Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

“A felicidade de Jesus”. – Reflexão de José Antonio Pagola.

 

Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos 

proximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo:
Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.
Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem,

perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.
Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus,

pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram

antes de vocês". (Mt 5, 1-12)

Hoje, uma reflexão muito atual que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 5, 1-12 (Bem-aventuranças). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!

 WCejnóg

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

“Não esquecer o que é essencial”. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!

 

E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.  E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas". (Mt 22, 37-40)

Abaixo, uma reflexão muito concreta e bem atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 22, 34--40 (Os dois grandes mandamentos). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler e refletir!

WCejnóg

IHU – ADITAL

23 Outubro 2020

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Mateus 22,34-40, que corresponde ao 30° Domingo do ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto.

Não era fácil para os contemporâneos de Jesus ter uma visão clara do que constituía o núcleo da sua religião. Pessoas simples sentiam-se perdidas. Os escribas falavam de seiscentos e treze mandamentos contidos na lei. Como orientar-se numa rede tão complicada de preceitos e proibições? Em algum momento, a situação chegou a Jesus: o que é o mais importante e decisivo? Qual é o mandamento principal, o que pode dar sentido aos restantes?

Jesus não pensou duas vezes e respondeu recordando umas palavras que todos os homens judeus repetiam diariamente no começo e no fim do dia: «Escuta, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu ser». Ele próprio havia pronunciado naquela manhã estas palavras. A Ele ajudava-O a viver centrado em Deus. Isto era o principal para Ele.


Em seguida acrescentou algo que ninguém lhe tinha perguntado: «O segundo mandamento é: amarás o teu próximo como a ti mesmo». Nada é mais importante do que estes dois mandamentos. Para Jesus são inseparáveis. Não se pode amar a Deus e ignorar o seu próximo.

A nós ocorre-nos muitas perguntas. O que é amar a Deus? Como se pode amar alguém a quem nem sequer é possível ver? Ao falar de amor a Deus, os hebreus não pensavam nos sentimentos que podem nascer no nosso coração. A fé em Deus não consiste num «estado de ânimo». Amar a Deus é simplesmente centrar a vida nele para viver tudo desde a sua vontade.

Por isso, acrescenta Jesus o segundo mandamento. Não é possível amar a Deus e viver esquecido das pessoas que sofrem e a quem Deus ama tanto. Não existe um «espaço sagrado» no qual nos possamos «entender» a sós com Deus, de costas para os outros. Um amor a Deus que esquece os seus filhos e filhas é uma grande mentira.

A religião cristã resulta-nos hoje a muitos, complicada e difícil de entender. Provavelmente necessitamos na Igreja de um processo de concentração no essencial para nos desprendermos de acréscimos secundários e ficarmos com o importante: amar a Deus com todas as minhas forças e amar os outros como me quero a mim mesmo.

Fonte: IHU – Comentário do Evangelho

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

“Avida é só para Deus”. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!

 


 Mostrem-me a moeda usada para pagar o imposto". Eles lhe mostraram um denário, e ele lhes perguntou: "De quem é esta imagem e esta inscrição? "
"De César", responderam eles. E ele lhes disse: "Então, dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". (Mt 22, 19-21)

Hoje trago para este espaço uma reflexão curta, porém muito interessante. É do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola. Tem como pano de fundo o texto bíblico  Mt 22, 15-21  (Dai a Deus o que é de Deus).

Vale a pena conferir.

WCejnog

IHU – ADITAL

16 Outubro 2020

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Mateus 22,15-21, que corresponde ao 29° Domingo do ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto.

A exegese moderna não deixa lugar a dúvidas. O primeiro para Jesus é a vida, não a religião. Basta analisar a trajetória da Sua atividade. Vê-se que está sempre preocupado em suscitar e desenvolver, no meio daquela sociedade, uma vida mais sã e digna.

Pensemos na sua atuação no mundo dos doentes: Jesus aproxima-se de quem vive a sua vida de forma diminuída, ameaçada ou insegura, para despertar neles uma vida mais plena. Pensemos na sua aproximação aos pecadores: Jesus oferece-lhes o perdão que os faça viver uma vida mais digna, resgatada da humilhação e do desprezo. Pensemos também nos endemoniados, incapazes de ser donos da sua existência: Jesus liberta-os de uma vida alienada e desequilibrada pelo mal.

Como sublinhou Jon Sobrino, pobres são aqueles para quem a vida é uma carga pesada, pois não podem viver com um mínimo de dignidade. Essa pobreza é o oposto ao plano de vida original do Criador. Onde um ser humano não pode viver com dignidade, a criação de Deus aparece aí como viciada e anulada.

Por isso Jesus se preocupa tanto com a vida concreta dos camponeses da Galileia. O primeiro que necessitam aquelas pessoas é viver e viver com dignidade. Não é a meta final, mas agora mesmo o mais urgente. Jesus convida-os a confiar na salvação última do Pai, mas faz salvando as pessoas de males e aliviando doenças e sofrimentos. Anuncia-lhes a felicidade definitiva, no seio de Deus, mas faz introduzindo dignidade, paz e felicidade neste mundo.

Por vezes, os cristãos expomos a fé com tal confusão de conceitos e palavras que, na hora da verdade, poucos entendem sobre o que é exatamente o reino de Deus de que fala Jesus. No entanto, as coisas não são tão complicadas. A única coisa que Deus quer é isto: uma vida mais humana para todos e desde agora, uma vida que alcance a sua plenitude na vida eterna. Por isso não há que dar a nenhum César o que é de Deus: a vida e a dignidade dos seus filhos.

Fonte: IHU – Comentário doEvangelho

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

“Onde foi parar Deus no momento da pandemia?” – Uma entrevista com três teólogos italianos. Muito interessante!

Hoje trago para esta página uma interessante entrevista com três teólogos italianos, que foi publicada na Itália por La Lettura em março deste ano (2020), no início da pandemia do Coronavirus Covid-19, e também logo em seguida, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Perguntas importantes e respostas interessantes.  Sobretudo para quem procura entender um pouco melhor as dificuldades que frequentemente  inquietam a mente e o coração de ser humano, uma boa leitura pode ser muito proveitosa.

Não deixe de ler!

WCejnóg

IHU - ADITAL

23 março 2020

Cabe à ciência explicar o que está acontecendo e indicar como sair disso. Não tem dúvidas a tal respeito a opinião pública ocidental às voltas com o drama da pandemia. A religião não é central. É claro que falamos a respeito: por causa da colaboração entre autoridades civis e religiosas na aplicação de restrições, das celebrações on-line e as religiões nas redes sociais, do retorno de ritos antigos de súplica à Virgem e aos santos. No entanto, parece que o Ocidente sairá da emergência fortalecido em sua identidade como espaço secularizado, no qual o poder da ciência conta mais, e onde a religião sobrevive apenas como subalterna e residual.

É realmente assim? Deus realmente tem que se contentar em estar à margem da cena? La Lettura apresentou a pergunta a três teólogos italianos: Cettina Militello, 74, siciliana de Castellammare del Golfo (Trapani), que reside em Roma; Roberto Dell'Oro, 60 anos, natural de Lecco, desde 2003 em Los Angeles; e Severino Dianich, 85 anos, originário de Fiume e que adotou Pisa como sua cidade.

A conversa com Cettina Militello, Severino Dianich e Roberto Dell'Oro foi editada por Marco Ventura, publicada por La Lettura, 21-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista

Onde foi parar Deus no momento da pandemia?

Cettina Militello: Deus está exatamente onde pensamos que não esteja. Ele está conosco, não há dúvida. É uma presença misteriosa que não sentimos, e também é justo que nos rebelemos, que lhe perguntemos onde você está ... Mas Deus está onde há alguém que sofre. Não pode haver dúvida. Pelo menos para o crente.

Severino Dianich: Para pensar em Deus, devemos dar um passo em direção a um espaço adicional. Em direção a um horizonte infinito, cujas dimensões não podemos medir. Devemos levar o espírito humano ao limite. Se sentimos Deus dentro do nosso horizonte, com a nossa lógica, percebemos apenas suas contradições.

Roberto Dell'Oro: Com o vírus, experimentamos a contingência, daquilo que atinge a todos sem que o tenhamos desejado. Através dessa experiência, podemos voltar à origem da contingência. Poderia ser o nada. Em vez disso, é o tudo, isso é, Deus. E em Deus encontramos a alteridade das coisas, uma realidade subtraída do nosso controle.

“Deus nos ama”, escreveu um comerciante romano na vitrine de sua loja fechada pelo decreto antivírus. Alguém acrescentou (a versão literal é mais apimentada): "Imagine se não nos amasse".

Cettina Militello: São modos primitivos e toscos de pensar em Deus, Deus sofre e sofre conosco, está presente e está presente conosco. Na tragédia daqueles que não conseguem, daqueles que têm medo, na esperança daqueles que conseguem se confortar. Diante de uma tragédia, se pode perder a fé.

Severino Dianich: Há quem perde a fé. Há quem a encontra. Eu nem tentaria dizer o porquê. Aqui se entra em um terreno insondável. A que fé se pode recorrer neste momento?

Cettina Militello: Reagimos à maneira primitiva. Fazendo barulho, gritando, cantando. Remédios atávicos para medos atávicos. A superstição preenche emotivamente os vazios que a fé refletida não consegue preencher...

A fé refletida?

Cettina Militello: A fé adulta. Capaz de argumentar. Em vez disso, somos bombardeados por santos, ostensórios, bispos que imploram ... Vamos deixar claro: a fé dos simples deve ser respeitada. Tem um poder incrível. Mas não aceito que seja usada ou humilhada. Incomoda-me aqueles que se aproveitam dela de maneira inadequada. Aliás, é claro, a verdadeira não precisa dessas coisas.

A fé da fé simples e a fé refletida convivem na Igreja?

Cettina Militello: Uma das nossas responsabilidades como Igreja é ter apoiado essa deriva. Em vez disso, devemos nos perguntar o que fizemos com nossos relacionamentos, que mundo construímos, que fideísmo científico erigimos como substituto da fé.

Severino Dianich: Os bispos convidaram os italianos a rezar a São José no dia 19 de março. Nós nos perguntamos o que isso significa. No Antigo Testamento, a imploração de Deus é coletiva, assim como a penitência coletiva. Quando Jonas vai para Nínive, o rei decreta o jejum de todos os habitantes e, por fim, Deus poupa a cidade. Com Jesus a culpa é pessoal. Mas o senso do povo não se perde, que é, aliás, o sentido da Igreja. Deus poderia parar a pandemia.

Roberto Dell'Oro: O Deus cristão não causa nada. No mundo da realidade e das coisas. Deus está à obra nos eventos humanos, mas não os causa diretamente. Somos nós que, a partir dos eventos humanos, devemos remontar ao significado de sua presença.

Cettina Militello: Deus não é um tapa-buracos que vem para resolver problemas criados por nós mesmos. Ele nos fez livres. Ele nos confiou a criação. Nós o massacramos, estamos nos destruindo por nosso delírio de onipotência.

No entanto, o criador Deus deveria poder intervir.

Roberto Dell'Oro: A criação não reside no efeito físico. O amor de Deus deixa que as coisas estejam em sua liberdade. Não as determina ou controla. A relação entre Deus e o mundo é a relação entre duas liberdades. A liberdade de Deus deixa o mundo estar em sua contingência. Por isso, dela remontamos a ele.

Então, a que serve rezar?

Roberto Dell'Oro: A oração é uma confidência, um retorno à na bondade da origem que nos gerou. É claro que também pedimos que Deus nos salve, que ele nos mantenha vivos, que permanecerá fiel à sua promessa, mas como Deus não é um ídolo ... se pudéssemos controlá-lo, ele seria apenas um ídolo ... em vez disso, confiamos no mistério de sua transcendência e redescobrimos a nossa liberdade.

Cettina Militello: Fora da perspectiva da fé, a oração é apenas uma técnica de relaxamento. No âmbito cristão, a oração é diálogo, é conversa. É abandonar-se a Deus, mesmo com aspereza, mesmo perguntando onde você está. Infelizmente, geralmente prevalece a oração de pedido. É o nosso limite. Eu não vou criticar. Eu mesma digo: Senhor nos ajude. Mas também gosto de dizer a ele: sei que você está aqui, comigo.

Severino Dianich: Jesus recomenda a oração de pedido e promete a resposta. Alguém poderia objetar: querido Jesus, você foi o primeiro a não ser atendido quando rezou no Getsêmani "Deus, afasta de mim esse sofrimento".

Nenhuma certeza.

Severino Dianich: O Evangelho garante: o Pai, no entanto, lhe dará seu espírito. Eu posso derivar disso uma atitude interior de confiança. Uma libertação da ansiedade de minha sorte imediata. Como se dizia entre nós antigamente, e como os muçulmanos ainda falam, será como Deus quiser.

Enquanto alguém reza, todos nos voltamos para a ciência.

Severino Dianich: Na Igreja ortodoxa grega, houve resistência em interromper a comunhão com o pão e o vinho por causa do vírus. Para nós, é clara a distinção entre a substância sacramental, onde Deus não pode transmitir nenhuma infecção, e a substância física dos elementos, através da qual pode se disseminar a epidemia. Podemos ouvir o epidemiologista e, ao mesmo tempo, podemos rezar. O fato é que a ciência pode nos ajudar mais que Deus. E que um Deus que não me ajuda é um Deus mau.

Roberto Dell'Oro: Somos sempre livres para ir a Deus ou recusá-lo, culpá-lo, cobrá-lo por causa das coisas terríveis que acontecem conosco. Deus não nos obriga a interpretar os fatos nem no sentido da bondade das coisas que acontecem nem no sentido de sua maldade. O mau por excelência é o diabo.

Cettina Militello: Nós somos o diabo. Nós somos o sujeito do pecado. A culpa é nossa. Individual e coletiva. Devemos parar de inventar bichos-papões que estão fora de nós.

Severino Dianich: O diabo está agachado diante de nossa porta, lemos no Gênesis. Em outras palavras, o diabo é a tentação da qual devo me defender.

Roberto Dell'Oro: O diabo é o princípio da separação. É o que coloca em nós a dúvida de que a origem seja ruim. Como tal, representa o atentado mais fundamental à fé. O diabo leva a pensar em Deus como mau. A negar que nossa relação com ele seja uma relação de liberdade e não de necessidade.

Essa liberdade poderia ser a chave da aliança entre Deus e os cientistas?

Cettina Militello: A ciência é uma aliada. Exceto quando se pensa onipotente. Vamos lutar juntos para derrotar esse vírus abençoado... ou amaldiçoado...

Abençoado ou amaldiçoado?

Cettina Militello: Amaldiçoado pela dor que traz ... pela quantidade infinita de caixões ... Abençoado no sentido de que pode nos dar um reinício, pode nos devolver o senso do limite que perdemos completamente. Como um amigo teólogo, cujo nome prefiro não citar, disse hoje recentemente, nem tudo ficará bem, mas tudo ficará melhor.

No sentido de que nos distanciarmos nos unirá?

Roberto Dell'Oro: O desafio fundamental nos dias de hoje é a solidariedade social. No momento do distanciamento, repensamos o sentido da proximidade. Porque assim é Deus em relação a nós. Está próximo e, portanto, nos solicita à proximidade recíproca. Vemos isso na solidariedade que se expressa no trabalho do pessoal da saúde.

Cettina Militello: Misericórdia é a palavra que une todo o falar de Deus. Devemos nos preocupar com outras coisas. Temos oceanos de compaixão nestes dias. Pensamos naqueles que arriscam suas vidas. O que os move, se não esse profundo senso do dever de estar perto do outro? Isso, e nada mais, é o nome de Deus.

Severino Dianich: Jesus é perguntado várias vezes sobre a culpa das vítimas. Por exemplo, no desmoronamento de uma torre. Ou no massacre ordenado por Pilatos no templo. Para ele, o que importa não é se os que perderam a vida pecaram, mas se a tragédia será um estímulo à conversão.

É a pergunta que eu dirijo para você para encerrar. A tragédia nos converterá?

Cettina Militello: Tudo isso será uma lição. Não podemos continuar a abusar de nós mesmos e da criação. O ecossistema global insurge. Nesse sentido, a conversão é um retorno a Deus, à sua aliança, à sua Palavra.

Roberto Dell'Oro: Somos dados a nós mesmos como seres livres. Livres para pensar sobre a origem ou negá-la. A experiência do vírus é uma ocasião para se distanciar da origem. Ou se reaproximar.

Severino Dianich: Sim, a pandemia é a ocasião para alguns passos de conversão. Ou seja, mudar o estilo de vida, de orientação da vida. Esse é o significado da fé cristã.

Fonte: IHU – ADITAL