Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 13 de abril de 2024

“Com as vítimas”. – Reflexão de José Antonio Pagola.

“Mas ele lhes disse: “Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas nos vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho”.  ( Lc 24, 38-39)

 

Hoje temos uma ótima reflexão, baseada no texto bíblico Lucas 24,35-48

(Jesus ressuscitado aparece aos onze). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.

Vale a pena ler!

WCejnóg

Por José Antonio Pagola

10 Abril 2024

COM AS VÍTIMAS

Segundo as histórias evangélicas, o Ressuscitado apresenta-se aos seus discípulos com as chagas do Crucificado. Não se trata de um detalhe banal, de interesse secundário, mas de uma observação de importante conteúdo teológico. As primeiras tradições cristãs insistem, sem exceção, num fato que, em geral, hoje não costumamos valorizar na devida medida: Deus não ressuscitou qualquer um; Ele ressuscitou um homem crucificado.

Mais concretamente, ressuscitou alguém que anunciou um Pai que ama os pobres e perdoa os pecadores; alguém que demonstrou solidariedade com todas as vítimas; alguém que, tendo sido perseguido e rejeitado, manteve até ao fim a sua total confiança em Deus.

A ressurreição de Jesus é, portanto, a ressurreição de uma vítima. Ao ressuscitar Jesus, Deus não apenas liberta uma pessoa morta da destruição da morte. Além disso, ele “faz justiça” a uma vítima de homens. E isto lança uma nova luz sobre o “ser de Deus”.

Na ressurreição não é apenas manifestada a nós a onipotência de Deus sobre o poder da morte. O triunfo da sua justiça sobre as injustiças cometidas pelos seres humanos também nos é revelado. Finalmente e completamente, a justiça triunfa sobre a injustiça, a vítima sobre o carrasco.

Esta é a grande notícia. Deus se revela a nós em Jesus Cristo como o “Deus das vítimas”. A ressurreição de Cristo é a “reação” de Deus ao que os seres humanos fizeram com seu Filho. Isto é sublinhado pela primeira pregação dos discípulos: «Vós mataste-o, colocando-o numa cruz... mas Deus o ressuscitou dos mortos». Onde colocamos morte e destruição, Deus coloca vida e libertação.

Na cruz, Deus ainda está silencioso. Este silêncio não é uma manifestação da sua impotência para salvar o Crucificado. É uma expressão da sua identificação com quem sofre. Deus está ali compartilhando o destino das vítimas até o fim. Quem sofre deve saber que não está mergulhado na solidão. O próprio Deus está em seu sofrimento.

Na ressurreição, pelo contrário, Deus fala e age para mobilizar a sua força criadora em favor do Crucificado. Deus tem a última palavra. E é uma palavra de amor ressuscitador para com as vítimas. Aqueles que sofrem devem saber que o seu sofrimento terminará na ressurreição.

A história continua. São muitas as vítimas que hoje continuam a sofrer, maltratadas pela vida ou crucificadas injustamente. O cristão sabe que Deus está naquele sofrimento. Sabe também qual é a sua última palavra. É por isso que o seu compromisso é claro: defender as vítimas, lutar contra todo o poder que mata e desumaniza; esperar pela vitória final da justiça de Deus.

3 Páscoa – B

(Lucas 24,35-48)

14 de abril

José Antonio Pagola

goodnews@ppc-editorial.com

Fonte: Facebook 

sábado, 6 de abril de 2024

“Caminho rumo à fé”. – Reflexão de José Antonio Pagola.

 

“Os outros discípulos disseram-lhe: “Vimos o Senhor”. Mas ele replicou-lhes: “Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!”.  Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco!”.

Depois disse a Tomé: “Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé”. Respondeu-lhe Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!”.   (Jo 20, 25-28)

A reflexão de hoje tem como base o texto bíblico João 20,19-31 (O exemplo de Tomé). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.

Vale a pena ler!

WCejnóg


Por José Antonio Pagola

03 Abril 2024

CAMINHO RUMO À FÉ

Com a ausência de Tomé, os discípulos de Jesus tiveram uma experiência sem precedentes. Assim que o veem chegar, dizem-lhe cheios de alegria: “Vimos o Senhor”. Tomé os ouve com ceticismo. Por que você acreditaria em algo tão absurdo? Como podem dizer que viram Jesus cheio de vida, se ele morreu crucificado? De qualquer forma, será outro.

Os discípulos lhe dizem que ele lhes mostrou as feridas nas mãos e no lado. Thomas não pode aceitar o testemunho de ninguém. Ele precisa ver pessoalmente: “Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos pregos... e não colocar a mão no seu lado, não acreditarei”. Ele só acreditará em sua própria experiência.

Este discípulo, que ingenuamente se recusa a acreditar, vai ensinar-nos o caminho que devemos percorrer para chegar à fé em Cristo ressuscitado, nós que nem sequer vimos o rosto de Jesus, nem ouvimos as suas palavras, nem sentimos seus abraços.

Depois de oito dias, Jesus aparece novamente. Ele imediatamente vai até Tomé. Ele não critica sua abordagem. Para ele, suas dúvidas não têm nada de ilegítimo ou escandaloso. Sua resistência em acreditar revela sua honestidade. Jesus compreende-o e vem ao seu encontro, mostrando-lhe as suas feridas.

Jesus oferece-se para satisfazer as suas exigências: “Traz o teu dedo, aqui estão as minhas mãos. Traga sua mão, aqui está o meu lado.”

Estas feridas, mais do que “provas” para verificar algo, não são “sinais” do seu amor entregue à morte? É por isso que Jesus o convida a ir além das suas dúvidas: “Não seja um incrédulo, mas um crente”.

Tomé desiste de verificar qualquer coisa. Não sente mais necessidade de testes. Ele só experimenta a presença do Mestre, que o ama, o atrai e o convida à confiança. Tomé, o discípulo que percorreu um caminho mais longo e mais trabalhoso do que qualquer outro para encontrar Jesus, vai mais longe do que qualquer outro na profundidade da sua fé: “Senhor meu e Deus meu”. Ninguém confessou Jesus assim.

Não devemos ter medo quando sentimos dúvidas e questionamentos surgindo em nós. As dúvidas, vividas de forma saudável, resgatam-nos de uma fé superficial que se contenta em repetir fórmulas, sem crescer na confiança e no amor. As dúvidas estimulam-nos a percorrer todo o caminho na confiança no Mistério de Deus encarnado em Jesus.

A fé cristã cresce em nós quando nos sentimos amados e atraídos por aquele Deus cujo rosto podemos vislumbrar na história que os evangelhos nos contam sobre Jesus. Portanto, o seu apelo à confiança tem mais poder em nós do que as nossas próprias dúvidas. “Bem-aventurados os que acreditam sem ver”.

2 Páscoa – B

(João 20,19-31)

7 de abril

José Antonio Pagola

goodnews@ppc-editorial.com

 

Fonte: Facebook