“Mas eu
lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que
vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o
seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” (Mt 5,
44-45)
A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania,
do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é bem concreta e atual. Tem como pano de fundo o texto
bíblico Mt 5, 38-48 (“Amai os vossos inimigos”).
Foi
publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale
a pena ler.
WCejnog
IHU – ADITAL
21 Fevereiro 2020
Inclusive os inimigos
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 5,38-48 que corresponde ao 7°
Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
É inegável que vivemos numa situação paradoxal.
«Quanto maior a sensibilidade face aos direitos atropelados ou injustiças
violentas, mais cresce o sentimento de ter que recorrer a uma violência
brutal ou sem piedade para levar a cabo as profundas mudanças que se anseiam».
Assim, dizia há alguns anos, no seu documento final, a Assembleia Geral dos
Provinciais da Companhia de Jesus.
Não parece haver outro caminho para resolver os
problemas que não o recurso à violência. Não é estranho que as palavras de
Jesus ressoem na nossa sociedade como um grito ingênuo e, além disso,
discordante: «Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos
odeiam».
E, no entanto, talvez seja a palavra que mais
necessitamos ouvir nestes momentos em que, anulados pela perplexidade, não
sabemos o que fazer em concreto para retirar do mundo a violência.
Alguém disse que «problemas que só podem ser
resolvidos com violência devem ser levantados novamente» (F. Hacker). E é
precisamente também aqui que o Evangelho de Jesus tem muito para
contribuir hoje, não para oferecer soluções técnicas para conflitos, mas para
descobrir em que atitude devemos abordá-los.
Há uma convicção profunda em Jesus. Ao mal não se
pode vencer com base no ódio e na violência. O mal é vencido apenas com o bem.
Como dizia Martin Luther King, «o último defeito da violência é que produz uma espiral
descendente que destrói tudo o que gera. Em vez de diminuir o mal,
aumenta-o».
Jesus não se detém a especificar se, em alguma
circunstância concreta, a violência pode ser legítima. Pelo contrário,
convida-nos a trabalhar e lutar para que nunca seja. Por isso, é importante
procurar sempre caminhos que nos levem à fraternidade e não ao fratricídio.
Amar os inimigos não significa tolerar as
injustiças e retirar-se confortavelmente da luta contra o mal. O que
Jesus viu claramente é que não se luta contra o mal quando se destrói as
pessoas. Há que combater o mal, mas sem procurar a destruição do adversário.
Mas não nos esqueçamos de algo importante. Esse
apelo a renunciar à violência deve dirigir-se não tanto aos fracos, que quase
não têm poder nem acesso à violência destrutiva, mas, sobretudo, a quem maneja
o poder, o dinheiro ou as armas e, portanto, podem por isso oprimir
violentamente os mais fracos e indefesos.
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