A reportagem de José Manuel Vidal foi
publicada algum tempo atrás (2015) por Religión Digital, por ocasião da
apresentação do livro A Igreja pobre e para os pobres,
do cardeal Müller, com prólogo do Papa Francisco e uma
colaboração especial do ‘pai da Teologia da Libertação’ Gustavo Gutierrez, que
esteve presente ao encontro. Posteriormente (abril de 2015) a mesma também foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
O
texto traz algumas opiniões e informações e por isso oferece uma excelente
oportunidade para relembrarmos (ou entendermos melhor) de que realmente fala a
Teologia da Libertação e como é inegável a sua importância. Apesar de esta ser
uma matéria já um pouco antiga, creio que continua muito atual.
Vale a
pena ler!
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IHU
- ADITAL
Sexta, 10 de abril de
2015
“A Teologia da Libertação é
uma carta de amor a Deus, à Igreja e ao povo”, afirma Gustavo Gutiérrez
É tão baixinho que mal
pode ser visto no palco, mas quando toma a palavra, se agiganta e converte-se
em um ícone. Gustavo Gutiérrez participou, na quarta-feira 08 de abril
(2015), da apresentação do livro A Igreja pobre e para os pobres,
do cardeal Müller, com prólogo do Papa e uma colaboração
especial do ‘pai da Teologia da Libertação’. Com linguagem
simples, ao alcance de todos, recordou, entre outras coisas, que a Teologia da
Libertação é “uma carta de amor a Deus, à Igreja e ao
povo” e, talvez por isso, está mais viva do que nunca.
A reportagem é de José
Manuel Vidal e publicado por Religión Digital, 08-04-2015.
A tradução é de André Langer.
Reportagem
No grande salão de
eventos do Colégio Nossa Senhora de Belém, em Lima, não
cabia mais sequer um alfinete. Calculo que havia em torno de 1.000 pessoas.
Toda a Lima da Igreja das periferias. Algo que também aqui [em
Lima, no Peru] não é muito habitual. “Fazia tempo que não via tanta gente em
torno de Gustavo. Tiveste muita sorte”, dizia, ao meu lado, o Pe. Gastón Garatea, outro líder desta
sensibilidade eclesial.
Entre as personagens
presentes, além de Garatea, estava o bispo jesuíta Luis Bambarén,
emérito, ou o ex-ministro da Justiça Fernández Sesaredo. Entre o
público, gente de idade, mas também de mediana idade e inclusive muitos jovens.
Nota-se no ambiente que após anos de sofrimento e até de “martírio”, o
pontificado de Francisco voltou a lhes dar asas.
Foi o que disse
claramente o missionário espanhol do IEME, Andrés Gallegos:
“O sonho de Francisco de uma Igreja pobre e para os pobres é
realizado por todos os que estão aqui e faz parte de uma longa história de
alegria e de sofrimentos”.
Na sua opinião, neste
processo, pode-se falar inclusive de “experiências de martírio”. Desde a
de dom Romero, às de “outros mártires que deram a sua vida no dia a
dia, gota a gota e pouco a pouco”. Porque também na Igreja de Lima,
assim como na da Espanha, a opção por este modelo eclesial de
Igreja aberta à misericórdia e aos pobres provocou muitas perseguições.
Aqui, de fato, comparam
a situação que viveram (e, em certo sentido, ainda vivem) com o cardeal Cipriani,
com a do cardeal Rouco em Madri. E falam de “duas
almas cardinalícias gêmeas, que trataram de impor por meio do controle o velho
modelo da Igreja do poder. Com a diferença de que vocês já se livraram dele e
nós continuamos sofrendo”.
Antes de Andrés
Gallegos, interveio na apresentação, o jesuíta Alberto Simons e,
depois, a irmã Glafira Jiménez. O professor jesuíta defendeu a
opção pelos pobres e assinalou que “um dos maiores sinais de credibilidade do
Deus de Jesus é optar pelos pobres” e, portanto, “a Igreja só será fiel ao Deus
de Jesus se for pela opção preferencial pelos pobres”.
No mesmo sentido, a
irmã Glafira, que estudou teologia na Universidade de
Comillas de Madri, destacou que “Deus é inimigo da morte e
de tudo aquilo que a provoca ou a antecipa”, e que “Jesus nos chama para tornar
os pobres visíveis, porque a opção preferencial pelos pobres é uma maneira de fazer
teologia e de seguir Jesus”.
Para finalizar o ato, a
intervenção esperada de Gustavo Gutiérrez, que começou recordando a
sintonia do cardeal Müller, seu amigo, com a essência da Teologia
da Libertação, que é o coração mesmo da mensagem cristã: “Que venha a nós o
vosso Reino”, ou seja, que “venha o seu Reino à história humana, porque a
mensagem cristã é chamada a transformar a História com justiça, liberdade,
verdade, amor e igualdade”.
Porque, segundo Gutiérrez,
a Teologia da Libertação nasce da convergência de três
processos: a situação da América Latina nos anos 1960; a realização
do Concílio e sua continuação na Conferência de
Medellín. Nos anos 60 aconteceu “a irrupção dos pobres na América
Latina”. João XXIII e o Concílio “falam da Igreja dos pobres”.
E Medellín “faz parte, para mim, do acontecimento conciliar”.
“Nessa confluência de fatores situa-se a Teologia da Libertação e,
nesse processo, alimentam-se mutuamente”, explicou.
Gutiérrez quis
deixar claro que, na sua opinião, o Vaticano II não é um
Concílio pastoral, como alguns tratam de repetir à saciedade numa tentativa de
anulá-lo. “O Vaticano II é o Concílio mais teológico de todos
da história da Igreja”.
Desde essa confluência
com o Concílio, “a Teologia da Libertação não
descobriu os pobres, embora alguns creiam nisso, nem propõe um tema novo; a
única coisa que faz é propor o tema dos pobres de uma maneira nova”. E o novo
da Teologia da Libertação é “sua linguagem e a tomada de maior
consciência das causas e da complexidade da pobreza”.
A Teologia da
Libertação é, pois, uma teologia pastoral, na qual insiste muito
o Papa Francisco, porque “a Teologia é feita para ajudar as pessoas
a viverem plenamente o Evangelho”. Por isso, está cada vez mais na moda. Por
isso, não pode morrer ou “ao menos, não me convidaram para o enterro”.
Mais viva do que nunca
na esteira de Francisco. Por isso, o pai desta corrente teológica
termina a sua intervenção convidando os presentes para “acompanharem o Papa,
como irmãos e companheiros de caminhada, como ele mesmo disse no prólogo do
livro”.
Ovação cerrada para o
pequeno-grande gênio teológico, do qual as pessoas se aproximam para abraçá-lo,
fazer selfies com ele, parabenizá-lo ou simplesmente agradecer-lhe
por seu martírio incruento ao longo de todos estes anos de marginalização e de
tentativas de linchamento. A ‘gárgula’, como aqui chamam ao cardeal Cipriani,
“quis eliminá-lo da presença pública eclesial, mas não conseguiu, porque a
força dos pobres, que é a força de Deus, está com ele”. E, agora, Francisco e
até o conservador presidente da Congregação para a Doutrina da Fé,
o reabilitaram.
Fonte: IHU - ADITAL
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