"Caía a tarde. Agrupados em volta dele, os discípulos disseram-lhe: “Este lugar é deserto e a hora é avançada. Despede esta gente para que vá comprar víveres na aldeia”. Jesus, porém, respondeu: “Não é necessário: dai-lhe vós mesmos de comer”. (Mt 14, 15-16)
Abaixo, uma boa reflexão, muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 14, 13-21 (primeira multiplicação dos pães). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
31 Julho 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Mateus capítulo 14,13-21 que corresponde ao 18° Domingo do ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Um provérbio oriental diz que «quando o dedo do
profeta aponta para a lua, o tolo olha para o dedo». Algo semelhante poderia
ser dito de nós quando fixamos exclusivamente no caráter portentoso dos
milagres de Jesus, sem alcançar a mensagem que eles contêm.
Porque Jesus não foi um milagreiro dedicado a
realizar prodígios propagandísticos. Seus milagres são sinais que abrem uma
brecha neste mundo de pecado e apontam já para uma realidade nova, meta final
do ser humano.
Concretamente, o milagre da multiplicação dos pães convida-nos a descobrir que o projeto de Jesus é alimentar os homens e reuni-los numa fraternidade real na qual saibam como partilhar «Seu pão e Seu peixe» como irmãos.
Para o cristão, a fraternidade não é uma exigência
junto com outras. É a única maneira de construir, entre os homens, o reino do
Pai. Essa fraternidade pode ser mal entendida. Com demasiada frequência a
confundimos com «um egoísmo vivo que sabe comportar-se muito decentemente»
(Karl Rahner).
Pensamos que amamos o nosso próximo simplesmente
porque não lhe fazemos nada especialmente mau, embora mais tarde vivamos com um
horizonte mesquinho e egoísta, despreocupados de todos, movidos apenas pelos
nossos próprios interesses.
A Igreja, enquanto «sacramento de fraternidade»,
é chamada a promover, em cada momento da história, novas formas de estreita
fraternidade entre os homens. Os crentes devem aprender a viver com um estilo
mais fraterno, escutando as novas necessidades do homem de hoje.
A luta pelo desarmamento, a proteção do meio
ambiente, a solidariedade com os famintos, o partilhar com
os desempregados as consequências da crise econômica, a ajuda aos drogados, a
preocupação com os idosos sozinhos e esquecidos... são outras tantas exigências
para quem se sente irmão e quer «multiplicar» por todos o pão que os homens
necessitam para viver.
O relato do evangelho lembra-nos de que não
podemos comer tranquilos o nosso pão e o nosso peixe, enquanto junto a nós há
homens e mulheres ameaçados por tantas «fomes». Os que vivem tranquilos e
satisfeitos devem ouvir as palavras de Jesus: «Dai-lhes vós de comer».
Fonte:
IHU – Comentário do Evangelho