que afetam o mais profundo do ser humano. Muitos não sabem se o que lhes acontece é normal ou inquietante.

Os estudos do professor de Atlanta James Fowler sobre o desenvolvimento da fé podem ajudar não poucos a entender melhor o seu próprio percurso. Ao mesmo tempo lançam luz sobre as etapas que a pessoa há de seguir para estruturar o seu «universo de sentido».

Nos primeiros estágios da vida, a criança vai assumindo sem refletir as crenças e valores que se lhe propõem. A sua fé não é, todavia, uma decisão pessoal. A criança vai estabelecendo o que é verdadeiro ou falso, bom ou mau, a partir do que lhe ensinam desde fora.

Mais adiante, o indivíduo aceita as crenças, práticas e doutrinas de forma mais refletida, mas sempre tal como estão definidas pelo grupo, a tradição ou as autoridades religiosas. Não se lhe ocorre duvidar seriamente de nada. Tudo é digno de fé, tudo é seguro.

A crise chega mais tarde. O indivíduo toma consciência de que a fé há de ser livre e pessoal. Já não se sente obrigado a acreditar de modo tão incondicional no que ensina a Igreja. Pouco a pouco começa a relativizar certas coisas e a selecionar outras. O seu mundo religioso modifica-se e até se quebra. Nem tudo responde a um desejo de autenticidade maior. Em nós também estão a frivolidade e as incoerências.

Tudo pode ficar aí. Mas o indivíduo pode também continuar a aprofundar o seu universo interior. Se se abre sinceramente a Deus e  O  procura no mais profundo do seu ser, pode brotar uma fé nova. O amor de Deus, acreditado e acolhido com humildade, dá um sentido mais profundo a tudo. A pessoa conhece uma coerência interior mais harmoniosa. As dúvidas não são um obstáculo. O indivíduo intui agora o valor último que contém práticas e símbolos antes criticados. Desperta de novo a comunicação com Deus. A pessoa vive em comunicação com todo o bom que há no mundo e sente-se chamada a amar e a proteger a vida.

O decisivo é sempre fazer em nós um lugar real à experiência de Deus. Daí a importância de escutar a chamada do profeta: «Preparai o caminho do Senhor». Este caminho, temos de abri-lo no íntimo do nosso coração.




sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Com Jesus começa algo bom. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!


Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.” 
(Mc, 1,1)

Hoje, uma excelente reflexão, muito atual e importante. Como pano de fundo  tem o texto bíblico Mc 1, 1-8  (Primeiras frases do Evangelho segundo Marcos). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e meditar sobre esse assunto.
WCejnóg

IHU – ADITAL
08 Dezembro 2017.
Com Jesus começa algo bom

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos, capítulo 1,1-8, que corresponde ao Segundo Domingo do Advento, ciclo B do Ano Litúrgico.O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Ao longo deste novo ano litúrgico, o cristão irá lendo aos domingos o evangelho de Marcos. O Seu pequeno escrito começa com este título: «Início da Boa Nova de Jesus, o Messias, Filho de Deus». Estas palavras permitem-nos evocar algo do que encontraremos no seu relato.

Com Jesus «começa algo de novo». É o que em primeiro lugar quer deixar claro Marcos. Todo o anterior pertence ao passado. Jesus é o começo de algo novo e inconfundível. No relato, Jesus dirá que «o tempo cumpriu-se». Com Ele chega a Boa Nova de Deus.

Isto é o que experimentam os primeiros cristãos. Quem se encontra vitalmente com Jesus e penetra um pouco no Seu Mistério sabe que com Ele começa uma vida nova, algo que nunca se tinha experimentado anteriormente.

Em Jesus encontram uma «Boa Nova». Algo novo e bom. A palavra «evangelho» que utiliza Marcos é muito frequente entre os primeiros discípulos de Jesus e expressa o que sentem ao encontrar-se com Ele. Uma sensação de libertação, alegria, segurança e eliminação de medos. Em Jesus encontram-se com «a salvação de Deus».

Quando alguém descobre em Jesus o Deus amigo do ser humano, o Pai de todos os povos, o defensor dos últimos, a esperança dos perdidos, sabe que não encontrará uma notícia melhor. Quando conhece o projeto de Jesus de trabalhar por um mundo mais humano, digno e feliz, sabe que não poderá dedicar-se a nada maior.

Esta Boa Nova é Jesus mesmo, o protagonista do relato que vai escrever Marcos. Por isso a sua intenção primeira não é oferecer-nos doutrina sobre Jesus, nem contribuir com informação biográfica sobre Ele, mas, sim, seduzir-nos para que nos abramos à Boa Nova que só poderíamos encontrar Nele. Marcos atribui a Jesus dois títulos: um tipicamente judeu; o outro, mais universal. No entanto, reserva aos leitores algumas surpresas. Jesus é o «Messias» a quem os judeus esperavam como libertador do Seu povo. Mas um Messias muito diferente do líder guerreiro que muitos desejavam para destruir os romanos. No seu relato, Jesus é descrito como enviado por Deus para humanizar a vida e encaminhar a história para a sua salvação definitiva. É a primeira surpresa.

Jesus é «Filho de Deus», mas não dotado do poder e a glória que alguns poderiam ter imaginado. Um Filho de Deus profundamente humano, tão humano que só Deus pode ser assim. Só quando termine a Sua vida de serviço a todos, executado numa cruz, um centurião romano confessará: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus». É a segunda surpresa.



terça-feira, 5 de dezembro de 2017

"Ser jovem, hoje. O tesouro divino que não é tanto." - Entrevista com Pablo Vommaro. Interessante!




Hoje  trago para o blog Indagacoes-Zapytania uma entrevista muito  interessante, realizada por Pablo Esteban com o pesquisador argentino Pablo Vommaro.
É mais uma matéria que aborda a questão da juventude nos tempos atuais e, principalmente, a relação entre as gerações mais velhas  e a geração dos  seus filhos. 
As colocações do entrevistado  são interessantes e podem servir como base e, ao mesmo tempo,  como convite para quem estiver interessado  para fazer uma reflexão necessária e serena sobre esse assunto.
A entrevista foi publicada em Novembro (2017)  por Página/12 e também, posteriormente, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg

 

IHU - ADITAL
01 Dezembro 2017.

Ser jovem, hoje. O tesouro divino que não é tanto

"Hoje, os filhos já não buscam mais parecer-se com seus pais; são os pais que buscam parecer-se a seus filhos", diz o especialista, que também aponta como, cada vez mais, o olhar sobre os jovens é influenciado pelo olhar da classe.”
A entrevista é de Pablo Esteban, publicada por Página/12, 29-11-2017. Traduzido por Henrique Denis Lucas.

Antes os jovens queriam crescer para ser como seus pais, mas na atualidade são os pais que procuram imitar seus filhos, desafiados por consumos culturais que os impelem a ter penteados da moda, a vestirem os últimos jeans, gerenciar redes sociais e mostrarem-se alegres, proativos e flexíveis. Em paralelo, os jovens são rotulados pelos relatos midiáticos e localizados em um limbo que oscila entre discursos glorificadores - porque "é bom ser jovem" - e estigmatizantes - porque, também, não devemos esquecer que "a juventude está perdida" -, diz o pesquisador Pablo Vommaro. "Ser jovem hoje não pode ser separado de um processo que começou nos anos 1970 e foi chamado de 'juvenilização da sociedade'", afirma o doutor em Ciências Sociais (UBA), coordenador do Programa de Grupos de Trabalho do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) e pesquisador associado do CONICET, no Instituto Gino Germani.

Eis a entrevista.

 O que essa mudança de pensamento implica?

Implica na difusão e no derramamento de um conjunto de atributos e valores que poderiam ser caracterizados como "juvenis" em direção ao tecido social em seu conjunto. Características como "dinâmico", "proativo", "flexível" e "alegre" - aparentemente, virtudes que estão associadas aos jovens -, na atualidade, são requisitos importantíssimos que são levados em consideração em qualquer trabalho, além da faixa etária. Isto corresponde à uma realidade, já que a força de trabalho é composta por um número de jovens bem maior do que ocorria trinta anos atrás. Também está relacionada aos consumos culturais: hoje os pais querem parecer-se mais com seus filhos do que o inverso. Eles querem imitar seus penteados, querem sair para dançar e vestirem-se como eles para parecerem mais jovens. Há três ou quatro décadas acontecia o contrário, tanto que existiam ritos de passagem para a idade adulta, como o uso de calças compridas, sentar-se à mesa "com os adultos", ter novos direitos e obrigações.

Inclusive, é possível observar isso nas publicidades.

Há algum tempo havia um convite para que fossem consumidos determinados produtos e serviços, porque dessa forma uma pessoa obteria a experiência para "ter sua vida assentada". Hoje, até mesmo Max Berliner sai para correr, como se o desejável fosse que um senhor de 90 anos fizesse exercício, todas as manhãs. Os padrões de consumo dizem muito acerca das dinâmicas sociais. Existe uma falsa idealização da juventude e uma associação direta do novo com o jovem. Ao mesmo tempo, há um discurso que parece bem intencionado, mas que na verdade pretende congelar a juventude.

Após uma valorização aparentemente positiva de que eles são o futuro, subjaz a ideia de que a juventude é um momento de espera, suspensão, parênteses e limbo: "quando chegar a sua hora, eles serão protagonistas, mas agora não"; "Eles são o amanhã, mas não são o presente".

O problema é que, quando o limbo é superado e finalmente chega o momento, deixa-se de ser jovem.

É o que alguns autores chamam de "juventude negativizada", já que se define a partir de atributos negativos: não são pais, não trabalham e não são cidadãos. Portanto, apesar do relato glorificador, também existe um olhar escrutinador e mórbido sobre os jovens. A outra face do garoto loiro que estuda, trabalha e está no Facebook todos os dias é a de um garoto espertalhão segregado. Ambos, de maneiras diferentes, são observados e estereotipados.

Na Argentina, o que quer dizer que "as políticas sobre a juventude são adulto-cêntricas"?

Além da visibilidade, o escrutínio público e a juvenilização da sociedade, as políticas públicas destinadas aos jovens ainda são desenvolvidas, implementadas e avaliadas por adultos. Na política estamos cheios de áreas da juventude, sem jovens, porque já é naturalizada a premissa que indica que os adultos falam e produzem os jovens à sua imagem e semelhança. É tecida, então, uma relação de assimetria e subalternização entre ambos os atores. Isso acontece na escola, mas também na política: os jovens são aqueles que colam cartazes e fazem pinturas, mas as decisões são tomadas por adultos.

E que resposta pode ser observada nos jovens? O que há de militância?


Para refletir acerca das relações entre juventude e militância, devemos superar a visão da política que é restrita unicamente à lógica partidária. Por isto, prefiro pensar na "politização" de práticas sociais, culturais, estéticas, comunicativas e afetivas. Neste sentido, se essas dimensões são incorporadas pode ser observada a existência de uma participação política juvenil muito importante, que reflete nas dinâmicas do conflito social e nas agendas públicas.

Fonte: IHU - ADITAL