Abaixo, uma excelente reflexão, baseada no texto bíblico Marcos 7,1-8.14-15.21-23 (Jesus e a tradição dos judeus). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
28 Agosto 2024
UMA RELIGIÃO VAZIA DE DEUS
Os cristãos da primeira e da segunda gerações lembravam-se de Jesus não tanto como um homem religioso, mas como um profeta que denunciava com ousadia os perigos e as armadilhas de todas as religiões. Acima de tudo, não se tratava de uma observância piedosa, mas antes de uma busca apaixonada pela vontade de Deus.
Marcos, o evangelho mais antigo e direto, apresenta Jesus em conflito com os setores mais piedosos da sociedade judaica. Entre as suas críticas mais radicais, duas devem ser destacadas: o escândalo de uma religião vazia de Deus e o pecado de substituir a vontade de Deus por “tradições humanas” ao serviço de outros interesses.
Jesus cita o profeta Isaías: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.” A adoração que me prestam é vazia, porque a doutrina que ensinam são preceitos humanos. Depois ele denuncia em termos claros onde está a armadilha: “Vocês deixaram de lado o mandamento de Deus para se apegarem à tradição dos homens”.
Este é o grande pecado. Uma vez estabelecidas as nossas normas e tradições, colocamo-las no lugar que só Deus deveria ocupar. Colocamo-las acima até da sua vontade: a menor prescrição não deve ser ignorada, mesmo que vá contra o amor e prejudique as pessoas.
Nessa religião, o que importa não é Deus, mas outros tipos de interesses. Deus é honrado com os lábios, mas o coração está longe dele; um credo obrigatório é pronunciado, mas acredita-se no que é apropriado; realizam-se ritos, mas não há obediência a Deus, mas sim aos homens.
Aos poucos nos esquecemos de Deus e depois esquecemos que o esquecemos. Menosprezamos o evangelho para não termos que nos converter muito. Direcionamos a vontade de Deus para aquilo que nos interessa e esquecemos a sua exigência absoluta de amor.
Este pode ser o nosso pecado hoje. Apegar-nos como que por instinto a uma religião desgastada e sem poder de transformar nossas vidas. Continuamos honrando a Deus apenas com os lábios. Resistimos à conversão e vivemos esquecidos do projeto de Jesus: a construção de um mundo novo segundo o coração de Deus.
22 Tempo Comum – B
(Marcos 7:1-8:14-15:21-23)
1º de setembro
José Antonio Pagola
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Fonte: Facebook