“Mas ele lhes disse: “Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas nos vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho”. ( Lc 24, 38-39)
Hoje temos uma ótima reflexão, baseada no texto bíblico Lucas 24,35-48
(Jesus ressuscitado aparece aos onze). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
10 Abril 2024
COM AS VÍTIMAS
Segundo as histórias evangélicas, o Ressuscitado apresenta-se aos seus discípulos com as chagas do Crucificado. Não se trata de um detalhe banal, de interesse secundário, mas de uma observação de importante conteúdo teológico. As primeiras tradições cristãs insistem, sem exceção, num fato que, em geral, hoje não costumamos valorizar na devida medida: Deus não ressuscitou qualquer um; Ele ressuscitou um homem crucificado.
Mais concretamente, ressuscitou alguém que anunciou um Pai que ama os pobres e perdoa os pecadores; alguém que demonstrou solidariedade com todas as vítimas; alguém que, tendo sido perseguido e rejeitado, manteve até ao fim a sua total confiança em Deus.
A ressurreição de Jesus é, portanto, a ressurreição de uma vítima. Ao ressuscitar Jesus, Deus não apenas liberta uma pessoa morta da destruição da morte. Além disso, ele “faz justiça” a uma vítima de homens. E isto lança uma nova luz sobre o “ser de Deus”.
Na ressurreição não é apenas manifestada a nós a onipotência de Deus sobre o poder da morte. O triunfo da sua justiça sobre as injustiças cometidas pelos seres humanos também nos é revelado. Finalmente e completamente, a justiça triunfa sobre a injustiça, a vítima sobre o carrasco.
Esta é a grande notícia. Deus se revela a nós em Jesus Cristo como o “Deus das vítimas”. A ressurreição de Cristo é a “reação” de Deus ao que os seres humanos fizeram com seu Filho. Isto é sublinhado pela primeira pregação dos discípulos: «Vós mataste-o, colocando-o numa cruz... mas Deus o ressuscitou dos mortos». Onde colocamos morte e destruição, Deus coloca vida e libertação.
Na cruz, Deus ainda está silencioso. Este silêncio não é uma manifestação da sua impotência para salvar o Crucificado. É uma expressão da sua identificação com quem sofre. Deus está ali compartilhando o destino das vítimas até o fim. Quem sofre deve saber que não está mergulhado na solidão. O próprio Deus está em seu sofrimento.
Na ressurreição, pelo contrário, Deus fala e age para mobilizar a sua força criadora em favor do Crucificado. Deus tem a última palavra. E é uma palavra de amor ressuscitador para com as vítimas. Aqueles que sofrem devem saber que o seu sofrimento terminará na ressurreição.
A história continua. São muitas as vítimas que hoje continuam a sofrer, maltratadas pela vida ou crucificadas injustamente. O cristão sabe que Deus está naquele sofrimento. Sabe também qual é a sua última palavra. É por isso que o seu compromisso é claro: defender as vítimas, lutar contra todo o poder que mata e desumaniza; esperar pela vitória final da justiça de Deus.
3 Páscoa – B
(Lucas 24,35-48)
14 de abril
José Antonio Pagola
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Fonte: Facebook
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