Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

“A Teologia da Libertação é uma carta de amor a Deus, à Igreja e ao povo”, segundo Gustavo Gutiérrez. – A reportagem, que vale a pena ler de novo.




A reportagem de José Manuel Vidal foi publicada algum tempo atrás (2015) por Religión Digital, por ocasião da apresentação do livro A Igreja pobre e para os pobres,  do cardeal Müller, com prólogo do Papa Francisco e uma colaboração especial do ‘pai da Teologia da Libertação’ Gustavo Gutierrez, que esteve presente ao encontro. Posteriormente (abril de 2015) a mesma também foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).



O texto traz algumas opiniões e informações e por isso oferece uma excelente oportunidade para relembrarmos (ou entendermos melhor) de que realmente fala a Teologia da Libertação e como é inegável a sua importância. Apesar de esta ser uma matéria já um pouco antiga, creio que continua muito atual. 


Vale a pena ler!

WCejnóg


 

IHU - ADITAL

Sexta, 10 de abril de 2015



“A Teologia da Libertação é uma carta de amor a Deus, à Igreja e ao povo”, afirma Gustavo Gutiérrez



É tão baixinho que mal pode ser visto no palco, mas quando toma a palavra, se agiganta e converte-se em um ícone. Gustavo Gutiérrez participou, na quarta-feira 08 de abril (2015), da apresentação do livro A Igreja pobre e para os pobres,  do cardeal Müller, com prólogo do Papa e uma colaboração especial do ‘pai da Teologia da Libertação’. Com linguagem simples, ao alcance de todos, recordou, entre outras coisas, que a Teologia da Libertação é “uma carta de amor a Deus, à Igreja e ao povo” e, talvez por isso, está mais viva do que nunca.



A reportagem é de José Manuel Vidal e publicado por Religión Digital, 08-04-2015. A tradução é de André Langer.



Reportagem



No grande salão de eventos do Colégio Nossa Senhora de Belém, em Lima, não cabia mais sequer um alfinete. Calculo que havia em torno de 1.000 pessoas. Toda a Lima da Igreja das periferias. Algo que também aqui [em Lima, no Peru] não é muito habitual. “Fazia tempo que não via tanta gente em torno de Gustavo. Tiveste muita sorte”, dizia, ao meu lado, o Pe. Gastón Garatea, outro líder desta sensibilidade eclesial.



Entre as personagens presentes, além de Garatea, estava o bispo jesuíta Luis Bambarén, emérito, ou o ex-ministro da Justiça Fernández Sesaredo. Entre o público, gente de idade, mas também de mediana idade e inclusive muitos jovens. Nota-se no ambiente que após anos de sofrimento e até de “martírio”, o pontificado de Francisco voltou a lhes dar asas.



Foi o que disse claramente o missionário espanhol do IEMEAndrés Gallegos: “O sonho de Francisco de uma Igreja pobre e para os pobres é realizado por todos os que estão aqui e faz parte de uma longa história de alegria e de sofrimentos”.



Na sua opinião, neste processo, pode-se falar inclusive de “experiências de martírio”. Desde a de dom Romero, às de “outros mártires que deram a sua vida no dia a dia, gota a gota e pouco a pouco”. Porque também na Igreja de Lima, assim como na da Espanha, a opção por este modelo eclesial de Igreja aberta à misericórdia e aos pobres provocou muitas perseguições.



Aqui, de fato, comparam a situação que viveram (e, em certo sentido, ainda vivem) com o cardeal Cipriani, com a do cardeal Rouco em Madri. E falam de “duas almas cardinalícias gêmeas, que trataram de impor por meio do controle o velho modelo da Igreja do poder. Com a diferença de que vocês já se livraram dele e nós continuamos sofrendo”.



Antes de Andrés Gallegos, interveio na apresentação, o jesuíta Alberto Simons e, depois, a irmã Glafira Jiménez. O professor jesuíta defendeu a opção pelos pobres e assinalou que “um dos maiores sinais de credibilidade do Deus de Jesus é optar pelos pobres” e, portanto, “a Igreja só será fiel ao Deus de Jesus se for pela opção preferencial pelos pobres”.



No mesmo sentido, a irmã Glafira, que estudou teologia na Universidade de Comillas de Madri, destacou que “Deus é inimigo da morte e de tudo aquilo que a provoca ou a antecipa”, e que “Jesus nos chama para tornar os pobres visíveis, porque a opção preferencial pelos pobres é uma maneira de fazer teologia e de seguir Jesus”.



Para finalizar o ato, a intervenção esperada de Gustavo Gutiérrez, que começou recordando a sintonia do cardeal Müller, seu amigo, com a essência da Teologia da Libertação, que é o coração mesmo da mensagem cristã: “Que venha a nós o vosso Reino”, ou seja, que “venha o seu Reino à história humana, porque a mensagem cristã é chamada a transformar a História com justiça, liberdade, verdade, amor e igualdade”.



Porque, segundo Gutiérrez, a Teologia da Libertação nasce da convergência de três processos: a situação da América Latina nos anos 1960; a realização do Concílio e sua continuação na Conferência de Medellín. Nos anos 60 aconteceu “a irrupção dos pobres na América Latina”. João XXIII e o Concílio “falam da Igreja dos pobres”. E Medellín “faz parte, para mim, do acontecimento conciliar”. “Nessa confluência de fatores situa-se a Teologia da Libertação e, nesse processo, alimentam-se mutuamente”, explicou.



Gutiérrez quis deixar claro que, na sua opinião, o Vaticano II não é um Concílio pastoral, como alguns tratam de repetir à saciedade numa tentativa de anulá-lo. “O Vaticano II é o Concílio mais teológico de todos da história da Igreja”.



Desde essa confluência com o Concílio, “a Teologia da Libertação não descobriu os pobres, embora alguns creiam nisso, nem propõe um tema novo; a única coisa que faz é propor o tema dos pobres de uma maneira nova”. E o novo da Teologia da Libertação é “sua linguagem e a tomada de maior consciência das causas e da complexidade da pobreza”.



Teologia da Libertação é, pois, uma teologia pastoral, na qual insiste muito o Papa Francisco, porque “a Teologia é feita para ajudar as pessoas a viverem plenamente o Evangelho”. Por isso, está cada vez mais na moda. Por isso, não pode morrer ou “ao menos, não me convidaram para o enterro”.



Mais viva do que nunca na esteira de Francisco. Por isso, o pai desta corrente teológica termina a sua intervenção convidando os presentes para “acompanharem o Papa, como irmãos e companheiros de caminhada, como ele mesmo disse no prólogo do livro”.



Ovação cerrada para o pequeno-grande gênio teológico, do qual as pessoas se aproximam para abraçá-lo, fazer selfies com ele, parabenizá-lo ou simplesmente agradecer-lhe por seu martírio incruento ao longo de todos estes anos de marginalização e de tentativas de linchamento. A ‘gárgula’, como aqui chamam ao cardeal Cipriani, “quis eliminá-lo da presença pública eclesial, mas não conseguiu, porque a força dos pobres, que é a força de Deus, está com ele”. E, agora, Francisco e até o conservador presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, o reabilitaram.

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