Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

“As tentações da Igreja hoje”. – Reflexão de José Antonio Pagola.




Hoje trago para este espaço uma reflexão bem concreta e relevante, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 4, 1-11  (a tentação de Jesus no deserto). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg



IHU – ADITAL
28 Fevereiro 2020

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 4,1-11 que corresponde ao Primeiro Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto.

A primeira tentação acontece no “deserto

Depois de um longo jejum, entregue ao encontro com Deus, Jesus sente fome. É então quando o tentador lhe sugere agir pensando em si mesmo e esquecendo o projeto do Pai: “Se és o Filho de Deus, diz que essas pedras se convertam em pão”. Jesus, desfalecido, mas cheio do Espírito de Deus, reage: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem de Deus”. Não viverá a procurar o seu próprio interesse. Não será um Messias egoísta. Multiplicará o pão quando vir os pobres passarem fome. Ele se alimentará da Palavra viva de Deus.

Sempre que a Igreja procura o seu próprio interesse, esquecendo o projeto do Reino de Deus, desvia-se de Jesus. Sempre que os cristãos colocamos o nosso bem-estar antes das necessidades dos últimos, afastamo-nos de Jesus.

A segunda tentação acontece no “templo

O tentador propõe a Jesus que faça sua entrada triunfal na cidade santa, descendo do alto como Messias glorioso. A proteção de Deus está assegurada. Os seus anjos “cuidarão” dele. Jesus reage rapidamente: “Não tentará o Senhor, teu Deus”. Não será um Messias triunfador. Não colocará Deus ao serviço da sua glória. Não fará “sinais do céu”. Apenas sinais para curar doentes.

Sempre que a Igreja coloca Deus ao serviço de sua própria glória e “desce do alto” para mostrar sua própria dignidade, desvia-se de Jesus. Quando os seguidores de Jesus procuram “parecer bem” em vez de “fazer o bem”, nos afastamos dele.

A terceira tentação acontece numa “montanha altíssima

Dela se divisam todos os reinos do mundo. Todos estão controlados pelo diabo, que faz a Jesus uma oferta assombrosa: lhe dará todo o poder do mundo. Apenas uma condição: “Se te prostras e me adoras”.
Jesus reage violentamente: “Vai embora, Satanás”. “Só ao Senhor, teu Deus, adorarás”. Deus não o chama para dominar o mundo como o imperador de Roma, mas para servir os que vivem oprimidos pelo seu império. Não será um Messias dominador, mas um servidor. O reino de Deus não se impõe com poder, oferece-se com amor.

A Igreja tem hoje que afugentar todas as tentações de poder, glória ou dominação, gritando com Jesus: “Vai-te, Satanás”. O poder mundano é uma oferta diabólica. Quando nós, cristãos, o procuramos, afastamo-nos de Jesus.





sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

“Inclusive os inimigos”. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!




“Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” (Mt 5, 44-45)

A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é bem concreta e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico  Mt 5, 38-48 (“Amai os vossos inimigos”).
Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler.
WCejnog



IHU – ADITAL

21 Fevereiro 2020



Inclusive os inimigos



A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 5,38-48 que corresponde ao 7° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.



Eis o texto



É inegável que vivemos numa situação paradoxal. «Quanto maior a sensibilidade face aos direitos atropelados ou injustiças violentas, mais cresce o sentimento de ter que recorrer a uma violência brutal ou sem piedade para levar a cabo as profundas mudanças que se anseiam». Assim, dizia há alguns anos, no seu documento final, a Assembleia Geral dos Provinciais da Companhia de Jesus.



Não parece haver outro caminho para resolver os problemas que não o recurso à violência. Não é estranho que as palavras de Jesus ressoem na nossa sociedade como um grito ingênuo e, além disso, discordante: «Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam».



E, no entanto, talvez seja a palavra que mais necessitamos ouvir nestes momentos em que, anulados pela perplexidade, não sabemos o que fazer em concreto para retirar do mundo a violência.



Alguém disse que «problemas que só podem ser resolvidos com violência devem ser levantados novamente» (F. Hacker). E é precisamente também aqui que o Evangelho de Jesus tem muito para contribuir hoje, não para oferecer soluções técnicas para conflitos, mas para descobrir em que atitude devemos abordá-los.




Há uma convicção profunda em Jesus. Ao mal não se pode vencer com base no ódio e na violência. O mal é vencido apenas com o bem. Como dizia Martin Luther King, «o último defeito da violência é que produz uma espiral descendente que destrói tudo o que gera. Em vez de diminuir o mal, aumenta-o».

Jesus não se detém a especificar se, em alguma circunstância concreta, a violência pode ser legítima. Pelo contrário, convida-nos a trabalhar e lutar para que nunca seja. Por isso, é importante procurar sempre caminhos que nos levem à fraternidade e não ao fratricídio.

Amar os inimigos não significa tolerar as injustiças e retirar-se confortavelmente da luta contra o mal. O que Jesus viu claramente é que não se luta contra o mal quando se destrói as pessoas. Há que combater o mal, mas sem procurar a destruição do adversário.

Mas não nos esqueçamos de algo importante. Esse apelo a renunciar à violência deve dirigir-se não tanto aos fracos, que quase não têm poder nem acesso à violência destrutiva, mas, sobretudo, a quem maneja o poder, o dinheiro ou as armas e, portanto, podem por isso oprimir violentamente os mais fracos e indefesos.