Abaixo, uma reflexão
muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 10, 25-37 (Parábola do bom samaritano). É de autoria do padre e
teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada na no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a
pena ler!
WCejnóg
IHU
– ADITAL
12
Julho 2019.
Não
passar ao lado
Eis o texto
«Sejam compassivos como Vosso Pai é compassivo». Essa é a herança que Jesus deixou à humanidade. Para compreender a
revolução que quer introduzir na história, temos de ler com atenção Seu relato
do «bom samaritano». Nele se descreve a atitude que temos de promover,
para além das nossas crenças e posições ideológicas ou religiosas, para
construir um mundo mais humano.
Na sarjeta de uma estrada solitária, jaz um ser
humano, roubado, agredido, despojado de tudo, meio morto, abandonado à sua
sorte. Neste ferido sem nome e sem pátria, Jesus resume a situação de tantas
vítimas inocentes maltratadas injustamente e abandonadas nas sarjetas de tantos
caminhos da história.
No horizonte aparecem dois viajantes: primeiro
um sacerdote, depois um levita. Ambos pertencem ao mundo respeitado
da religião oficial de Jerusalém. Os dois agem de forma idêntica: «veem o
ferido, dão a volta e passam ao lado». Os dois fecham os seus olhos e os
seus corações, aquele homem não existe para eles, passam sem parar. Esta é a
crítica radical de Jesus a toda a religião incapaz de gerar nos seus membros um
coração compassivo. Que sentido tem uma religião tão pouco humana?
Pelo caminho vem um terceiro personagem. Não é
sacerdote nem levita. Nem sequer pertence à religião do templo. No entanto, ao
chegar, vê o ferido, comove-se e aproxima-se. Então faz por aquele
desconhecido tudo o que pode para resgatá-lo com vida e restaurar sua
dignidade. Esta é a dinâmica que Jesus quer introduzir no mundo.
O primeiro é não fechar os olhos. Saber «olhar» de forma atenta e responsável para os que sofrem. Esse
olhar pode libertar-nos do egoísmo e da indiferença que nos permite viver com a
consciência tranquila e a ilusão de inocência no meio de tantas vítimas
inocentes. Ao mesmo tempo, «comover-nos» e deixar que o seu sofrimento nos doa
também a nós.
Mas o decisivo é reagir e «aproximar-nos» do que
sofre, não para nos perguntarmos se tenho ou não alguma
obrigação de ajudá-lo, mas para descobrir que é um necessitado que precisa de
nós por perto. A nossa ação concreta revelará a nossa qualidade
humana. Tudo isso não é teoria. O samaritano do relato não se sente
obrigado a cumprir um determinado código religioso ou moral.
Simplesmente responde à situação do ferido, criando
todo o tipo de gestos práticos destinados a aliviar o seu sofrimento e a
restaurar a sua vida e a sua dignidade. Jesus conclui com estas palavras: «Vai
e faz tu o mesmo».
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