Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

“Natal: O rosto humano de Deus”. – Reflexão de José Antonio Pagola.


E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (Lc 1,14)

 

Festa do Natal

A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito concreta e importante. Tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 2, 15-20 (Anjos anunciam o nascimento de Jesus).

Foi publicado pelo autor na sua página do Facebook.

WCejnóg

NATAL: O ROSTO HUMANO DE DEUS

Por José Antonio Pagola

 

O quarto evangelho começa com um prólogo muito especial. É uma espécie de hino que, desde os primeiros séculos, ajudou decisivamente os cristãos a aprofundar o mistério fechado em Jesus. Se o ouvimos com fé simples, também hoje pode nos ajudar a acreditar em Jesus de forma mais profunda. Nós apenas paramos em algumas afirmações centrais.

«A Palavra de Deus se fez carne». Deus não é mudo. Não ficou calado, fechado para sempre no seu mistério. Deus quis nos comunicar. Ele quis nos falar, nos dizer seu amor, nos explicar seu projeto. Jesus é simplesmente o projeto de Deus feito carne.

Mas Deus não nos foi comunicado por meio de conceitos e doutrinas sublimes que só os médicos podem entender. Sua Palavra se encarnou na vida cativante de Jesus, para que possam entender até os mais simples, os que sabem comover-se perante a bondade, o amor e a verdade que se encerra em sua vida.

Esta Palavra de Deus «acampou entre nós». As distâncias desapareceram. Deus fez "carne". Habita entre nós. Para nos encontrarmos com ele não precisamos sair do mundo, mas sim chegar perto de Jesus. Para conhecê-lo não é preciso estudar teologia, mas sim sintonizar com Jesus, comungar com ele.

«A Deus nunca ninguém viu». Profetas, sacerdotes, mestres da lei falavam muito de Deus, mas nenhum tinha visto seu rosto. O mesmo acontece hoje entre nós: na Igreja falamos muito de Deus, mas nenhum de nós viu. Só Jesus, «O Filho de Deus, que está no interior do Pai, é quem o deu a conhecer».

Não devemos esquecer isso. Só Jesus nos contou como Deus é. Só ele é a fonte para nos aproximar do seu Mistério. Quantas ideias raquíticas e pouco humanas de Deus devemos desaprender para nos deixar atrair e seduzir por esse Deus que nos é revelado em Jesus.

Como tudo muda quando finalmente captamos que Jesus é o rosto humano de Deus. Tudo se torna mais simples e claro. Agora sabemos como Deus nos olha quando sofremos, como nos procura quando nos perdemos, como nos compreende e perdoa quando o negamos. Nele nos revela «a graça e a verdade» de Deus.

Natividade do Senhor - C

(Lc 2,1-14 / Lc 2,15-20 / Jn 1,1-18)

25 de dezembro de 2021

Fonte: Facebook

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

“Acreditar é outra coisa”. – Reflexão de José Antonio Pagola.

 

"Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

Em alta voz exclamou: <Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz! Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor?

Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!> ” (Lc 1, 41-45)

Hoje temos uma excelente reflexão, muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 1, 39-45 (Maria visita Izabel). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.

O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!

WCejnóg

IHU – ADITAL

17 Dezembro 2021

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Lucas 1,39-45, que corresponde ao 4° Domingo do Advento, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.  

Acreditar é outra coisa 

Estamos a viver uns tempos em que cada vez mais o único modo de poder acreditar verdadeiramente vai ser, para muitos, aprender a acreditar de outra forma. Já o grande convertido John Henry Newman anunciou esta situação quando advertia que uma fé passiva, herdada e não repensada acabaria entre pessoas educadas em "indiferença", e entre pessoas simples em "superstição". É bom lembrar alguns aspectos essenciais da .

A fé é sempre uma experiência pessoal. Não basta acreditar no que os outros nos pregam sobre Deus. Cada um só acredita, em suma, no que realmente acredita no fundo do seu coração ante Deus, e não no que ouve dizer a outros. Para acreditar em Deus é necessário passar de uma fé passiva, infantil e herdada para uma fé mais responsável e pessoal. Esta é a primeira pergunta: acredito em Deus ou naqueles que me falam dele?

Na fé, nem tudo é igual. Temos de saber diferenciar o que é essencial e o que é acessório, e, depois de vinte séculos, há muito de acessório no nosso cristianismo. A fé daquele que confia em Deus está para além das palavras, das discussões teológicas e das normas eclesiásticas. O que define um cristão não é ser virtuoso ou cumpridor, mas viver confiando num Deus próximo pelo que se sente amado sem condições. Esta pode ser a segunda questão: confio em Deus ou fico preso noutras questões secundárias?

Na fé, o importante não é afirmar que se acredita em Deus, mas sim saber em que Deus se acredita. Nada é mais decisivo do que a ideia que cada um faz de Deus. Se acredito num Deus autoritário e justiceiro, acabarei por tentar dominar e julgar todos. Se acredito num Deus que é amor e perdão, viverei amando e perdoando. Esta pode ser a pergunta: em que Deus acredito? Num Deus que responde às minhas ambições e interesses ou no Deus vivo revelado em Jesus?

A fé, por outro lado, não é uma espécie de "capital" que recebemos no batismo e de que podemos dispor para o resto das nossas vidas. A fé é uma atitude viva que nos mantém atentos a Deus, abertos todos os dias ao seu mistério de proximidade e amor por cada ser humano.

Maria é o melhor modelo desta fé viva e confiada. A mulher que sabe ouvir Deus no fundo do seu coração e vive aberta aos seus desígnios de salvação. A sua prima Isabel louva-a com estas palavras memoráveis: "Bem-aventurada és tu, porque acreditaste!" Feliz também és tu se aprenderes a acreditar. É o melhor que te pode acontecer na vida.

Fonte: IHU – Comentário do Evangelho

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

“Atrevemo-nos a partilhar? ” – Reflexão de José Antonio Pagola.

"<O que devemos fazer então? >, perguntavam as multidões.

João respondia: <Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo>. ”  (Lc 3, 10-11)

Abaixo, uma bonita reflexão, muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 3,10-18 (A mensagem de João Batista). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.

O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!

WCEJNÓG


IHU – ADITAL

10 Dezembro 2021

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Lucas 3,10-18, que corresponde ao 3° Domingo do Advento, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.  

Atrevemo-nos a partilhar? 

Os meios de comunicação informam-nos cada vez mais rapidamente do que acontece no mundo. Conhecemos cada vez melhor as injustiças, misérias e abusos que se cometem diariamente em todos os países.

Esta informação cria facilmente em nós um certo sentimento de solidariedade para com tantos homens e mulheres, vítimas de um mundo egoísta e injusto. Inclusive, pode despertar um sentimento de vaga culpabilidade. Mas, ao mesmo tempo, aumenta a nossa sensação de impotência.

As nossas possibilidades de atuação são muito escassas. Todos conhecemos mais miséria e injustiça do que podemos remediar com as nossas forças. Por isso, é difícil evitar uma pergunta no fundo da nossa consciência perante uma sociedade tão desumanizada: «O que podemos fazer? ».

João Batista oferece-nos uma resposta terrível no meio da sua simplicidade. Uma resposta decisiva, que coloca cada um de nós na frente da nossa própria verdade. «Aquele que tenha duas túnicas, que as reparta com o que não tem; e o que tenha comida que faça o mesmo».

Não é fácil ouvir estas palavras sem sentir um certo mal-estar. É necessária coragem para as acolher. Necessita-se tempo para nos deixarmos interpelar. São palavras que fazem sofrer. Aqui termina a nossa falsa «boa vontade». Aqui se revela a verdade da nossa solidariedade. Aqui se dilui o nosso sentimentalismo religioso. O que podemos fazer? Simplesmente partilhar o que temos com os que necessitam.

Muitas das nossas discussões sociais e políticas, muitos dos nossos protestos e gritos, que com frequência nos dispensam de uma ação mais responsável, ficam reduzidos subitamente a uma pergunta muito simples. Atrevemo-nos a partilhar o que é nosso com os necessitados?

De forma ingênua, acreditamos quase sempre que a nossa sociedade será mais justa e humana quando os outros mudarem, e quando se transformem as estruturas sociais e políticas que nos impedem de sermos mais humanos.

E, no entanto, as simples palavras do Batista obrigam-nos a pensar que a raiz das injustiças está também em nós. As estruturas refletem demasiado bem o espírito que nos anima a quase todos. Reproduzem com fidelidade a ambição, o egoísmo e a sede de possuir que há em cada um de nós.

Fonte: IHU – Comentário do Evangelho