“Havia muita gente indo e vindo, ao ponto de eles não terem tempo para comer. Jesus lhes disse: "Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco". Então eles se afastaram num barco para um lugar deserto.” (Mc 6,31-32)
Hoje trago para este blog uma interessante reflexão, muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mc 6,30-34 (Jesus instrui: pastores devem ter condições para cuidar das ovelhas abatidas!). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU - ADITAL
16 Julho 2021
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 6,30-34, que corresponde ao 16° domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Rezem juntos e riam em comum
A cena está cheia de ternura. Chegam os discípulos cansados do trabalho realizado. A atividade é tão intensa que já não «conseguiam arranjar tempo para comer». E então Jesus faz-lhes este convite: «Venham para um lugar tranquilo descansar».
Hoje nós cristãos esquecemos com demasiada
frequência que um grupo de seguidores de Jesus não é apenas uma comunidade
de oração, reflexão e trabalho, mas também uma comunidade de descanso e
fruição.
Nem sempre foi assim. O texto que se segue não é de nenhum teólogo progressista. Foi escrito lá pelo século IV por aquele grande bispo pouco suspeito de frivolidades que foi Agostinho de Hipona.
«Um grupo de cristãos é um grupo de pessoas que rezam juntas, mas também conversam juntas. Riem-se em comum e trocam favores. Estão a brincar juntos, e juntos estão a falar a sério. Por vezes discordam, mas sem animosidade, como às vezes se está consigo mesmo, usando esse desacordo para reforçar sempre o acordo habitual.
Aprendem algo uns com os outros ou ensinam uns aos outros. Sentem falta, com pena, dos ausentes. Acolhem com alegria os que chegam. Fazem manifestações deste ou daquele tipo: faíscas do coração dos que se amam, expressas no rosto, na linguagem, nos olhos, em mil gestos de ternura».
Talvez o que mais nos surpreende hoje neste texto seja aquela faceta de cristãos que sabem rezar, mas também sabem rir. Sabem como estar sérios e sabem brincar. A igreja atual quase sempre parece grave e solene. Parece que como cristãos temos medo do riso, como se o riso fosse um sinal de frivolidade ou irresponsabilidade.
Há, no entanto, um humor e um saber rir que é um sinal de maturidade e sabedoria. É o sorriso do crente que sabe relativizar o que é relativo, sem necessidade de dramatizar os problemas.
É um sorriso que nasce da confiança última desse Deus que nos olha a todos com piedade e ternura. Um sorriso que se distende, liberta e dá força para continuar a caminhar. Este sorriso une. Os que riem juntos não se atacam nem se magoam, porque o riso verdadeiramente humano nasce de um coração que sabe compreender e amar.
Fonte: IHU – Comentário do Evangelho
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