Respondeu
o Senhor: "Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas
coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não
lhe será tirada". (Lc 10, 41-42)
A reflexão que trago hoje para o blog
Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito
interessante. Tem como
pano de fundo o texto bíblico Lc 10,
38-42 (Jesus visita Marta e Maria).
Excelente ajuda para quem procura entender melhor as mensagens bíblicas.
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale
a pena ler.
WCejnog
IHU
– ADITAL
19Julho
2019
Não
há nada mais necessário
A
leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 10,38-42, que corresponde
ao 16° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O episódio é algo surpreendente. Os discípulos que
acompanham Jesus desapareceram de cena. Lázaro, irmão de Marta e Maria,
está ausente. Na casa da pequena aldeia de Betânia, Jesus encontra-se a sós com
duas mulheres que adotam, diante de sua chegada, duas atitudes diferentes.
Marta, que sem dúvida é a irmã mais velha, acolhe
Jesus como dona de casa e coloca-se totalmente ao seu serviço. É natural.
Segundo a mentalidade da época, a dedicação aos afazeres domésticos era tarefa
exclusiva da mulher. Maria, pelo contrário, a irmã mais nova, senta-se aos
pés de Jesus para escutar sua palavra. A sua atitude é surpreendente, pois
ela está ocupando o lugar próprio de um “discípulo”, que corresponde somente
aos homens.
Em determinado momento, Marta, absorta pelo
trabalho e muito cansada, sente-se abandonada pela sua irmã e incompreendida
por Jesus: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe sozinha com todo o
serviço? Manda que ela venha ajudar-me!”. Por que não manda a sua irmã que se
dedique às tarefas próprias de toda mulher e deixe de ocupar o lugar reservado
aos discípulos do sexo masculino?
A resposta de Jesus é de grande importância. Lucas
relata-a pensando provavelmente nas divergências e pequenos conflitos que se
produzem nas primeiras comunidades no momento de definir as várias tarefas:
“Marta, Marta, andas inquieta e nervosa com muitas coisas, quando na realidade
só uma é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.
Em nenhum momento Jesus critica Marta, a sua
atitude de serviço, tarefa fundamental para os que seguem Jesus, mas
convida-a a não se deixar absorver pelo seu trabalho até o ponto de perder a
paz. Recorda que escutar sua Palavra deve ser uma prioridade para todos, também
para as mulheres e não uma espécie de privilégio para os homens.
Hoje é urgente entender e organizar a comunidade
cristã como um lugar onde se cuida, acima de tudo, do acolhimento do Evangelho
no meio da sociedade secular e pluralista dos nossos dias. Nada é mais
importante. Nada é mais necessário. Temos de aprender a reunirmo-nos mulheres e
homens, crentes e menos crentes, em pequenos grupos para escutar e partilhar
juntos as palavras de Jesus.
Esta escuta do Evangelho em pequenas “células” pode
ser hoje a “matriz” a partir da qual se vá regenerando o tecido das nossas paróquias
em crise. Se o povo humilde conhece em primeira mão o Evangelho de Jesus, o
desfruta e o reivindica à hierarquia, nos arrastará a todos em direção a Jesus.
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