“Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim”. (Mt 10, 38)
Abaixo, uma excelente reflexão, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mateus 10,37-42 (Jesus: uma causa de divisão). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
29 Junho 2023
O PERIGO DE UM CRISTIANISMO SEM CRUZ
Um dos maiores riscos do cristianismo hoje é passar gradualmente da "religião da cruz" para uma "religião do bem-estar". Há alguns anos tomei nota de algumas palavras de Reinhold Niebuhr, que me fizeram pensar muito. O teólogo americano falou do perigo de uma "religião sem ferrão" que acabaria pregando "um Deus sem cólera que conduz os homens sem pecado a um reino sem juízo por meio de um Cristo sem cruz". O perigo é real e devemos evitá-lo.
Insistir no amor incondicional de um Deus Amigo nunca deve significar fabricar um Deus à nossa conveniência, o Deus permissivo que legitima uma "religião burguesa" (Johann Baptist Metz). Ser cristão não é procurar o Deus que me convém e diz "sim" a tudo, mas encontrar o Deus que, precisamente por ser Amigo, desperta a minha responsabilidade e, por isso mesmo, mais de uma vez me faz sofrer, gritar e ligar.
Descobrir
o evangelho como fonte de vida e estímulo para um crescimento saudável não
significa viver "imunizado" contra o sofrimento. O evangelho não é um
tranquilizante para uma vida organizada a serviço de nossos fantasmas de prazer
e bem-estar. Cristo faz gozar e faz sofrer, conforta e preocupa, ampara e
contradiz. Só assim é o caminho, a verdade e a vida.
Acreditar em um Deus salvador que, desde já e sem esperar pela vida após a morte, procura nos libertar daquilo que nos fere não deve nos levar a entender a fé cristã como uma religião de uso privado a serviço exclusivo de nossos problemas e sofrimentos. O Deus de Jesus Cristo sempre nos coloca olhando para aquele que sofre. O evangelho não focaliza a pessoa em seu próprio sofrimento, mas no dos outros. Só assim a fé é vivida como experiência de salvação.
Na fé como no amor, tudo tende a ser muito misturado: entrega confiante e desejo de posse, generosidade e egoísmo. Por isso não devemos apagar do evangelho aquelas palavras de Jesus que, por mais duras que pareçam, nos colocam diante da verdade da nossa fé: «Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem encontrar a sua vida, vai perdê-la, e quem perder a sua vida por minha causa, vai encontrá-la”.
13 Tempo Comum – A
(Mateus 10,37-42)
2 de julho
José Antonio Pagola
Fonte: Facebook