Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 27 de março de 2020

“Uma porta aberta”. – Reflexão de José Antonio Pagola.



(...) Jesus, outra vez profundamente comovido, foi até o sepulcro. Era uma gruta com uma pedra colocada à entrada.  "Tirem a pedra", disse ele. Disse Marta, irmã do morto: "Senhor, ele já cheira mal, pois já faz quatro dias".
Disse-lhe Jesus: "Não lhe falei que, se você cresse, veria a glória de Deus? "
Então tiraram a pedra. Jesus olhou para cima e disse: "Pai, eu te agradeço porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves, mas disse isso por causa do povo que está aqui, para que creia que tu me enviaste".
Depois de dizer isso, Jesus bradou em alta voz: "Lázaro, venha para fora! "
O morto saiu, com as mãos e os pés envolvidos em faixas de linho, e o rosto envolto num pano. Disse-lhes Jesus: "Tirem as faixas dele e deixem-no ir". (...)
(Jo 11, 34-44)

Abaixo, uma boa reflexão, que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 11, 1-45 ("Lázaro, sái para fora!"). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
 


IHU – ADITAL
27 Março 2020

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 11,1-45 que corresponde ao Quinto Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto.

Estamos demasiado presos pelo «mais cá» para nos preocuparmos com o «mais lá». Submetidos a um ritmo de vida que nos atordoa e escraviza, oprimidos por uma informação asfixiante de notícias e acontecimentos diários, fascinados por mil atrativos que o desenvolvimento técnico coloca em nossas mãos, não parece que necessitemos de um horizonte mais amplo do que «esta vida», em que nos movemos.

Para que pensar em «outra vida»? Não é melhor gastar todas as nossas forças em organizar o melhor possível a nossa existência neste mundo? Não deveríamos esforçar-nos ao máximo em viver esta vida de agora e calarmo-nos a respeito de todo o resto? Não é melhor aceitar a vida com a sua escuridão e os seus enigmas, e deixar o «além» como um mistério do qual nada se sabe?

No entanto, o homem contemporâneo, como o de todas as épocas, sabe que, no fundo do seu ser, está sempre latente a pergunta mais séria e difícil de responder: o que acontecerá com todos e cada um de nós? Qualquer que seja a nossa ideologia ou a nossa fé, o verdadeiro problema que todos estamos enfrentando é o nosso futuro. Que fim nos espera?

Peter Berger recordou-nos com profundo realismo que «toda a sociedade humana é, em última instância, uma congregação de homens frente à morte». Por isso, é precisamente ante a morte que aparece com mais claridade «a verdade» da civilização contemporânea que, curiosamente, não sabe o que fazer com ela que não seja escondê-la e evitar ao máximo seu trágico desafio.

Mais honesta parece ser a posição de pessoas como Eduardo Chillida, que em algumas ocasiões se expressou nestes termos: «Da morte, a razão diz-me que é definitiva. Da razão, a razão diz-me que é limitada».

É aqui onde temos de situar a posição do crente, que sabe lidar com realismo e modéstia o ato inevitável da morte, mas que o faz com uma confiança radical no Cristo ressuscitado. Uma confiança que dificilmente pode ser entendida «desde fora» e que só pode ser vivida por quem escutou, alguma vez, no fundo do seu ser, as palavras de Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida». Acreditas nisto?



sábado, 21 de março de 2020

“Olhos novos”. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito boa!



Jesus então disse: “Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos". (Jo 9, 39)

Abaixo, uma reflexão muito concreta e relevante, que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 9, 1-41 (Jesus cura o cego de nascença). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!
WCejnóg



IHU – ADITAL

20 Março 2020



Olhos novos



A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 9,1-41 que corresponde ao Quarto Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 



Eis o texto



O relato do cego de Siloé está estruturado a partir de uma chave de forte contraste. Os fariseus acreditam que sabem tudo. Não duvidam de nada. Impõem a sua verdade. Chegam, inclusive, a expulsar da sinagoga o pobre cego: “Este homem não é o enviado de Deus, pois não guarda o sábado.” (...) “Nós sabemos que este homem é pecador”. (Jo 9, 16;24)

“Então, eles o cobriram de injúrias e lhe disseram: ‘Tu que és discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés, mas deste não sabemos de onde ele é’. (...) ‘Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?...’. E expulsaram-no." (Jo 9, 28-29;34)


Pelo contrário, o mendigo curado por Jesus não sabe nada. Apenas conta a sua experiência a quem o queira escutar: “Só sei que era cego e agora vejo”. “Esse homem trabalhou os meus olhos e comecei a ver”. O relato termina com esta advertência final de Jesus: “Eu vim para que os que não veem, vejam, e os que veem fiquem cegos”.


A Jesus dá-lhe medo uma religião defendida por escribas seguros e arrogantes, que manejam autoritariamente a Palavra de Deus para impô-la, usá-la como arma ou inclusivamente excomungar a quem sente de maneira diferente. Teme os doutores da lei, mais preocupados em “guardar o sábado” do que em “curar” mendigos doentes. Parece-lhe uma tragédia, uma religião com “guias cegos” e diz abertamente: “Se um cego guia outro cego, os dois cairão no buraco”.

Teólogos, pregadores, catequistas e educadores, que pretendem “guiar” outros sem ter-se deixado iluminar por Jesus, não devemos ouvir a sua interpelação? Vamos continuar a repetir incansavelmente as nossas doutrinas sem viver uma experiência pessoal de encontro com Jesus que nos abra os olhos e o coração?

A nossa Igreja, hoje, não necessita de pregadores que encham as igrejas de palavras, mas de testemunhas que contagiem, mesmo que de forma humilde, com a sua pequena experiência do evangelho. Não necessitamos de fanáticos que defendam “verdades” de forma autoritária e com linguagem vazia, cheios de clichês e frases feitas.

Necessitamos de crentes de verdade, atentos à vida e sensíveis aos problemas das pessoas, buscadores de Deus capazes de escutar e acompanhar com respeito a tantos homens e mulheres que sofrem, procuram e não conseguem viver de uma maneira mais humana ou mais crente.