“Jesus
lhes disse: É claro que vocês me citarão este provérbio: ‘Médico, cura-te a ti
mesmo! Faze aqui em tua terra o que ouvimos que fizeste em Cafarnaum'.
Continuou
ele: Digo a verdade: Nenhum profeta é aceito em sua terra.” (Mc
Lc 4, 23-24)
Hoje,
uma boa reflexão, muito atual e importante. Como pano de fundo tem o texto bíblico Lc 4,21-30 (Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria).
É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado no site do
Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU
– ADITAL
31
Janeiro 2019
Privados
de espírito profético
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
de Jesus Cristo segundo Lucas 4,21-30 que corresponde ao 4° Domingo de
Tempo Comum, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Sabemos que a oposição a Jesus foi crescendo
lentamente: o receio dos escribas, a irritação dos mestres da lei e a rejeição
dos líderes do templo foram crescendo acabando na sua condenação e execução na
cruz.
Também o sabe o evangelista Lucas. Mas,
intencionalmente, forçando inclusive o seu próprio relato, fala da rejeição
frontal a Jesus na sua primeira atuação pública. Desde o início, os
leitores devem estar cientes de que a rejeição é a primeira reação que Jesus
encontra entre os seus quando se apresenta como um profeta.
O que aconteceu em Nazaré não é um evento isolado, algo que aconteceu no passado. A rejeição de Jesus quando ele aparece
como o Profeta dos pobres, como libertador dos oprimidos e quem perdoa os
pecadores, pode se repetir no seu povo ao longo dos séculos.
É difícil para os seguidores de Jesus aceitar sua
dimensão profética. Quase nos esquecemos completamente de algo que tem grande
importância. Deus não se encarnou num sacerdote, consagrado para cuidar da
religião do Templo. Nem num letrado ocupado em defender a ordem estabelecida
pela lei. Encarnou-se e revelou-se num profeta enviado pelo Espírito
para anunciar aos pobres a Boa Nova e a libertação aos oprimidos.
Esquecemos que a religião cristã não é mais uma
religião entre outras, nascida para proporcionar aos seguidores de Jesus
as crenças, ritos e preceitos adequados para viver a sua relação com Deus. É
uma religião profética, impulsionada pelo Profeta Jesus para promover um mundo
mais humano, orientado para a sua salvação definitiva em Deus.
Os cristãos correm o risco de descuidar uma e
outra vez a dimensão profética que nos animará como seguidores de Jesus.
Apesar de grandes manifestações proféticas que se verificaram na história
cristã, não deixa de ser verdade o que afirma o renomado teólogo H. von
Balthasar que quando «cai sobre o
espírito profético da Igreja uma geada, ela não desapareceu completamente».
Hoje, preocupados em restaurar «o religioso» frente
à secularização moderna, nós corremos o risco de caminhar rumo ao futuro,
privados de espírito profético. Se for assim, pode suceder-nos como aos
vizinhos de Nazaré: Jesus fará o seu caminho entre nós e «se afastará» para
continuar seu caminho. Nada o impedirá de continuar sua tarefa libertadora.
Outros, vindos de fora, reconhecerão sua força profética e receberão sua ação
salvadora.
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