Os
apóstolos disseram ao Senhor: ‘Aumenta a nossa fé!’ (Lc 17,5)
A reflexão que trago hoje para o blog
Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é bem
concreta e interessante. Tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 17,
5-10 (Fé como um grão de mostarda). Já foi publicada neste espaço alguns anos atrás, mas continua muito atual.
Vale a pena
ler.
WCejnog
IHU
– ADITAL
04
Outubro 2019
Somos
Crentes?
A leitura
que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lc 17,5-10, que
corresponde ao 27° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus
tinha-lhes repetido em diversas ocasiões: “Que pequena é a vossa fé!”.
Os discípulos não protestam. Sabem que Ele tem razão. Levam bastante tempo
junto Dele. Eles O veem entregue totalmente ao Projeto de Deus; só pensa em
fazer o bem; só vive para fazer a vida de todos mais digna e mais humana.
Poderão segui-Lo até ao fim?
Segundo
Lucas, num momento determinado, os discípulos dizem a Jesus: “Aumenta-nos a
fé”. Sentem que a sua fé é pequena e débil. Necessitam confiar mais em Deus e
acreditar mais em Jesus. Não o entendem muito bem, mas não discutem.
Fazem justamente o mais importante: pedir-Lhe ajuda para que faça crescer a sua
fé.
A crise
religiosa dos nossos dias não respeita nem sequer os praticantes. Nós falamos
de crentes e não crentes, como se fossem dois grupos bem definidos: uns têm fé,
outros não. Na realidade, não é assim. Quase sempre, no coração humano,
existe, ao mesmo tempo e alternadamente, um crente e um não crente. Por
isso, também nós que nos chamamos “cristãos” temos de nos perguntar: Somos
realmente crentes? Quem é Deus para nós? Amamo-Lo? É Ele quem dirige a nossa
vida?
A fé pode
debilitar-se em nós sem que nunca nos tenha assaltado uma dúvida. Se não a
cuidamos, pode diluir-se pouco a pouco no nosso interior para ficar reduzida
simplesmente a um hábito que não nos atrevemos a abandonar, pelo sim pelo não.
Distraídos por mil coisas, já não conseguimos comunicar-nos com Deus. Vivemos
praticamente sem Ele.
Que
podemos fazer? Na realidade, não se necessitam grandes coisas. É inútil que nos
coloquemos objetivos extraordinários, pois seguramente não os vamos cumprir. O
primeiro é rezar como aquele desconhecido que um dia se aproximou de Jesus e
lhe disse: “Creio, Senhor, mas vem em ajuda da minha incredulidade”. É
bom repeti-lo com o coração simples. Deus entende-nos. Ele despertará a nossa
fé.
Não temos
de falar com Deus como se estivesse fora de nós. Está dentro. O melhor é fechar
os olhos e ficar em silêncio para sentir e acolher a Sua Presença. Tampouco
temos de nos entreter em pensar Nele, como se estivesse só na nossa cabeça.
Está no íntimo do nosso ser. Temos de procurá-lo no nosso coração.
O
importante é insistir até ter uma primeira experiência, mesmo que seja pobre,
mesmo que só dure uns instantes. Se um dia percebemos que não estamos sós na
vida, se captamos que somos amados por Deus sem merecê-lo, tudo mudará. Não
importa que tenhamos vivido esquecidos Dele. Acreditar em Deus é, antes de
tudo, confiar no amor que Ele nos tem.
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