"Mas Jesus se aproximou, tocou neles e disse:
"Levantem-se! Não tenham medo!” (Mt 17,7)
Hoje trago para este espaço uma excelente reflexão,
muito concreta e atual. Como pano de fundo tem o texto bíblico Mt 17, 1-9 (Transfiguração de Jesus). O
texto é de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicado
na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a
pena ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
06 Março 2020
Os medos da Igreja
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 17,1-9 que corresponde ao
Segundo Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto.
Provavelmente, é o medo o que mais paralisa os
cristãos no seguir fielmente a Jesus Cristo. Na Igreja atual há pecado e
fraqueza, mas, sobretudo, existe o medo de correr riscos. Iniciamos o terceiro
milênio sem audácia para renovar criativamente a vivência da fé cristã.
Não é difícil assinalar alguns desses medos.
Temos medo do novo, como se «conservar o
passado» garantisse automaticamente a fidelidade ao Evangelho. É verdade que o
Concílio Vaticano II afirmou de forma rotunda que na Igreja deve haver «uma
constante reforma», pois «como instituição humana, necessita-a
permanentemente». No entanto, não é menos verdade que o que move nestes
momentos a Igreja não é tanto um espírito de renovação, mas um instinto de
conservação.
Temos medo de assumir as tensões e conflitos
que surgem com a busca de fidelidade ao evangelho. Calamo-nos quando deveríamos
falar; inibimo-nos quando deveríamos intervir. Proíbe-se o debate de questões
importantes, para evitar situações que podem inquietar; preferimos a adesão
rotineira que não traz problemas nem desgosta a hierarquia.
Temos medo da investigação teológica criativa.
Medo de rever ritos e linguagens litúrgicas que não favorecem hoje a celebração
viva da fé. Medo de falar dos «direitos humanos» dentro da Igreja. Medo de
reconhecer praticamente à mulher um lugar mais de acordo com o espírito de
Jesus.
Temos medo de colocar a misericórdia acima
de tudo, esquecendo que a Igreja não recebeu o «ministério do julgamento e da
condenação», mas o «ministério da reconciliação». Há medo de acolher os pecadores
como Jesus fez. Dificilmente se dirá hoje da Igreja que é «amiga dos
pecadores», como se dizia do Seu Mestre.
Segundo o relato evangélico, os discípulos caem por
terra «cheios de medo» ao ouvir uma voz que lhes diz: «Este é o meu Filho amado
... escutai-O».
É assustador ouvir apenas Jesus. É o próprio Jesus quem se aproxima, toca-lhes e diz: «Levantai-vos, não tenhais medo». Só o contato vivo com Cristo nos poderia libertar de tanto medo.
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