Hoje, mais uma matéria sobre Edith Stein. O artigo “Vozes que desafiam. O ato extremo da empatia de Edith Stein”, de autoria de Cleusa Maria Andreatta, Susana Rocca e Wagner Fernandes de Azevedo, certamente vai interessar a quem procura saber mais sobre a vida, os pensamentos e a personalidade dessa grande mulher.
A matéria foi publicada recentemente no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena conferir!
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Estátua
de Edith Stein, em Boston. Foto: WBurBoston | Flickr
IHU – ADITAL
06 Setembro 2019
Por: Cleusa Maria Andreatta, Susana Rocca,
Wagner Fernandes de Azevedo
Vozes que desafiam. O ato
extremo da empatia de Edith Stein
Edith Stein foi morta
em Auschwitz. Era de família judia, nascida em Vrastilávia,
na Silésia. Aos 21 anos recebeu o batismo na Igreja Católica, sob o nome
de Teresa. Aos 33 anos, entrou para o Carmelo. Edith Stein, ou Teresa
Benedita da Cruz, era doutora em Filosofia, foi orientada por Edmund
Husserl, poderia ter sido professora universitária sob indicação de
seu mestre, era uma mulher reconhecida por seus
escritos, sobressaindo-se aos padrões da época.
Com o avanço do nazismo alemão, foi enviada para Echt,
na Holanda. O seu local de exílio não escapou das tropas de extermínios
de judeus. Stein, mesmo sendo religiosa católica jamais aceitou ser
tratada de forma diferente dos outros judeus — mais que isso, insurgiu-se
cobrando uma postura firme do papado contra o nazismo alemão.
Em 2 de agosto de 1942, foi presa em Amersfoot.
Nos dias seguintes foi transportada até Auschwitz, onde junto de sua irmã Rosa, em
9 de agosto, foi rta no campo de concentração.
O pensamento de Edith Stein não era uma mera
contribuição à Filosofia. Embora, de forte influência husserliana, Stein foi
autêntica, assumindo o que escrevia também forma de viver — e ir ao extremo.
Segundo o filósofo Rudimar Barea, "para Stein,
o fenômeno que leva o sujeito ao encontro do mundo das coisas e o mundo de outros
sujeitos se estabelece pela empatia. É preciso, com efeito, levar em
consideração que este fenômeno não se dá somente com o corpo físico, mas
também com o corpo próprio dotado de sensibilidade. Para Stein, os seres
humanos, em relação de entendimento, não são apenas mônadas separadas, será
preciso considerar o outro, em sua plenitude", escreve em sua dissertação
de mestrado.
A centralidade da empatia para compreender a
pessoa humana, é traço marcante de Stein. "A empatia para Stein se
efetiva plenamente em seu caráter genuíno, quando captamos a essência da
vivência alheia e vivenciamos como se fosse nossa", escreve Barea. Luis Carlos de Carvalho Silva,
em dissertação de Mestrado em Ciências da Religião, na Universidade Federal de
Juiz de Fora, reforça essa compreensão. "Edith Stein, em sua
profunda empatia pelo povo judeu, intercede por ele, para que não perca
e nem renuncia a sua identidade e missão de ser Povo de Messias; escreve livros
e cartas denunciando o massacre sofrido pelos judeus, consolava de diversas
formas os que padeciam com a tragédia social e era solidária. O holocausto
da Carmelita é uma expiação pelo outro e por si".
Edith Stein, em 1938.
Na missa de canonização de Edith Stein,
João Paulo II ressaltou a radicalidade do martírio em meio à crueldade
nazista, a compreensão da verdade, do amor e a relação que se estabelece
com a cruz. "Santa Teresa Benedita da Cruz conseguiu compreender
que o amor de Cristo e a liberdade do homem se entretecem, porque o amor e a
verdade têm uma relação intrínseca. A Irmã Teresa Benedita é testemunha
disto. 'Mártir por amor', ela deu a vida pelos seus amigos e no amor não
se fez superar por ninguém. Ao mesmo tempo, procurou com todo o seu ser a
verdade, da qual escrevia: 'Nenhuma obra espiritual vem ao mundo sem grandes
sofrimentos. Ela desafia sempre o homem inteiro'. A Irmã Teresa Benedita da
Cruz diz a todos nós: Não aceiteis como verdade nada que seja isento de amor.
E não aceiteis como amor nada que seja isento de verdade!".
Pelo princípio da alteridade também se compreende a
percepção de Stein sobre a Igreja e o papel das mulheres
nela. Embora não fosse "revolucionária" e nem "feminista",
para as primeiras décadas do século XX, escreveu livros sobre a formação,
vocação e necessidade de estabelecer um papel crucial para as mulheres na
Igreja.
Segundo Sylvie Courtine-Denamy, em
entrevista à IHU On-Line, "Para Hannah Arendt, Simone Weil
e Edith Stein de nenhum modo a emancipação feminina se
colocou no plano individual, porque elas tiveram a chance de ter mães
muito compreensivas, que as deixaram escolher sua orientação: a filosofia. Edith
Stein militou muito cedo pelos direitos da mulher, embora suas
posições nos pareçam hoje bastante conservadoras".
Estátua de Edith Stein, em Colônia, Alemanha. Foto:
Wupertal | Flickr
A série Vozes que Desafiam. Mulheres na Igreja
produzida pela equipe de Teologia Pública do Instituto Humanitas
Unisinos tem como objetivo recuperar e visibilizar figuras de mulheres
e contribuir no reconhecimento do lugar delas na vida da Igreja. Abaixo
compartilhamos revistas e artigos publicados pelo IHU que contam sobre a vida e
a doação extrema de Edith Stein, canonizada por João Paulo II, em 1998,
como Santa Teresa Benedita da Cruz e proclamada copadroeira da Europa,
em 1999.
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No fim,
permanecerá apenas o grande amor. Em memória de Edith Stein. Comentário de
Cristiana Dobner.
As últimas etapas da existência de Edith Stein se
sintetizam em três nomes e em três datas:
Amersfoort: 2 de
agosto de 1942;
Westerbork: de 3 a 4
de agosto;
Auschwitz: 09 de
agosto.
Cristiana Dobner é irmã
carmelita descalça e teóloga italiana. Vive no mosteiro de Santa Maria del
Monte Carmelo, em Barzio, na Itália.
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A empatia
como condição constitutiva da pessoa humana em Edith Stein. Artigo de Renaldo
Elesbão de Almeida. Cadernos IHU Nº 48
O ser humano na sua constituição enquanto pessoa é
espiritual, é livre e vive permeado de vivências pessoais e interpessoais. Essa
relação é de fundamental importância no que tange à totalidade da pessoa
humana. O homem sendo pessoa não é um ser isolado das outras pessoas e nem
totalmente preso às determinações da natureza, pois possui a possibilidade de transcendência
para a sua constituição pessoal. Os intercâmbios de vivências podem favorecer,
desse modo, à harmonia entre os sujeitos que, por serem vistos como tais,
surgem e conferem dignidade e respeito ante o outro e a comunidade. Edith
Stein percebe a necessidade de analisar os atos da pessoa numa tentativa de
descrever a gênese das vivências que o homem vive nas suas experiências
intersubjetivas. A abordagem do ser humano num clima positivista das
ciências que o concebia como objeto experimental é para Stein de suma
importância. Ela vê na empatia a possiblidade de evidenciar a dimensão
espiritual da pessoa humana sem descartar a vida psicofísica do indivíduo
circundado de outros indivíduos e coisas.
Renaldo Elesbão é bacharel
em filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza – FCF e em Teologia pelo
Instituto São Tomás de Aquino (ISTA) em Belo Horizonte - MG.
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O destino de
Edith Stein em sete dias: do carmelo de Echt às câmaras de gás de Birkenau
Entre a prisão na noite de 2 de agosto até a morte
nas câmaras de gás anônimas em Birkenau, passaram-se apenas sete dias:
em uma única semana cumpria-se o destino das irmãs Rosa e Edith Stein.
Em 9 de agosto de 1942, Rosa e Edith
Stein, após dois dias assustadores de viagem, desapareceram com outros
milhares de pessoas no abismo de Birkenau.
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Hannah
Arendt, Simone Weil e Edith Stein. Três mulheres que marcaram o século XX.
Revista IHU On-Line Nº 168
“Parece que
certas pessoas estão, em sua própria vida (e unicamente nisso, e não como
pessoas, por exemplo), de tal forma expostas que se tornam, por assim dizer,
encruzilhadas e objetivações concretas da vida”, escreve Hannah Arendt.
A frase prefigura seu próprio destino e o de duas outras mulheres, suas
contemporâneas: Simone Weil e Edith Stein.
Todas as três são de ascendência judaica numa época
em que o simples fato de nascer judeu transformava a vida num destino, como
escreve Sylvie Courtine-Denamy, entrevistada nesta edição, no livro Trois
femmes dans de sombres temps. Edith Stein nasce numa família de
judeus praticantes, Simone Weil é de uma família judaica agnóstica e Hannah
Arendt, de uma família judaica muito assimilada.
Duas delas aspiram a abraçar o cristianismo. Uma
só, Edith Stein, o faz. Ela entra no Carmelo, mas sem negar as raízes judaicas.
As três são filósofas numa época em que isso conta
pouco. As três tiveram mestres rebeldes: Husserl, Heidegger e Alain.
Elas ousaram criticá-los e buscaram ultrapassá-los.
Duas delas, Simone Weil e Hannah Arendt,
testemunhas de tempos sombrios, são espectadoras comprometidas, assumindo a
ação, isto é, o combate.
Por sua vez, Edith Stein intervém junto ao
papa Pio XII, pedindo para que promulgue uma encíclica em defesa do seu
povo. Seu apelo não foi atendido. Todas as três conheceram o exílio. Hannah
Arendt foi exilada na França, de 1933 a 1941, depois nos EUA. Lá assume, em
1951, a cidadania americana. Simone Weil, se exila primeiramente em Marselha,
zona livre, depois nos EUA e, nos últimos meses de sua vida, em Londres. Edith
Stein foi exilada na Holanda antes da sua deportação e morte em Auschwitz,
com sua irmã, no dia 9 de agosto de 1942.
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Edith Stein,
a santa judaica que morreu no campo de concentração. Reportagem de Andrea
Tornielli
No dia 9 de agosto, há 70 anos, Edith Stein,
a judia que havia se tornado irmã carmelita, era morta em Auschwitz. Em 1933,
ela escreveu ao papa sobre as perseguições contra os judeus.
Edith Stein repetia que
não havia traído o seu povo ao reconhecer Jesus como Messias. Ela seria
proclamada bem-aventurada por João Paulo II em 1987 e santa em 1998. No
ano seguinte, também copadroeira da Europa. No dia 12 de abril de 1933, Stein
escreveu uma carta ao Vaticano, dirigida ao Papa Pio XI. Ela a enviou através
do arquiabade beneditino de Beuron, Raphael Walzer, ao cardeal
secretário de Estado, Eugenio Pacelli.
Andrea Tornielli é
jornalista e escritor italiano.
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