Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 26 de outubro de 2019

“Quem sou eu para julgar”. – A reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!



Hoje, uma reflexão muito concreta e atual. Como pano de fundo  tem o texto bíblico Lc 18, 9-14 (O Fariseu e o Publicano). O texto é de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!

WCejnóg

 
IHU – ADITAL
25 Outubro 2019

Quem sou eu para julgar

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lc 18,9-14 que corresponde ao 30° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

A parábola do fariseu e do publicano geralmente desperta em muitos cristãos uma grande rejeição do fariseu que se apresenta diante de Deus, arrogante e seguro de si mesmo, e uma simpatia espontânea para com o publicano que humildemente reconhece seu pecado. Paradoxalmente, o relato pode despertar em nós este sentimento:
“Agradeço-Te, meu Deus, porque não sou como este fariseu”.

Para ouvir corretamente a mensagem da parábola, temos de ter em mente que Jesus não a conta para criticar os setores fariseus, mas para sacudir a consciência de “alguns que presumiam serem homens de bem e desprezavam os outros”. Entre estes encontramo-nos, certamente, não poucos católicos dos nossos dias.

A oração do fariseu revela-nos sua atitude interior: “Oh Deus! Te dou graças porque não sou como os outros”. Que tipo de oração é esta de acreditar que é melhor que os outros? Mesmo um fariseu, fiel cumpridor da lei, pode viver numa atitude pervertida. Este homem sente-se justo diante de Deus e precisamente por isso se converte em juiz que despreza e condena os que não são como ele.

O publicano, pelo contrário, só consegue dizer: “Oh Deus! Tem compaixão deste pecador”. Este homem reconhece humildemente o seu pecado. Não se pode vangloriar da sua vida. Entrega-se à compaixão de Deus. Não se compara com ninguém. Não julga os outros. Vive verdadeiramente ante si mesmo e ante Deus.

A parábola é uma penetrante crítica que desmascara uma atitude religiosa de engano, que nos permite viver seguros da nossa inocência, enquanto condenamos desde a nossa suposta superioridade moral a todos os que não pensam ou agem como nós.

Circunstâncias históricas e correntes triunfalistas afastadas do evangelho fizeram os católicos especialmente propensos a esta tentação. Por isso, temos de ler a parábola, cada um em atitude autocrítica: por que achamos que somos melhores que os agnósticos? Por que nos sentimos mais perto de Deus dos que não são praticantes? O que está no fundo de certas orações pela conversão dos pecadores? O que é reparar os pecados dos outros sem viver convertendo-nos a Deus?

Em certa ocasião, ante a pergunta de um jornalista, o Papa Francisco fez esta afirmação: “Quem sou eu para julgar um gay?”. As suas palavras surpreenderam a quase todos. Aparentemente, ninguém esperava uma resposta tão simples e evangélica de um papa católico. No entanto, essa é a atitude de quem vive em verdade ante Deus.



sexta-feira, 18 de outubro de 2019

“Continuamos a acreditar na justiça?”. – Reflexão de Josè Antonio Pagola. Excelente!




"Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite? Porventura tardará em socorrê-los?  Digo-vos que em breve lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?”." (Lc 18, 7-8)



Hoje trago novamente para o blog Indagações-Zapytania uma excelente reflexão  do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Tem como pano de fundo o texto bíblico  Lc 18, 1-20 (parábola do juiz iníquo e a viúva).



Esta reflexão já foi publicada neste espaço alguns anos atrás, mas continua muito útil e pode servir de ajuda para quem procura entender melhor as mensagens bíblicas.



Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

WCejnog





IHU – ADITAL

18 Outubro 2019



Continuamos a acreditar na justiça?



A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lc 18,1-20, que corresponde ao 29° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 



Eis o texto



Lucas narra uma breve parábola indicando-nos que Jesus a contou para explicar aos seus discípulos “como tinham de orar sempre sem desanimar”. Este tema é muito querido para o evangelista que, em várias ocasiões, repete a mesma ideia. Como é natural, a parábola foi lida, quase sempre, como um convite para cuidar da perseverança da nossa oração a Deus.



No entanto, se observamos o conteúdo do relato e a conclusão do próprio Jesus, vemos que a chave da parábola é a sede de justiça. Até quatro vezes se repete a expressão “fazer justiça”. Mais do que um modelo de oração, a viúva do relato é exemplo admirável de luta pela justiça no meio de uma sociedade corrupta que abusa dos mais fracos.



O primeiro personagem da parábola é um juiz que “nem teme a Deus nem se importa com os homens”. É a encarnação exata da corrupção que denunciam repetidamente os profetas: os poderosos não temem a justiça de Deus e não respeitam a dignidade nem os direitos dos pobres. Eles não são casos isolados. Os profetas denunciam a corrupção do sistema judicial em Israel e a estrutura machista daquela sociedade patriarcal.



O segundo personagem é uma viúva indefesa no meio de uma sociedade injusta. Por um lado, vive sofrendo os abusos de um “adversário” mais poderoso que ela. Por outro lado, é vítima de um juiz que não se importa em absoluto com a sua pessoa nem o seu sofrimento. Assim vivem milhões de mulheres de todos os tempos na maioria das terras.



Na conclusão da parábola, Jesus não fala de oração. Primeiro de tudo, pede confiança na justiça de Deus: “Deus não fará justiça aos seus eleitos que Lhe clamam dia e noite?”. Esses eleitos não são os "membros da Igreja", mas os pobres de todos os povos que clamam pedindo justiça. Deles é o reino de Deus.



Então, Jesus faz uma pergunta que é um desafio para os seus discípulos: “Quando vier o Filho do Homem, encontrará esta fé na terra?”. Não está a pensar na fé como adesão doutrinal, mas na fé que alenta a atuação da viúva, modelo de indignação, resistência ativa e coragem para reclamar justiça aos corruptos.



É esta fé e a oração de cristãos satisfeitos das sociedades de bem-estar? Seguramente, tem razão J. B. Metz quando denuncia que na espiritualidade cristã há demasiados cânticos e poucos gritos de indignação, demasiada complacência e pouca nostalgia de um mundo mais humano, demasiado conforto e pouca fome de justiça.