"E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?" (Lc 18, 6-8)
Abaixo, uma boa e muito atual reflexão, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lucas 18,1-8 (A parábola da viúva persistente). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
12 Outubro 2022
DEUS NÃO É IMPARCIAL
A parábola de Jesus reflete uma situação bastante comum na Galiléia de seu tempo. Um juiz corrupto despreza arrogantemente uma pobre viúva que pede justiça. O caso da mulher parece desesperador, pois ela não tem homem para defendê-la. Ela, porém, longe de se resignar, continua a gritar seus direitos. Só no final, incomodado com tanta insistência, o juiz acaba por escutá-la.
Lucas apresenta a história como uma exortação a rezar sem "desanimar", mas a parábola contém uma mensagem anterior, muito querida por Jesus. Este juiz é a "anti-metáfora" de Deus, cuja justiça consiste precisamente em ouvir os pobres mais vulneráveis.
O símbolo da justiça no mundo greco-romano era uma mulher que, com os olhos vendados, proferiu um veredicto supostamente "imparcial". De acordo com Jesus, Deus não é esse tipo de juiz imparcial. Ele não está com os olhos vendados. Ele conhece muito bem as injustiças que são cometidas contra os fracos e sua misericórdia o faz inclinar-se a favor delas.
Essa "parcialidade" da justiça de Deus para com os fracos é um escândalo para nossos ouvidos burgueses, mas deve ser lembrado, porque na sociedade moderna há outra "parcialidade" de sinal contrário: a justiça favorece mais os poderosos do que os fracos. Como Deus pode não estar do lado daqueles que não podem se defender?
Pensamo-nos progressistas defendendo teoricamente que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos", mas todos sabemos que isso é falso. Para gozar de direitos reais e efetivos, é mais importante nascer em um país poderoso e rico do que ser uma pessoa em um país pobre.
As democracias modernas se preocupam com os pobres, mas o centro de suas atenções não são os indefesos, mas o cidadão em geral. Na Igreja se esforçam para aliviar a sorte dos desamparados, mas o centro de nossas preocupações não é o sofrimento dos últimos, mas a vida moral e religiosa dos cristãos. É bom que Jesus nos lembre que são os seres mais desamparados que ocupam o coração de Deus.
Seu nome nunca aparece nos jornais. Ninguém dá lugar a eles em lugar nenhum. Não têm títulos ou contas correntes invejáveis, mas são grandes. Eles não têm muita riqueza, mas têm algo que o dinheiro não pode comprar: bondade, hospitalidade, ternura e compaixão para com os necessitados.
29 Tempo Comum - C
(Lucas 18,1-8)
16 de outubro
Jose Antonio Pagola
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Fonte: Facebook
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