Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

“O que significa Deus em nosso contexto”. – Artigo de Brendan MacCarthaigh. Muito interessante!

 

Hoje, trago para este blog um texto interessante e até um pouco desafiador à imaginação e aos conceitos existentes em nossos pensamentos, sobretudo em relação a como percebemos e/ou imaginamos Deus. O autor do artigo é Brendan MacCarthaigh. 

Este artigo foi publicado inicialmente por La Croix Internacional, e depois também no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Para contribuir um pouco na sua divulgação, trago-o também para este espaço.

Não deixe de ler!

 WCejnóg

IHU - ADITAL

23 Dezembro 2020

“Existe uma entidade não-dimensional de amor, e ela dá significado a todos nós – não pela obediência, mas pela pura irresistibilidade”, escreve Brendan MacCarthaigh, c.f.c., religioso, que trabalha na Índia há mais de 50 anos, em artigo publicado por La Croix International, 18-12-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Eis o artigo

Como a espécie da raça humana teve um longo caminho para seguir para se tornar orgulhosa do que se diz ser, homo sapiens, até homo sapiens technologicens.

Quando em nossa idade adulta nós nos deparamos com “sobre o que é isso tudo?”, nós nos encontramos sem respostas. Todas as outras espécies parecem claras a respeito disso, mas nós não.

Filósofos vem e vão, suas teorias duram um tempo, e então alguém encontra um “mas”. Teólogos mais ainda. Mesmo os evangelistas. Vejam nós. Religiões estão rindo hostilmente uma das outras, política idem, e nosso comportamento insistentemente justificado é mortalmente infantil.

Isso parece, para mim, que a raiz de toda a nossa miséria é nosso Deus.

A covid-19 está nos ajudando a identificá-la mais de perto.

Você não precisa ser um historiador para reconhecer que nós criamos Deus. Houve tribos com chefes, houve monarquias com reis, eles vieram de alguma forma para se verem com Direitos Divinos e até mesmo poderes, que se traduziam em autoridade sobre a vida e a morte de todos os corpos e almas em seu território.

Modelando-se em monarcas e monarquias, os líderes religiosos deram a si mesmos infalibilidade e autoridade e autoridade para decidir o que você poderia ou não ler, fazer, e mesmo após a morte – sob ameaça de punição horrível: uma noção que ainda é amplamente aceita.

Nós inventamos e tomamos decisões sobre conceitos como eternidade, infinito, onisciência, onipotência, infalibilidade e assim por diante, e ainda os promovemos.

Além disso, insistimos que nós, quem quer que sejamos, estamos definitivamente certos sobre o significado do cosmos e de tudo o que nele há, e deduzimos – ilustrando nossa compreensão miserável até mesmo de legalidades elementares – que se eu estiver certo e você difere de mim, você está errado. Além do mais, por estar errado, você é culpado e deve ser alienado e/ou punido.

Você pode possivelmente resgatar sua liberdade de viver entregando sua liberdade à Nossa maneira de responder “Sobre o que é isso tudo”, caso contrário, você está condenado de maneiras tanto corporais quanto políticas, religiosas, sociais, relacionais e assim por diante.

Mas nem tudo está perdido: você ainda pode retornar ao redil executando certos ritos e rituais e, portanto, está livre para fazer o mesmo novamente. E de novo.

A experiência humana convenceu o mundo inteiro da preeminência do amor

Enquanto tivermos um Deus, não vejo como podemos escapar dessa situação horrível. Nada do que escrevi acima o surpreende.

Cada um de vocês vai insistir que não é assim em sua interpretação particular de seu Deus particular, mas com um pouco de reflexão, você se verá obrigado a ceder. Se você optou pelo ateísmo – simplesmente não existe Deus – sua posição é totalmente consistente e inteligente. Mas te deixa desconfortável: essa coisa da morte se intrometer, insiste em uma resposta melhor do que depois dela não deve haver nada.

Como me parece, e eu disse algo útil (espero) sobre isso na reflexão anterior, o cerne de toda a vida humana é a tensão entre o medo e o amor.

A combinação de causas químicas e outras que levaram ao surgimento da pessoa humana contém em si essas duas forças, o medo e o amor. Se você insiste em usar o conceito de criação – eu seguro meu pé nisso – então o Big Bang foi criado.

Eu admito, não sei o que exatamente ele significa, mas acho que se espalha em dimensões muito além de nossa experiência cósmica de agora.

Mas deixe-me seguir minha interpretação: a experiência humana convenceu o mundo inteiro da preeminência do amor sobre todos os fenômenos humanos em termos de realização.

Esqueça sua incompreensibilidade essencial: nós o experimentamos de inúmeras maneiras e continuamos fazendo isso. Outra maneira de fazer essa afirmação é, envolve dimensões que não podemos especificar.

E isso me levou a afirmar que todo o amor que o cosmos experimenta, em cada ser natural, é ele mesmo o repositório de tudo que cada um aspira como realização de sua vida. Demos a ele o nome de amor. Nós o diminuímos usando o nome de Deus, mas isso é realmente o que Deus significa em nosso contexto: amor.

Certamente não sou o primeiro a tocar nessa base, e você mesmo poderia citar muitas escrituras para reforçá-la.

Mas eu penso que quando nós diminuímos essa referência do amor a Deus, nós então capturamos o monstro encolhido nessas páginas. Isso não é qualquer pessoa, muito menos a trindade ou um infinito disso, ou daquilo.

Existe uma entidade não-dimensional de amor, e ela dá significado a todos nós – não por obediência, mas por pura irresistibilidade. Onde essa não é a nossa percepção, fomos enganados.

E isso é o que nós fazemos para nosso mundo, nós precisamos nos livrar do Deus como atualmente o promovemos, e trazer de volta a completude do amor. Ou então o medo vencerá. Deus abençoe.

Fonte: IHU - ADITAL

domingo, 27 de dezembro de 2020

“Educar na fé em nossos dias” – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!

 

"Após terem observado tudo segundo a Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, à sua cidade de Nazaré. O menino ia crescendo e se fortificava: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava nele".  (Lc 2, 39-40)

Sagrada Família

Hoje trago para este espaço mais uma boa reflexão, muito concreta e bem atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 2, 22-40 (Apresentação do Senhor). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!

WCejnóg

IHU – ADITAL

26 Dezembro 2020

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Lucas 2,22-40, que corresponde à Solenidade da Sagrada Família, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

A passagem de Lucas termina dizendo: «A criança, por seu lado, ia crescendo e fortalecendo-se, cheia de sabedoria; e a graça de Deus estava com ela».

Quando falamos hoje de «educar na fé», o que queremos dizer? Concretamente, o objetivo é que os filhos entendam e vivam de uma forma responsável e coerente a sua adesão a Jesus Cristo, aprendendo a viver de forma saudável e positiva a partir do evangelho.

Mas hoje em dia a fé não pode ser vivida de qualquer maneira. As crianças necessitam aprender a ser crentes no meio de uma sociedade descristianizada. Isto exige viver uma fé personalizada, não pela tradição, mas fruto de uma decisão pessoal; uma fé vivida e experimentada, isto é, uma fé que se alimenta não de ideias e doutrinas, mas sim de uma experiência gratificante; uma fé não individualista, mas partilhada de alguma forma numa comunidade crente; uma fé centrada no essencial, que pode coexistir com dúvidas e interrogações; uma fé não envergonhada, mas comprometida e testemunhada no meio de uma sociedade indiferente.

Isto requer todo um estilo de educar hoje na fé, em que o importante é transmitir uma experiência mais do que de ideias e doutrinas; ensinar a viver valores cristãos mais do que a sujeição a algumas normas; desenvolver a responsabilidade pessoal em vez de impor costumes; introduzir na comunidade cristã em vez de desenvolver o individualismo religioso; cultivar a adesão confiada a Jesus em vez de resolver de forma abstrata problemas de fé.

Na educação da fé, o decisivo é o exemplo. Que os filhos possam encontrar na sua própria casa «modelos de identificação», que não lhes seja difícil saber como quem deveriam comportar-se para viver a sua fé de forma saudável, alegre e responsável.

Fonte: IHU – Comentário do Evangelho


 

“Deus encarnado”. – Reflexão de José Antonio Pagola.

 

"Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura”. (Lc 2, 12)

Reflexão para o tempo de Natal

O texto do Evangelho segundo Lucas, 2, 1-14,  (O nascimento de Jesus) é a base desta reflexão, que é de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Excelente reflexão!

Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!

WCejnóg

IHU – ADITAL

24 Dezembro 2020

A leitura que a Igreja propõe para esta Noite de Natal é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas, 2, 1-14. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto

Eis o texto

O Natal obriga-nos a rever ideias e imagens que habitualmente temos de Deus, mas que nos impedem de nos aproximarmos do Seu verdadeiro rosto. Deus não se deixa aprisionar nos nossos esquemas e moldes de pensamento. Não segue os caminhos que nós lhe marcamos. Deus é imprevisível.

Imaginamo-Lo forte e poderoso, majestoso e onipotente, mas Ele oferece-se na fragilidade de uma criança débil, nascida na mais absoluta simplicidade e pobreza. Colocamo-Lo quase sempre no extraordinário, prodigioso e surpreendente, mas ele apresenta-se a nós no quotidiano, no normal e comum. Imaginamo-lo grande e distante, e ele torna-se pequeno e próximo de nós.

Não. Este Deus encarnado no menino de Belém não é o que teríamos esperado. Não está à altura do que teríamos imaginado. Este Deus pode-nos decepcionar. No entanto, não é precisamente deste Deus próximo que necessitamos junto de nós? Não é esta proximidade ao humano a que melhor revela o verdadeiro mistério de Deus? Não se manifesta na debilidade deste menino sua verdadeira grandeza?

O Natal recorda-nos que a presença de Deus nem sempre corresponde às nossas expectativas, pois se nos oferece onde menos esperamos. Certamente temos de procurá-Lo na oração e no silêncio, na superação do egoísmo, na vida fiel e obediente à sua vontade, mas Deus pode oferecer-se quando Ele quiser e como quiser, mesmo no mais vulgar e comum da vida.

Agora sabemos que o podemos encontrar em qualquer ser indefeso e fraco que precise do nosso acolhimento. Pode estar nas lágrimas de uma criança ou na solidão de um velho. No rosto de qualquer irmão podemos descobrir a presença desse Deus que quis encarnar-se no humano.

Esta é a fé revolucionária do Natal, o maior escândalo do Cristianismo, expressa de forma lapidar por Paulo: «Cristo, apesar da sua condição divina, não se agarrou à sua categoria de Deus; pelo contrário, despojou-se do seu posto e assumiu a condição de servo, tornando-se um de muitos e apresentando-se como um simples homem» (Filipenses 2,6-7).

O Deus Cristão não é um Deus desencarnado, distante e inacessível. É um Deus encarnado, próximo, perto. Um Deus a quem podemos tocar de alguma forma sempre que tocamos no humano.

Fonte: IHU – Comentário do Evangelho