“Aquele que
não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo.” (Lc 14, 27)
A reflexão que trago
hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio
Pagola, é muito concreta e propícia para os nossos tempos. Tem
como pano de fundo o texto bíblico Lc 14, 25-33 (As
condições para seguir Jesus).
Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Vale a pena ler.
WCejnog
IHU
– ADITAL
06
Setembro 2019
Não
de qualquer maneira
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
segundo Lucas 14,25-33, que corresponde ao 23° Domingo do Tempo Comum,
ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
Jesus vai a caminho de Jerusalém. O evangelista
diz-nos que «muitas pessoas o seguiam». No entanto, Jesus não tem ilusões. Não
se deixe enganar pelo entusiasmo fácil do povo. Algumas pessoas hoje estão
preocupadas como o número de cristãos está a diminuir. A Jesus interessa-lhe
mais a qualidade dos seus seguidores do que o seu número.
De repente, se volta e começa a falar para aquela
multidão, das exigências concretas que decorre de acompanhá-lo de forma lúcida
e responsável. Não quer que as pessoas o sigam de qualquer maneira. Ser
discípulo de Jesus é uma decisão que deve marcar toda a vida da pessoa.
Jesus fala-lhes, em primeiro lugar, da família.
Aquelas pessoas têm a sua própria família: pais e mães, mulheres e crianças,
irmãos e irmãs. São seus entes mais queridos e próximos. Mas se não deixam de
lado os interesses familiares para colaborar com Ele na promoção da família
humana, não baseada em laços de sangue, mas construída a partir de justiça e da
solidariedade fraterna, não poderão ser seus discípulos.
Jesus não pensa em desfazer os lares, eliminando o
carinho e a convivência familiar. Mas, se alguém coloca acima de tudo a honra
de sua família, patrimônio, herança ou bem-estar familiar, não poderá ser Seu
discípulo nem trabalhar com Ele no projeto de um mundo mais humano.
Mais ainda. Se alguém só pensa em si mesmo e nas
suas coisas, se vive apenas para desfrutar de seu bem-estar, se se preocupa
unicamente com os seus interesses, que não se engane, não pode ser discípulo de
Jesus. Faltam-lhe liberdade interior, coerência e responsabilidade para
levá-lo a sério.
Jesus continua a falar duramente: «Quem não carrega
a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo». Se se vive evitando
problemas e conflitos, se não sabe assumir riscos e penalidades, se não está
disposto a suportar o sofrimento pelo reino de Deus e da sua justiça, não pode
ser discípulo de Jesus.
Surpreende a liberdade do papa Francisco para denunciar estilos de cristãos que têm pouco a ver com os
discípulos de Jesus: «cristãos de boas maneiras, mas de maus hábitos», «crentes
de museu», «hipócritas da casuística», «cristãos incapazes viver em contra
corrente», cristãos «corruptos» que só pensam em si mesmos, «cristãos educados»
que não anunciam o Evangelho...
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