Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

“Sem esperar nada” – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!




“(...) Amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem daí esperar nada. E grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bom para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados.”   (Lc 6, 35-37)



A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é bem concreta e interessante. Tem como pano de fundo o texto bíblico  Lc 6, 27-38 (Jesus fala sobre amor verdadeiro).

Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).



Vale a pena ler.

WCejnog




IHU – ADITAL

22 fevereiro 2019



Sem esperar nada



A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lc 6,27-38 que corresponde ao 7° Domingo de Tempo Comum, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 



Eis o texto



Por que tantas pessoas vivem secretamente insatisfeitas? Por que tantos homens e mulheres acham a vida monótona, trivial, insípida? Por que se entediam no meio do seu bem-estar? Que lhes falta para encontrar de novo a alegria de viver?



Talvez a existência de muitos mudasse e adquirisse outra cor e outra vida, simplesmente se aprendessem a amar alguém de graça. O queira ou não, o ser humano está chamado a amar desinteressadamente; e, se não o faz na sua vida, abre-se um vazio que nada nem ninguém pode preencher. Não é uma ingenuidade escutar as palavras de Jesus: “Façam o bem... sem esperar nada”. Pode ser o segredo da vida. O que pode devolver-nos a alegria de viver?



É fácil acabar sem amar ninguém de uma forma verdadeiramente gratuita. Não faço mal a ninguém. Não me meto nos problemas dos outros. Respeito os direitos dos outros. Vivo a minha vida. Já tenho o suficiente com que me preocupar comigo e com as minhas coisas.



Mas isso é vida? Viver despreocupado dos outros, reduzido ao meu trabalho, à minha profissão ou ao meu ofício, impermeável aos problemas dos outros, alheio aos sofrimentos das pessoas, me encerro na minha “redoma de vidro”?



Vivemos numa sociedade onde é difícil aprender a amar gratuitamente. Quase sempre perguntamos: para que serve isso? É útil? Que ganho com isso? Tudo contamos e medimos. Criamos a ideia de que tudo se obtém “comprando”: alimentos, vestuário, casa, transporte, entretenimento... E assim corremos o risco de converter todas as nossas relações numa pura troca de serviços.



Mas o amor, a amizade, o acolhimento, a solidariedade, a proximidade, a confiança, a luta pelos fracos, a esperança, a alegria interior... não se obtêm com dinheiro. São algo gratuito que se oferece sem esperar nada em troca, mas visa o crescimento e a vida do outro.



Os primeiros cristãos, ao falar de amor, usaram a palavra “ágape”, justamente para enfatizar mais esta dimensão da gratuidade, em contraste com o amor entendido apenas como "eros" e que tinha, para muitos, uma ressonância de interesse e egoísmo.



Entre nós há pessoas que só podem receber um amor gratuito, porque quase nada têm para retribuir a quem se quer aproximar delas. Pessoas sozinhas, maltratadas pela vida, incompreendidas por quase todos, empobrecidas pela sociedade, com quase nenhuma saída na vida.



Aquele grande profeta que foi Helder Câmara recorda-nos o convite de Jesus com estas palavras: “Para libertar-te a ti mesmo, lança uma ponte para além do abismo que o teu egoísmo criou. Tenta ver para além de ti mesmo. Tenta escutar outra pessoa e, acima de tudo, tenta esforçar-te por amar em vez de amar-te a ti próprio”.




sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

“Felicidade”. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito boa!



“Então ele ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis fartos! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque vos alegrareis!

Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos ultrajarem, e quando repelirem o vosso nome como infame por causa do Filho do Homem! Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu. Era assim que os pais deles tratavam os profetas.

Mas ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação! Ai de vós, que estais fartos, porque vireis a ter fome! Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis! Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam os pais deles aos falsos profetas!".  (Lc 9,20-26)


Abaixo, uma bonita reflexão, muito concreta e bem atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 6, 17.20-26  (Felicidade e infelicidade). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.

O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!

WCejnóg



IHU – ADITAL

15 fevereiro 2019



Felicidade



A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 6,17.20-26 que corresponde ao 6° Domingo de Tempo Comum, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 



Eis o texto



Pode-se ler e ouvir cada vez mais notícias otimistas sobre a superação da crise e a recuperação progressiva da economia. Dizem-nos que já estamos assistindo a um crescimento econômico, mas, crescimento de quê? Crescimento para quem? Dificilmente somos informados da verdade completa do que acontece.



A recuperação econômica em curso está consolidando e até perpetuando a chamada «sociedade dual». Um crescente abismo vai-se abrindo entre os que vão melhorar o seu nível de vida cada vez com maior segurança e aqueles que serão deixados para trás, sem trabalho nem futuro nesta vasta operação econômica.



De fato, ao mesmo tempo, aumenta o consumo ostentoso e provocativo dos que são cada vez mais ricos e a miséria e insegurança dos cada vez mais pobres.



A parábola do homem rico «que se vestia de púrpura e linho e que se banqueteava sumptuosamente todos os dias» e do pobre Lázaro que procurava sem conseguir, para saciar o seu estômago, o que deitavam fora da mesa do rico, é uma crua realidade da sociedade dual.



Entre nós existem esses «mecanismos econômicos, financeiros e sociais» denunciados por João Paulo II, «que, embora manejados pela vontade dos homens, trabalharam quase automaticamente, tornando mais rígidas as situações de riqueza de uns e as de pobreza de outros».



Mais uma vez estamos consolidando uma sociedade profundamente desigual e injusta. Nessa encíclica tão lúcida e evangélica que é Sollicitudo Rei Socialis, tão pouco ouvida, inclusive por aqueles que constantemente o vitoriam, João Paulo II descobriu na raiz desta situação algo que só tem um nome: o pecado.



Podemos dar todos os tipos de explicações técnicas, mas quando o resultado é o enriquecimento cada vez maior dos já ricos e o afundamento dos mais pobres, aí se está a consolidar a falta de solidariedade e a injustiça.



Nas Bem-aventuranças, Jesus adverte que um dia se inverterá o destino dos ricos e dos pobres. É fácil que também hoje sejam muitos os que seguindo Nietzsche, pensam que a atitude de Jesus é fruto do ressentimento e impotência de quem, não podendo obter mais justiça, pede a vingança de Deus.



No entanto, a mensagem de Jesus não nasce da impotência de um homem derrotado e ressentido, mas da sua visão intensa da justiça de Deus, que não pode permitir o triunfo final da injustiça.



Vinte séculos se passaram, mas a palavra de Jesus continua a ser decisiva para os ricos e para os pobres. Palavra de denúncia para alguns e promessa para outros, ainda está viva e interpela-nos a todos.