Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 5 de fevereiro de 2023

“Se o sal perder o seu sabor”. – Reflexão de José Antonio Pagola.

"Vocês são o sal da terra. Mas, se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte". (Mt 5, 13-14)

Abaixo, uma excelente reflexão, muito relevante, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mateus 5,13-16 (Sal da Terra e Luz do Mundo). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.

O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.

Vale a pena ler!

WCejnóg

José Antonio Pagola

1 Fevereiro 2023

Se o sal  perder o seu sabor

Poucos escritos podem abalar os corações dos crentes hoje tão fortemente quanto o pequeno livro de Paul Evdokimov, God's Mad Love (O Louco Amor de Deus). Com fé ardente e palavras de fogo, o teólogo de São Petersburgo põe a nu nossa rotina e o cristianismo complacente.

É assim que Pe. Evdokimov vê o momento atual: «Os cristãos têm feito todo o possível para esterilizar o evangelho; parece que eles o submergiram em um líquido neutralizante. Tudo o que impressiona, ultrapassa ou inverte é abafado. Assim, tornadoo evangelho  inofensivo, esta religião achatada, prudente e razoável, o homem não pode deixar de vomitá-la". De onde vem este cristianismo inoperante e amortecido?

As críticas do teólogo ortodoxo não se concentram em questões secundárias, mas apontam para o essencial. A Igreja lhe aparece não como "um organismo vivo da presença real de Cristo", mas como uma organização estática e "um lugar de auto-alimentação". Os cristãos não têm senso de missão, e a fé cristã "estranhamente perdeu sua qualidade de fermento". O Evangelho vivido pelos cristãos hoje "não encontra nada além da total indiferença".

Segundo Evdokimov, os cristãos perderam contato com o Deus vivo de Jesus Cristo e estão perdidos em dissertações doutrinárias. A verdade de Deus confunde-se com fórmulas dogmáticas, que na realidade são apenas "ícones" que nos convidam a abrir-nos ao santo Mistério de Deus. O cristianismo se move para o exterior e para a periferia, enquanto Deus habita nas profundezas.

Busca-se então um cristianismo reduzido e confortável. Como disse Marcel More, "os cristãos encontraram uma maneira de se sentar, não sabemos como, confortavelmente na cruz". Esquece-se que o cristianismo "não é uma doutrina, mas uma vida, uma encarnação". E quando a vida de Jesus não brilha mais na Igreja, não há praticamente nenhuma diferença com o mundo. A Igreja "torna-se um espelho fiel do mundo", que ela reconhece como "carne da sua carne".

Muitos sem dúvida reagirão com nuances e reparos a uma denúncia tão contundente, mas é difícil não reconhecer a verdade para a qual aponta Evdokimov: na Igreja falta santidade, fé viva, contato com Deus. Faltam santos que escandalizam porque encarnam "o louco amor de Deus", faltam testemunhas vivas do evangelho de Jesus Cristo.

As páginas ardentes do teólogo russo não fazem outra coisa senão recordar as de Jesus: «Vós sois o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, com que o salgarão? Só serve para ser jogado fora e pisado pelos homens”.

Tempo Comum – A

(Mateus 5,13-16)

5 de fevereiro

José Antonio Pagola

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Fonte: Facebook

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