“Então ele ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis fartos! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque vos alegrareis! Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos ultrajarem, e quando repelirem o vosso nome como infame por causa do Filho do Homem! Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu. Era assim que os pais deles tratavam os profetas.
Mas ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação! Ai de vós, que estais fartos, porque vireis a ter fome! Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis! Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam os pais deles aos falsos profetas! (6, 20-26)
Abaixo, uma reflexão muito relevante e concreta atualmente, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lucas 6,17.20-26 (Bemaventuranças aos pobres e palavras severas aos ricos). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
13 Fevereiro 2022
FELICIDADE AMEAÇADA
O Ocidente não quis acreditar no amor como fonte de vida e felicidade para o homem e a sociedade. As bem-aventuranças de Jesus parecem uma mensagem estranha, escondida numa linguagem ininteligível e inacreditável, mesmo para aqueles de nós que nos dizemos cristãos.
Colocamos a felicidade em outras coisas. Chegamos até a confundir felicidade com bem-estar. E, embora sejam poucos os que se atrevem a confessá-lo abertamente, para muitos o decisivo para ser feliz é "ter dinheiro".
Para muitas pessoas é difícil ter outro projeto de vida. Apenas isto: trabalhar para ter dinheiro. Ter dinheiro para comprar coisas. Possuir coisas para adquirir uma posição e ser algo na sociedade. Esta é, muitas vezes, a felicidade em que acreditamos. Este é o caminho que tentamos percorrer para buscar a felicidade.
Vivemos em uma sociedade que, no fundo, sabe que isso tudo é um absurdo, mas não é capaz de buscar uma felicidade mais verdadeira. Gostamos do nosso modo de viver, mesmo sabendo e sentinod que isso não nos faz felizes.
Nós crentes devemos lembrar que Jesus não falou apenas de bem-aventuranças. Ele também lançou maldições ameaçadoras para aqueles que, esquecendo o chamado do amor, se divertem satisfeitos com seu próprio bem-estar. Esta é a ameaça de Jesus: aqueles que possuem e desfrutam de tudo o que seu coração egoísta desejou, um dia descobrirão que não há felicidade para eles além do que já provaram.
Talvez estejamos vivendo em uma época em que começamos a intuir melhor a verdade última contida nas ameaças de Jesus: “Ai de vocês, ricos, porque já têm sua consolação! Ai de vocês que estão fartos, porque terão fome! Ai de quem ri agora, porque você vai chorar!».
Começamos a experimentar que a felicidade não está no puro bem-estar. A civilização da abundância nos oferece meios de subsistência, mas não razões para viver. A insatisfação atual de muitos não se deve apenas ou principalmente à crise econômica, mas sobretudo à crise das razões autênticas para viver, lutar, gozar, sofrer e esperar. Existem poucas pessoas felizes. Aprendemos muitas coisas, mas não sabemos ser felizes.
Precisamos de tantas coisas que somos pobres carentes. Para alcançar nosso bem-estar, somos capazes de mentir, enganar, trair a nós mesmos e destruir uns aos outros. E você não pode ser feliz assim.
E se Jesus estivesse certo? Nossa "felicidade" não está muito ameaçada? Não devemos procurar uma sociedade diferente cujo ideal não seja o desenvolvimento material sem fim, mas a satisfação das necessidades vitais de todos? Não seremos mais felizes quando aprendermos a precisar de menos e compartilhar mais?
6 Tempo Comum - C
(Lucas 6,17.20-26)
13 de fevereiro 2022
José Antonio Pagola
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Fonte: Facebook
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