Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 29 de março de 2018

Mistério de esperança. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!




Depois o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, também entrou. Ele viu e creu.” (Jo 20,8)

A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito concreta e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico  Jo 20,1-9  (Maria Madalena, Simão Pedro e João encontram o sepulcro vazio: não sabem que Jesus ressuscitou).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Muito bom. Não deixe de ler.
WCejnóg


IHU-ADITAL
29 Março 2018.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,1-9 que corresponde ao Domingo de Ressurreição ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Crer no Ressuscitado é resistirmos a aceitar que nossa vida é somente um pequeno parêntese entre dois grandes vazios. Apoiando-nos em Jesus Ressuscitado por Deus, intuímos, desejamos e cremos que Deus está conduzindo até a verdadeira plenitude o anseio de vida, de justiça e de paz que se encontra no coração da Humanidade e da criação inteira.

Crer no Ressuscitado é opor-nos com todas nossas forças a que essa imensa maioria de homens, mulheres e crianças que ao longo de sua vida tem conhecido somente a miséria, a humilhação e os sofrimentos, fiquem esquecidos para sempre.

Crer no Ressuscitado é confiar numa vida onde já não haverá pobreza nem dor, ninguém ficará triste e ninguém precisara chorar. Veremos assim aqueles que chegam a sua pátria verdadeira.

Crer no Ressuscitado é nos aproximar com esperança a tantas pessoas sem saúde, aos enfermos crônicos, aos deficientes físicos e psíquicos, às pessoas arrasadas pela depressão, que estão cansadas de viver e de lutar. Um dia elas conhecerão o que significa viver em paz e com saúde total. Escutarão as palavras do Pai que lhes disse: “Entra para sempre na alegria do teu Senhor”.

Crer no Ressuscitado é não nos resignar a que nosso Deus seja para sempre um “Deus oculto” de quem não é possível conhecer seu olhar, sua ternura e seus abraços. Nós o encontraremos encarnado para sempre com toda sua glória em Jesus.

Crer no Ressuscitado é confiar em que nossos esforços por um mundo mais humano e feliz não ficarão no vazio. Um dia bendito, os últimos serão os primeiros e as prostitutas nos precederão no Reino.

Crer no Ressuscitado é saber que tudo o que ficou pela metade, o que não aconteceu, aquilo que nós temos estragado pelo nosso pecado, tudo isso atingira em Deus a sua plenitude. Nada daquilo que temos vivido no amor ou daquilo que temos renunciado por amor ficará no esquecimento.

Crer no Ressuscitado é esperar que as horas alegres e as experiências tristes, as “pegadas” que temos deixado nas pessoas e nas coisas, o que temos construído ou desfrutado generosamente, fique transfigurado. Já não conheceremos a amizade que acaba nem a despedida que nos deixa tristes. Deus será tudo em todos.

Crer no Ressuscitado é acreditar que um dia escutaremos estas inacreditáveis palavras que o livro do Apocalipse coloca na boca de Deus: “Eu sou a origem e o fim de tudo... Àquele que tenha sede eu lhe darei grátis o manancial da água da vida”. Já não haverá morte nem pranto, nem gritos, nem fadigas, porque tudo isso terá passado.



sábado, 24 de março de 2018

”Francisco em seu quinto ano: goste ou não dele, temos um papa relevante”. – Artigo de John L. Allen Jr. Muito bom!


Hoje trago para o blog Indagações-Zapytania um artigo muito interessante  do jornalista americano John L. Allen Jr*. sobre o Papa Francisco, que acaba de completar cinco anos à frente da Igreja Católica. Como avaliar esse período? O que se fala sobre o Papa Francisco? Quais são as opiniões sobre ele? E, sobretudo, como é visto esse Papa pelos diversos setores da Igreja Católica? – eis algumas indagações analisadas no artigo.
O artigo foi publicado no dia 13 de Março deste ano (2018) por Crux, e também, posteriormente, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler na íntegra.

WCejnóg
 IHU
15 março 2018

Francisco em seu quinto ano: goste ou não dele, temos um papa relevante

"Embora todo papa seja extremamente relevante espiritual e teologicamente, Francisco é também surpreendentemente relevante na definição dos termos em debate dentro do catolicismo", escreve John L. Allen Jr., jornalista, em artigo publicado por Crux, 13-03-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Eis o artigo.

Tentar avaliar um papa, assim como um presidente, primeiro-ministro, premier, é em geral um caminho direito para a subjetividade. Se julgamos ou não que um papa está fazendo um bom trabalho depende, em primeiro lugar, do que acreditamos que um papa deve fazer – e aqui as opiniões sempre abundam.

No momento em que o Papa Francisco marca o aniversário de cinco anos desde a sua eleição em 13-03-2013, as opiniões sobre o seu papado podem parecer um teste de Rorschach, por vezes dizendo mais sobre o observador do que sobre o pontífice observado.

Se, por exemplo, formos do tipo de católico convencido de que, num mundo confuso e turbulento, a qualidade mais importante que um papa deve apresentar é uma clareza doutrinal e moral, então Francisco pode não ir tão bem na avaliação. No entanto, para um católico que acredita que a Igreja se tornou rígida e ossificada demais antes da eleição do atual papa, estando excessivamente centrada num cânone estreito de temas morais contenciosos, então podemos vê-lo como um grande pontífice.

Se resolver os escândalos de abuso sexual clerical for o único teste de um trabalho papal eficaz, Francisco receberá uma avaliação; se a ênfase estiver na adesão dele à visão do Concílio Vaticano II (1962-1965), então receberá uma outra nota; e assim por diante, quase indefinidamente.

Em meio a cosmovisões e pautas as mais diversas, há algo que podemos dizer sobre o histórico de Francisco após cinco anos e que seja verdadeiramente objetivo? Talvez isto: ame ou odeie este papa, ele é inegavelmente relevante.

Francisco é culturalmente relevante numa diversidade surpreendente de lugares, onde o seu estilo e o seu discurso não convencionais, combinados com uma mensagem de misericórdia, continuam a atrair a atenção e comentários. Mesmo quando desafiado e sob fogo, Francisco continua sendo um ímã para a imprensa.

Francisco é também politicamente relevante, com os governos ao redor do mundo seguindo as suas prioridades de perto, e políticos de todas as estirpes buscando explorar o seu carisma em benefício próprio: mesmo se nem sempre for politicamente decisivo, como ilustra o sucesso de um partido contrário a imigrantes nas eleições nacionais italianas no começo do mês.

Finalmente, Francisco é eclesiasticamente relevante. Isso pode parecer estranho quando afirmado a respeito de um papa, já que “relevância” parece ser tomado como óbvio. No entanto, embora todo papa seja extremamente relevante espiritual e teologicamente, Francisco é também surpreendentemente relevante na definição dos termos em debate dentro do catolicismo. Todo debate na Igreja, hoje, resume-se ao que alguém acha da liderança deste papa.

Essas avaliações não nos dizem automaticamente se Francisco está levando a Igreja para a direção certa, ou se está definindo as prioridades certas quanto ao engajamento com o mundo. Não indicam se o seu legado durará ou não, e também não determinam se um dia ele será lembrado como um santo – como o próprio pontífice recentemente previu de brincadeira, dizendo que ele e o Papa Emérito Bento XVI estão na “lista de espera” para uma eventual auréola.

Mesmo assim, o que estes índices de relevância sugerem é que, independentemente do que se julgue como certo ou errado neste papado, ele importa: importa para o mundo, importa para os líderes mundiais e importa para a Igreja que Francisco foi chamado a conduzir cinco anos atrás.

Relevância cultural

Nos EUA, o estudo mais recente do Centro de Pesquisas Pew (Pew Research Center) descobriu que 84% dos católicos americanos têm uma opinião favorável de Francisco, contra apenas 9% dos que o veem desfavoravelmente. É verdade: temos aqui um aumento significativo dos 4% auferidos em 2014 mas, ainda sim, o papa conta com um apoio esmagador entre as bases católicas americanas.

O citado estudo também sinalizou alguns pontos de desencanto, com uma parcela de americanos católicos que dizem que Francisco é “demasiado progressista” pulando 15 pontos percentuais entre 2015 e hoje, indo de 19% para 34%, e os que acreditam que ele é “ingênuo’ subiram de 15% para 24%, quase um quarto do número total.
Noutras partes do mundo onde a opinião pode ser cientificamente mensurada, o quadro é em geral o mesmo.

Uma pesquisa em nível mundial do  WIN/Gallup International envolvendo 64 países descobriu que Francisco desfrutava de uma aprovação de 60%, tornando-o o líder mais admirado no mundo, à frente do presidente russo Putin, da chanceler alemã Angela Merkel e do então presidente americano Barack Obama. Entre os católicos ao redor do mundo, Francisco tinha uma avaliação 85% favorável, marcadamente próximo do número que a mais recente pesquisa do Centro Pew encontrou nos EUA.

Vida Nueva, importante publicação católica espanhola, conduziu recentemente a sua própria pesquisa de opinião e descobriu que 8 em cada 10 espanhóis dizem que sairiam para tomar uma cerveja com o Papa Francisco, o que dá a entender que a maior parte da população gosta dele.

Uma outra medida da relevância do papa é a sua presença nas mídias sociais. As suas nove contas no Twitter têm, hoje, juntas 42.6 milhões de seguidores, com a versão em inglês um pouco à frente da espanhola, com 17 milhões e 16.3 milhões, respectivamente.

Quando o Vaticano lançou em março de 2016 a conta de Francisco no Instagram, ele atraiu mais de um milhão de seguidores em apenas doze horas. Este número superou o recorde anterior, que era de David Beckham, que havia levado 24 horas para conseguir a mesma façanha.

Embora seja difícil obter dados empíricos sobre o volume de atenção em nível mundial dispensada a Francisco pela imprensa, a impressão que temos sugere que ele é facilmente um dos seres humanos mais presentes nela em suas publicações. Ironicamente, para um papa que frequentemente pede uma “descentralização salutar” na Igreja, não há nada de descentralização sobre a quem a imprensa recorre atualmente quando quer apresentar uma história católica – o foco recai quase exclusivamente sobre ele.

Estas últimas semanas sugerem que o longo caso de amor da imprensa com Francisco pode estar perdendo força, principalmente em consequência das críticas sobre o tratamento dele dispensado no caso de Dom Juan Barros, no Chile, e, de modo mais amplo, na resposta que deu aos escândalos de abuso sexual clerical. Grande parte disso dependerá de como Francisco vai lidar com as coisas a partir daqui, mas, por enquanto, ele continua sendo o assunto de uma constante, e amplamente positiva, cobertura.

Um recente editorial do jornal inglês Catholic Herald assim disse:
A enorme imagem do Papa Francisco na imprensa permitiu-lhe ter uma atenção como poucos papas antes dele. Quando faz escolhas, ele consegue fazer com que sua mensagem corra a uma intensidade que papas anteriores precisariam se esforçar para conseguir”.

Relevância política

No ranking anual da revista Forbes com as pessoas mais poderosas do mundo, Francisco atualmente ocupa o posto número cinco, atrás de PutinTrumpMerkel e do presidente chinês Xi Jinping. Francisco ocupa a fileira mais alta de alguém que não é chefe de Estado, e é também o único líder religioso e espiritual em toda a lista de 75 nomes.

Não há praticamente nenhum grande desafio de política pública no século XXI sobre o qual Francisco não se pronunciou, desde a luta contra as mudanças climáticas e o tráfico humano até a proteção da Amazônia, a oposição tanto ao aborto quanto à pena de morte, a difusão do terrorismo religiosamente inspirado e a perseguição religiosa, entre outros.

Também não há praticamente nenhuma zona de conflito no mundo em que Francisco e sua equipe diplomática não tenham se engajado, desde a Síria e o Iraque até a República Centro-Africana e a República Democrática do Congo.

Conversando com os diplomatas acreditados à Santa Sé nesta segunda-feira, todos eles dizem a mesma coisa quando perguntados se os seus governos tomam nota quando Francisco fala sobre um determinado assunto: “E como!”

Há uma lista impressionante de áreas em que a liderança de Francisco não parece ter feito diferença, entre elas: ajudar a deter a invasão ocidental da Síria em 2013 que pretendia derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad; ser inspiração moral para a adoção de limites nas emissões de gás carbono na cúpula climática de Paris sobre o clima em 2015; e ajudar a pavimentar o caminho para a restauração das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba, também em 2015.

No entanto, é justo dizer que os ventos políticos parecem estar, de certo modo, soprando contra o pontífice, talvez começando com a eleição de Trump nos EUA. Ainda que Trump tenha tido uma vitória estreita em parte graças ao apoio de eleitores religiosos, incluindo uma grande parcela de católicos, em certo sentido essa não era exatamente a agenda de “fé e valores” que Francisco preferiria, a começar com a questão dos direitos dos imigrantes.

Nos meses desde a vitória de Trump, a Europa viu em muitos lugares movimentos populistas e xenófobos reviverem.

As eleições italianas no começo deste mês, em que a Liga do Norte liderada por Matteo Salvini emergiu como um dos dois grandes vencedores – depois que Salvini, de modo provocativo, segurou um rosário numa campanha em fevereiro, dando a entender que a sua postura nacionalista anti-imigrantes fosse uma verdadeira defesa da fé –, foi talvez uma pílula particularmente amarga para se tomar, embora Francisco tenha feito questão de ficar fora dos debates políticos italianos.

Quanto ao impacto direto de Francisco quando escolhe se envolver numa situação, a República Centro-Africana é um caso ilustrativo. Quando visitou o país atormentado pela guerra em novembro de 2015, as “vibes” positivas geradas na viagem foram grandemente creditadas pela criação de um clima social no qual uma transferência de poder foi possível.

Após esse momento, no entanto, o país voltou ao caos, com atentados recentes contra prestadores de ajuda humanitária fazendo com que muitos desses grupos saíssem do país, e com sobreviventes a descreverem uma prática crescente de estupro coletivo entre os vários grupos e facções armados envolvidos no conflito.

A experiência, portanto, demonstra que Francisco não pode simplesmente usar uma varinha mágica e fazer desaparecer os problemas mundiais, tampouco pode necessariamente curvar os eleitorados à sua vontade.

Mesmo assim, como um exercício de pensamento, consideremos esta questão: Se você vivesse num lugar atormentado pela guerra neste exato momento e ouvisse que um importante líder mundial faria uma visita, que nome mais lhe traz esperança de que algo bom resulte?

É bem provável que Francisco se saia bem nessa pesquisa, e para um líder com nenhum exército, nenhuma economia nacional e nenhum dos instrumentos usuais de poder, certamente esse parece ser um resultado surpreendente.

Relevância eclesiástica

Em certo sentido, parece tolice avaliar a relevância eclesiástica de um papa. O Código de Direito Canônico, no número 331, diz do pontífice: “em razão do cargo, [ele] goza na Igreja de poder ordinário, supremo, pleno, imediato e universal, que pode exercer sempre livremente”.  Nesse sentido, poderíamos nos perguntar: Se o papa – qualquer papa – não for relevante para a Igreja, quem afinal será?

Mesmo assim, é inevitável que alguns papas sejam mais relevantes eclesiasticamente do que outros. Antes da ascensão das comunicações modernas no século XX, muitos católicos no mundo, talvez a ampla maioria, pouco sabiam sobre o papa, e ele certamente não era em geral aquilo que as pessoas pensavam quando ponderavam sobre “a Igreja”.

No século XX, os papas variavam quanto ao que sabiam sobre o estado da arte na Igreja.
São João Paulo II foi uma figura extremamente carismática e um destacado líder, por exemplo, mas mesmo em seus dias muitos debates no catolicismo tinham pouco a ver diretamente com ele. A liturgia e a pressa por “uma reforma da reforma” nos anos 90 são um bom exemplo, quando a energia, na realidade, não estava mais vindo do pontífice.

Na maior parte do tempo, o próprio liturgista pessoal de João Paulo foi um progressista, mas o seu chefe litúrgico na Congregação para o Culto Divino era um grande conservador, o que permitiu que ambos os lados do debate reivindicassem o apoio papal.

Hoje, entretanto, não há dúvida de que todo o debate importa: desde a Comunhão para os divorciados e recasados até a possibilidade de diaconisas e padres casados decorrem diretamente de algo que Francisco disse ou fez, ou indiretamente das forças que ele põe em movimento. Às vezes, é quase como se outras figuras importantes da hierarquia católica, incluindo altas autoridades vaticanas, tivessem entrado para um programa de proteção a testemunhas devido à invisibilidade que estão tendo.

Os críticos frequentemente dizem que isso acontece porque Francisco criou um culto à personalidade em torno de si, e intimidou os dissidentes para que ficassem quietos por meio de repreensões. Enquanto isso, os fãs acreditam é porque a visão do papa é exatamente aquilo que a Igreja necessita, e interpretam a impressão geral criada como uma confirmação de que ele está no caminho certo.

Talvez seja instrutivo fazer uma comparação entre Francisco e o antecessor que ele pretende canonizar ainda este ano: o Beato Papa Paulo VI. Paulo foi eleito em 1963, o que significa que ficou no cargo aproximadamente quatro anos, quase o mesmo tempo que Francisco hoje, quando os Beatles gravaram o álbum “Magical Mystery Tour”, com a música “Fool on the Hill” [O bobo na colina].

A letra assim diz:
His head in a cloud” [Sua cabeça numa nuvem]
The man with a foolish grin is talking perfectly loud” [O homem com um sorriso bobo fala perfeitamente alto]
But nobody wants to hear him” [Mas ninguém quer ouvi-lo]
They can see that he’s just a fool” [Eles podem ver que é apenas um tolo].

Mais tarde, Paul McCartney diria que aí pensava em Maharishi Mahesh Yogi, um sábio indiano que alcançou uma breve fama sendo uma espécie de capelão da banda. Alguns críticos do rock na época, no entanto, achavam que a música poderia ser uma referência a Paulo VI, que era visto com estando isolado, um alguém sem de contato, que não era realmente levado a sério fora dos muros do Vaticano.

Talvez a melhor aposta para uma avaliação objetiva de Francisco neste momento seja esta: Se os Beatles fossem gravar “Fool on the Hill” hoje, é muito pouco provável que alguém pense se tratar de uma referência ao atual pontífice.

Revolution”, talvez, ou mesmo “The Long and Winding Road” [A longa e sinuosa estrada], também da banda inglesa, mas definitivamente não uma balada sobre a irrelevância.


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John L. Allen, Jr. (1965) é um jornalista americano, residente em Roma que se especializou em noticiário sobre a Igreja Católica. É correspondente senior do National Catholic Reporter e vaticanista da CNN e da NPR. Allen Jr. é autor de várias obras sobre a Igreja Católica. Escreveu duas biografias do Papa Bento XVI, a primeira publicada em 2000, quando ainda era cardeal - foi a sua primeira biografia em inglês.  In: Wikipedia




sexta-feira, 23 de março de 2018

Identificando-se com as vítimas. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!



Quando o oficial do exército, que estava bem em frente dele, viu como Jesus havia expirado, disse: ‘Na verdade, este homem era Filho de Deus!’”  (Mc 15,39)

Domingo de Ramos

Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta e atual, do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mc 14,1 - 15,47  (Paixão de Jesus).
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
WCejnóg



IHU – ADITAL
23 Março 2018.

Identificando-se com as vítimas

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 14,1-15,47 que corresponde ao Domingo de Ramos, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 


Eis o texto

Nem o poder de Roma nem as autoridades do Templo puderam suportar a novidade de Jesus. A Sua forma de entender e de viver Deus era perigosa. Não defendia o Império de Tibério, chamava a todos para procurar o reino de Deus e a Sua justiça. Não lhe importava quebrar a lei do sábado nem as tradições religiosas, só lhe preocupava aliviar o sofrimento das pessoas doentes e desnutridas da Galileia.

Não o perdoaram. Identificava-se demasiado com as vítimas inocentes do Império e com os esquecidos pela religião do Templo. Executado sem piedade numa cruz, Nele se nos revela agora Deus, identificado para sempre com todas as vítimas inocentes da história. Ao grito de todos eles se une agora o grito de dor do mesmo Deus.

Nesse rosto desfigurado do Crucificado revela-se um Deus surpreendente, que quebra as nossas imagens convencionais de Deus e coloca em questão toda prática religiosa que pretenda dar-lhe culto esquecendo o drama de um mundo onde se continua a crucificar os mais débeis e indefesos.

Se Deus morreu identificado com as vítimas, a Sua crucificação converte-se num desafio inquietante para os seguidores de Jesus. Não podemos separar Deus do sofrimento dos inocentes. Não podemos adorar o Crucificado e viver de costas ao sofrimento de tantos seres humanos destruídos pela fome, pelas guerras ou pela miséria.

Deus continua a interpelar-nos desde os crucificados dos nossos dias. Permite-nos continuar a viver como espectadores desse sofrimento imenso alimentando uma ingênua ilusão de inocência. Temos de rebelar-nos contra essa cultura do esquecimento que nos permite isolarmos dos crucificados, deslocando o sofrimento injusto que há no mundo para um «afastamento» onde desaparece todo o clamor, gemido ou choro.

Não podemos encerrar-nos na nossa «sociedade de bem-estar», ignorando essa outra «sociedade do mal-estar» em que milhões de seres humanos nascem só para se extinguir aos poucos anos de uma vida que só foi de sofrimento. Não é humano nem cristão instalar-nos na segurança, esquecendo a quem só conhece uma vida insegura e ameaçada.

Quando os cristãos levantamos os nossos olhos até ao rosto do Crucificado, contemplamos o amor insondável de Deus, entregue até à morte para a nossa salvação. Se olharmos mais detidamente, depressa descobrimos nesse rosto o de tantos outros crucificados que, longe ou perto de nós, estão reclamando o nosso amor solidário e compassivo.




sexta-feira, 16 de março de 2018

Confiança absoluta. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito boa!



“Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.” (Jo 12, 24-25)

Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta, que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 12, 20-33 (Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo a conservará para a vida eterna). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
WCejnóg

  
IHU – ADITAL
16 Março 2018.

Confiança absoluta

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 12, 20-33 que corresponde ao Quinto Domingo da Quaresma, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

A nossa vida decorre, no geral, de forma bastante superficial. Poucas vezes nos atrevemos a entrarmos em nós mesmos. Produz-nos uma espécie de vertigem aproximar-nos da nossa interioridade. Quem é esse estranho que descubro dentro de mim, cheio de medos e interrogações, faminto de felicidade e farto de problemas, sempre em busca e sempre insatisfeito?

Que postura adotar ao contemplar em nós essa mistura estranha de nobreza e miséria, de grandeza e pequenez, de finitude e infinitude? Tentamos entender o desconcerto de Santo Agostinho, que, questionado pela morte do seu melhor amigo, reflexiona sobre a sua vida: «Converti-me num grande enigma para mim mesmo».

Há uma primeira postura possível. Chama-se resignação, e consiste em nos contentarmos com o que somos. Instalar-nos na nossa pequena vida de cada dia e aceitar a nossa finitude. Naturalmente, para isso temos de abafar qualquer rumor de transcendência. Fechar os olhos a qualquer sinal que nos convide a olhar para o infinito. Permanecer surdos a todas as chamadas provenientes do Mistério.

Há outra atitude possível ante a encruzilhada da vida. A confiança absoluta. Aceitar na nossa vida a presença salvadora do Mistério. Abrir-nos a ela do mais fundo do nosso ser. Acolher a Deus como raiz e destino do nosso ser. Acreditar na salvação que se nos oferece.

Só desde essa confiança plena em Deus Salvador se entendem essas desconcertantes palavras de Jesus: «Quem vive preocupado com a sua vida a perderá; pelo contrário, quem não se agarre excessivamente a ela a conservará para a vida eterna». O decisivo é abrir-nos confiadamente ao Mistério de um Deus que é Amor e Bondade insondáveis. Reconhecer e aceitar que somos seres «gravitando em torno a Deus, nosso Pai. Como dizia Paul Tillich, «aceitar ser aceitos por Ele».