Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

“Quebrar a indiferença”. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!



Hoje trago novamente para este blog uma reflexão muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 16, 19-31 (Parábola do rico e Lázaro). Esta já foi publicada neste espaço alguns anos atrás, mas por ser relevante, achei importante trazê-la novamente.  É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler!
WCejnóg



IHU – ADITAL
27 Setembro 2019

Quebrar a indiferença

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lc 16,19-31, que corresponde ao 26° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Segundo Lucas, quando Jesus gritou: “não se pode servir a Deus e ao dinheiro”, alguns fariseus que o ouviam e eram amigos do dinheiro “riram-se dele”. Jesus não recua. De imediato, conta uma parábola comovente para que aqueles que vivem escravos da riqueza possam abrir os olhos.

Jesus descreve em poucas palavras uma situação dramática. Um homem rico e um pobre mendigo que vivem perto um do outro estão separados pelo abismo que há entre a vida de opulência insultante do rico e a miséria extrema do pobre.

A história descreve os dois personagens, enfatizando fortemente o contraste entre os dois. O homem rico está vestido de púrpura e linho fino, o corpo do pobre está coberto de feridas. O rico banqueteia-se esplendidamente não apenas nos dias de festa, mas diariamente; o pobre está deitado à porta do rico, incapaz de levar à boca o que cai da mesa do homem rico. Apenas os cachorros que procuram algo no lixo vêm lamber suas feridas.

Não se fala em nenhum momento que o homem rico tenha explorado o pobre ou que o tenha maltratado ou desprezado. Pode-se dizer que não fez nada de mal. No entanto, toda a sua vida é desumana, pois só vive para seu próprio bem-estar. O seu coração é de pedra. Ignora totalmente o pobre. Tem-no à sua frente, mas não o vê. Está ali mesmo, doente, faminto e abandonado, mas não consegue atravessar a porta para tomar conta dele.

Não nos enganemos. Jesus não está denunciando apenas a situação da Galileia dos anos trinta. Está tentando sacudir a consciência daqueles que se acostumaram a viver na abundância, enquanto morando próximo à nossa porta, apenas a algumas horas de distância, há povos inteiros vivendo e morrendo na mais absoluta miséria.

É desumano nos fecharmos na nossa “sociedade do bem-estar”, ignorando totalmente essa outra “sociedade do mal-estar”. É cruel continuar a alimentar essa “secreta ilusão de inocência” que nos permite viver com a consciência tranquila, pensando que a culpa é de todos e de ninguém.

A nossa primeira tarefa é quebrar a indiferença. Resistirmos a continuar desfrutando de um bem-estar vazio de compaixão. Não continuar a nos isolarmos mentalmente para deslocar a miséria e a fome que há no mundo em direção a um afastamento abstrato, para poder assim viver sem ouvir nenhum clamor, gemido ou choro.

O Evangelho pode ajudar-nos a viver vigilantes, sem nos tornarmos cada vez mais insensíveis aos sofrimentos dos abandonados, sem perder o sentido da responsabilidade fraterna e sem permanecer passivos quando podemos agir.



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