Hoje, uma reflexão muito concreta e atual. Como
pano de fundo tem o texto bíblico Lc 18,
9-14 (O Fariseu e o Publicano). O
texto é de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicado
na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a
pena ler!
WCejnóg
IHU
– ADITAL
25
Outubro 2019
Quem
sou eu para julgar
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
segundo Lc 18,9-14 que corresponde ao 30° Domingo do Tempo Comum,
ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
A parábola do fariseu e do publicano
geralmente desperta em muitos cristãos uma grande rejeição do fariseu que se
apresenta diante de Deus, arrogante e seguro de si mesmo, e uma simpatia
espontânea para com o publicano que humildemente reconhece seu pecado.
Paradoxalmente, o relato pode despertar em nós este sentimento:
“Agradeço-Te, meu Deus, porque não sou como este fariseu”.
“Agradeço-Te, meu Deus, porque não sou como este fariseu”.
Para ouvir corretamente a mensagem da parábola,
temos de ter em mente que Jesus não a conta para criticar os setores fariseus,
mas para sacudir a consciência de “alguns que presumiam serem homens de bem
e desprezavam os outros”. Entre estes encontramo-nos, certamente, não
poucos católicos dos nossos dias.
A oração do fariseu revela-nos sua atitude
interior: “Oh Deus! Te dou graças porque não sou como os outros”. Que tipo
de oração é esta de acreditar que é melhor que os outros? Mesmo um fariseu,
fiel cumpridor da lei, pode viver numa atitude pervertida. Este homem sente-se
justo diante de Deus e precisamente por isso se converte em juiz que despreza e
condena os que não são como ele.
O publicano, pelo contrário, só consegue dizer: “Oh
Deus! Tem compaixão deste pecador”. Este homem reconhece humildemente o seu
pecado. Não se pode vangloriar da sua vida. Entrega-se à compaixão de Deus. Não
se compara com ninguém. Não julga os outros. Vive verdadeiramente ante si mesmo
e ante Deus.
A parábola é uma penetrante crítica que desmascara
uma atitude religiosa de engano, que nos permite viver seguros da nossa
inocência, enquanto condenamos desde a nossa suposta superioridade moral a
todos os que não pensam ou agem como nós.
Circunstâncias históricas e correntes triunfalistas
afastadas do evangelho fizeram os católicos especialmente propensos a esta
tentação. Por isso, temos de ler a parábola, cada um em atitude autocrítica: por
que achamos que somos melhores que os agnósticos? Por que nos sentimos mais
perto de Deus dos que não são praticantes? O que está no fundo de certas
orações pela conversão dos pecadores? O que é reparar os pecados dos outros sem
viver convertendo-nos a Deus?
Em certa ocasião, ante a pergunta de um jornalista,
o Papa Francisco fez esta afirmação: “Quem sou eu para julgar um gay?”.
As suas palavras surpreenderam a quase todos. Aparentemente, ninguém esperava
uma resposta tão simples e evangélica de um papa católico. No entanto, essa é a
atitude de quem vive em verdade ante Deus.