“Então Pedro disse: — Se é o senhor mesmo, mande que eu vá andando em cima da água até onde o senhor está. — Venha! — respondeu Jesus. Pedro saiu do barco e começou a andar em cima da água, em direção a Jesus. Porém, quando sentiu a força do vento, ficou com medo e começou a afundar. Então gritou: — Socorro, Senhor! Imediatamente Jesus estendeu a mão, segurou Pedro e disse: — Como é pequena a sua fé! Por que você duvidou? Então os dois subiram no barco, e o vento se acalmou.” (Mt 14, 28-32)
Abaixo, uma excelente reflexão, muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mateus 14,22-33 (A fé vence todo o medo). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
José Antonio Pagola
09 Agosto 2023
ANTES DE AFUNDARMOS
É surpreendente como a história da tempestade no lago da Galiléia se torna atual nestes tempos de crise religiosa. Mateus descreve com precisão a situação: os discípulos de Jesus encontram-se sozinhos, “longe do continente”, no meio da insegurança do mar; o barco é "arremessado pelas ondas", dominado por forças adversas; “o vento é contrário”, tudo se volta contra; é «noite fechada», a escuridão impede ver o horizonte.
É assim que não poucos crentes vivem o momento presente. Não há segurança ou certezas religiosas; tudo se tornou escuro e duvidoso. A religião é suportada por todos os tipos de suspeitas. O cristianismo é mencionado como uma "religião terminal" que pertence ao passado; diz-se que estamos entrando em uma “era pós-cristã” (E. Poulat). Em alguns surge a pergunta: a religião não é um sonho irreal, um mito engenhoso destinado a desaparecer? Este é o grito dos discípulos quando vislumbraram Jesus no meio da tempestade: "Ele é um fantasma".
A reação de Jesus é imediata: “Anime-se, sou eu, não tenha medo”. Encorajado por essas palavras, Pedro faz um pedido inédito a Jesus: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo andando sobre as águas”. Ele não sabe se Jesus é um fantasma ou alguém real, mas quer verificar se se pode caminhar até ele, não em terra firme, mas sobre a água, não se apoiando em argumentos seguros, mas na fraqueza da fé.
Assim vive o crente a sua adesão a Cristo nos momentos de crise e escuridão. Não sabemos se Cristo é um fantasma ou alguém vivo e real, ressuscitado pelo Pai para nossa salvação. Não temos argumentos científicos para provar isso, mas sabemos por experiência que você pode caminhar pela vida sustentado pela fé nele e em sua palavra.
Não é fácil viver nesta fé nua. O relato do Evangelho nos diz que Pedro “sentiu a força do vento”, “teve medo” e “começou a afundar”. É um processo bem conhecido: focar apenas na força do mal, deixar-se paralisar pelo medo e afundar no desespero.
Pedro reagiu e, antes de afundar completamente, grita: “Senhor, salva-me”. A fé muitas vezes é um grito, uma invocação, um chamado a Deus: "Senhor, salva-me". Sem saber como nem porquê, então é possível perceber Cristo como uma mão estendida que sustenta a nossa fé e nos salva, enquanto nos diz: "Homem de pouca fé, por que duvidas?"
19 Tempo Comum – A
(Mateus 14,22-33)
13 de agosto
José Antonio Pagola
Fonte: Facebook
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