Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

“Indiferença progressiva”. – Reflexão de José Antonio Pagola. Bem atual!

 

“Jesus disse-lhes: Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam doutrinas e preceitos humanos. Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à tradição dos homens”. (Mc 7, 6-8)

Abaixo, uma reflexão muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mc 7,1-8.14-15.21-23 (Fala sobre uma religião de aparência). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!

WCejnóg

IHU – ADITAL

27 Agosto 2021

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 7,1-8.14-15.21-23, que corresponde ao 22º domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Indiferença progressiva

A crise religiosa vai-se decantando pouco a pouco em direção à indiferença. Normalmente, não se pode falar propriamente de ateísmo, nem mesmo de agnosticismo. O que melhor define a posição de muitos é uma indiferença religiosa onde já não há questões, nem dúvidas, nem crises. 

Não é fácil descrever esta indiferença. A primeira coisa que se observa é a ausência de inquietação religiosa. Deus não interessa. A pessoa vive na despreocupação, sem nostalgias nem qualquer horizonte religioso. Não se trata de uma ideologia. É, mais bem, uma «atmosfera envolvente» onde a relação com Deus fica diluída.

Há vários tipos de indiferença. Alguns vivem nestes momentos um afastamento progressivo; são pessoas que se vão distanciando cada vez mais da fé, cortam laços com o religioso, afastam-se da prática; pouco a pouco Deus vai-se apagando nas suas consciências. Outros vivem simplesmente absorvidos pelas coisas de cada dia; nunca se interessaram muito por Deus; provavelmente receberam uma educação religiosa débil e deficiente; hoje vivem esquecidos de tudo. 

Em alguns, a indiferença é fruto de um conflito religioso, vivido por vezes em segredo; sofreram medos ou experiências frustrantes; não guardam uma boa recordação do que viveram em crianças ou adolescentes; não querem ouvir falar de Deus, pois isso magoa-os; defendem-se esquecendo-o.

A indiferença de outros é, antes, o resultado de circunstâncias diversas. Deixaram a pequena povoação e hoje vivem de forma diferente num ambiente urbano; casaram com alguém pouco sensível ao religioso e mudaram de costumes; separaram-se do seu primeiro cônjuge e vivem numa situação de casal não "abençoado" pela Igreja. Não é que estas pessoas tenham tomado a decisão de abandonar Deus, mas na verdade as suas vidas vão-se afastando Dele.

Há ainda outro tipo de indiferença encoberta pela piedade religiosa. É a indiferença de quem se habituou a viver a religião como uma «prática externa» ou uma «tradição rotineira». Todos devemos ouvir a queixa de Deus. Jesus recorda-nos com palavras tomadas do profeta Isaías: «Este povo honra-me com os lábios, mas os seus corações estão longe de mim».

Fonte: IHU – Comentário do Evangelho


 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

“A quem vamos recorrer?” – Reflexão de José Antonio Pagola.

 

"Simão Pedro lhe respondeu: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus".  (Jo 6, 68-69)

Abaixo, uma boa reflexão, muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 6, 60-69  (A quem vamos seguir? Por onde vamos?). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.

O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!

WCejnóg

IHU – ADITAL

20 Agosto 2021

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de João 6,60-69, que corresponde ao 21º domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

A quem vamos recorrer?

Quem se aproxima de Jesus com frequência tem a impressão de encontrar alguém estranhamente atual e mais presente aos nossos problemas de hoje do que muitos dos nossos contemporâneos.

Há gestos e palavras de Jesus que nos impactam ainda hoje porque tocam o nervo dos nossos problemas e preocupações mais vitais. São gestos e palavras que resistem à passagem dos tempos e à mudança de ideologias. Os séculos decorridos não atenuaram a força e a vida que encerram, por pouco que estejamos atentos e abramos sinceramente os nossos corações.

No entanto, ao longo de vinte séculos é muito o pó que inevitavelmente se foi acumulando sobre a sua pessoa, a sua atuação e a sua mensagem. Um cristianismo cheio de boas intenções e desejos veneráveis impediu por vezes a muitos cristãos simples encontrar-se com a brisa cheia de vida daquele que perdoava as prostitutas, abraçava as crianças, chorava com os amigos, contagiava esperança, e convidava as pessoas a viver com liberdade o amor dos filhos de Deus.

Quantos homens e mulheres tiveram de ouvir as dissertações de moralistas bem-intencionados e as exposições de pregadores instruídos sem conseguirem encontrar-se com ele. 

Não nos devemos surpreender com a interpelação do escritor francês Jean Onimus: «Por que vais ser propriedade privada de pregadores, doutores e alguns eruditos, tu que disseste coisas tão simples, tão diretas, palavras que continuam sendo palavras de vida para todos os homens?». 

Se muitos cristãos que se têm ido afastando estes anos da Igreja, conhecessem diretamente os Evangelhos, sentiriam de novo aquilo que um dia foi expresso por Pedro: «Senhor, a quem vamos recorrer? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos».

 

Fonte: IHU – Comentário doEvangelho

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

“A histeria da missa em latim”. – Artigo de David Gibson. Muito esclarecedor!

 

Abaixo, um interessante e sobretudo relevante artigo sobre a questão  das polêmicas nutridas pela pequena parcela dos tradiciolnalistas e seus adeptos dentro da Igreja Católica. Essas polêmicas tentam contaminar a opinião geral contra as reformas propostas e conduzidas pelo papa Franciso.

Penso que esta é uma questão que a Igreja Católica precisa de enfrentar com muita determinação e confiança. É importante analisar com seriedade esta questão.

O Artigo, originalmente publicado por Sapientia, 22/07/2021, foi também publicado postriormente no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Não deixe de ler!

WCejnóg

IHU – ADITAL

23 Julho 2021

"O clamor dos conservadores católicos e dos autodenominados “tradicionalistas” sobre a decisão do Papa Francisco de restaurar as restrições à versão latina não reformada e pré-1970 da missa foi tão furioso e angustiado que obscureceu várias realidades importantes sobre essa controvérsia".

O comentário é de David Gibson, jornalista, escritor, cineasta e diretor do Centro de Religião e Cultura da Fordham University, em artigo publicado por Sapientia, 22-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A histeria da missa em latim

Essas realidades são cruciais para compreender esse drama de proporções quase cismáticas, aquilo que de fato está em jogo e por que Francisco fez o que fez. Deixe-me apontar três dos principais equívocos.

Proibição?

Primeiro, o papa não proibiu os padres de celebrarem a missa em latim. De fato, a versão oficial padrão do missal atual está em... latim. Várias partes do mundo usam traduções para o vernáculo a partir desse texto básico, que também pode ser usado para rezar a missa em latim.

O que o Papa Francisco restringiu foi o rito codificado após o Concílio de Trento (1545-1563) e promulgado pelo Papa Pio V em 1570. O Concílio Vaticano II (1962-1965) pediu que a liturgia fosse atualizada e renovada, e em 1970 – 400 anos depois do missal tridentino – o Papa Paulo VI promulgou um novo missal, aquele que quase todos os católicos do mundo seguem na missa em sua própria língua.

Os padres ainda podem celebrar a “missa em latim”, apenas com o novo formato e as novas fórmulas que expressam uma eclesiologia e teologia diferentes da versão anterior. “Se você gosta da missa em latim, você pode ficar com a missa em latim, porque o Missal de Paulo VI é a missa em latim”, escreveu Adam Rasmussen, professor de Teologia, no blog Where Peter Is.

Aliás, há um interessante debate sobre como chamar o rito mais antigo agora. Como a unidade da Igreja Católica romana de rito latino se expressa na celebração da missa segundo a mesma forma, o falecido Papa João Paulo II estabeleceu restrições em 1988 sobre quando os clérigos poderiam celebrar a missa mais antiga, a missa tridentina, como era frequentemente chamada. Quando o Papa Emérito Bento XVI emitiu uma carta apostólica, Summorum pontificum, em 2007, ele afrouxou essas restrições e chamou o rito antigo de “Forma Extraordinária” [...].

Agora que Francisco voltou ao status quo ante, e mais um pouco, há um novo debate sobre como chamar a velha missa (eu prefiro chamá-la de Rito Tridentino, mas o liturgista beneditino Anthony Ruff escreveu um bom post sobre os prós e os contras de todos esses rótulos [disponível em inglês aqui]).

Peronismo papal?

A segunda concepção errônea, que pode ser deduzida da breve história acima, é que a decisão de Francisco foi a ação precipitada e peremptória de um forte papa “peronista”, como o vaticanista John Allen, do Crux, descreveu Francisco.

Pelo contrário. Esse drama com a direita da Igreja Católica já se arrasta há mais de 50 anos, e durante todo esse tempo os papas, de Paulo VI a João Paulo II e, mais especialmente, até Bento XVI, dobraram para trás e até distorceram a tradição e o raciocínio básico para fazer concessões especiais aos tradicionalistas. E, a cada passo, os direitistas empacavam ou se rebelavam.

Eu estava em Roma trabalhando na Rádio Vaticano em 1988 quando o arcebispo francês Marcel Lefebvre, um dos líderes da rebelião tradicionalista, consagrou quatro bispos contra as ordens de João Paulo II e levou seus seguidores a um cisma formal. João Paulo II, com a orientação de seu assessor doutrinário, o então cardeal Joseph Ratzinger – que depois da morte de João Paulo II em 2005 seria eleito Papa Bento XVI –, criou várias “avenidas” para a permanência dos direitistas.

A Fraternidade São Pio X, de Lefebvre, acabou sendo considerada não formalmente cismática, uma espécie de fraternidade pseudocismática. Mas do que mais você poderia chamar quando um grupo rejeita as reformas legítimas de um Concílio Ecumênico devidamente convocado? Para eles, nenhum tipo de acomodação seria suficiente.

Mesmo aqueles tradicionalistas que se aproveitaram da munificência do Vaticano para se declarar formalmente em comunhão com Roma continuaram causando problemas, talvez até mais do que aqueles que se rebelaram. Eles afirmavam que o “seu rito” era superior à missa reformada de 1970 e provocaram rixas nas paróquias e nas dioceses em quase todos os lugares aonde foram. Eles têm sido um lócus de tensão política, pastoral e teológica a tal ponto que Francisco foi forçado a desfazer aquilo que Bento XVI havia lançado como um esforço para acomodá-los.

A direita não estava interessada em brincar. Bento XVI “nunca pretendeu iniciar um movimento, muito menos uma ideologia!”, como disse um dos colaboradores mais próximos do papa emérito a Michael Sean Winters, do National Catholic Reporter. Mas foi isso que aconteceu e acabou prejudicando toda a Igreja.

“Eles são uma pequena minoria dentro da Igreja que cresceu em proeminência durante o último pontificado, a ponto de se tornarem o rabo que abana o cachorro”, escreveu Robert Mickens, do La Croix.

De fato, apesar do tratamento mais indulgente possível por parte de Roma e da hierarquia, os proponentes tridentinos nunca se tornaram um movimento, como afirmavam que fariam.

Forma superior de catolicismo?

E esse é o terceiro e talvez o maior equívoco – que o Papa Francisco está estrangulando um florescente renascimento tradicionalista de uma forma superior de catolicismo que revigorará a Igreja. “A verdade triunfará, porque a tradicional liturgia da missa em latim expressa a verdade da fé de uma forma mais completa e bela, e isso é uma obra de Deus, e Deus também triunfará sobre alguns dos eclesiásticos que hoje são poderosos na Igreja”, disse o bispo Athanasius Schneider, um bispo tradicionalista do Cazaquistão, no início de junho.

A ideia de que os católicos anseiam pelo rito tridentino é a tendência que nunca morre. É a linha que os tradicionalistas têm alimentado há décadas e foi amplificada por lideranças da Igreja como o Papa Bento XVI, que, ao ampliar o uso do rito antigo em 2007, disse que a sua medida era motivada por contínuos pedidos de todo o mundo e pelo fato de que “até mesmo os jovens” eram atraídos por ele.

O editor da First Things e fiel da missa em latim Matthew Schmitz repercutiu esse ponto de vista em um artigo de 2017 no Catholic Herald: “Para onde quer que se olhe, todos os jovens gostam do rito antigo”.

Essa ideia era repetida com tanta insistência e autoridade que as mídias seculares dificilmente resistiam a noticiar os “jovens à moda antiga” atraídos pela antiga Missa Solene, com todos os tipos de rendas, ornamentos, incensos e sinos. Era tão impressionante, dramática e visualmente, que se tornou a premissa inteira da série The Young Pope, da HBO, em 2016.

“Está moda ser um tradicionalista na Igreja Católica”, escreveu a The Economist em 2012. “A vida moderna é feia, brutal e árida. Talvez você deveria provar uma missa em latim”, afirmava um artigo do New York Times, em 2020, que afirmava que tais práticas “provavelmente refletem o único futuro viável do cristianismo em uma era secular”.

O problema é que nenhuma dessas anedotas se sustenta de acordo com as estatísticas. De fato, os números mostram um pequeno número de fiéis tridentinos, cujas fileiras não estão crescendo, e certamente não globalmente.

O site do Latin Mass Directory fornece a melhor métrica disponível para medir a disponibilidade da antiga missa tridentina e mostra um total de 1.684 “locais” ao redor do mundo que oferecem a missa de 1962, uma ínfima parcela litúrgica de uma Igreja mundial de mais de 1,2 bilhão de católicos. Além disso, muitos desses locais oferecem a missa antiga apenas esporadicamente.

 

Principais países onde se celebra a missa em latim (Foto: Latin Mass Directory)

Acima de tudo, a lista demonstra claramente como essa pequena minoria está até geograficamente distorcida: os Estados Unidos, que abrigam apenas 6% dos católicos do mundo, abrigam quase 40% de todas as missas tridentinas, com 658 locais. França, Grã-Bretanha e Itália são os próximos mais populares, com 199, 157 e 91 locais (que podem ser uma paróquia, uma capela ou outro local designado), respectivamente.

De fato, a Europa e a anglosfera respondem por mais de 86% de todos os locais tridentinos, e se você tirar os 56 locais no Brasil – o país católico mais populoso do mundo – dificilmente haveria algum outro na América Latina, África ou Ásia, os continentes onde a população católica é maior e cresce mais rapidamente.

Mesmo assim, o New York Times publicou um longo artigo em 2017, de Matthew Schmitz, sobre como a antiga missa em latim estava “prosperando” na Nigéria, embora haja exatamente uma igreja onde se celebra a missa em latim todos os domingos, em um país de 24 milhões de católicos.

Mesmo as estatísticas gerais não contam toda a história. Nos últimos anos, vários comentaristas, inclusive católicos conservadores que apoiam o rito tridentino, têm alertado sobre a fraqueza da narrativa de crescimento que está sendo contada sobre o rito antigo.

“Parece que se atingiu um teto. A missa tradicional em latim atrai um certo nicho de católicos, mas o número desse grupo parece ter atingido o seu ponto máximo”, escreveu o Mons. Charles Pope, um padre tradicionalista em Washington, em uma coluna para o jornal conservador National Catholic Register, em 2016.

Quando Bento XVI autorizou pela primeira vez um uso mais amplo da missa tridentina em 2007 – a política que Francisco acabou de revogar – houve um aumento na frequência dessas missas, de acordo com o papa, assim como ele e outros prometeram que aconteceria. Mas esse entusiasmo diminuiu, algo que eles não esperavam.

“Na minha própria arquidiocese, embora ofereçamos a missa tradicional em latim em cinco locais diferentes, nunca conseguimos atrair mais do que de cerca de 1.000 pessoas. Isso representa apenas 0,5% do número total de católicos que frequentam a missa em sua arquidiocese todos os domingos”, escreveu ele.

“Uma das nossas paróquias oferece generosamente uma Missa Solene uma vez por mês no domingo à tarde, uma missa que eu mesmo celebro há mais de 25 anos. Mas passamos de uma igreja quase cheia, para uma igreja com dois terços de fiéis, e agora com apenas cerca de um terço.”

Pope citou outros exemplos de paróquias tridentinas que atraem um número muito pequeno de fiéis, insuficiente para se sustentarem, e outros relataram o mesmo fenômeno.

“Eu apoio a missa tradicional em latim, mas rejeito toda a ideia de ‘missas tradicionais em latim cheias de jovens’ por ser imprecisa”, tuitou um padre de Michigan durante o intenso debate online sobre a medida de Francisco. “Nossa diocese doa enormes quantidades de dinheiro para manter abertas as nossas paróquias que celebram a missa tradicional em latim, precisamente porque elas tendem a não crescer. Tudo depende de muitas coisas, mas não do tipo de missa.”

Crescimento ilusório

Em 2019, um esforço dos fãs da missa tridentina para fornecer pesquisas que sustentassem a alegação de que o rito estava “crescendo rapidamente” e de que seus seguidores eram mais devotos e ortodoxos do que outros católicos estadunidenses serviu apenas para mostrar como essas afirmações são vazias.

Em um artigo para a First Things, uma revista conservadora, a socióloga Audra Dugandzic revelou que o assim chamado estudo era falho, já que o principal problema era que se tratava de uma pesquisa com fiéis da missa tridentina autoescolhidos.

A tendência dos fãs da missa latina de se autoescolherem, de se reunirem intencionalmente e muitas vezes com maior esforço do que muitos paroquianos é uma função natural da sua paixão, e essa é a principal razão pela qual eles podem projetar uma imagem de uma coorte crescente. Eles são visíveis e muitas vezes falam abertamente sobre as suas crenças.

Se eles são minoritários, isso não significa que não tenham influência. Chamá-los de o “1% litúrgico” seria exagerar em muito o seu tamanho. Mas não o seu alcance. A popularidade da missa em latim acompanha quase perfeitamente a oposição ao Papa Francisco, uma oposição alimentada por uma pauta política conservadora, muito dinheiro e uma plataforma nos países ocidentais industrializados.

“Os anglotradicionalistas colocaram o pontificado de Francisco na mira desde o primeiro dia, liderando uma guerra de guerrilha contra este papado”, tuitou Christopher Lamb, correspondente vaticano da The Tablet e autor de “The Outsider”, um livro sobre a oposição conservadora a Francisco. “O papa está dizendo que você não pode mais usar a liturgia nessa guerra.”

A visibilidade e a influência – na política e, até o surgimento do Papa Francisco, nos níveis mais altos da Igreja Católica – dessa coorte tridentina de superelite é a principal razão pela qual você está vendo tanta cobertura sobre essa controvérsia. Muitos defensores do rito tridentino permanecem firmes, e muitos deles juraram resistir à nova lei do pontífice, e alguns podem romper abertamente com Roma.

Mas é importante lembrar que a sua partida seria tanto a perda de uma “lasca” quanto um cisma. O verdadeiro futuro do catolicismo está em outro lugar, e sempre esteve.

Fonte: IHU – ADITAL