“Então ele ergueu os
olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres,
porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós que agora tendes fome,
porque sereis fartos! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque vos
alegrareis!
Bem-aventurados sereis
quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos ultrajarem, e quando
repelirem o vosso nome como infame por causa do Filho do Homem! Alegrai-vos
naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu. Era assim que
os pais deles tratavam os profetas.
Mas ai de vós, ricos, porque
tendes a vossa consolação! Ai de vós, que estais fartos, porque vireis a ter
fome! Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis! Ai de vós,
quando vos louvarem os homens, porque assim faziam os pais deles aos falsos
profetas!". (Lc 9,20-26)
Abaixo, uma bonita reflexão, muito concreta e bem atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 6, 17.20-26 (Felicidade e infelicidade). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU
– ADITAL
15
fevereiro 2019
Felicidade
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 6,17.20-26 que corresponde ao 6°
Domingo de Tempo Comum, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio
Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Pode-se ler e ouvir cada vez mais notícias
otimistas sobre a superação da crise e a recuperação progressiva da
economia. Dizem-nos que já estamos assistindo a um crescimento econômico, mas, crescimento
de quê? Crescimento para quem? Dificilmente somos informados da verdade
completa do que acontece.
A recuperação econômica em curso está consolidando
e até perpetuando a chamada «sociedade dual». Um crescente abismo vai-se
abrindo entre os que vão melhorar o seu nível de vida cada vez com maior
segurança e aqueles que serão deixados para trás, sem trabalho nem futuro nesta
vasta operação econômica.
De fato, ao mesmo tempo, aumenta o consumo
ostentoso e provocativo dos que são cada vez mais ricos e a miséria e
insegurança dos cada vez mais pobres.
A parábola do homem rico «que se vestia de
púrpura e linho e que se banqueteava sumptuosamente todos os dias» e do pobre
Lázaro que procurava sem conseguir, para saciar o seu estômago, o que deitavam
fora da mesa do rico, é uma crua realidade da sociedade dual.
Entre nós existem esses «mecanismos econômicos,
financeiros e sociais» denunciados por João Paulo II, «que, embora manejados
pela vontade dos homens, trabalharam quase automaticamente, tornando mais
rígidas as situações de riqueza de uns e as de pobreza de outros».
Mais uma vez estamos consolidando uma sociedade profundamente
desigual e injusta. Nessa encíclica tão lúcida e evangélica que é Sollicitudo
Rei Socialis, tão pouco ouvida, inclusive por aqueles que
constantemente o vitoriam, João Paulo II descobriu na raiz desta situação algo
que só tem um nome: o pecado.
Podemos dar todos os tipos de explicações técnicas,
mas quando o resultado é o enriquecimento cada vez maior dos já ricos e o
afundamento dos mais pobres, aí se está a consolidar a falta de
solidariedade e a injustiça.
Nas Bem-aventuranças, Jesus adverte que um dia
se inverterá o destino dos ricos e dos pobres. É fácil que também hoje
sejam muitos os que seguindo Nietzsche, pensam que a atitude de Jesus é fruto
do ressentimento e impotência de quem, não podendo obter mais justiça, pede a
vingança de Deus.
No entanto, a mensagem de Jesus não nasce da
impotência de um homem derrotado e ressentido, mas da sua visão intensa da
justiça de Deus, que não pode permitir o triunfo final da injustiça.
Vinte séculos se passaram, mas a palavra de Jesus
continua a ser decisiva para os ricos e para os pobres. Palavra de denúncia
para alguns e promessa para outros, ainda está viva e interpela-nos a todos.
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